30 de junho de 2010

NÓS E OS BICHOS (5)


 BICHO TEM DIREITO À MORADIA



Por Darci Bergmann

 
A expansão das atividades humanas é outro fator de redução das áreas de procriação. E talvez o pior deles. Lembro-me de um documentário alemão que assisti na ETA - Escola Técnica de Agricultura, em Viamão, lá por 1969. O título do filme já dizia tudo: Kein Platz für wilde Tiere, ou Não há Lugar para Animais Selvagens. O documentário mostra a expansão da agricultura no continente africano e os impactos sobre a fauna selvagem. Situações semelhantes já tinham ocorrido em outras regiões do Planeta. No Brasil, tal expansão se deu em todo o domínio da Mata Atlântica e depois no Cerrado, Pampa e a última fronteira, a Floresta Amazônica, já está em processo de devastação. Em grande escala, a redução dos locais de procriação foi e continua sendo brutal. Até o plantio de árvores e arbustos deve ser pensado no interesse da diversidade de espécies. Plantios homogêneos e limpos reduzem a possibilidade de sobrevivência de muitas espécies. Moradia de bicho pode ser um toco, uma toca, uma fenda na rocha, uma moita ou um arbusto sem valor econômico. Até as folhas sobre o solo conferem proteção e alimento para muitos deles.

A maternidade em ambientes naturais é um direito das outras espécies



Ainda existem muitos preconceitos no inconsciente coletivo. Um deles se refere à vegetação espontânea que surge em áreas destinadas à regeneração natural. As macegas e arbustos são vistos como sujeira e na concepção de pessoas e autoridades devem ser extirpadas. Essas mesmas pessoas talvez tenham um especial carinho pelo seu cão ou gato de estimação e dispensam-lhes uma série de regalias. Mas esquecem que os matos e as capoeiras são abrigos para muitas espécies de bichos. Os bichos na Natureza apenas querem um espaço próprio livre da interferência humana. Para citar um exemplo, a maioria das aves faz seus ninhos acima do solo, entre um e quatro metros de altura. Para isso, as macegas e arbustos são fundamentais. Plantas espinhosas, impenetráveis para os humanos, constituem abrigos excelentes para algumas espécies de aves e mamíferos. Fazendo um paralelo, as pessoas isolam as suas casas dos possíveis larápios com grades de ferro, cercas elétricas e outras defesas, mas querem negar o direito de proteção aos animais num ambiente mais natural. Essa visão distorcida também impede a regeneração natural de algumas áreas degradadas. Lavouras e pastagens já degradaram muitas áreas de terras produtivas. Em alguns casos, a melhor solução é deixá-las em repouso para que a Natureza ali recomece um trabalho de regeneração. Isto pode levar muitos anos. Num primeiro momento aparecem algumas espécies vegetais rasteiras. Com o tempo arbustos e árvores. Nesses casos, algumas espécies animais já se associam ao processo e enriquecem o ambiente. Também nós humanos podemos participar, ali jogando sementes de espécies nativas da região. Aos poucos, vai se formando um ambiente mais complexo e uma verdadeira maternidade para muitos animais. Num ambiente equilibrado plantas e bichos dependem uns dos outros. Há quem afirme que uma área degradada nunca mais terá a mesma diversidade de espécies, mesmo ocorrendo a regeneração natural. Algumas espécies talvez não mais retornem a esses locais porque podem ser endêmicas de uma pequena área. Mesmo assim é preciso fazer a reversão de áreas degradadas para áreas de regeneração espontânea. Os benefícios são muitos, desde a a conservação do solo, recarga dos aqüíferos, retenção de CO² , procriação de animais silvestres, entre outros. Essa reversão será sempre mais rápida se nas proximidades ainda existirem remanescentes de vegetação natural. A maternidade em ambientes naturais é um direito das outras espécies.

NÓS E OS BICHOS (4)



Maternidade! Um estado de graça

Por Darci Bergmann


A espécie humana, pela sua racionalidade, adaptou ao mundo animal o conceito de maternidade assistida. Algumas espécies animais que servem aos interesses humanos recebem toda atenção na fase pré-natal e depois desta. É a maternidade assistida com requintes de sofisticação em alguns casos. Isto não significa que todas as espécies animais sejam motivo de atenção. Nas condições naturais, a realidade é outra. O comportamento humano é hostil à maioria das espécies. Um dos aspectos dessa hostilidade é a captura de animais aliada à caça. Machos e fêmeas foram e ainda são capturados ou abatidos indistintamente. Isto, por si só, já pode levar à extinção de algumas espécies.

Decorrente da caça com armas de fogo, no solo se deposita o metal pesado chumbo. As pequenas esferas podem ser ingeridas por aves que os confundem com pedriscos, estes necessários para a trituração dos grãos e sementes nas moelas. O chumbo ingerido atinge a corrente sanguínea e a ave é condenada à morte em pouco tempo. Se antes disso o animal contaminado for abatido para o consumo humano, a carne com chumbo pode fazer novas vítimas, principalmente as crianças que são mais vulneráveis. O chumbo também pode ser levado aos mananciais de água e aí o caçador é vítima de novo do efeito bumerangue. Outros metais pesados também estão presentes na água e no solo. A poluição por chumbo é emblemática porque a caça já foi rotulada como atividade esportiva, mas é apenas mais um crime contra a Natureza e contra a própria humanidade.

A civilização humana cuida da sua procriação. Estabelece normas, procedimentos e locais para que os nossos semelhantes nasçam e se desenvolvam bem. As gestantes têm amparo especial, o que é bom para a futura mãe e o seu filho. Não se poderia levar também esse conceito de proteção à maternidade para as outras espécies? Não há necessidade de hospitais e de equipamentos. Os animais em seu estado natural procriam sem a assistência humana. Requerem apenas locais apropriados e a proibição de atividades nocivas como a captura, o tráfico, a caça, as queimadas, entre outras.  O mesmo zelo que as mães humanas tem com seus filhos as fêmeas dos animais silvestres tem com sua prole A maternidade é um estado de graça. Faço um apelo às mães. Intercedam para que o seu companheiro não cace. Intercedam para que os bichos em cativeiro sejam libertados. Intercedam para que se implantem mais espaços naturais e sejam preservados os que já foram criados por lei. O amor de mãe é muito mais poderoso que o poder da força bruta. As mães unidas poderão melhorar as condições de sobrevivência da espécie humana e das outras espécies. Um dia os seus filhos agradecerão por isso.

23 de junho de 2010

POLÍTICA NEGLIGENCIA AMEAÇA DE EXTINÇÃO DE ESPÉCIES, ALERTA ONU

Recifes de coral, como este das Filipinas, estão ameaçados

Nações Unidas dedicaram o dia 22 de maio e o ano de 2010 à conscientização sobre a ameaça à biodiversidade. Ponto de desequilíbrio de ecossistemas poderá ser súbito e ter consequências irreversíveis.

Todos os anos, no dia 22 de maio, as Nações Unidas alertam para a importância da biodiversidade como pressuposto da existência humana. Em 2010, eleito pela ONU como Ano Internacional da Biodiversidade, o tema vem ganhando destaque ainda maior. A relevância da biodiversidade para o desenvolvimento e para o combate à pobreza é o enfoque que as Nações Unidas escolheram para essa iniciativa.

Em sua terceira edição, o Panorama Global de Biodiversidade (Global Biodiversity Outlook ou GBO-3, na sigla em inglês), divulgado no último dia 10, apontou que a extinção das espécies prossegue de forma desenfreada e por isso o empenho em defesa da biodiversidade é cada vez mais urgente.

Fracasso das metas de 2002

O documento alerta para o fato de que o atual processo de destruição do meio ambiente poderá ser irreversível. Sob especial ameaça estão a floresta tropical amazônica e os recifes de coral, ecossistemas cuja destruição teria graves consequências para todas as formas de vida na Terra, aponta o relatório das Nações Unidas.

"Diversos países são cegos para a enorme influência da biodiversidade e o seu papel no funcionamento dos ecossistemas", afirmou o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner. Isso afeta tanto as florestas e as reservas de água potável, como o solo, os oceanos e a atmosfera. "Precisamos da biodiversidade mais do que nunca em um planeta que hoje tem 6,8 bilhões de pessoas e em 2050 terá 9 bilhões", alertou Steiner.
                                              
                                            Logotipo do Ano Internacional da Biodiversidade

A meta de reduzir significativamente a extinção de espécies até 2010, traçada por ocasião da cúpula internacional de desenvolvimento sustentável de Johanesburgo, em 2002, não foi atingida nem de longe, por país nenhum, constatou o relatório.

Além disso, a diversidade genética das plantas e dos animais aproveitados em diversos âmbitos de produção vem diminuindo. De acordo com as estimativas das Nações Unidas, quase um quarto das espécies vegetais está ameaçado de extinção. Entre 1970 e 2006, a população de animais vertebrados decresceu quase um terço, por exemplo.

O relatório das Nações Unidas, baseado em 110 estudos nacionais sobre a biodiversidade, aponta três ecossistemas ameaçados de danos irreparáveis. A mudança climática e o desmatamento da Amazônia poderão ocasionar um abrangente processo de extinção de espécies e a floresta tropical poderá se transformar numa vegetação análoga à savana. Além disso, a diminuição das populações de peixes contribui para a multiplicação acelerada de algas, algo que poderá saturar os lagos de água doce. Por fim, o aumento da temperatura da água em todo o globo e a acidificação dos mares representam graves ameaças para os recifes de coral nos trópicos.

Globalização das espécies

O impacto do aquecimento global, uma das principais causas de ameaça aos ecossistemas, é bastante diversificado nas várias regiões do mundo. Na parte do planeta onde se concentram as nações industrializadas, é provável que o aquecimento leve a um aumento temporário das espécies, ao contrário do que deverá ocorrer no hemisfério sul. Isso foi o que apontou um estudo das universidades de Yale, Göttingen e Bonn divulgado no final de março passado.

                                        
                                           Amazônia, vítima do aquecimento global        

A pesquisa revela que a tendência no mundo vegetal é de uma uniformização na distribuição mundial das espécies, ou seja, uma tendência de globalização ecológica. Isso deverá ocorrer em detrimento da singularidade das espécies vegetais.

Regiões hoje frias e úmidas poderão passar a servir de habitat para um número maior de espécies. Para territórios mais secos e quentes nos trópicos e subtrópicos, as perspectivas de manutenção da biodiversidade são bem piores. Um dos efeitos mais graves do aquecimento global deverá ser a extinção de inúmeras espécies na floresta amazônica, preveem os cientistas.

Súbito ponto de desequilíbrio

Mesmo que muitos projetem esses cenários apocalípticos para um futuro longínquo, Paul Leadley, professor de Ecologia na Universidade de Paris, alerta: "Muitos dizem que a gradativa extinção das espécies vai aumentar até surgirem danos de dimensão catastrófica. No entanto, não sabemos quando esses acontecimentos repentinos podem acontecer, pois o contexto é de grande complexidade".

Ponto de desequilíbrio é a expressão usada por cientistas para descrever o momento em que sistemas inteiros entram em colapso, destruindo outros numa reação em cadeia, a ponto de as consequências serem absolutamente irreversíveis. O recente relatório das Nações Unidas aponta 13 pontos de desequilíbrio iminentes, mas na realidade existiriam centenas mais.


                                    
                                 Lince ibérico está na lista dos animais ameaçados de extinção

Por ocasião da divulgação do relatório, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, exigiu que o problema recebesse prioridade "em todos os âmbitos e setores econômicos nos quais se requerem decisões urgentes".

Mais de um bilhão de pessoas dependem da pesca como principal fonte de alimentação; mesmo assim, 80% da população de peixes está ameaçada. Cerca de 1,6 bilhão de pessoas ganha a vida com a exploração da madeira; contudo, a cada ano desaparecem 13 milhões de hectares de floresta.

A gravidade desse quadro, acirrada pela falta de ação da comunidade internacional diante do problema, levou Achim Steiner a propor a criação de um conselho científico mundial para a biodiversidade. A meta desse grêmio, a ser fundado em junho, é promover um diálogo mais intenso entre cientistas e políticos.

SL/dw/dpa/afp

Revisão: Roselaine Wandscheer



NÓS E OS BICHOS (3)



BEM-TE-VI, AVE FESTEIRA.

Por Darci Bergmann

O bem-te-vi, com batismo científico de Pitangus sulphuratus, é uma ave extraordinária. O seu comportamento inspira o folclore em muitas regiões do Brasil e talvez de outros países do continente americano. Ele é tema de poemas e canções. Um dos motivos dessa presença no cotidiano das pessoas é a sua adaptação ao meio urbano. A sua base alimentar é bem variada o que lhe permite sobreviver em muitos locais diferentes. O cardápio inclui frutos e sementes, insetos, larvas, caramujos, lesmas, peixes, minhocas e  até ovos e filhotes de outras aves.

No Sul do Brasil, nem os invernos rigorosos o afastam da sua querência. Seja no campo, seja na cidade, os dias de inverno às vezes iniciam com o alegre alvoroço dos bem-te-vis. Por vezes ficam mais de uma hora dando espetáculo sonoro ao redor de moradias bem arborizadas. Realmente o bem-te-vi é uma ave festeira. Apenas com o seu canto já é capaz de nos alegrar e ao mesmo tempo transmitir aquela paz interior. O espetáculo que essa ave proporciona só não é maior quando há interferência do barulho provocado pelas geringonças humanas. Veículos com descargas alteradas, aparelhos de som em alto volume e aquelas irritantes e monótonas cornetas de plástico ofuscam os espetáculos sonoros das aves em geral. Não só ofuscam, mas também lhes causam interferência na comunicação sonora. Cada espécie de ave tem uma diversidade de sons e estes são necessários para os rituais de acasalamento, para a localização dos indivíduos no ambiente e outras referências dentro do grupo. Evitar a poluição sonora faz bem para nós e faz bem aos animais, nossos irmãos de criação.

Outra questão especifica dos bem-te-vis. Algumas pessoas acusam essas aves de pilharem os ninhos alheios, em busca de ovos e filhotes. Já vi isso, especialmente em ninhos de rolinhas e juritis. Mas, vejamos bem. Pombas se alimentam principalmente de grãos. Reproduzem praticamente o ano inteiro. Até os ninhos são de uma simplicidade franciscana. Com isso não perdem muito tempo, pois sempre estão aumentando a prole. Se não houvesse controle biológico, essas pombas formariam uma população gigantesca em prejuízo de outras espécies. Não só os bem-te-vis comem filhotes e ovos de pombas e outras aves. Também serpentes arborícolas, gambás, ratos e até macacos se alimentam de ovos e filhotes de aves. Num ambiente natural as espécies se equilibram. Só nós humanos ainda não aprendemos totalmente essa lição da Natureza. Expandimos a nossa espécie com a degradação do meio ambiente. Não temos predadores. Por isso, deveríamos usar o nosso conhecimento para limitar a prole e o nosso ímpeto consumista.

Cabe acrescentar que o bem-te-vi é um excelente propagador de várias espécies de plantas, cactos inclusive. Também ajuda no controle de besouros e gafanhotos que de outra forma poderiam formar grandes populações e assim prejudicar a agricultura.

O bem-te-vi, além de festeiro, nos dá lições de ecologia.

22 de junho de 2010

AVANÇOS TECNOLÓGICOS E OS PERIGOS DA ENERGIA NUCLEAR

15.06.10 - MUNDO
Adital -


Por Heitor Scalambrini Costa *

Merece destaque e a nossa máxima atenção a ocorrência sucessiva e cada vez mais freqüente de desastres ambientais provocados pelas atividades humanas. Levando-nos a uma desconfiança necessária que temos de ter perante as afirmações que nos fazem como sendo credíveis e infalíveis processos e tecnologias existentes.

O exemplo mais contundente é o desastre provocado pela explosão e afundamento da plataforma Deepwater Horizon de exploração petrolífera da British Petroleum (BP) acontecida no dia 20 de abril último, e que dia após dia tem atingindo proporções catastróficas. Os números são bastante controversos, todavia o derrame de petróleo pode ter alcançado entre 1 milhão de barris a valores superiores a 170 milhões de barris. É, de fato, uma tragédia ambiental de proporções gigantescas, e que também começou por ser uma tragédia humana, com a morte de 11 trabalhadores quando da explosão da plataforma. Sem dúvida esta tragédia se transformou num dos piores desastres ambientais da humanidade.

O exemplo recente desta tragédia do Golfo do México, permitiu um conhecimento valioso para a discussão de um outro tema onde a argumentação se repete: a energia nuclear. Dizem-nos alguns que os avanços tecnológicos já retiraram os perigos desta fonte de produção de energia, chegando mesmo a afirmarem que o risco é zero ou praticamente inexistente. Mas, como percebemos, é conversa para se desconfiar, pois tentam defender algo indefensável. Mesmo sem termos de recorrer aos argumentos do alto custo da energia nuclear, da incapacidade de tratamento dos resíduos produzidos (o chamado "lixo nuclear") e das emissões de gases de efeito estufa durante o ciclo de produção (desde a mineração do urânio, o transporte, o enriquecimento, a posterior desmontagem da central e o processamento e confinamento dos rejeitos radioativos); a discussão passa hoje pelos exemplos que vamos tendo. Este desastroso acidente com derramamento de petróleo mostrou-nos de que o desenvolvimento científico e tecnológico nas diversas áreas não é infalível e, por outro, mostrou a enorme fragilidade humana perante a força da natureza. A pergunta então, que não quer calar, diz respeito aos limites que devem ser respeitados no desenvolvimento de tecnologias que implicam riscos muito graves.

Atualmente verifica-se que são feitas afirmativas peremptórias de que as usinas nucleares apresentam alto grau de excelência tecnológica, como principal fator de garantia da segurança e o aumento da confiabilidade. Há uma tentativa de tranqüilizar as pessoas, afirmando que a evolução tecnológica dos últimos 30 anos levou as usinas nucleares a se modernizarem e serem praticamente imunes em relação a acidentes. São citadas nos discursos "de perigo zero" as novas usinas que já estão em operação, às chamadas de 4ª geração que utiliza o conceito de "falha para a segurança". Nestas usinas, afirmam que quando ocorrem falhas de operação, estas são corrigidas, levando a uma condição mais segura do que a anterior, ou seja, a correção das falhas se dá automaticamente, sem requerer necessariamente a intervenção dos operadores. Como se isto bastasse e fosse suficiente para impedir acidentes. É só verificar e comparar, que mesmo com os enormes avanços tecnológicos da indústria aeronáutica, acidentes ocorrem, como foi o caso do Airbus 330-200 da Air France/AF 477, pérola da indústria aeronáutica no que diz respeito à automatização e segurança.
Sem dúvida a segurança das usinas nucleares teve avanços importantes, mas, seu relativo controle é suscetível a fatores humanos. Não podemos apagar dos arquivos da memória, acidentes nucleares ocorridos nos últimos anos.

O acidente nuclear de Chernobyl, no dia 26 de abril de 1986, é simbólico. Um dos reatores da usina sofreu uma explosão de vapor, causando um incêndio. Diversas explosões se sucederam e acabou ocorrendo o derretimento do núcleo do reator. Foi produzida uma nuvem de radioatividade que atingiu a União Soviética, Europa Oriental, Escandinávia e parte do Reino Unido. A contaminação foi 400 vezes maior que a da bomba de Hiroshima. Milhares de pessoas morreram ou ficaram gravemente doentes após o vazamento e mais de duzentas mil pessoas foram evacuadas de suas casas. Como a contaminação ainda causará o câncer em muitas pessoas é difícil estimar o número de mortos, em consequência do acidente. Acredita-se que 4 mil pessoas morrerão de doenças relacionadas. Ao todo 47 trabalhadores morreram no acidente e 9 crianças tiveram câncer de tireóide.

Com relação ao pior acidente nuclear da história, alguns chegam a afirmar que Chernobyl foi mais um acidente da antiga União Soviética do que propriamente um acidente nuclear. É um sofisma daqueles que defendem o uso da energia nuclear para produzir energia elétrica. Alegam que o modelo de usina de Chernobyl tinha padrões de segurança inferiores aos das usinas ocidentais, e que os planos de emergência existentes hoje são cada vez mais eficientes e eliminam perigos da dimensão de Chernobyl.

O que devemos levar em conta é o que dizem os especialistas, que não negam que haja perigo nas usinas núcleoelétricas; e não os defensores da tecnologia nuclear que dizem que com as melhorias introduzidas no projeto das usinas e os avanços tecnológicos obtidos, aliados com o aperfeiçoamento do treinamento dos operadores, praticamente garantem que a hipótese de acidentes pode ser excluída do ponto de vista prático. Menosprezam a hipótese de acidentes utilizando números provenientes de análises probabilísticas de segurança, e assim comparam como de mesma magnitude, as probabilidades de ocorrer uma grande liberação de material radioativo numa usina nuclear, com a probabilidade de um cometa atingir a Terra.

Não podemos acreditar naqueles que nos dizem que a tecnologia nuclear amadureceu e é infalível, porque percebemos que esse argumento é simplesmente utilizado por mero recurso retórico, tentando assim esconder os reais perigos. É inaceitável sequer considerar os dados estatísticos que indicam que é mínimo o risco, pois mínima também era a possibilidade da existência da explosão na plataforma da BP, ou a erupção do vulcão islandês, ou os sismos que conhecemos. Mas, a verdade é que esses problemas aconteceram com um preço muito alto a pagar por eles.

A arbitrariedade com que estão ocorrendo acontecimentos "naturais", com uma frequência crescente, mostra bem como não podemos permitir quaisquer risco ligado com as usinas nucleares, simplesmente pela grande catástrofe, econômica, ambiental e social que tais possíveis acidentes ocorrendo, pode legar a toda humanidade. Daí é preciso repetir que o Brasil não precisa de usinas nucleares.

* Professor Associado da Univ. Fed. de Pernambuco. Graduado em Física pela UNICAMP. Doutor em Energética na Univ. de Marselha/Comissariado de Energia Atômica-França


16 de junho de 2010

NÓS E OS BICHOS (II)

Louva-deus, faxineiro do jardim*

Por Darci Bergmann



Entre os insetos um dos mais perseguidos tem sido o devoto louva-deus. Crenças antigas atribuíam-lhe fama de venenoso. A realidade é outra. O bichinho é inofensivo e tem função importante no equilíbrio ecológico. Alimenta-se de outros insetos, entre os quais moscas, mosquitos, borboletas, pulgões etc. Sua presença em hortas, jardins e pomares é bem-vinda porque reduz a população de insetos pragas.

Existem muitas espécies de louva-deus. Algumas fontes referem mais de 2.400. Talvez a mais conhecida no Sul do Brasil seja a espécie Mantis religiosa. Rei da camuflagem, o louva-deus fica discreto em meio às folhas verdes, aguardando as suas presas. Às vezes, ele se torna um alvo fácil das pessoas desinformadas. Numa noite de verão, vi dezenas de louva-deuses em torno das lâmpadas elétricas de um restaurante de beira-estrada. Havia dúvida se os bichos foram atraídos pela luz ou se estavam ali para apanharem outros insetos. Talvez as duas coisas. Recordo que houve grande alvoroço no local e os clientes eram orientados a ocuparem as mesas mais afastadas. Funcionários da casa, com vassouras, tentavam afastar e até matar os bichinhos. Cheguei a tempo de evitar o pior. Pedi calma à galera. Subi numa cadeira e apanhei um louva-deus e o coloquei sobre o meu ombro. Dali o bicho passou ao meu rosto barbudo, ante o espanto de dezenas de pessoas. Calmamente, expliquei-lhes o que aprendi na cadeira de Entomologia. Consegui libertar a maioria dos insetos e o compromisso dos funcionários do restaurante para que não mais os considerassem como inimigos. Alguns clientes encorajados pelo que viram tomaram nas mãos os antes temidos insetos.

Pela narrativa aqui exposta, fica evidente que a sociedade ainda tem medos infundados de muitas espécies animais, por total desinformação. Cada pessoa que tiver consciência sobre isso deve ser um educador. Você, caro leitor, pode fazer uma grande diferença. Ajude a esclarecer as pessoas. Não importa o local. E não precisa ser um especialista, até porque esses são poucos. Nós humanos já interferimos demais na Natureza, destruímos muitos habitats e ainda maltratamos animais por preconceito. O que se pede é um mínimo de observação mais atenta sobre a fantástica biodiversidade que nos cerca.

Foto: Darci Bergmann

15 de junho de 2010

NÓS E OS BICHOS (1)



Por Darci Bergmann


A domesticação de animais iniciou há milênios. São poucas as espécies domesticadas, mas representam um grande número de indivíduos. Quanto mais aumentam as populações humanas e de animais domesticados, maior é o risco de extinção de outras espécies silvestres. Entre os fatores de extinção ocorrem destruição dos habitats, a caça, os venenos e outras ações que reduzem a possibilidade de sobrevivência de animais e plantas. Diversas espécies são alvo da insensatez dos racionais que as vêem como nocivas. Na maioria dos casos essas acusações são descabidas.

Referente às serpentes a reação é de pavor. Venenosas ou não, são mortas indiscriminadamente. Serpentes alimentam-se de camundongos, ratos, preás, entre outras presas. Nos quintais, às vezes aparecem pequenas serpentes malhadas, que chegam a 40 cm. Durante o dia ficam enrodilhadas sob as folhas, gravetos e pedras. À noite, caçam  lesmas. São chamadas dormideiras, da espécie Sibynomorphus ventrimaculatus. Inofensivas, mesmo assim são mortas, confundidas com outras espécies venenosas. É preciso muita sensibilização para reverter esse quadro, pois as serpentes sempre foram hostilizadas pelos humanos. Uma vez recebi uma turma de alunos especiais de uma escola mantida pela APAE. Aqueles adolescentes percorreram uma trilha urbana. No percurso, em meio às mudas de espécies florestais, foi localizada uma pequena cobra dormideira. Peguei a serpente, enquanto explicava que ela era dócil e até útil. Logo em seguida todos queriam tocá-la. Perderam o medo e fizeram promessas de proteger as que seriam por eles encontradas. Esse fato mostra que a educação pode contribuir na preservação das espécies, desde que se possibilite aos alunos o acesso aos ambientes naturais.

Os sapos motivam superstições que alimentam ainda mais a ignorância sobre seu importante papel no controle de populações de insetos. Já vi pessoas fazendo rituais macabros com sapos sob alegação de que isto provocaria chuva. Os bichos eram mortos e virados de barriga para cima. Outros eram espetados vivos e agonizavam até a morte. Os preconceitos em relação aos bichos são tantos que até estudantes de nível universitário demonstram uma fobia injustificável. Em certa ocasião, um sapo adentrara uma sala de aula de um curso superior. O bicho estava à cata de pequenos besouros que eram atraídos pela luz. Enquanto a turma, entre gritos de espanto e medo, se refugiava num canto da sala, a professora tomou o sapo em suas mãos e delicadamente o conduziu para fora do prédio. Havia temor de que o contato com o sapo poderia liberar veneno. A aula era de língua inglesa, mas uma atitude correta da professora, mudou o comportamento da turma em relação aos sapos.

Os episódios mencionados nos mostram claramente que algo precisa ser feito na base educacional. Todos os alunos de um curso superior, antes estudaram alguma coisa sobre zoologia. O comportamento humano em relação aos animais silvestres deve ser repensado nos meios de ensino. Só a teoria não basta.

Foto: Jarbas Felício Cardoso

14 de junho de 2010

POLUIÇÃO SONORA DAS CORNETAS PLÁSTICAS

Por Darci Bergmann


Vuvuzela, a corneta plástica usada em estádios de futebol e outros eventos, irrita muitas pessoas. Mesmo torcedores aficionados tem restrições a esse instrumento. A perturbação ao sossego público em si já é perda de qualidade de vida. Mas os danos causados pelo instrumento vão além, conforme estudos recentemente divulgados. Primeiro pela poluição sonora em que algumas versões dessa geringonça podem atingir até 125 decibéis. Segundo porque pode prejudicar os pulmões, de acordo com o artigo Alemães pedem proibição da vuvuzela, publicado no site da Deutsche Welle. Num trecho do artigo consta: "Instrumento pode afetar audição e transmitir doenças

Médicos alertam sobre perigos do artigo. Segundo especialistas do Hospital Universitário de Münster, a corneta sul-africana pode produzir até 125 decibéis, som mais alto que uma serra elétrica. Por isso, em espaços públicos, os fãs de futebol devem se prevenir. 'Quando alguém próximo tirar a vuvuzela da bolsa, é recomendável lançar mãos de tampões de ouvido', recomenda Hendrik Berssenbrügge, médico-chefe do hospital. Segundo ele, a corneta, quando tocada próxima ao ouvido, pode provocar danos no órgão auditivo.

 Além disso, o instrumento também é uma ameaça aos pulmões, afirma estudo de infectologistas britânicos. De acordo com a edição desta segunda-feira do jornal Ärzte Zeitung, publicação alemã direcionada a médicos, vuvuzelas podem disseminar germes de infecções, como resfriados e gripes, muito mais rapidamente do que tosses ou gritos”.
 
Em cidades aqui no Brasil, as cornetas plásticas barulhentas também são usadas por alguns vendedores ambulantes que não respeitam o direito ao descanso nos domingos e feriados. No meu bairro, muitas pessoas se queixam de vendedores de guloseimas tipo algodão doce, sacolés e outras do gênero que anunciam com barulho. Depois do almoço, uma pequena soneca faz bem. Mas isso quando não se é perturbado pelo ruído estridente das cornetas. A forma de protesto que algumas pessoas encontraram é não adquirir produtos anunciados com barulho.
Quanto aos esportes é bom torcer pelo time de sua preferência. Mas deve haver comedimento com relação ao barulho das cornetas, buzinas e bombas porque todo o excesso pode ser prejudicial. Alguns torcedores, talvez pela ingestão de bebidas alcóolicas, não se impõem limites e perturbam as pessoas que precisam repousar. Esse tipo de comportamento até contradiz a filosofia do esporte que é a de promover o bem estar físico e mental. 
 
 

Saiba mais:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5683235,00.html

11 de junho de 2010

VI SEMINÁRIO ESTADUAL "PERSPECTIVAS DA APICULTURA GAÚCHA"



Por Darci Bergmann
São Borja/RS/Brasil/11/06/2010 - Iniciou hoje e termina amanhã o VI Seminário Estadual "Perspectivas da Apicultura Gaúcha". É uma promoção da Associação de Apicultores de São Borja-AASB, Prefeitura Municipal de São Borja e do SEBRAE/RS. Tem o apoio da Confederação Brasileira de Apicultura-CBA, Federação Apícola do Rio Grande do Sul-FARGS, UERGS, URCAMP, UNIPAMPA, EMATER/RS, CONDES e FEPAGRO.
Fui convidado para falar sobre o tema Pesticidas - Transgenia da Flora: Ameaças para Apicultura. Talvez o convite tenha surgido do fato de que a ONG ambientalista ASPAN, da qual sou militante, está  pleiteando a suspensão do registro dos herbicidas de princípio ativo Clomazone. Este produto está degradando a flora nativa e espécies vegetais exóticas em boa parte do Rio Grande do Sul. Com isso, além das perdas em biodiversidade, há prejuízo à atividade apícola. Com apoio da ASPAN, percorri dezenas de propriedades rurais em São Borja e região e constatei a mortandade de milhares de árvores e arbustos de diversas espécies pela ação do Clomazone e outros herbicidas. Tal degradação também é resultante em grande parte pela deriva das aplicações aéreas e os sintomas do herbicida Clomazone são inconfundíveis. Começam pelo branqueamento das folhas - o chamado albinismo - depois vem a clorose amarelada e seguida de necrose dos tecidos foliares. Numa mesma temporada de aplicações, a flora é afetada quase que diariamente em doses sub-letais cada uma, mas que vão se sobrepondo até que ocorra a morte de árvores de grande porte. Isto pode levar até alguns anos, dependendo da espécie. Os herbicidas de princípio ativo Clomazone são extremamente voláteis. E é justamente na época de fim de inverno, quando ocorre a brotação das árvores e arbustos, que aqui na região são intensas as aplicações aéreas de Clomazone nas lavouras de arroz. Pelo efeito deriva, esse herbicida  atinge a vegetação do entorno da área-alvo. Então desloca-se para os tecidos meristemáticos das plantas, ou seja os brotos. Ali destrói os pigmentos protetores da clorofila e depois a própria clorofila, daí resultando o branqueamento das folhas jovens. Comercialmente, o Clomazone é mais conhecido como Gamit.


Mas outros produtos, entre eles o glifosato, também acarretam problemas ambientais, principalmente em aplicações aéreas. O glifosato é largamente utilizado nas dessecações, atingindo a vegetação no entorno da área-alvo pelo efeito da deriva. Nessas condições, plantas de interesse apicola são aniquiladas.
Por outro lado, ocorre aplicação de inseticidas nas culturas tradicionais. Entre esses alguns princípios ativos são extremamente letais às abelhas. É o caso do Fipronil, do grupo dos Pirazóis e do Imidacloprido, do grupo dos Neonicotinoides. Entre os produtos comerciais à base de Fipronil os mais conhecidos são Amulet, Klap, Standak, Belure, Blitz, entre outros. O imidacloprido tem formulações comerciais de nome Poncho, Gaúcho, Confidor WG, entre outros. Fatores como tipo de formulação, equipamento e estágio da cultura podem determinar maior ou menor mortandade de abelhas. No tocante aos inseticidas, mais uma vez as aplicações aéreas são as que causam maiores danos à apicultura. Sobre isso, o professor Osmar Malaspina, do Centro de Estudos de Insetos Sociais da UNESP, em Rio Claro-São Paulo, declarou: "Se a contaminação é no campo, por pulverização de avião, a abelha morre na hora"  Em outras edições estarei abordando mais tópicos sobre esse tema. É bom lembrar que muitas culturas dependem da polinização. Um terço dos alimentos que nós humanos consumimos dependem das abelhas. Elas são importantes bio-indicadores. 

Fotos: Darci Bergmann. A foto superior é de uma herbácea nativa em São Borja. Mais abaixo, um exemplar florido de canafístula - Pelthophorum dubium. Esta espécie é altamente suscetível ao Clomazone. Ela brota no início da primavera e logo é atingida pelas derivas das aplicações aéreas de herbicidas. Além de ornamental é de grande importância apícola e sua floração geralmente ocorre entre dezembro e março na região de São Borja.


7 de junho de 2010

MADEIRA ILEGAL NO MATO GROSSO

22 Mai 2010, 09:42 http://www.oeco.com.br/reportagens


Redação




Ex-secretário do Meio Ambiente Daldegan foi preso por suspeita de facilitar plantações de eucalipto em UCs (foto: Gov do Mato Grosso)
 
 
Operação da Policia Federal prendeu nesta sexta-feira (21) o ex-secretário de Meio Ambiente de Mato Grosso, Luiz Henrique Daldegan. Além dele, outros 91 suspeitos estão sendo procurados pela Policia Federal, acusados de envolvimento em um esquema de falsificação de documentos públicos para explorar madeiras em terras indígenas e unidades de conservação, no norte do estado
Até o final do dia, 65 pessoas tinham sido presas, entre elas, o chefe de gabinete do governador Silval Barbosa, Sílvio Cezar Correa de Araújo, e Janete Riva, mulher do presidente da Assembléia Legislativa, deputado José Riva (PP). Além das prisões, 91 mandados de busca e apreensão também foram expedidos.

Como funcionava o esquema
1. Um proprietário de terra no MT leva um inventário das madeiras de suas terras à SEMA.
2. Porém o inventario é frio, declara as madeiras que não existem. E muitas vezes declara até pastagem como floresta.
3. A SEMA autoriza a extração das madeiras, passiveis de serem retiradas, de acordo com o que a legisliação oferece.
4. O proprietário sai da SEMA com créditos que podem ser comercializados. Ex: Tantos m3 de Angelim, Itaúba etc.
5. O proprietario não tem essa madeira nas suas terras, mas tem o crédito.
6. Vai a um madeireiro clandestino, vende os créditos.
7. Esse madeireiro, com x metros cúbicos em créditos, entra numa terra indígena, parque, ou outras UCs, corta os m3 totais do credito.
8. E vende para o Sul e Sudeste, como madeira legal.

Segundo o delegado da PF, Franco Perazzoni, os suspeitos foram seguidos durante cerca de dois anos. “Há provas de que o esquema funcionava desde 2008, pelo menos”, afirma.
A investigação mostrou que a madeira roubada seria vendida em polos moveleiros da região Sul e para comerciantes dos estados da região Sudeste. Mandados de prisão foram expedidos em São Paulo, Minas Gerais, Paraná, Espírito Santo, Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. A operação deve continuar durante o final de semana.
Entre os detidos estão empresários, servidores da Secretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), pessoas ligadas a políticos do Mato Grosso e engenheiros florestais – responsáveis pela elaboração de inventários florestais e planos de manejo.
A madeira era retirada do Parque Indígena do Xingu, das quatro Terras Indígenas dos Cinta-Largas (Aripuanã, Serra Morena e Roosevelt e Parque do Aripuanã) e Terra Indígena Kayabi, além do Parque Nacional do Juruena.
Segundo fontes da Policia Federal, há indícios de que lideranças indígenas facilitavam a retirada das madeiras. A Polícia Federal calcula que o esquema movimentou pelo menos R$ 900 milhões.
Os suspeitos deverão ser indiciados por furto, grilagem de terras, formação de quadrilha, corrupção ativa e passiva, falsidade ideológica, inserção de dados falsos em arquivos públicos e diversos crimes ambientais.

Sistema de Informações florestais
A investigação quebrou sigilos bancários de funcionários públicos, seguiu suspeitos e monitorou o trabalho de fiscalização de funcionários da SEMA.
Também usou dados dos sistemas de informações da gestão florestal, tanto do estado de Mato Grosso, Sisflora (Sistema de Comercialização e Transporte de Produtos Florestais), como também dos sistemas federais, operados pelo Ibama.
Segundo Perazzoni, esses sistemas informatizados facilitaram as investigações. “Por mais que essas ferramentas ainda estejam imperfeitas, elas trazem mais transparência para o monitoramento”, garante.
Para ele, por mais sofisticadas que sejam as manipulações dentro desses sistemas, elas sempre deixam rastro. “Tanto o Sisflora, do Mato Grosso, como os do Ibama são uma evolução”, afirma Perazzoni.

Más influências
A prisão do ex-secretário estadual de Meio Ambiente, Luiz Henrique Daldegan, foi pedida pelo Ministério Publico Federal, no Mato Grosso. O procurador, Mario Lucio Avelar, disse para o Eco, que o nome do ex-secretário foi incluído porque ele atendia a pedidos políticos para autorizar plantação de eucalipto em unidades de conservação.
“Apurei que ele revogou um plano de manejo de uma unidade de conservação só para atender a um pedido de um deputado federal, que tinha interesse de plantar eucalipto lá dentro”, afirma o procurador.
Na avaliação de Avelar, esse é um dos problemas de o Governo Federal transferir a fiscalização florestal para os estados, como aconteceu no Mato Grosso. “Essa operação mostra isso: o poder político e econômico sobre um secretario de governo encarregado da gestão florestal”, resumiu.
Avelar admite, no entanto, que – embora tenha sido inicialmente contra – a descentralização tem se mostrado positiva, uma vez que permite maior transparência para o licenciamento. Segundo ele, ela também desafogou o trabalho do Ibama, garantindo ao órgão mais mobilidade para ações de fiscalização.
Questionado sobre em qual grau a operação atingiu o ex-governador Blairo Maggi, o procurador se limitou a responder que tal avaliação é política e não cabe a ele fazê-la. “Eu apenas apuro os fatos, que falam por si só”, respondeu.
A operação foi batizada Jurupari em referência a uma lenda Tupi, segundo a qual uma entidade foi enviada pelo Sol que faz cumprir as leis. Segundo a crença, ao Jurupari não se pede perdão, não há súplica que o abrande, ele exige estrita obediência às leis.
Tags: crime ambiental   florestas   mato grosso   terras indígenas
 
 

6 de junho de 2010

PARQUE É PATRIMÔNIO DA HUMANIDADE ENTRE ALEMANHA E POLÔNIA

                                           Vista do lado polonês do parque à beira do Neisse

Há 225 anos nascia o príncipe Hermann von Pückler, conhecido como explorador e pelo fato de ter dado nome a um sorvete semelhante ao tricolor napolitano. Como paisagista, criou o Parque Fürst Pückler em Bad Muskau.
Nascido em 1785, Pückler se dizia pouco confiável e volúvel. Levou uma vida bastante instável e seus contemporâneos o consideravam um aventureito e casanova.
Johann Wolfgang von Goethe foi um dos poucos admiradores de sua produção literária, reconhecendo-o como um cosmopolita de talento indiscutível. O próprio príncipe desejava tornar-se conhecido pela criação do Parque Fürst Pückler, futuro patrimônio da humanidade. "Quem tiver visto Muskau, terá enxergado minha alma", afirmava.

                                   
                                      Patrimônio cultural da humanidade

Paisagem como arte

Com 522 hectares, o jardim criado por Pückler à beira do rio Neisse foi um dos primeiros de estilo inglês da Alemanha. No lugar de cores, o príncipe pretendia compor com elementos naturais – árvores, rios e gramados – uma paisagem ideal. O projeto quase arruinou Pückler e não foi concluído.

Entretanto, as orientações do príncipe permitiram, em três décadas – de 1815 a 1845 –, a realização de parque ímpar na Europa. Desde 2004, ele é patrimônio cultural da humanidade declarado pela Unesco.


Destruída na Guerra, a Ponte Inglesa aguarda restauração A proposta foi levada conjuntamente por Alemanha e Polônia – país este ao qual pertencem dois terços da área do parque. Os dois países trataram da restauração desse monumento da cultura europeia, parcialmente danificado durante a Segunda Guerra. Também foi reerguida a ponte sobre o Neisse, cuja destruição havia separado fisicamente os lados alemão e polonês.

Visita sem fronteiras

"Pode-se dizer que o Neisse nunca foi realmente uma barreira no parque. Em 2003, Alemanha e Polônia reconstruíram a ponte que une os dois lados e, desde 2004, com o ingresso da Polônia na União Europeia, é possível atravessar o rio sem restrições", afirma Katarzyna Jagiello, funcionária do Centro Nacional de Pesquisa de Monumentos e Documentação e responsável pelo desenvolvimento turístico no lado polonês do parque.

"Já no começo dos anos 1990, [o chanceler federal] Helmut Kohl considerava que o parque deveria pertencer ao patrimônio cultural da humanidade", lembra Ute Martina Kühnel, da Fundação Parque Fürst Pückler de Bad Muskau.

O órgão estabelecido pelo estado da Saxônia é encarregado da manutenção do parque e de seus prédios. No conselho da Fundação também estão presentes representantes poloneses.

Alemanha e Polônia atuam de mãos dadas na manutenção do jardim. Em parceria, dez jovens alemães e dez poloneses desobstruem caminhos históricos e removem árvores caídas. "Eles trabalham juntos por um ano. Para se comunicar, os jovens aprendem alemão e polonês", explica Katarzyna.

Castelo restaurado: nova joia local

Há muito trabalho a ser feito. A Ponte Inglesa ainda está destruída. O castelo, que permaneceu em ruínas durante a República Democrática Alemã, vem sendo restaurado desde a metade da década de 1990 e deve ser completamente reconstruído em estilo neorrenascentista até o fim de 2013.

Falta apenas um terço da obra: a asa lateral esquerda. Com suas cores harmônicas e a rampa de acesso projetada pelo arquiteto prussiano Karl Friedrich Schinkel, o castelo se integra à bela paisagem do parque.


Passeio de carrinho pelo parque e pela exposição. A sala em que Pückler escreveu, em 1834, sua obra Andeutungen über Landschaftsgärtnerei (Divagações sobre a jardinagem paisagístisca) foi detalhadamente reconstruída e abriga uma grande exposição comemorativa ao 225º aniversário do príncipe.

Seus organizadores viram-se diante do desafio de apresentar a complexa obra e a personalidade multifacetada de Pückler de maneira adequada e interessante, o que se reflete no nome escolhido para a mostra: "Pückler? Simplesmente incompreensível".

Autor: Daniel Scheschkewitz (lpf)
Revisão: Simone Lopes
Fonte:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5651803,00.html


4 de junho de 2010

A FLORESTA COMO PROTETORA DO SOLO

Foto Comentada*

Por Darci Bergmann

Muito já se falou sobre a importância das florestas nativas na manutenção do equilíbrio ecológico. Aqui o termo floresta pode significar uma vegetação arbustiva ou até mesmo uma capoeira precursora de formação florestal mais densa. Em termos de proteção do solo, essa cobertura vegetal é imprescindível em alguns casos. Não preservá-la pode resultar em perdas incalculáveis de solo que fica à mercê da erosão. No momento em que se discute a alteração do código florestal, seria importante que os políticos prestassem mais atenção aos recados da natureza. Alegam alguns que os proprietários rurais seriam prejudicados caso a legislação atual fosse cumprida na íntegra. E quando emerge a questão social há que se buscar alternativas. No entanto, o tema parece envolver outros aspectos que não os ambientais. Há um determinado setor da sociedade que não quer nenhuma limitação no seu afã de produzir, não importa se alimento ou qualquer outra cultura. Nesse ponto reside o conflito para aceitação do código florestal. Um produtor rural pauta a sua atividade buscando lucro como qualquer outro empreendimento. Agora, é incompreensível que isso se faça sem um mínimo de preocupação com a sustentabilidade. Tenho visto algumas pessoas - e políticos entre elas - que fazem um discurso eivado de asneiras, desviando o foco das discussões. Há poucos dias, li na revista do CREA/RS matéria de um colega, engenheiro agrônomo, preocupado com a posição das entidades ambientalistas, que a seu juízo, estariam sendo financiadas pelo capital estrangeiro. O intuito dessas ONGs seria desestabilizar a produção brasileira de alimentos. Esqueceu-se o ilustre colega de dizer que nem todos os produtores rurais são efetivamente produtores de alimentos. É o caso da produção de tabaco, entre outros. Quanto às ONGs, parece que estão preocupados com entidades tipo Greenpeace, cujas sedes mundiais estão fora do Brasil. Ora, se é por isso, basta ver onde ficam as sedes das empresas que produzem agrotóxicos e outros insumos de produção. O político Aldo Rebelo mandou e-mails em que acusa o Greenpeace de estar a serviço de interesses estrangeiros, pois a sede dessa ONG é na Holanda. Só falta dizer que algumas dessas organizações tem braço armado e podem dispor de armas nucleares.

O festival de besteiras desse tipo é para encobrir os aspectos torpes da chamada reforma do código florestal. A discussão deve ser de cunho ambiental, visando garantir a integridade do patrimônio natural brasileiro às futuras gerações. Ninguém é contra a produção de alimentos, até porque esses podem ser produzidos com menos impactos ambientais. Há que se ter uma boa legislação que garanta a sustentabilidade da produção primária. Dezenas de milhões de hectares de terras brasileiras já foram degradadas pela não observância do código florestal, que não é tão novo assim. A primeira versão é de 1934. O que mais ameaça a produção de alimentos é a produção só no afã de ter lucro sem a preocupação de conservar o patrimônio natural.

*A foto acima mostra claramente a importância da cobertura florestal em áreas de declive acentuado. A encosta protegida não apresenta sinais de erosão. Mais abaixo, o pastoreio excessivo mostra os seus efeitos com as vossorocas já em estágio avançado. É provável que antes da pecuária extensiva, esse solo arenoso tenha sido usado como lavoura. Milhões de hectares de terras brasileiras precisam da proteção das florestas nativas. Outros aspectos relevantes dessas matas referem-se à conservação dos mananciais de água, da biodiversidade e da retenção de CO² para citar alguns.