23 de junho de 2010

NÓS E OS BICHOS (3)



BEM-TE-VI, AVE FESTEIRA.

Por Darci Bergmann

O bem-te-vi, com batismo científico de Pitangus sulphuratus, é uma ave extraordinária. O seu comportamento inspira o folclore em muitas regiões do Brasil e talvez de outros países do continente americano. Ele é tema de poemas e canções. Um dos motivos dessa presença no cotidiano das pessoas é a sua adaptação ao meio urbano. A sua base alimentar é bem variada o que lhe permite sobreviver em muitos locais diferentes. O cardápio inclui frutos e sementes, insetos, larvas, caramujos, lesmas, peixes, minhocas e  até ovos e filhotes de outras aves.

No Sul do Brasil, nem os invernos rigorosos o afastam da sua querência. Seja no campo, seja na cidade, os dias de inverno às vezes iniciam com o alegre alvoroço dos bem-te-vis. Por vezes ficam mais de uma hora dando espetáculo sonoro ao redor de moradias bem arborizadas. Realmente o bem-te-vi é uma ave festeira. Apenas com o seu canto já é capaz de nos alegrar e ao mesmo tempo transmitir aquela paz interior. O espetáculo que essa ave proporciona só não é maior quando há interferência do barulho provocado pelas geringonças humanas. Veículos com descargas alteradas, aparelhos de som em alto volume e aquelas irritantes e monótonas cornetas de plástico ofuscam os espetáculos sonoros das aves em geral. Não só ofuscam, mas também lhes causam interferência na comunicação sonora. Cada espécie de ave tem uma diversidade de sons e estes são necessários para os rituais de acasalamento, para a localização dos indivíduos no ambiente e outras referências dentro do grupo. Evitar a poluição sonora faz bem para nós e faz bem aos animais, nossos irmãos de criação.

Outra questão especifica dos bem-te-vis. Algumas pessoas acusam essas aves de pilharem os ninhos alheios, em busca de ovos e filhotes. Já vi isso, especialmente em ninhos de rolinhas e juritis. Mas, vejamos bem. Pombas se alimentam principalmente de grãos. Reproduzem praticamente o ano inteiro. Até os ninhos são de uma simplicidade franciscana. Com isso não perdem muito tempo, pois sempre estão aumentando a prole. Se não houvesse controle biológico, essas pombas formariam uma população gigantesca em prejuízo de outras espécies. Não só os bem-te-vis comem filhotes e ovos de pombas e outras aves. Também serpentes arborícolas, gambás, ratos e até macacos se alimentam de ovos e filhotes de aves. Num ambiente natural as espécies se equilibram. Só nós humanos ainda não aprendemos totalmente essa lição da Natureza. Expandimos a nossa espécie com a degradação do meio ambiente. Não temos predadores. Por isso, deveríamos usar o nosso conhecimento para limitar a prole e o nosso ímpeto consumista.

Cabe acrescentar que o bem-te-vi é um excelente propagador de várias espécies de plantas, cactos inclusive. Também ajuda no controle de besouros e gafanhotos que de outra forma poderiam formar grandes populações e assim prejudicar a agricultura.

O bem-te-vi, além de festeiro, nos dá lições de ecologia.

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