Recifes de coral, como este das Filipinas, estão ameaçados
Nações Unidas dedicaram o dia 22 de maio e o ano de 2010 à conscientização sobre a ameaça à biodiversidade. Ponto de desequilíbrio de ecossistemas poderá ser súbito e ter consequências irreversíveis.
Todos os anos, no dia 22 de maio, as Nações Unidas alertam para a importância da biodiversidade como pressuposto da existência humana. Em 2010, eleito pela ONU como Ano Internacional da Biodiversidade, o tema vem ganhando destaque ainda maior. A relevância da biodiversidade para o desenvolvimento e para o combate à pobreza é o enfoque que as Nações Unidas escolheram para essa iniciativa.
Em sua terceira edição, o Panorama Global de Biodiversidade (Global Biodiversity Outlook ou GBO-3, na sigla em inglês), divulgado no último dia 10, apontou que a extinção das espécies prossegue de forma desenfreada e por isso o empenho em defesa da biodiversidade é cada vez mais urgente.
Fracasso das metas de 2002
O documento alerta para o fato de que o atual processo de destruição do meio ambiente poderá ser irreversível. Sob especial ameaça estão a floresta tropical amazônica e os recifes de coral, ecossistemas cuja destruição teria graves consequências para todas as formas de vida na Terra, aponta o relatório das Nações Unidas.
"Diversos países são cegos para a enorme influência da biodiversidade e o seu papel no funcionamento dos ecossistemas", afirmou o diretor executivo do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, Achim Steiner. Isso afeta tanto as florestas e as reservas de água potável, como o solo, os oceanos e a atmosfera. "Precisamos da biodiversidade mais do que nunca em um planeta que hoje tem 6,8 bilhões de pessoas e em 2050 terá 9 bilhões", alertou Steiner.
Logotipo do Ano Internacional da Biodiversidade
A meta de reduzir significativamente a extinção de espécies até 2010, traçada por ocasião da cúpula internacional de desenvolvimento sustentável de Johanesburgo, em 2002, não foi atingida nem de longe, por país nenhum, constatou o relatório.
Além disso, a diversidade genética das plantas e dos animais aproveitados em diversos âmbitos de produção vem diminuindo. De acordo com as estimativas das Nações Unidas, quase um quarto das espécies vegetais está ameaçado de extinção. Entre 1970 e 2006, a população de animais vertebrados decresceu quase um terço, por exemplo.
O relatório das Nações Unidas, baseado em 110 estudos nacionais sobre a biodiversidade, aponta três ecossistemas ameaçados de danos irreparáveis. A mudança climática e o desmatamento da Amazônia poderão ocasionar um abrangente processo de extinção de espécies e a floresta tropical poderá se transformar numa vegetação análoga à savana. Além disso, a diminuição das populações de peixes contribui para a multiplicação acelerada de algas, algo que poderá saturar os lagos de água doce. Por fim, o aumento da temperatura da água em todo o globo e a acidificação dos mares representam graves ameaças para os recifes de coral nos trópicos.
Globalização das espécies
O impacto do aquecimento global, uma das principais causas de ameaça aos ecossistemas, é bastante diversificado nas várias regiões do mundo. Na parte do planeta onde se concentram as nações industrializadas, é provável que o aquecimento leve a um aumento temporário das espécies, ao contrário do que deverá ocorrer no hemisfério sul. Isso foi o que apontou um estudo das universidades de Yale, Göttingen e Bonn divulgado no final de março passado.
Amazônia, vítima do aquecimento global
A pesquisa revela que a tendência no mundo vegetal é de uma uniformização na distribuição mundial das espécies, ou seja, uma tendência de globalização ecológica. Isso deverá ocorrer em detrimento da singularidade das espécies vegetais.
Regiões hoje frias e úmidas poderão passar a servir de habitat para um número maior de espécies. Para territórios mais secos e quentes nos trópicos e subtrópicos, as perspectivas de manutenção da biodiversidade são bem piores. Um dos efeitos mais graves do aquecimento global deverá ser a extinção de inúmeras espécies na floresta amazônica, preveem os cientistas.
Súbito ponto de desequilíbrio
Mesmo que muitos projetem esses cenários apocalípticos para um futuro longínquo, Paul Leadley, professor de Ecologia na Universidade de Paris, alerta: "Muitos dizem que a gradativa extinção das espécies vai aumentar até surgirem danos de dimensão catastrófica. No entanto, não sabemos quando esses acontecimentos repentinos podem acontecer, pois o contexto é de grande complexidade".
Ponto de desequilíbrio é a expressão usada por cientistas para descrever o momento em que sistemas inteiros entram em colapso, destruindo outros numa reação em cadeia, a ponto de as consequências serem absolutamente irreversíveis. O recente relatório das Nações Unidas aponta 13 pontos de desequilíbrio iminentes, mas na realidade existiriam centenas mais.
Lince ibérico está na lista dos animais ameaçados de extinção
Por ocasião da divulgação do relatório, o secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki Moon, exigiu que o problema recebesse prioridade "em todos os âmbitos e setores econômicos nos quais se requerem decisões urgentes".
Mais de um bilhão de pessoas dependem da pesca como principal fonte de alimentação; mesmo assim, 80% da população de peixes está ameaçada. Cerca de 1,6 bilhão de pessoas ganha a vida com a exploração da madeira; contudo, a cada ano desaparecem 13 milhões de hectares de floresta.
A gravidade desse quadro, acirrada pela falta de ação da comunidade internacional diante do problema, levou Achim Steiner a propor a criação de um conselho científico mundial para a biodiversidade. A meta desse grêmio, a ser fundado em junho, é promover um diálogo mais intenso entre cientistas e políticos.
SL/dw/dpa/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer
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