31 de janeiro de 2012

Siqueira Campos, em frente à paineira.

Paineira na Rua Siqueira Campos, Porto Alegre/RS
No prédio atrás da árvore localizava-se o Bromberg Magazine
Foto: Darci Bergmann, 27/01/2012


Por Darci Bergmann

     Por muitos anos, em boa parte do Sul do Brasil se ouvia nas rádios de Porto Alegre uma publicidade 'sui generis". O Magazine Bromberg, localizado na Rua Siqueira Campos, tinha em frente da loja uma enorme paineira. Essa árvore era e ainda é uma referência no centro da cidade. Nos comerciais um chamava atenção. Bromberg Magazine: Siqueira Campos, em frente à paineira. Espetacular a publicidade, que aliava o respeito à natureza. Em Mondaí, no Extremo Oeste de Santa Catarina, eu ainda adolescente, ouvia essa publicidade pelas ondas da Rádio Guaíba. Depois, de 1967 a 1969, quando cursava a ETA - Escola Técnica de Agricultura, em Viamão, continuei a ouvir o engenhoso comercial. Fiz questão de conhecer a paineira e o Magazine Bromberg, onde fui cliente eventual.
    Várias vezes a paineira esteve ameaçada de ser retirada pela própria Prefeitura, que pretendia o alargamento da via pública. Nessas ocasiões, o Sr. Luís Siegmann, dono do Magazine, entrava em ação, impedindo a retirada da frondosa árvore. Até que as mentalidades dos gestores públicos começaram a entender a real importância das árvores urbanas. A paineira foi então preservada e serviu de testemunha a outra constatação: de que a sua presença não atrapalharia, como de fato aconteceu, as melhorias na Rua Siqueira Campos. 
     Hoje, dezenas de anos após aqueles episódios, a paineira continua enfeitando a Siqueira Campos. Já não se vê mais o Magazine Bromberg. O proprietário, Sr. Luís Siegmann, foi homenageado pela própria municipalidade pela sua obstinação em preservar o patrimônio verde. Também serviu de exemplo a tantos outros comerciantes, quando demonstrou que árvore em frente à loja não atrapalha. Até, pelo contrário, atrai cliente. 
     De outro lado ainda existem empresários inescrupulosos, imediatistas, que dificultam a vida das árvores em frente dos seus estabelecimentos. Alguns chegam a jogar produtos químicos para matar as árvores. Assim procedem para que as fachadas das lojas fiquem mais expostas. Essas pessoas mesquinhas e amantes do lucro acima do bem estar coletivo, na sua visão equivocada, não colhem melhores resultados comerciais com a destruição das árvores. Hoje, boa parte do público, repele silenciosamente tais procedimentos. 
Dia após dia, os empresários e a população em geral começam a entender melhor o papel da arborização urbana. Menos calor, paisagem harmoniosa e a certeza de que em cada estação do ano o cenário se renova.
   O proprietário do então Magazine Bromberg, na Siqueira Campos, em frente à paineira, esteja onde estiver, deixou-nos uma lição de vida. E a velha paineira, se pudesse falar, talvez dissesse: muito obrigado, amigo. 
    Que a sombra das paineiras e de todas as árvores do meu País nos proteja do sol escaldante. 
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Nota do blog: Recebi e-mail de Andrea Caleffi Ostermayer, neta do Sr. Luís Siegmann, então proprietário do Bromberg Magazine e defensor da paineira. Quando eu cursava a ETA, em Viamão, algumas pessoas faziam confusão entre o nome do proprietário e o nome do Magazine. Fiz a necessária correção no texto. 

30 de janeiro de 2012

Rua 'mais bonita do mundo' vira ponto turístico em Porto Alegre

30/01/2012 07h16 - Atualizado em 30/01/2012 07h24


Moradores fazem trabalho de preservação da Gonçalo de Carvalho.
G1 visitou a rua e conversou com residentes e turistas.

Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes / G1)Árvores formam espécie de túnel na Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes / G1)
Apelidada por um professor português, a "rua mais bonita do mundo" ganhou fama pela internet e pelas redes sociais e agora é parada obrigatória para os turistas que visitam Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Calma e arborizada, a Rua Gonçalo de Carvalho fica na divisa dos bairros Independência e Floresta. Decretada Patrimônio Histórico, Cultural, Ecológico e Ambiental do município em junho de 2006, ficou conhecida não só pelas árvores que formam um túnel verde em sua extensão, mas também pela luta pela preservação mantida há anos pelos moradores e até por quem não reside nela.
Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes / G1)Turistas mineiros incluíram visita à rua no roteiro da
visita a Porto Alegre após verem matéria na TV
(Foto: Tatiana Lopes/G1)
Sob sol forte e temperatura de mais de 30°C, o G1 visitou o local na última semana. Em uma hora, pelo menos três grupos foram vistos fotografando as árvores na Gonçalo de Carvalho. "Vi uma matéria na televisão e procurei na internet. Eu tinha que vir conhecer, é muito bonita mesmo", disse o mineiro de Belo Horizonte Thiago Prisco, 27 anos, que curte férias com o amigo Antônio Luiz Balbino Neto, 28. Em meio aos visitantes, os moradores caminham tranquilamente com seus animais de estimação. Carros transitam frequentemente na rua, mas o volume de ruídos parece menor a quem anda pelo local. A sensação é que as árvores abafam o barulho. E é possível ouvir o canto dos pássaros.
Os turistas mineiros sabiam, sem muitos detalhes, de algumas das histórias da rua. A Gonçalo começou a ganhar fama em 2005, quando moradores e admiradores do local se uniram para impedir a construção de um estacionamento. O projeto previa a remoção de algumas árvores, além da colocação de asfalto no lugar dos tradicionais paralelepípedos do local - que sugam a água da chuva e a armazena no solo, ajudando na irrigação das árvores.
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Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Ricardo Stricher / PMPA)Vistas de cima, árvores formam túnel na rua
(Foto: Ricardo Stricher / PMPA)
"Depois de muita luta, o caso foi para a Justiça e a construtora desistiu do projeto. Não demorou muito para a rua virar Patrimônio Ambiental de Porto Alegre", orgulha-se o artista gráfico Cesar Cardia, um dos principais defensores da Gonçalo, e que não mora na rua.
Cardia mantém o blog Amigos da Rua Gonçalo de Carvalho, onde reúne material sobre a preservação da rua. Ele faz parte também da Associação dos Moradores e Amigos do Bairro Independência (Amabi). "Quando a principal liderança da rua morreu, o dentista Haeni Ficht, passei a cuidar mais da associação. Chegavam e-mails de fora de Brasil e até de outros países. Nem sabíamos como ficavam sabendo da rua", lembra.
Com as publicações na internet, textos e imagens sobre a rua se espalharam. Em 2008, o blog catalão Amics arbres (Amigos das árvores) escreveu sobre a Gonçalo. Pouco depois, o blog português A sombra verde também divulgou o local e a apelidou de rua mais bonita do mundo. A partir disso não demorou muito para a Gonçalo virar assunto na imprensa e atrair mais visitantes.
Imobiliárias de Porto Alegre não conseguem fazer um levantamento sobre a valorização da Gonçalo de Carvalho desde que virou patrimônio. Em contato com o G1, as explicações chegam quase sempre ao mesmo fim: não há uma quantidade considerável de ofertas na rua. “Os moradores são antigos, moram em suas residências e apartamentos há anos”, informou a imobiliária Lopes.
Rua Gonçalo de Carvalho, em Porto Alegre (Foto: Tatiana Lopes / G1)Rua foi considerada patrimônio de Porto Alegre
em 2006, mas sofre com ação de vândalos
(Foto: Tatiana Lopes / G1)
Sob os cuidados dos moradores
Segundo Cardia, foram os moradores que ajudaram a plantar, há mais de 70 anos, as árvores que hoje formam o túnel verde. As tipuanas são altas, com galhos e folhas grandes, que se espalham no alto dos troncos. No verão, a sombra predomina, enquanto no inverno o sol aparece, já que praticamente todas as folhas caem.
A dedicação mantida pelos moradores faz com que eles se sintam atingidos quando alguém comete algum ato de vandalismo. Uma das árvores, que fica em frente a um dos acessos a um shopping da região, está queimada e pichada. Outra, no lado oposto da rua, tem um cartaz pregado com aviso sobre onde colocar o lixo. A placa colocada em um banco de concreto pela Prefeitura, com a identificação de Patrimônio Ambiental, já teve de ser recolocada mais de três vezes.
Passeio com crianças e animais de estimação
Além dos turistas, moradores da região também aproveitam a paisagem para passeios com crianças ou animais de estimação. "Procuramos um lugar para morar durante dois anos. Nossa escolha foi pelas árvores", diz o professor Ney Francisco Ferreira, de 44 anos, que reside na rua com a mulher, um filho e um cachorro.
A família já se acostumou com a presença de curiosos na Gonçalo: "Todos os dias tem gente tirando fotos aqui, virou uma normalidade", conta Ferreira. Assim como ele, o médico Luis Aranzibia, de 70 anos, boliviano que vive há 40 anos no Brasil e há 14 na Gonçalo de Carvalho, aproveita as horas vagas para passear. "Escolhi morar aqui por opção, a área verde chamou a atenção", lembra.
Cesar Cardia, de branco, que mantém blog sobre a preservação da rua (Foto: Tatiana Lopes / G1)Cesar Cardia (D) mantém blog sobre a preservação da Gonçalo de Carvalho (Foto: Tatiana Lopes/G1)
Fonte:G1 Globo

29 de janeiro de 2012

Uma Declaração de Movimentos não pode prescindir da democracia...



Uma Declaração de Movimentos não pode prescindir da democracia e dos temas brasileiros!


Por Paulo Brack*


A chamada Declaração dos Movimentos Sociais, apesar de trazer questões preocupantes quanto às Mudanças Climáticas, Transgênicos, e inclusive o Sistema Capitalista (Sistema de Esgotamento da Vida), infelizmente ignorou algumas das principais bandeiras de luta do movimento ambientalista brasileiro. Não foram citadas a questão do Código Florestal (principal luta socioambiental brasileira de 2011), de Belo Monte (o pior e mais irregular empreendimento de 2011), da Copa Business 2014 (o baú de negociatas mais gigantesco de nossa história) e as demais megaobras de infra estrutura destruidoras, bem como a questão dos Agrotóxicos, que estão fazendo nosso País sucumbir, de forma melancólica no cenário ambiental mundial. Não vimos nem mesmo a citação do nome do Brasil na carta, enquanto são citados Colômbia, Honduras, Palestina, EUA, Cuba, entre outros. Por que?



E, vejam, nosso País (Campeão da Diversidade Biológica e também do desmatamento e uso de agrotóxicos) será o que vai sediar a Rio + 20, daqui a pouco mais de quatro meses!



De que adianta falarmos contra o Capitalismo, algo que concordamos, se na PRÁTICA nem falamos no agronegócio que estrangulou o Código Florestal brasileiro? Não falamos no BNDES que hoje é o banco que mais financia a degradação do Brasil e de Países vizinhos?



Lamentavelmente, documentos que não tiverem nenhuma consulta prévia aos movimentos ambientalistas e outros setores importantes da sociedade ficam comprometidas em sua legitimidade de representação. Fica, assim, muito mais como uma carta de alguns dos movimentos sociais - com algumas lideranças bem alinhadas com os governos que financiaram o FST - com bandeiras muito mais estratosféricas, e não representa o universo dos movimentos sociais no Brasil.
Assim, os ambientalistas não podem chancelar um documento ao qual não tiveram tempo hábil para opinar. Sem democracia,e uma construção coletiva, não vamos longe. E este é um dos principais problemas de nossas lutas no Brasil, ou seja, tratarmos, sem medo, as questões ligadas à democracia, à necessidade de desalinhamento político-partidário e governamental bem como a não permissão de que o capital predador financie nossas ações e movimentos, como vem acontecendo, infelizmente.



Cabe provocarmos a reflexão necessária para que possamos sair desta inércia, de tutelas que podem nos comprometer, de pautas que podem se tornar vazias (e estão se tornando, na prática), se não tivermos  O FOCO dos principais problemas socioambientais e das principais lutas que temos que enfrentar, em cada canto do País e do Mundo.



Sempre é bom lembrar o velho ditado ambientalista: “Pensar globalmente e agir localmente”, e então vamos lutar para colocar em nossos documentos a nossa realidade e nossas lutas, principalmente aquelas representadas pelos Territórios da Sociobiodiversidade, que estão sendo aniquilados pelas políticas anti-socioambientais dos governos federal e estaduais.



Então para uma nova versão de carta futura, com construção democrática, seguem nossas sugestões:



- Parem Belo Monte e demais hidrelétricas de grande impacto ambiental importadas pelo Brasil, concebidas para manter a sangria de nossos recursos naturais (em especial a exportação de commodities minerais)!



- Parem de resgatar Megaobras dos governos militares (década de 70), e de incrementar uma Megainfraestrutura Autoritária, Concentradora e que espalha Morte no Brasil!



- Veto integral às mudanças do Código Florestal, que está destruindo a Amazônia e ameaça com o aprofundamento da destruição de nossa Biodiversidade!



- Não vamos permitir nenhum retrocesso nas conquistas socioambientais brasileiras! Auditorias nos licenciamentos irregulares no Brasil e nos bancos que financiam a destruição da natureza!



- Nenhum tostão público à Copa-Business 2014, e nenhuma expulsão de comunidades pobres para este Evento de Negócios/Negociatas!



- Pelas Energias Alternativas, descentralizadas, pela Agroecologia e Defesa e Empoderamento dos Territórios da Sociobiodiversidade! O Brasil merece ser o Campeão da Sociobiodiversidade, e não das mortes no campo e no uso de agrotóxicos!



- Pelo desatrelamento de setores dos movimentos sociais a partidos, governos e empresas, e por uma reflexão fraterna de nossas práticas e nos focos centrais dos problemas que afligem o Brasil, a America Latina e os demais países, com a construção de estratégias coletivas que integrem a Tod@s!



*Paulo Brack
InGá - Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais

O seu passado é o seu futuro (1)

Foto: Darci Bergmann
Clivia miniata

           Por Darci Bergmann


         Não é ficção. É uma percepção real. Indiferente a quantos já estudaram o tema, revelo aqui a minha experiência pessoal. E cada pessoa tem a sua própria experiência.
       Tudo começa na infância e talvez muito antes dela. O DNA, no momento da concepção, forma  a estrutura genética do novo ser. A partir daí o ambiente molda o indivíduo, fazendo com que as suas potencialidades se manifestem ao longo da vida. Essas potencialidades incluem tendências vocacionais, estado de saúde física e mental, entre outras. Daí que, já na gestação, a mãe deve zelar pelas boas condições de desenvolvimento do feto. Atitudes e posturas hostis à vida certamente vão se refletir na criança e no adulto depois. Entre essas atitudes prejudiciais estão o consumo de cigarros, bebidas alcoólicas, exposição a ruídos excessivos, metais pesados, agrotóxicos e outros produtos químicos de uso corriqueiro nos ambientes domésticos. Qualquer um desses fatores adversos causa seqüelas que se manifestam muitos anos depois. Esses são os fatores ambientais domésticos e que depois se ampliam para o meio ambiente em geral.
Por isso é preciso um meio ambiente equilibrado ecològicamente porque só ele pode permitir que o indivíduo desenvolva plenamente o seu potencial genético.
        De outra parte, condições ambientais desfavoráveis podem desencadear determinada doença se houver tendência genética naquela pessoa. A simples exposição de um feto ou mesmo uma criança – cujos órgãos ainda estão em formação – a um desses inseticidas químicos usados dentro de casa pode trazer sérias conseqüências. Tenho conversado com especialistas em saúde sobre isso. O avanço científico propiciou a cura de várias doenças, mas ele próprio e a tecnologia e produtos decorrentes causam outras seqüelas – as doenças da modernidade. E não são apenas casos de câncer em crianças e pessoas jovens. As doenças na mente afetam um percentual cada vez maior da população. A grosso modo a humanidade inteira revela índices maiores de pessimismo e  depressão, apesar das propaladas conquistas tecnológicas. Basta ver o grau de revolta e frustração de alguém metido nesses estressantes engarrafamentos no trânsito das grandes cidades.
       A exposição das pessoas aos fatores de risco pode ocorrer em qualquer fase da vida. No útero, infância e adolescência os riscos são maiores. Mesmo aqueles que foram cercados de cuidados nos primeiros anos de vida podem ser vítimas de condições ambientais adversas ou do comportamento pernicioso de outros indivíduos. No trânsito, motoristas alcoolizados são fatores de risco. Também traficantes de droga, que se infiltram nas rodas sociais em busca de possíveis vítimas. Estas são escravos que lhes garantem privilégios financeiros nessa sociedade em que as aparências às vezes valem mais do que o bom caráter. Conheci pilantra desfilando de carro novo, nunca fruto do trabalho e sim de falcatruas  e até da traficância de drogas. Para esse tipo de gente os outros são vistos como meros consumidores. Em escala maior algumas empresas e corporações agem da mesma forma quando só pensam nos lucros que podem auferir, mesmo sabendo que os seus produtos causam profundas seqüelas na saúde e no meio ambiente em geral. O consumo responsável pode mudar esse quadro.

28 de janeiro de 2012

Fórum Social Temático: Ambientalistas gaúchos apresentaram propostas

Darci Bergmann, camisa listrada, faz exposição das propostas da APEDEMA/RS,
ladeado pelo coordenador do evento Paulo Brack, 

Por Darci Bergmann


  O tema Rio+20: Que Desenvolvimento Queremos foi proposto pelos organizadores do Fórum Social Temático e ficou a cargo da Comissão de Saúde e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa gaúcha. As palestras e debates seriam realizados na Câmara de Vereadores de Porto Alegre. O falecimento do ex-vereador Brochado da Rocha forçou o cancelamento desse evento. A APEDEMA/RS, que reúne 37 entidades ambientalistas e que seria uma das debatedoras, incorporou a discussão de propostas em outro evento paralelo, sobre as Hidrelétricas, nas dependências da UFRGS.
Ruppenthal, da equipe de Paulo Brack,
expõe o tema das grandes hidrelétricas e seus impactos socioambientais 

    Paulo Brack coordenou os trabalhos e ainda abordou o tema das hidrelétricas e seus impactos sócioambientais. Francisco Milanez (AGAPAN) e Darci Bergmann (ASPAN-São Borja), dentre outros presentes, reforçaram as discussões. Em nome da APEDEMA/RS, Bergmann apresentou um resumo das propostas dos ambientalistas gaúchos, sob o título a Transição Ecológica Necessária. Uma a uma, as propostas foram sendo alinhavadas, com a citação de exemplos e fatos pertinentes, inclusive com imagens em algumas delas.O documento não é conclusivo e está aberto a novas discussões. Mas certamente será uma importante ferramenta - uma espécie de roteiro - para ampliar as discussões preparatórias à Rio+20, na visão dos ambientalistas gaúchos.
Alguns representantes das entidades presentes e filiadas à APEDEMA/RS
A velha guarda, com a sua trajetória de lutas, recebe o apoio da gente nova  que
vem chegando. O ideal de Henrique Roessler, José Antônio Lutzenberger e tantos outros
 anima a causa por um mundo melhor

22 de janeiro de 2012

Alheia ao clima, agricultura segue despreparada para alimentar a todos

BRASIL | 20.01.2012


 

Com participação brasileira, estudo publicado na revista Science mostra que a agricultura, cada vez mais impactada por mudanças climáticas, ainda ignora sustentabilidade e segurança alimentar.

 
Na região Sul do Brasil, celeiro agrícola do país, o regime de chuvas não é mais o mesmo das últimas décadas. Santa Catarina, por exemplo, viveu sete anos de estiagem nos últimos dez anos – embora os cientistas ainda não possam afirmar categoricamente se a alteração foi causada por mudanças no clima.
"Mas é, sem dúvida, uma anomalia. Temos que prestar atenção. E a ciência é responsável por buscar a causa dessas anomalias", disse Carlos Nobre, do Ministério de Ciências e Tecnologia, em conversa com a DW Brasil. O pesquisador é um dos autores do artigo "What next for agriculture after Durban" ("O que vem pela frente para a agricultura depois de Durban", em tradução livre), publicado nesta sexta-feira (20/01) na revista Science.
Assinado por 14 cientistas atuantes em diferentes partes do mundo, o texto é provocativo: um dos setores sob maior pressão para garantir a sobrevivência da humanidade e que tem a missão de alimentar uma população de 9 bilhões de pessaos até 2050 é uma pauta esquecida nas negociações climáticas.
"A agricultura global precisa produzir mais comida para alimentar uma população cada vez mais numerosa. Por outro lado, avaliações científicas mostram que as mudanças climáticas são uma ameaça crescente para as lavouras e para a segurança alimentar", alerta o artigo.
Chifre da África: eventos extremos tornam-se comunsChifre da África: eventos extremos tornam-se comunsMudança em curso, alimento em risco
"É cientificamente provado que se pode ter uma agricultura de menor impacto ambiental, menos emissão, menor impacto de resíduos, menor impacto na biodiversidade e, ao mesmo tempo, mais produtiva e adaptada às mudanças climáticas que já se tornaram inevitáveis", afirma Nobre.
Essa inevitabilidade pôde ser vista nos últimos dois anos: na seca que castigou o Chife da África e desencadeou uma crise humanitária, nas queimadas na Rússia que atingiram plantações de trigo, nas enchentes no Paquistão e Austrália que também afetaram lavouras. São exemplos de eventos extremos que, como afirmam especialistas, ficarão mais frequentes com o aquecimento do planeta.
O setor agrícola mundial, porém, continua conservador, praticamente inerte a esse cenário desafiador, afirmam os cientistas. "As políticas priorizam o valor de mercado da agricultura, o fator econômico. A agricultura sustentável exige uma readequação do parâmetro principal, ou seja, foco na segurança alimentar e na redução do impacto no meio ambiente", ressalta o autor brasileiro do estudo.
Brasil: avanços e retrocessos
Nesse cenário, o Brasil está, ao mesmo tempo, "um passo atrás e um passo a frente". O país é elogiado por ter uma meta de redução de emissões, e o Plano ABC, ou Agricultura de Baixo Carbono, do governo federal, faz parte dessa estratégia.
A meta é evitar a emissão de 165 milhões de toneladas equivalentes de CO2 nos próximos dez anos. Para tanto, foram disponibilizados 3,15 bilhões de reais em créditos para os agricultores brasileiros aplicarem na chamada agricultura sustentável: incentivo ao plantio direto, recuperação de pastagens degradadas, plantio de florestas comerciais, integração lavoura-pecuária-floresta e fixação biológica de nitrogênio.
Lavouras brasileiras ignoram efeitos de um clima diferenteLavouras brasileiras ignoram efeitos de um clima diferentePor outro lado, a ameaça de regressão vem das diretrizes ainda em discussão do Código Florestal. Ainda não se sabe se a nova lei vai conciliar o desenvolvimento sustentável e socialmente justo com as necessidades da agricultura sustentável. "Há muitas forças conservadoras que não enxergam a sustentabilidade da agricultura e até certo ponto buscam um retrocesso. Ou seja: a expansão sem limites da fronteira agrícola", critica Nobre.
Enquanto isso, no resto do mundo, há poucos bons exemplos de práticas agrícolas sustentáveis que garantam também boa colheita. O artigo da Science ressalta um caso africano: na Nigéria, 5 milhões de hectares foram regenerados com técnicas agroflorestais, o que beneficiou mais de 1 milhão de residências e gerou uma produção extra de 500 mil toneladas de grãos por ano.
Agricultura num clima diferente
Os anos de estiagem e os alarmes disparados pelos cientistas começam a provocar tímidas reações no agricultor brasileiro. No sul, a fruticultura, acostumada ao clima frio, já começa a se planejar para o plantio em clima tropical. Em vez da maçã, que pede temperaturas mais amenas, a banana e o abacaxi poderiam ser cultivados no "novo Sul'. Essa possibilidade já é estudada pelos agricultores da região.
"A cafeicultura brasileira, finalmente, também começou a reagir. O setor relutou muito, foi muito conservador, mas percebeu que pensar no futuro com clima diferente é importante", comentou Nobre. O plantio da espécie arábica, por exemplo já se vê ameaçado nas regiões onde as temperaturas não param de subir.
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Francis França

17 de janeiro de 2012

Economia verde divide águas


Por Emilio Godoy*

Especialistas polemizam sobre os benefícios ou danos que a economia verde pode acarretar, que será o centro das discussões na cúpula Rio+20 em meados deste ano.
CIDADE DO MÉXICO, México, 16 de janeiro de 2012 (Tierramérica).- O desenvolvimento de uma economia verde gera discrepâncias entre especialistas por seus benefícios e riscos potenciais. Enquanto alguns consideram que pode agravar as desigualdades sociais e concentrar a riqueza biológica, outros a consideram protetora do meio ambiente e geradora de empregos.

“A economia verde não questiona os sistemas de produção atuais, como o agroalimentar, nem fala de mudar padrões de consumo”, criticou Silvia Ribeiro, diretora para a América Latina do não governamental Grupo de Ação sobre Erosão, Tecnologia e Concentração (ETC). Silvia disse ao Terramérica que, por exemplo, “preocupa o uso maciço da biomassa para produzir combustíveis, e das novas tecnologias, como a biologia sintética, que podem gerar níveis de toxidade.”

Em seu informe “Quem controlará a economia verde?”, publicado no dia 15 de dezembro, o Grupo ETC argumenta que o funcionamento de uma economia verde beneficiará especialmente as grandes corporações se não houver mudança nos modelos de produção e consumo de bens e serviços e na governança mundial. Acrescenta que as grandes transnacionais de energia, farmacêuticas, agroindustriais e químicas construíram alianças para explorar a biomassa e apropriar-se do controle de recursos naturais, como terra e água.

O estudo se centra em áreas como biologia sintética, bioinformática e geração de dados genômicos, biomassa marinha e aquática, sementes e pesticidas, bancos de germoplasma vegetal, fertilizantes e mineração, silvicultura e papel, farmacêutica veterinária e genética animal.

O Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) define a economia verde como “um sistema de atividades econômicas relacionadas com a produção, distribuição e consumo de bens e serviços que resultam em melhoria do bem-estar humano no longo prazo, ao mesmo tempo em que não expõe as futuras gerações a riscos ambientais e escassez ecológica significativa”.

Esta nova variante será o tema preponderante da Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (Rio+20), que acontecerá entre os dias 20 e 22 de junho na cidade do Rio de Janeiro, quando se completam 20 anos da primeira Cúpula da Terra, realizada também no Rio em 1992. Os objetivos deste encontro global são um renovado compromisso político em torno do desenvolvimento sustentável, avaliação do progresso para os objetivos internacionalmente acordados em torno do assunto e a abordagem dos novos desafios.

Além disso, a cúpula se concentrará na construção de uma economia verde no contexto da erradicação da pobreza e do desenvolvimento sustentável, bem como em um contexto institucional para este propósito. O Pnuma defende a vertente que promove desde 2008, embora reconheça a validade das preocupações existentes. “A economia verde é um imperativo. Uma de suas metas é a igualdade social e o bem-estar humano. Se reconhece o meio ambiente como fonte de riqueza”, afirmou ao Terramérica o norte-americano Steven Stone, chefe de Economia e Comércio do escritório do Pnuma em Genebra.

Steven visitou o México na semana passada para a apresentação de um estudo prospectivo nacional sobre economia verde, patrocinado pelo Ministério de Meio Ambiente e Recursos Naturais (Semarnat) e o privado Instituto Tecnológico de Monterrey. “A verdadeira disputa é se os que causam maior dano ao meio ambiente estão realmente contribuindo para o que se deve fazer”, disse ao Terramérica o diretor da Faculdade de Economia da estatal Universidade Nacional Autônoma do México, Roberto Escalante.

“Por isso existe o risco de que, no caso de se esverdear a economia, se aprofundem as desigualdades, jogando sobre os que menos têm o maior custo dos impactos ambientais”, advertiu Roberto. O acadêmico realiza uma pesquisa, que prevê finalizar no primeiro trimestre deste ano, sobre o efeito da agricultura e do desmatamento sobre o meio ambiente, a pedido do Semarnat.

Diante do processo da Rio+20, organizações da sociedade civil da América Latina impulsionam o relançamento do desenvolvimento sustentável, com ênfase nos aspectos sociais e ecológicos e em uma nova economia para enfrentar a pobreza e a concentração da riqueza. O Estudo Econômico e Social Mundial 2011, do Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU, recomenda o investimento de US$ 1,9 bilhão anuais em tecnologias verdes durante os próximos 40 anos, para combater os efeitos da mudança climática.

O Pnuma considera que o investimento verde pode contribuir para a redução da demanda de energia e água e da pegada de carbono da produção de bens e serviços. “Há muitas alternativas, a mais contundente é a economia do camponês, que representa 70% da produção agropecuária global”, recomendou Silvia, cuja organização tem foco nos impactos ambientais, sociais e econômicos das novas tecnologias.

O informe do Grupo ETC sugere a instauração de regimes antimonopólio, para evitar as concentrações de mercado, o papel central da agricultura e a soberania alimentar e a avaliação. Também defende a divulgação internacional das tecnologias “que não são capazes de enfrentar os problemas sistêmicos das crises de pobreza, da fome ou a ambiental”. “Um dos temas fundamentais é o valor da natureza, que não é considerado. Não faz parte do cálculo econômico. É preciso dar valor a esses serviços com limites e regulações”, destacou Steven.

Por sua vez, Roberto, cuja pesquisa busca oferecer alternativas para uma produção agrícola livre de carbono, propôs a utilização das novas tecnologias, a participação de instituições universitárias e a concretização de políticas públicas integrais. “Os temas ambientais são, no fundo, temas fiscais. Esta será a grande discussão da Rio+20. Deve prevalecer uma nova visão, colocar no mundo da economia os preços do meio ambiente e estabelecer um esquema que garanta a equidade”, explicou o acadêmico mexicano.
* O autor é colaborador da IPS.

16 de janeiro de 2012

Árvores asfaltadas

O espaço livre em torno da árvore foi recoberto com asfalto e  depois brita.

Fotos: Sérgio Isbrecht
Rua Aparício Mariense, entre Félix da Cunha e Cândido Falcão
São Borja/RS, 16/01/2012



Por Darci Bergmann

   Não bastassem todas as dificuldades que as árvores urbanas enfrentam num meio cada vez mais hostil e artificializado, agora elas também são sufocadas por um colarinho de asfalto. Pelo menos é o que está fazendo a Prefeitura Municipal de São Borja. Muitas pessoas me ligaram estranhando tal procedimento. A prática contraria a lei municipal. O poder público, que deveria zelar pelo cumprimento da legislação, dá um mau exemplo de conduta ambiental. Talvez a intenção fosse recobrir as raízes expostas. Mas há que se respeitar uma área mínima em torno do tronco das árvores para que ocorra alguma infiltração das águas pluviais e um pouco de oxigenação do solo.

   Não é só na questão do asfaltamento das árvores.  No que se refere ao plantio a dimensão mínima das covas também não é observada pela Prefeitura, na maioria das vezes. As secretarias municipais parecem atuar em descompasso. O setor do meio ambiente demonstra ter dificuldade de impor aos demais órgãos o respeito à legislação ambiental.

Nem na coleta seletiva a lei ambiental é respeitada.

    Uma camioneta com corneta barulhenta anda recolhendo lixo seco pela cidade. Nem o código de posturas é respeitado. Muito barulho para pouco resíduo recolhido. Os catadores sem alarde recolhem mais.     
  Como se sabe, os municípios podem fazer o licenciamento ambiental de muitas atividades e ao mesmo tempo aplicar a legislação vigente nessa área, inclusive a estadual e federal na ausência dessas esferas de poder. Aí está uma das questões que mais preocupam. Tais procedimentos deveriam ser da alçada de funcionários públicos concursados e não de pessoas indicadas pelos prefeitos - os chamados cargos de confiança.  Estes, muitas vezes, na ânsia de se manterem nos cargos, fazem vistas grossas e atendem aos apelos eleitoreiros dos superiores, vilipendiando a legislação que deveria ser cumprida. São fartos os maus exemplos dessa conduta nefasta à  arborização e ao meio ambiente em geral.
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Mais sobre o tema: 
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Pintura de mau gosto

6 de janeiro de 2012

Aventura com os tatus



            Por Ana Luísa Bergmann Cardoso ( 9 anos)*

Hoje dia 6 de janeiro aconteceu uma grande aventura. Nós, eu minha mãe e o vô Darci fomos na chácara do vô e fizemos uma pequena faxina, quando estávamos quase no fim  eu e minha mãe fomos picadas por vespas e saímos correndo.
    Depois fomos dar uma caminhada pela mata, passamos por muitas árvores e o vô conhecia cada uma e sabia os nomes de todas, ouvimos barulho de vários pássaros e muito da gralha, e por lá tinha passado um veado porque tinha excremento dele e também capim que cossava.
    E vimos dois tatus um eu consigui chegar bem perto menos de um metro de distância.
Ele se alimenta de insetos minhocas e larvas, e quando o vô regava as plantas ele colocava pedras em volta para os tatus não mexerem, porque minhocas inham lá e os tatus esperavam por uma sobremesa.


* Notas do Blog: 1) O texto, sem correções, é cópia fiel do manuscrito feito pela Ana Luísa e mostra as percepções da mesma numa tarde de campo, em 06/01/2012, no Sítio Itaperajú, em São Borja/RS.
2) Os excrementos de veados foram vistos em vários locais do pequeno sítio e a espécie ainda não confirmada. No entorno existem áreas de antigas lavouras em sistema de pousio e os capins altos e arbustos garantem proteção aos animais. Isto mostra que pequenos refúgios cercados de áreas de pouca movimentação de pessoas, cães e máquinas possibilita a ocorrência de muitas espécies da nossa fauna. O número de bugios, em dois grupos, já ultrapassa os vinte animais. Ocorrem ainda o graxaim-do-campo, o mão-pelada, o furão, o zorrilho, o gambá, o ouriço, entre outros mamíferos. O número de espécies de aves é expressivo, se levada em conta a pequena área do sítio.
3) Nessa época de poucas chuvas, estão sendo regadas mais de mil mudas de espécies arbóreas nativas em vários pontos da chácara. Os tatus saem ao anoitecer em busca de alimento. A terra úmida em torno da muda é refúgio para minhocas e larvas e os tatus a revolvem para delas se alimentarem. Com isso, as raízes das mudas ficam expostas ao vento, causando mortandade das plantas. A solução encontrada foi colocar pedras ao redor de cada muda o que diminuiu a mortandade de plantas.
Em outras ocasiões os tatus são grandes parceiros, pois a pequenas covas que fazem para capturar larvas e minhocas podem receber sementes de árvores nativas. Nas coisas simples a natureza nos dá grandes lições.
São duas espécies de tatus encontrados na chácara: tatu-galinha (Dasypus novemcinctus )e tatu-mulita (Dasypus hybridus).
4) Educação ambiental: se quisermos pessoas voltadas para a preservação ambiental, a melhor coisa a fazer é permitir que as crianças tenham contato com a natureza. Nada substitui a percepção real, a experiência vivida. Pais e mães,  levem seus filhos aos parques florestais, aos jardins botânicos, às trilhas ecológicas, às salas de aulas vivas dessa Natureza exuberante que ainda teima em resistir à destruição desvairada que lhe está sendo imposta.




1 de janeiro de 2012

O consumo de carne de caça na Amazônia Brasileira


Publicado no site AGROSOFT



Estima-se que na Amazônia Brasileira sejam consumidas, para fins de subsistência, cerca de 90 mil toneladas de carne de caça por ano, o que equivale ao abate de, aproximadamente, 25 milhões de animais em um período de até 12 meses. Com a intensificação no uso da terra, a valoração da floresta em pé, a possibilidade de aproximação de áreas isoladas, seja por meio da melhoria da infraestrutura ou devido aos avanços da tecnologia, que facilitam, por exemplo, o acesso a armas, armadilhas, energia e transporte, a expectativa é que essa situação se agrave, rapidamente, aumentando o número de espécies da fauna silvestre em extinção. Nesse contexto, o sucesso das políticas públicas que tratam do manejo e conservação dos animais silvestres passa, necessariamente, por um melhor entendimento do papel da caça na segurança alimentar das comunidades amazônicas.
Nas situações em que a carne de caça é consumida em função das dificuldades de obtenção de outra fonte de proteína, uma alternativa já implantada em alguns países é o envolvimento da comunidade na gestão dos recursos locais por meio de acordos coletivos, que podem incluir, entre outros itens, a não utilização de cães durante a caça, seleção dos animais caçados, estabelecimento de zonas específicas de caça e da prática dessa atividade somente pelos moradores permanentes da área, pagamento de compensações financeiras pelo cumprimento das normas estabelecidas, além da implementação de programas de educação ambiental.

A solução para o problema da caça no Brasil é, no entanto, um pouco mais complexa. Do ponto de vista da legislação brasileira, os animais silvestres são propriedade do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha. Nesse contexto, não é possível envolver a comunidade em programas de manejo de caça, uma vez que essa prática é, em princípio, proibida por lei. Há, no entanto, algumas iniciativas em andamento no Brasil, que deverão gerar maiores subsídios a essa discussão.

Ainda de acordo com a legislação, o abate de animais silvestres, quando realizado para saciar a fome do caçador ou de sua família, não é considerado crime. Entretanto, alguns problemas de ordem operacional dificultam a distinção entre a caça de subsistência e a caça com fins comerciais. Enquanto essa questão não se resolve, uma alternativa frequentemente apresentada aos povos da floresta é a criação comunitária de animais silvestres em cativeiro. Uma proposta interessante, mas relativamente cara, que requer assistência técnica especializada e um grau de organização nem sempre presente nas comunidades.

A ausência de informações ecológicas e comportamentais sobre os animais silvestres é outro fator limitante, que dificulta a elaboração de programas de manejo da fauna. Assim, antes de se discutir uma possível flexibilização na legislação em vigor é preciso um maior investimento em estudos que permitam melhor compreensão da biologia das espécies caçadas, dos efeitos da redução do número desses animais em uma determinada área, bem como dos critérios que deverão ser empregados no monitoramento da população da fauna silvestre. É importante ressaltar que esses critérios precisam ser incorporados pelas comunidades, órgãos governamentais, agências de fomento, formuladores de políticas públicas, organizações ambientais, e, sobretudo, pelo setor produtivo que retira da floresta a sua matéria-prima.

Muitos obstáculos, portanto, precisam ainda ser superados para que o consumo de carne de caça na Amazônia seja, de fato, uma atividade sustentável. De acordo com estudos realizados pela Embrapa Acre os mamíferos mais visados pelos caçadores locais são antas, capivaras, cutias, pacas, porquinhos-do-mato, tatus e veados. Em uma das localidades estudadas, observou-se redução no consumo de carne de caça quando havia peixes e galinhas (ou ovos) disponíveis.

Apesar de preliminar, os resultados desse estudo encontram-se em sintonia com pesquisas realizadas em outras localidades do Brasil, na Bolívia e na África, reforçando a importância da inclusão de fontes alternativas de proteína entre as estratégias de conservação da fauna silvestre local. Ao se investir nessas fontes, crianças e jovens passarão, pouco a pouco, a desenvolver novos hábitos de consumo, o que poderá contribuir ainda mais com o processo de redução da pressão da caça sobre a fauna silvestre.

AUTORIA

Patrícia Maria Drumond
Pesquisadora da Embrapa Acre
Bióloga. Doutora em Ciências
E-mail: patricia@cpafac.embrapa.br

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Patrícia Maria Drumond
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