11 de junho de 2010

VI SEMINÁRIO ESTADUAL "PERSPECTIVAS DA APICULTURA GAÚCHA"



Por Darci Bergmann
São Borja/RS/Brasil/11/06/2010 - Iniciou hoje e termina amanhã o VI Seminário Estadual "Perspectivas da Apicultura Gaúcha". É uma promoção da Associação de Apicultores de São Borja-AASB, Prefeitura Municipal de São Borja e do SEBRAE/RS. Tem o apoio da Confederação Brasileira de Apicultura-CBA, Federação Apícola do Rio Grande do Sul-FARGS, UERGS, URCAMP, UNIPAMPA, EMATER/RS, CONDES e FEPAGRO.
Fui convidado para falar sobre o tema Pesticidas - Transgenia da Flora: Ameaças para Apicultura. Talvez o convite tenha surgido do fato de que a ONG ambientalista ASPAN, da qual sou militante, está  pleiteando a suspensão do registro dos herbicidas de princípio ativo Clomazone. Este produto está degradando a flora nativa e espécies vegetais exóticas em boa parte do Rio Grande do Sul. Com isso, além das perdas em biodiversidade, há prejuízo à atividade apícola. Com apoio da ASPAN, percorri dezenas de propriedades rurais em São Borja e região e constatei a mortandade de milhares de árvores e arbustos de diversas espécies pela ação do Clomazone e outros herbicidas. Tal degradação também é resultante em grande parte pela deriva das aplicações aéreas e os sintomas do herbicida Clomazone são inconfundíveis. Começam pelo branqueamento das folhas - o chamado albinismo - depois vem a clorose amarelada e seguida de necrose dos tecidos foliares. Numa mesma temporada de aplicações, a flora é afetada quase que diariamente em doses sub-letais cada uma, mas que vão se sobrepondo até que ocorra a morte de árvores de grande porte. Isto pode levar até alguns anos, dependendo da espécie. Os herbicidas de princípio ativo Clomazone são extremamente voláteis. E é justamente na época de fim de inverno, quando ocorre a brotação das árvores e arbustos, que aqui na região são intensas as aplicações aéreas de Clomazone nas lavouras de arroz. Pelo efeito deriva, esse herbicida  atinge a vegetação do entorno da área-alvo. Então desloca-se para os tecidos meristemáticos das plantas, ou seja os brotos. Ali destrói os pigmentos protetores da clorofila e depois a própria clorofila, daí resultando o branqueamento das folhas jovens. Comercialmente, o Clomazone é mais conhecido como Gamit.


Mas outros produtos, entre eles o glifosato, também acarretam problemas ambientais, principalmente em aplicações aéreas. O glifosato é largamente utilizado nas dessecações, atingindo a vegetação no entorno da área-alvo pelo efeito da deriva. Nessas condições, plantas de interesse apicola são aniquiladas.
Por outro lado, ocorre aplicação de inseticidas nas culturas tradicionais. Entre esses alguns princípios ativos são extremamente letais às abelhas. É o caso do Fipronil, do grupo dos Pirazóis e do Imidacloprido, do grupo dos Neonicotinoides. Entre os produtos comerciais à base de Fipronil os mais conhecidos são Amulet, Klap, Standak, Belure, Blitz, entre outros. O imidacloprido tem formulações comerciais de nome Poncho, Gaúcho, Confidor WG, entre outros. Fatores como tipo de formulação, equipamento e estágio da cultura podem determinar maior ou menor mortandade de abelhas. No tocante aos inseticidas, mais uma vez as aplicações aéreas são as que causam maiores danos à apicultura. Sobre isso, o professor Osmar Malaspina, do Centro de Estudos de Insetos Sociais da UNESP, em Rio Claro-São Paulo, declarou: "Se a contaminação é no campo, por pulverização de avião, a abelha morre na hora"  Em outras edições estarei abordando mais tópicos sobre esse tema. É bom lembrar que muitas culturas dependem da polinização. Um terço dos alimentos que nós humanos consumimos dependem das abelhas. Elas são importantes bio-indicadores. 

Fotos: Darci Bergmann. A foto superior é de uma herbácea nativa em São Borja. Mais abaixo, um exemplar florido de canafístula - Pelthophorum dubium. Esta espécie é altamente suscetível ao Clomazone. Ela brota no início da primavera e logo é atingida pelas derivas das aplicações aéreas de herbicidas. Além de ornamental é de grande importância apícola e sua floração geralmente ocorre entre dezembro e março na região de São Borja.


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