30 de abril de 2010

Prospecções muito profundas ameaçam meio ambiente, diz especialista

                          Vazamento de plataforma já pode ser visto nas praias


Segundo especialistas alemães, prospecção de petróleo em grandes profundidades aumenta riscos para meio ambiente. Catástrofe ambiental no Golfo do México pode vir a superar danos com acidente do Exxon Valdez.
As primeiras manchas do óleo derramado no Golfo do México chegaram nesta sexta-feira (30/4) à costa do estado norte-americano de Louisiana, e ameaçam um ecossistema único do Delta do Mississipi. Habitantes da área temem por sua subsistência, devido às diversas tentativas sem sucesso de deter a contaminação e reparar as avarias da plataforma afundada.
Pode ser a pior catástrofe ambiental nos Estados Unidos em décadas. Pior mesmo do que o acidente com o petroleiro Exxon Valdez, no Alasca. Centenas de espécies de aves e peixes estão sob ameaça.
Há dez dias, diversos especialistas tentam deter o vazamento e a mancha de óleo em expansão. Em 20 de abril, um acidente na plataforma de petróleo Deepwater Horizon matou 11 dos 126 trabalhadores da unidade. A estação foi afundada nas águas do Golfo do México dois dias depois.

Acidente pode superar vazamento do Exxon Valdez

Porém três vazamentos despejam diariamente no mar cerca de 800 mil litros de petróleo. Em três meses – tempo possivelmente necessário para concluir uma segunda perfuração para vedar o vazamento – já estariam ultrapassados os 41 milhões de litros despejados no oceano em 1989 pelo petroleiro Exxon Valdez.
A secretária de Segurança Nacional dos EUA, Janet Napolitano, ressaltou que a petrolífera britânica BP, responsável pela plataforma deverá arcar com os custos das operações de salvamento. A empresa pediu oficialmente auxílio ao governo americano. O presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou que "o governo continuará empregando todos os meios ao seu alcance e, se necessário, também o Ministério da Defesa".
A BP está empregando dez robôs submarinos na região, que tentam, até agora sem sucesso, fechar os vazamentos a 1.500 metros de profundidade.

Prospecções profundas aumentam chances de acidentes

Depois do vazamento de óleo no Golfo do México, especialistas alemães alertam para outras catástrofes parecidas em plataformas do petróleo de grandes profundidades.
Com centenas de espécies, fauna do Delta do Mississipi está ameaçada
"Estatisticamente é muito simples. Quanto mais atividades houver, maior é a chance de ocorrerem acidentes", resume o geoquímico alemão Lorenz Schwark, da Universidade de Kiel.
O cientista afirma que os padrões de segurança para plataformas petrolíferas são suficientemente rígidos, mas lembra que, em grandes profundidades, são enormes as dificuldades tecnológicas envolvidas, em caso de problemas.

Novas reservas, como pré-sal brasileiro, são desafios

Enquanto as reservas em águas rasas vão se exaurindo, as companhias petroleiras partem em busca de fontes cada vez mais profundas, aumentando o risco de novos desastres ecológicos no mar. Isso também diz respeito à camada de pré-sal da costa brasileira.
"Reservas gigantescas estão sendo encontradas, sobretudo, em profundidades submarinas a partir dos 2 mil metros. Nessa área, a exploração vem crescendo dramaticamente, sobretudo nas costas do Brasil e do Ocidente africano ", lembrou Schwark, em entrevista ao jornal alemão Die Tageszeitung.
"Ao mesmo tempo, ela envolve grandes desafios técnicos. Nessa região só é possível se trabalhar com robôs, porque ninguém consegue mergulhar tão fundo. Além do mais, lá é escuro e vazamentos só conseguem ser reparados com dificuldade. Isso é um problema enorme", avalia.

Não há segurança total, apesar de tecnologia avançada

Apesar dos altos padrões tecnológicos, não há como garantir segurança absoluta. "Essas plataformas petrolíferas são projetos milionários, com enormes investimentos de segurança. Mas a tecnologia já chegou a tamanha complexidade que, apesar de todos os esforços, continua sempre existindo o risco de falha técnica ou humana", ressalta Christian Bussau, oceanógrafo do Greenpeace. Para ele, as empresas já trabalham nos limites do possível.
Em entrevista à emissora Deutschlandfunk, Bussau observa que o vazamento verificado na costa estadunidense é muito mais difícil de ser controlado do que em plataformas no Mar do Norte, por exemplo.
"Lá, a profundidade é de, no máximo, 200 metros e, em caso de acidente, mergulhadores podem fechar o vazamento com a ajuda de robôs", diz. O que não é mais possível no caso da Deep Water Horizon, que depende somente a assistência de máquinas. "Um robô submarino possui luzes e câmeras, mas a visão lá embaixo é extremamente ruim. E com o óleo, a visibilidade passa a ser quase zero", afirma.

Autores: Marcio Damasceno / Dirk Müller

Revisão: Augusto Valente

Fonte: HTTP://WWW.DW-WORLD.DE/DW/ARTICLE/0,,5524562,00.HTML

              MUNDO 30.04.2010

22 de abril de 2010

REDE INTELIGENTE DE ELETRICIDADE

Fonte: http://www.dw/
Meio Ambiente

21.04.2010

Rede inteligente de eletricidade promete otimizar energia de fontes renováveis

Na Feira Industrial de Hannover, as redes inteligentes de energia são apresentadas como solução para o uso eficiente da eletricidade gerada por vento, sol e biomassa – e como resposta para problemas de abastecimento.
Quando se fala no futuro da produção de energia, o número “vinte” parece ter grande força: a Europa quer, até 2020, diminuir em 20% as emissões de gás carbônico. E até lá, a energia produzida a partir de fontes renováveis deve corresponder a 20% do total.

Para alcançar a meta política, a construção de turbinas eólicas e de painéis solares não basta. É preciso também viabilizar uma conexão inteligente entre as redes elétricas. E um problema das fontes renováveis é que a produção de energia não é contínua: quando não há vento, não há eletricidade.

Solução discutida em Hannover

Smart grids, ou seja, "redes inteligentes" são vistas como o futuro do abastecimento energético. Trata-se de um sistema que canaliza e redistribui continuamente a energia provinda de pequenas usinas eólicas ou solares. Quando há muita energia na rede, ela é armazenada em baterias, sendo posteriormente liberada, por exemplo, quando um carro elétrico for recarregado durante a noite.

Para as indústrias do setor, como a ABB e o grupo Siemens, as redes inteligentes são uma tendência promissora. Segundo Peter Smits, diretor da ABB na Europa, não será possível aproveitar todo o potencial das fontes renováveis sem redes inteligentes de distribuição e armazenagem de energia. No entanto, essa "inteligência" tem que ser desenvolvida aos poucos.

"Há muitas soluções já prontas. Podemos começar imediatamente", contou Smits em entrevista à Deutsche Welle. Apesar disso, é preciso haver uma flexibilidade de tarifas, a fim de que seja atraente utilizar esses sistemas de forma eficiente. Smits acrescenta: "Quanto mais fontes de energia renovável a alimentar a rede, mais empresas de abastecimento e de distribuição de eletricidade precisarão dessas soluções.“

Investimento pesado

É claro que esse sistema requer um gigantesco investimento – somente na Europa, será necessária uma injeção de 400 bilhões de euros nos próximos 20 anos, diz a Comissão Europeia.

Na Itália e na França, a adoção de medidores de eletricidade inteligentes já é incentivada há algum tempo. Empresas japonesas investiram bilhões na construção de novas redes. O governo dos Estados Unidos também liberou verbas bilionárias para projetos-piloto. E a Alemanha está investigando algumas regiões-modelo, para verificar como a ideia das redes inteligentes pode ser implantada.

Um dos projetos alemães é o MeRegio, no estado de Baden-Württemberg, com participação do consórcio ABB. "Não é que estejamos aquém de outros países“, diz Hartmut Schmeck, do Instituto de Tecnologia em Karlsruhe. Como supervisor científico do MeRegio, ele explica que a diferença deste projeto para outros do gênero é a possibilidade de se ter uma visão geral do processso de geração da energia, desde a transmissão até o consumo de todos os componentes. "Em outros países, há iniciativas que focalizam partes isoladas, sem uma abordagem mais integrada."

Procuram-se consumidores

Durante dois anos, as regiões-modelo deverão desenvolver uma concepção e testá-la no cotidiano, até o ponto de poder lançá-la no mercado. Em meados deste ano, uma casa-modelo – equipada com máquina de lavar, geladeira e carro elétrico – estará pronta para ser habitada.

No entanto, o projeto ainda está em busca de aproximadamente mil consumidores dispostos em participar do teste. A companhia de eletricidade Baden-Württemberg (EnBW), envolvida no projeto, está à procura de interessados.

"Sem consumidores não há rede inteligente“, ressalta Jörn Kröpelin, da EnBW. Para tal, será necessário encontrar modelos, tarifas e incentivos atraentes e, juntamente com os produtores, fabricar aparelhos que possam ser aceitos e utilizados pelos clientes.

Padronização

E o sistema também não funcionará enquanto não houver uma integração satisfatória dos componentes. A rede em teste requer, por exemplo, tomadas inteligentes e máquinas de lavar adequadas. O regulador de calefação precisa reconhecer o sinal da rede elétrica, por exemplo.

Padronização é a palavra-chave, diz Peter Kellendonk, diretor de uma empresa de eletrônica em Colônia. "É preciso manter um diálogo com os protagonistas, com os fabricantes de aparelhos, para que todos adotem um padrão único", sugere Kellendonk. Isso possibilitaria integrar todos os equipamentos e processar automaticamente os sinais captados da rede elétrica. "A aceitação por parte da indústria é muito, muito grande."

Isso requer, no entanto, a participação de vários parceiros, inclusive de consumidores, sejam eles grandes indústrias ou domicílios. Afinal, os investimentos são enormes. Diante da crescente demanda por energia e da diminuição dos recursos fósseis, contudo, parece não haver outra escolha.

Autor: Henrik Böhme (np)

Revisão: Simone Lopes
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O SOLO NA VISÃO ECOLÓGICA



Foto: Darci Bergmann

                                                                                                                                  Por Darci Bergmann

         A Terra era um planeta em chamas. Levou milhões de anos para esfriar e outros tantos para formar a camada sólida chamada de litosfera. A parte dessa camada, assentada sobre as rochas e exposta ao ar, forma o solo que varia em espessura e fertilidade de acordo com vários fatores desde a sua gênese. Entre esses fatores estão a variação de temperatura, a ação das raízes e do gelo. Denomina-se intemperismo o conjunto desses processos atmosféricos e biológicos que atuam sobre as rochas e sobre o solo. Alguns autores chamam a isso de meteorização. Para se ter uma idéia da ação biológica, basta reparar nas manchas formadas pelos líquens sobre as pedras. A maioria dos vegetais se desenvolve nessa camada de solo, assim como a teia de vida representada pelas demais espécies, formando a biodiversidade. O conjunto água, ar, solo, sol e seres vivos, com as temperaturas adequadas e reguladas por mecanismos de equilíbrio, permitem a Vida tal como a conhecemos. Portanto, percebe-se que todos os elementos agem e reagem entre si.
       Os solos classificam-se de acordo com os usos. Para uns, os solos são vistos como bases para a expansão das cidades, rodovias e fábricas, não importando a fertilidade natural e o teor de matéria orgânica. O solo, então, passa a ser uma base, um leito, que deve ser bem compactado para receber uma estrutura sobre ele construída. Outros o vêem para a produção agropastoril e florestal Aí o solo deve ser poroso, com bom teor de matéria orgânica. Se compactado, água e ar não circulam bem e as raízes tem dificuldade de retirar os nutrientes minerais. Ainda há os que procuram utilizá-lo como matéria prima mineral, transformando os solos argilosos em produtos cerâmicos. A areia é um componente mineral de muitos solos. Quando pura é usada na construção civil e entra na composição dos vidros.

        Na visão ecológica, o solo é visto como algo vivo onde todos os elementos se harmonizam - a matéria mineral interage com os seres vivos. Quem anda sobre um gramado ou numa área arborizada, não tem idéia da quantidade de seres vivos que habitam o solo sob os seus pés. São milhões de indivíduos de milhares de espécies, cada uma com função no conjunto. Mas essa visão harmoniosa do solo foi sendo substituída pelo imediatismo produtivista. O aumento populacional e a demanda por alimentos e matéria-prima levaram ao mau uso do solo. As queimadas, a monocultura, o revolvimento excessivo com arados e grades, deixaram o solo exposto à ação das chuvas e da radiação solar. A conseqüência foi erosão e o assoreamento dos cursos d‘água. O avanço das cidades deu-se, na maioria das vezes, com a perda de terras férteis. Outras vezes, as matas que protegiam os solos em regiões mais íngremes, foram suprimidas em função de cultivos anuais, com grandes perdas. Em alguns casos só restaram as rochas, pois tudo o que havia sobre elas foi arrastado pela erosão. A explicação é sempre a mesma: a população humana aumenta e é preciso produzir. Com a destruição do solo ou o seu empobrecimento, novas áreas foram sendo incorporadas aos sistemas agropastoris, aumentado a fronteira agrícola. Máquinas potentes drenaram os banhados, substituíram a mão-de-obra braçal. O surgimento da agroquímica e o modelo de produção chamado revolução verde, a partir de 1960, foi concebido para o aumento da produtividade na agricultura. A agricultura já não era mais a mesma. Aquela tradicional e familiar não tinha como competir com o novo modelo ditado pela modernidade e pelo conhecimento científico, que deveria gerar mais renda. Mas o surto da modernidade na agricultura também desencadeou enormes problemas ambientais, como se pode perceber. Atualmente buscam-se alternativas de produção menos impactantes, que preservem o solo, os mananciais de água e a biodiversidade. Várias experiências bem sucedidas mostram que isso é possível.

20 de abril de 2010

A ROÇA INCHOU A CIDADE

Por Darci Bergmann


Tenho constatado que nós humanos estamos num excesso de urbanização. Lembro-me de muitos parentes que lá pelos anos 1950 já falavam em migrar para a cidade. Na roça, se dizia na época, era tudo mais difícil. O que se produzia mal apenas pagava as despesas. A vida tinha que ser tocada com muito esforço físico e simplicidade nos gastos. Um agricultor produzia de tudo um pouco e o que sobrava era vendido aos consumidores urbanos. O estilo de vida simples e a atividade física inerente ao trabalho permitiam até uma razoável qualidade de vida. O sistema de produção era exigente em mão de obra, usava tração animal, as sementes eram crioulas e os chamados insumos modernos - agrotóxicos e fertilizantes minerais - eram desconhecidos pela maioria daqueles agricultores. Com o passar dos anos, novas técnicas de produção foram surgindo, a mecanização liberou mão de obra e o crédito rural alocava recursos financeiros para cobrir os custos desse novo modelo. Agora, menos pessoas podiam tocar as propriedades rurais e até expandir a atividade produtiva. Muitas pessoas então venderam as suas terras e foram para as cidades. Tinham alguma reserva de dinheiro, compravam moradias e procuravam trabalho nas indústrias, na construção civil, no comércio, onde fosse possível. Em pouco tempo, as cidades receberam grandes levas desses agricultores. Alguns se deram bem no meio urbano, outros tiveram dificuldades. A população das cidades então ficou maior que a do campo. Agora temos o perfil do cidadão consumidor urbano desatrelado do meio rural.

As cidades não absorveram toda a mão de obra liberada pelo campo. A favelização era inerente. A cidade grande nem sempre oferecia o melhor e a realidade logo apareceu também na questão ambiental, segurança, trânsito, etc. No Brasil, a migração às cidades foi um processo espontâneo, não direcionado pelo Estado. A China que tinha um modelo campesino forte para segurar a maior parte da população no campo optou por um modelo de produção industrial ao estilo capitalista. O modelo chinês que assombrou o mundo depende de matéria prima e alimentos que são importados em escala cada vez maior. O Brasil, com agricultura forte, mecanizada, expande suas fronteiras agrícolas que engolem vastas extensões e destroem ecossistemas e biomas. A produção é suficiente para alimentar os brasileiros e o excedente é exportado. Mas até quando isso vai durar? Plantam-se cana, soja, pastagens em áreas de preservação permanente. Reserva legal não existe no conceito de alguns. Os produtos de exportação são importantes porque trazem divisas ao País. Mas o modelo predatório de produzir a qualquer custo, sem a contrapartida de um mínimo de preservação ambiental, é um caminho que levará à derrocada em tempos que virão.

MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Verões mais quentes e invernos mais rigorosos, maior número de enchentes, secas e incêndios florestais, aumento da intensidade e freqüência de tempestades e furacões, derretimento de geleiras e calotas polares e elevação do nível do mar são algumas das conseqüências das mudanças climáticas previstas pelo Painel Intergovernamental de Mudanças do Clima (IPCC - Intergovernamental Pannel on Climate Change) caso a temperatura do planeta continue subindo.
Estudos científicos comprovaram um aumento de 0,8ºC na temperatura média da Terra no último século, passando de aproximadamente 13,8ºC para 14,6ºC. Segundo os 2,5 mil cientistas do IPCC, o aquecimento global seria "muito provavelmente" causado pelo excesso dos chamados gases do efeito estufa lançados pelas atividades humanas na atmosfera desde 1750 e que, agora, ultrapassam “em muito” os valores pré-industriais.

Os três principais gases do efeito estufa são o dióxido de carbono (CO2), o metano (CH4) e o óxido nitroso (N2O).
A partir da revolução industrial, no século 18, as fábricas passaram a substituir a energia do vapor pela queima do carvão, que libera CO2. Com a descoberta do petróleo mais dióxido de carbono foi lançado para atmosfera, pois a queima de seus derivados, como a gasolina, também emite esse gás.

“O aquecimento do sistema climático é inequívoco, como está agora evidente nas observações do aumento das temperaturas médias globais do ar e do oceano, do derretimento generalizado da neve e do gelo e da elevação do nível global médio do mar”, declararam os cientistas no quarto Relatório de Avaliação do IPCC, publicado em 2007. Você pode acessar os relatórios clicando aqui.

Segundo o IPCC, os aumentos globais da concentração de CO2 se devem principalmente ao uso de combustíveis fósseis e à mudança no uso da terra. Já os aumentos da concentração de CH4 e N2O são devidos principalmente ao agronegócio.

O IPCC é a autoridade científica das Nações Unidas responsável pelas informações oficiais sobre o aquecimento global. A entidade reúne centenas de cientistas atmosféricos, oceanógrafos, especialistas em gelo, economistas, sociólogos e outros especialistas que avaliam e resumem os principais dados sobre mudanças climáticas. Durante a sua história, o IPCC publicou quatro "relatórios de avaliação".



AGROBUSINESS NÃO RESOLVE PROBLEMA DA FOME

20/04/2010 - Autor: Danielle Brant - Fonte: PrimaPagina / PNUD Brasil


A produção agrícola baseada em padrões industriais e alimentos exportáveis (commodities) não colabora para combater a fome em vários países em desenvolvimento e frequentemente resulta em degradação ambiental, afirma um artigo publicado pelo CIP-CI (Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo), um órgão do PNUD em parceria com o governo brasileiro. Os autores do estudo defendem uma mudança de modelo, com incentivo para o que chamam de agricultura sustentável - baseada no conhecimento local e em técnicas de preservação.

“Este pode ser um momento oportuno para rever os métodos tradicionais da ‘revolução verde’, como subsídios a fertilizantes e pesticidas, e explorar alternativas sustentáveis e de baixo custo que ajudem a conservar os recursos hídricos e da terra”, defendem os pesquisadores Tuya Altangerel, do Escritório de Políticas para o Desenvolvimento, do PNUD, e o pesquisador Fernando Henao, da Universidade de Nova York, no texto Agricultura Sustentável: Uma saída para a pobreza de comida.

“A produção agrícola industrializada e a transformação de itens da cesta básica em commodities não ajudaram a aumentar o consumo de alimentos em muitos países em desenvolvimento, principalmente entre importadores de alimentos”, afirmam os estudiosos. Já as práticas sustentáveis “são mais eficientes em desenvolver um sistema de produção resistente”.

Eles citam uma pesquisa feita com 12 milhões de pequenos produtores em 57 países em desenvolvimento, segundo a qual os lavradores que adotaram práticas sustentáveis - como gestão integrada de nutrição e pragas, armazenamento de água de chuva e cultivo mínimo do solo - viram a safra crescer, em média, 79%. O maior salto (mais de 120%) ocorreu em pequenas propriedades irrigadas e jardins urbanos e hortas.

“Métodos de conservação, incluindo agricultura orgânica, podem atingir safra comparáveis às da agricultura industrial. Sustentadas ao longo do tempo, também geram lucros maiores e reduzem drasticamente o uso de pesticidas convencionais”, escrevem Tuya e Henao. Além disso, eles afirmam que as práticas sustentáveis asseguram ganhos ambientais e aumentam o valor nutricional dos alimentos.

No entanto, não é um caminho fácil. Adotar a agricultura sustentável requer intensa cooperação e construção de conhecimento em nível local. “Apesar de, inicialmente, isso poder elevar os custos, o lucro líquido em médio prazo ainda é maior do que na produção agrícola industrializada, principalmente se benefícios adicionais forem levados em consideração - como dinâmicas sociais fortalecidas, gerenciamento de recursos naturais locais e autossuficiência alimentar”, ressaltam.

Na prática, seguir princípios sustentáveis pode ajudar as 100 milhões de pessoas que foram jogadas no universo da fome, em 2008, devido à crise econômica mundial. Os pesquisadores também veem um impacto positivo na vida de mulheres que comandam pequenas propriedades rurais, já que a adoção da agricultura sustentável pode melhorar o uso da terra em longo prazo, assim como a qualidade da alimentação da família.
Site: http://www.carbonobrasil.com.br/


EDUCANDO PARA A PAZ


Por equipe da ASPAN


SÃO BORJA-RS - Promovido pela Parceiros Voluntários e ACISB, com apoio da ASPAN e de outras entidades, foi realizado evento com o tema EDUCANDO PARA A PAZ, em data de 15/04/2010. Na oportunidade dezenas de crianças e adolescentes das ASEMAS, Centro de Formação Tereza Verzeri e GIAMA participaram de um ato público em favor da paz e da preservação do meio ambiente. No dia 15 de Abril comemora-se o Dia da Conservação do Solo e coube ao presidente da ASPAN, engenheiro agrônomo Darci Bergmann, palestrar sobre o tema meio ambiente. A ASPAN distribuiu mudas de jaboticabeira – Myrciaria cauliflora, simbolizando a importância da arborização urbana e rural. As crianças fizeram armas de brinquedo, tais como espadas, revólveres e estilingues que foram depois trocados por outros brinquedos que não incitam à violência. Em sua alocução Darci Bergmann lamentou que, desde os bancos escolares, tenha aprendido letras de canções que incitam a violência contra os animais. Citou especialmente aquela estrofe ATIREI O PAU NO GATO, MAS O GATO NÂO MORREU, constante de uma canção que, por décadas, incitou a violência contra os animais e em decorrência prestou um desserviço à paz. Referiu ainda que, no universo do nativismo, em meio a tantas canções que exaltam a natureza, existem algumas letras que ainda fazem um juízo equivocado sobre alguns animais silvestres e do seu papel no meio ambiente. O canídeo conhecido como sorro ou graxaim é citado em algumas canções como predador de cordeiros e de galinhas. No entanto, esquecem-se de que esse animal tem importante papel no equilíbrio ecológico, sendo disseminador de várias espécies de plantas nativas frutíferas. Quando ingerem os frutos dessas plantas, os sorros espalham as suas sementes junto com os excrementos. Ao ver crianças com estilingues também conhecidos como bodoques, Darci citou que um há festival de música nativista em Santo Antônio das Missões, denominado Bodocaço da Canção. Os promotores daquele evento poderiam fazer um gesto mais consoante com a paz e trocar o nome desse festival, sugeriu Darci.

Com relação ao lixo, o palestrante enfocou o comportamento de algumas pessoas de jogarem lixo em qualquer lugar sem pensar nas conseqüências disso no solo, na água e no ambiente em geral. Propôs um pacto às crianças ali presentes para que não jogassem mais lixo nas ruas. Enfatizou que é preciso mais do que isso. Além da reciclagem, é preciso reduzir a quantidade de lixo produzido pelas pessoas. Darci citou alguns exemplos de atitudes que podem contribuir para isso. As escolas e outras instituições precisam o sentido prático da educação ambiental. Já passou a época de só ficarmos fazendo cartazes para os eventos e depois tudo é esquecido. É preciso educar os novos consumidores sobre a sua responsabilidade com o meio ambiente. Isso envolve o conjunto de todos os educadores, educandos e os pais, finalizou Darci.

Fotos: Arquivo da ASPAN. A superior mostra palestra do engenheiro agrônomo Darci Bergmann no dia 15/04/2010 no evento Educando para a Paz. Na de baixo atividades do Projeto SEMEAR, da ASPAN, com alunos do SENAC. Preservação ambiental tem tudo a ver com paz.

10 de abril de 2010

MACELA - INDICADORA DE BIODIVERSIDADE



Por Darci Bergmann
A tradição de colher macela nas sextas-feiras santas ainda se mantém nas regiões sul e sudeste do Brasil. A macela tem o nome botânico de Achyrocline satureioides e pertence à família Asteraceae, a mesma do girassol, do tagetes e da alface. O costume consagrou o uso das inflorescências dessa planta para o tratamento de vários problemas de saúde, entre os quais disfunções gástricas, cólicas de fundo nervoso, epilepsias, diarréias, inflamações, dores, entre outros. Harri Lorenzi e F. J. Abreu Matos, no livro Plantas Medicinais no Brasil, citam que: Estudos in vitro realizados no Japão mostraram que extratos das flores desta planta inibiram em 67% o desenvolvimento de células cancerosas. Pesquisadores americanos demonstraram in vitro propriedades antiviróticas do extrato aquoso quente das flores secas contra células T-Linfoblastóideas infectadas com o vírus HIV.

A macela se desenvolve em campo aberto, não tolerando o sombreamento de árvores e arbustos. É freqüente em beira de estradas e por alguns agricultores é considerada erva daninha. O uso popular agora tem respaldo nas pesquisas de ponta. Mas em algumas regiões a macela está se tornando escassa. São várias as causas que concorrem para a escassez da macela. Não só dessa planta, mas de várias outras. No geral, um dos motivos é a nossa cultura que não dá valor àquilo que não é cultivado. Plantas herbáceas, sem uso conhecido, são vistas como invasoras ou inúteis. Mesmo pessoas consideradas cultas demonstram ignorância quando o assunto é biodiversidade. Ao enxergarem um campo macegoso, pululando de vida vegetal e animal, logo concluem que ali está uma área improdutiva. Essa miopia ecológica não permite a essa gente de cultura de gabinete uma visão holística das coisas. Muitas dessas pessoas são entronizadas como autoridades. Nessa condição, são capazes de exterminar o que resta dos campos naturais, taxados de improdutivos. Os termos chircal, macegal, bamburral soam-lhes como áreas abandonadas à própria sorte. Nessa concepção cultural desfocada da natureza reside a maior causa da escassez da macela e de outras plantas nativas.

Constatei também que as queimadas reduzem a população da macela e de outras herbáceas medicinais. Os campos macegosos são facilmente atingidos pelo fogo a partir das estradas e dos corredores vicinais. Os fumantes muitas vezes contribuem para essas tragédias ambientais ao atirarem as pontas acesas de cigarros em locais impróprios.

Outra causa de redução da biodiversidade é o uso intensivo de agrotóxicos. O uso de herbicidas está alterando a composição florística próximo às lavouras pulverizadas. O problema se agrava ainda mais quando essas pulverizações são feitas com aeronaves agrícolas. Para se ter uma idéia, um avião que aplica herbicida numa área de 100 hectares, sobrevoa outros tantos hectares, no entorno, fazendo manobras. E existem produtos que, pela sua característica de volatilidade, atingem grandes distâncias. É o caso do herbicida Clomazone. Assim, não é de estranhar que várias plantas da medicina caseira, entre elas a macela, estejam desaparecendo do cenário em muitas regiões.

A tradição de colher macela na sexta-feira santa talvez ainda persista. Depende de cada um de nós. Muitos dos que vão aos campos de macela já deixam no local parte das flores para que as suas sementes germinem para uma nova colheita no ano seguinte. Mas é preciso ir além. A natureza precisa de novos aliados para fazer frente à erosão na biodiversidade.

Fotos Darci Bergmann


Foto acima: O Grupo Maceleiros, em 22/04/2011
Apoio à conservação da biodiversidade