31 de outubro de 2011

Novos ares no campo







Uma técnica de agricultura começa a ganhar espaço no mercado brasileiro. Trata-se dabiodinâmica, que, graças ao plantio livre de agrotóxicos e ao fato de ser feita em ambientes naturais equilibrados, que integram homem, animais e plantas, promete entregar produtos mais saborosos e resistentes ao consumidor. Melhores até do que os orgânicos. Embora em algumas culturas essa técnica seja mais difundida do que em outras, quem produz por meio da agricultura biodinâmica afirma que ela é mais rentável. O grande mercado consumidor, contudo, ainda fica fora do país.

A agricultura biodinâmica foi criada pelo filósofo e educador suíçoRudolf Steiner em 1924. A técnica determina que a fazenda que produz alimentos biodinâmicos deve respeitar o ciclo da lua, dos planetas e até dos astros para que as plantas sejam energizadas. Desde 1998 a empresa Fazenda Tamanduá planta, comercializa no Brasil e até exporta para Holanda e Espanha alimentos biodinâmicos. Manga, melão, goiaba e arroz vermelho são alguns dos produtos biodinâmicos que ela produz no sertão da Paraíba, a 300 quilômetros de João Pessoa.

O técnico agrícola e gerente da fazenda, Manoel Zacarias Lima Neto, afirma que o que se colhe na fazenda é resultado de um equilíbrio ecológico entre homem, plantas e animais. "Com o esterco do gado fazemos a compostagem para a plantação de manga. A manga que não é boa para o consumidor é utilizada para alimentar o gado. Em outra área, as abelhas polinizam a flor do melão. Em troca, produzimos mel", exemplifica.

Na Fazenda Tamanduá, que ocupa uma área de aproximadamente três mil hectares, não se usa agrotóxicos. A urina do gado serve como repelente. O soro do leite é utilizado para prevenir as pragas. "Usamos muito os bacilos, que são organismos vivos, fungos que matam alguns tipos de lagarta. São inseticidas naturais", diz Manoel.

Um dos diferenciais da biodinâmica em comparação com as outras técnicas de agricultura é o uso de preparados, compostos naturais para dar vida à terra. Há sete tipos de preparados. Num deles, o preparado 500, esterco é colocado dentro de um chifre de vaca e enterrado por seis meses. Depois, o chifre é desenterrado e um grama deste esterco é misturado em 200 litros de água durante uma hora. Depois, é espalhado por um hectare de plantação.

Cada um dos sete tipos de preparados tem uma característica. O 500, por exemplo, leva vida ao solo. O 501, feito com pó de sílica, ajuda a tornar os frutos mais resistentes. Os outros utilizam camomila, mil folhas, urtiga, casca de carvalho e dente de leão.


Além dos preparados, o cultivo de plantasbiodinâmicas segue datas estabelecidas por calendários criados pela alemã Maria Thun. Segundo o professor da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA) da Universidade Estadual Paulista(Unesp) e diretor do Instituto Biodinâmico e da Comissão da Produção Orgânica de São Paulo (Ceporg-SP),Francisco Luiz Araújo Câmara, esses calendários mostram qual é o dia ideal para trabalhar com cada cultura. O calendário é baseado no alinhamento dos astros com os planetas e o sol.

Os calendários utilizados no hemisfério sul são adaptados, pois Maria Thun desenvolveu esta agenda de acordo com as condições do hemisfério norte. Segundo Câmara, o uso dos preparados, dos calendários e o estabelecimento do equilíbrio na plantação resultam, em teoria, em produtos mais saborosos e resistentes.

Café e vinho biodinâmico, por exemplo, fazem sucesso entre seus apreciadores. "Os biodinâmicos podem apresentar mais qualidades de aroma e de sabor, que são valorizadas pelos consumidores do vinho e do café. São aspectos sutis", afirma Câmara. Assim como a agricultura orgânica, ele explica que a biodinâmica não utiliza agrotóxicos e que ambas usam solo coberto [que recebe menos sol]. A orgânica, no entanto, não utiliza os preparados nem segue o calendário da biodinâmica.

Coordenador geral da Associação Biodinâmica, Pedro Jovchelevich diz que uma das características da agricultura biodinâmica é valorizar as características organolépticas do produto, ou seja, que podem ser identificadas pelos sentidos humanos. "O vinho biodinâmico é famoso no exterior. Mas já há um produtor de vinho biodinâmico em Santa Catarina. O café biodinâmico também tem crescido no mercado nacional", diz.

Produtor de vinhos na França, Nicolas Joly é adepto da técnicabiodinâmica e comanda a associação Renaissance des Appelattion, que reúne mais de 170 produtores de 15 países. A maioria produz vinhos, mas os dois brasileiros do grupo produzem chocolate e café. Henrique Sloper é o dono da Fazenda Camorcim, que produz café biodinâmico no Espírito Santo. "Há cinco anos, a associação do Nicolas Joly tinha 70 pessoas. Hoje são 170. A biodinâmica ainda representa pouco no total de produtos agrícolas, cerca de 1%. Porém, cresce de 20% a 30% por ano", diz.


A fazenda de Sloper tem 300 hectares, 50 deles com seis variações de pés de arábica biodinâmico que rendem mil sacas por ano. Sloper exporta a produção do fruto para Nova Zelândia, Finlândia e França, entre outros. "Eu reajo à demanda que existe, mas quero ampliar [os clientes], claro". Ele vende outras quatro mil sacas em associação com outros produtores de café biodinâmico. Uma saca de 60 quilos de café produzido na fazenda de Sloper varia entre US$ 800 e US$ 1.500. Uma saca de café arábica "normal" custa, em média, R$ 550.

O motivo que o faz apostar nesta técnica não é apenas comercial. Está, também, relacionado à qualidade de vida. "Este conceito está presente no primeiro mundo, na Europa especialmente. Compreende uma mudança de estilo de vida. Não é apenas comercial. As pessoas só vão abandonar isso se não tiverem mais dinheiro. Biodinamismo é respeitar as energias. São frutas de melhor qualidade, mais resistentes. Se você abrir uma maçã normal, ela irá oxidar em 10 minutos. Se for uma maçã proveniente de agricultura biodinâmica, ela vai demorar uma hora e meia para oxidar", diz.

Segundo Jovchelevich, o Brasil tem cerca de 200 produtores adeptos da técnica biodinâmica. A maioria é de pequenos agricultores. No entanto, a tendência é que esse método ganhe mais adeptos no País nos próximos anos. "A agricultura biodinâmica é mais exigente, valoriza os ritmos da natureza, é como uma alquimia no campo. O mercado interno é semelhante ao mercado de orgânicos. Lá fora esse tipo de produto é mais valorizado do que aqui, especialmente na Alemanha, Suíça e Austrália. Mas temos um crescimento contínuo [nas vendas], pois os produtos biodinâmicos têm relação direta com a qualidade de vida", diz.

PARA SABER MAIS

Fazenda Tamanduá
Caixa Postal 65
CEP 58700-970 - Patos/PB
Telefone: (83)3422-7070
Fax: (83)3422-7071
E-mail: info@fazendatamandua.com.br
Web: www.fazendatamandua.com.br

Assista ao vídeo do programa Globo Rural sobre a Fazenda Tamunduá



Associação Biodinâmica
Caixa Postal 1016
CEP 18.603-970 - Botucatu/SP
Telefones: (14) 3815-7862 e (14) 3815-6282
E-mail: biodinamica@biodinamica.org.br
Web: www.biodinamica.org.br

Leia também: Cafeicultores usam técnicas orgânicas na Chapada Diamantina

Fazenda Camorcim
Telefone: (27) 3248-1154
E-mail: daniele@camocimorganic.com
Web: www.camocimorganic.com

Leia a reportagem da revista Globo Rural O café do Jacu.

FONTE

Agência de Notícias Brasil-Árabe
Marcos Carrieri - Jornalista

Links referenciados

Cafeicultores usam técnicas orgânicas na Chapada Diamantina
g1.globo.com/economia/agronegocios/notic
ia/2011/08/agricultores-de-cafe-da-chapa
da-diamantina-usam-tecnicas-organicas.ht
ml

Agência de Notícias Brasil-Árabe
anba.achanoticias.com.br

Faculdade de Ciências Agrárias
www.fcav.unesp.br

Francisco Luiz Araújo Câmara
lattes.cnpq.br/0648794598366009

Universidade Estadual Paulista
www.unesp.br

biodinamica@biodinamica.org.br
biodinamica@biodinamica.org.br

Renaissance des Appelattion
www.biodynamy.com

info@fazendatamandua.com.br
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daniele@camocimorganic.com
daniele@camocimorganic.com

www.fazendatamandua.com.br
www.fazendatamandua.com.br

Associação Biodinâmica
www.biodinamica.org.br

Instituto Biodinâmico
www.ibd.com.br

www.biodinamica.org.br
www.biodinamica.org.br

www.camocimorganic.com
www.camocimorganic.com

revista Globo Rural
revistagloborural.globo.com

Fazenda Tamanduá
www.fazendatamandua.com.br

Fazenda Camorcim
www.camocimorganic.com

O café do Jacu
revistagloborural.globo.com/GloboRural/0
,6993,EEC1689820-1641-1,00.html

Rudolf Steiner
pt.wikipedia.org/wiki/Rudolf_Steiner

biodinâmica
pt.wikipedia.org/wiki/Agricultura_biodin
%C
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Fonte acessada: Agrosoft Brasil

26 de outubro de 2011

Somos 7 bilhões - é possível oferecer bem-estar a todos?


MUNDO | 26.10.2011


Cada habitante da Terra tem direito a uma vida digna, água, comida, educação, moradia e saúde. Se todos seguirem o estilo de vida dos países ricos, seriam necessários três planetas, dizem os especialistas.

Ela nasce por estes dias: a pessoa que, até o final de outubro, elevará a 7 bilhões o cálculo estatístico do crescimento populacional do planeta. O termo empregado pelos especialistas é "explosão demográfica": nos últimos 200 anos ocorreu o mais veloz crescimento da população na história da humanidade.
Até 2050 deverão ser até mesmo 9,1 bilhões de habitantes. Cada um deles com direito a uma vida digna, água e alimento, educação, moradia e saúde. E quase todos sonham com um pouquinho de prosperidade, geralmente segundo os padrões ocidentais de qualidade de vida.
Mas o globo será capaz de comportar tudo isso? "Se todos seguirem o estilo de vida norte-americano ou ocidental, isso não será possível", descarta o cientista Ernst Ulrich von Weizsäcker, especialista em meio ambiente e membro do Conselho para o Futuro do Mundo (WFC, em inglês), fundado em 2007, em Hamburgo. "Para tal, seriam necessários três planetas Terra."
Modelo falido
Há 40 anos, a ideia do crescimento ilimitado já era posta em dúvida pelo Clube de Roma em seu famoso estudo Limits to growth (Limites do crescimento). "Diante da população crescente, contudo, o fim do crescimento é mera ficção", afirma o político verde alemão Ralf Fücks.
Especialistas pedem apoio aos pequenos agricultores nos países em desenvolvimentoEspecialistas pedem apoio aos pequenos agricultores nos países em desenvolvimentoJean Ziegler, perito das Nações Unidas para o assunto, não vê problemas mesmo para alimentar 12 bilhões de pessoas no globo. Contudo somente se os alimentos forem melhor distribuídos e as regiões rurais e os pequenos agricultores no hemisfério sul receberem apoio de forma sustentável. Devido à carência de recursos em diversos setores, "continuar do jeito que está" só é possível por mais algum tempo.
Segundo os prognósticos da ONU, em breve a Índia tomará o lugar da China como o país mais populoso do mundo, enquanto mingua o número de habitantes das nações industrializadas ocidentais. Ao mesmo tempo, essas sociedades minguantes e os populosos emergentes são os maiores consumidores de recursos naturais: alimentos, água, terras e combustíveis fósseis, assim como metais nobres envolvidos na produção de tecnologia digital.
É a era fóssil que de fato chega aos seus limites, diagnostica Fücks. Segundo o político verde, nem o atual sistema de energia nem o sistema de transportes erguido sobre o petróleo barato são "globalizáveis".
Multiplicar recursos
Há projeções de que, devido às mudanças climáticas globais já em curso, as temperaturas médias em todo o mundo possam se elevar em cerca de 4ºC no decorrer do século. Caso esses temores se tornem realidade, dentro em breve 330 milhões de pessoas serão forçadas por devastadoras inundações a abandonar seus locais de residência.
Inundações como as das Tailândia são outro desafioInundações como as das Tailândia são outro desafioSomente em Bangladesh, a cifra dos atingidos chegaria a 70 milhões. Porém outros extremos climáticos também podem tornar inabitáveis certas regiões do mundo, elevando ainda mais a pressão sobre as reservas de água potável, os alimentos e as terras.
Não se pode mais tentar superar o problema da escassez de recursos seguindo o modelo progressista do "cada vez maior, mais alto e mais forte". Tal noção é absurda, afirma Von Weizsäcker. Também a promessa de progresso através dos mercados globais e liberalizados perdeu a validade. Pelo contrário, critica o cientista: "A crença religiosa no poder criador dos mercados revelou-se avassaladoramente equivocada, o mais tardar desde a crise financeira de 2008. Os mercados podem causar danos inacreditáveis".
É preciso "re-regulamentar", paralelamente a reformas radicais em direção à eficiência no uso de recursos, exige Von Weizsäcker. "Em termos bem banais, isso significa retirar de um metro quadrado de terra, de um kilowatt/hora ou de um metro cúbico de água três, quatro, dez vezes mais bem-estar. E isso é tecnicamente possível." Não se trata de nenhuma utopia, enfatiza, mas sim de uma nova meta real, na qual a Alemanha deveria ser pioneira.
Nova onda verde
Essa noção de uma era moderna ambiental é discutida na Alemanha – e não apenas pelo Partido Verde e no recém-inaugurado Fórum do Progresso, da Fundação Friedrich Ebert (ligada ao Partido Social Democrata). O tema também concerne uma recém-formada comissão do Parlamento alemão. Sob o título "Crescimento, bem-estar, qualidade de vida", o grupo de trabalho transpartidário examinará possibilidades de desvincular o crescimento do consumo de recursos.
Empregos "verdes" para as gerações futuras de uma população em crescimento também estão entre as prioridades da Organização Mundial do Trabalho. Recentemente, seu secretário-geral, Juan Somavia, manifestou-se a favor de organizar uma economia pobre em emissões de CO2, em conexão com uma nova política ambiental e social.
No entanto, a atenção de políticos e parlamentos ainda está voltada para o atual modelo econômico e para a superação da crise econômica. Até que ponto a comunidade internacional já está comprometida com o bem-estar de uma população mundial em crescimento só ficará claro em dezembro próximo, quando se realiza na África do Sul a cúpula do clima da ONU.
Autoria: Ulrike Mast-Kirschning (av)
Revisão: Alexandre Schossler
Fonte: Deutsche Welle
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Mais sobre o tema:

MUNDO | 27.10.2011

O crescimento populacional e o desafio de alimentar a todos

O planeta já abriga 7 bilhões de pessoas. Alimentar tanta gente é possível, dizem os especialistas, mas é necessário aumentar a produtividade de solos e sementes. E comer menos carne também ajuda.

A população do planeta cresce em 83 milhões de pessoas por ano: um pouco mais do que o total dos habitantes da Alemanha. Caso essa tendência se mantenha, em 2050 já haverá 9 bilhões de pessoas no mundo, e até o final do século serão mais de 10 bilhões.

Para saciá-las, seria necessário pelo menos duplicar, se não triplicar, a produção agrícola nos próximos 40 anos. Será possível alcançar essa meta com os recursos limitados de nosso planeta? Segundo o professor de agronomia Harald von Witzke, da Universidade Humboldt de Berlim, a resposta é "sim".

Mas um "sim" seguido de um "porém". O enorme crescimento da produção agrícola nas últimas décadas deve-se 80% ao aumento da produtividade. Apenas 20% são o resultado da ampliação das áreas agricultáveis. "No futuro, precisaremos investir ainda mais no aumento de produtividade para satisfazermos as crescentes necessidades humanas de alimento. O solo será, cada vez, um fator limitante para a produção de gêneros alimentícios", diz Von Witzke.

No momento, 40% da superfície terrestre são usados para a agricultura. Uma área de 16 milhões de quilômetros quadrados – o tamanho da América do Sul – é dedicada aos cereais; 30 milhões de quilômetros quadrados – a superfície da África – são pastos. Os melhores solos, os mais férteis, já são cultivados. Em diversas regiões não existem mais reservas de terra passíveis de utilização na produção de alimentos.

As nações em desenvolvimento são a exceção. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), nelas apenas um terço da superfície teoricamente agricultável é cultivada de fato. Entretanto, até mesmo por questões de proteção ao clima global, não se pode considerar a transformação de florestas e mangues tropicais em áreas de cultivo.

Fator fundamental: a água

A superpopulação do planeta é um problema já hojeA superpopulação do planeta é um problema já hojeA alternativa que fica é o aumento da produtividade – uma alternativa, no entanto, comprometida e freada por diversos fatores. Em primeiro lugar encontram-se os dois elementos encarecedores água e energia. A agricultura consome as maiores quantidades de água em todo o mundo.

Previsivelmente, a escassez do ouro azul deverá ser o tema central dos próximos anos, observa o vice-diretor geral da FAO, Alexander Müller. "Estudamos a distribuição da água pela superfície terrestre e constatamos que a falta de água será mais grave nas zonas com maior crescimento demográfico." Isso significa que, justamente nos países em que a produção de alimentos precisa aumentar, faltam os requisitos básicos.

Uma das fórmulas para a solução é "eficiência", como propõe o estudo da equipe internacional de pesquisa da Universidade de Minnesota encabeçada por Jonathan Foley. No futuro, só as terras que realmente valem a pena devem ser irrigadas e fertilizadas. Por exemplo, em territórios áridos não deveriam mais ser cultivadas plantas que necessitem muita água.

No tocante à fertilização, pesquisas demonstraram que a metade dos adubos empregados em todo o mundo simplesmente acaba penetrando solo adentro, em vez de nutrir as plantas. Um desperdício que também acarretou a duplicação das taxas de fósforo e nitrato no meio ambiente, o que, por sua vez, causa a poluição da água: um círculo vicioso que deve ser rompido a todo custo.

Para elevar a atual produtividade, são necessárias, acima de tudo, melhores espécies vegetais e melhores métodos de plantio. Segundo o estudo de Minnesota, com isso já seria possível aumentar em 60% a produção global de alimentos.

"Melhores espécies" significa, por um lado, cereais e verduras especialmente produtivos e resistentes às condições climáticas rigorosas. Por outro lado, cabe elevar o potencial nutritivo desses vegetais, pois já hoje a carência alimentar é um problema. Leguminosas contendo mais ferro, painço com mais zinco, batatas, milho e arroz com maior quantidade de provitamina A: isso poderia ser alcançado pelo desenvolvimento de novos cultivares ou também pela engenharia genética.

O problema da carne

Soldados franceses entregam alimentos em Ruanda, durante a guerra civil do paísSoldados franceses entregam alimentos em Ruanda, durante a guerra civil do paísSeria mais fácil assegurar a alimentação no mundo se menos gente consumisse carne e outros produtos animais. Pois os animais precisam ser nutridos, e a produção de suas rações concorre com o cultivo de alimentos para a população humana – da mesma forma que com o plantio de vegetais para a produção de biocombustíveis.

Porém é ilusório esperar que ocorra uma renúncia aos produtos de origem animal: a tendência é, antes, o aumento de seu consumo. Assim, os cientistas pleiteiam que, no futuro, os solos mais férteis sejam reservados ao cultivo de gêneros alimentícios básicos. Sobretudo na América Latina, na África e no Leste Europeu há solos excelentes, cujas safras podem ser elevadas significativamente – enquanto as produções de rações e bioenergia devem ser relegadas aos campos restantes.

Novos desafios estruturais

No futuro, os efeitos da produção de mais carne, ovos e laticínios também se farão sentir sobre o clima. Atualmente, 30% das emissões de gases-estufa provêm da atividade agrícola. Sabe-se que o aumento de CO2 e metano na atmosfera atingirá especialmente as regiões do planeta com maior crescimento demográfico: são os países emergentes e os mais pobres que enfrentarão ainda mais secas, enchentes e outras catástrofes naturais.

Segundo Alexander Müller, da FAO, essa situação colocará a questão da alimentação no mundo diante de novos e graves problemas estruturais. "Todo debate sobre a alimentação no mundo precisa se ocupar com os novos focos de demanda, que estão nos países emergentes, nas regiões urbanas e nas nações cujo desenvolvimento econômico permite que apenas parte de seu potencial de demanda chegue aos mercados."

Em outras palavras: quase todos esses lugares são importadores de gêneros alimentícios, mas em geral não possuem o dinheiro necessário para comprá-los em volume suficiente no mercado mundial. O agrônomo Harald von Witzke também acentua esse fato: "O que agrava ainda mais o estado das coisas é o fato de esses países só disporem de sistemas rudimentares de pesquisa agronômica, de forma que é muito difícil para seus agricultores se adaptarem à mudança climática global".

Mais pesquisa e cooperação

Consumo de carne agrava problema mundial de alimentaçãoConsumo de carne agrava problema mundial de alimentaçãoSegundo os especialistas, esse quadro precisa mudar: pesquisa agrícola e uma política agrária direcionadas, assim como a ênfase na agricultura também no campo da ajuda ao desenvolvimento, poderão melhorar significativamente a situação. Enquanto em 1980 a parcela da agricultura na cooperação para o desenvolvimento era de 19%, em 2007 ela não passava de 3,5%.

Nos países pobres, falta aconselhamento para métodos de cultivo mais eficientes, formação profissional, créditos mais acessíveis, boas sementes e informações sobre as possibilidades de comercialização. O resultado é que quase a metade de todas as safras nesses países se perde devido ao combate ineficiente às pragas, a formas erradas de colheita, a problemas no transporte e na armazenagem. Também faltam informações de como comercializar melhor a produção.

Outro problema são os numerosos conflitos. Se os países não são capazes de aproveitar seu potencial agrícola devido a guerras civis e má governança, é impossível esperar que apresentem avanços agrícolas e maiores safras.

Quantas pessoas o planeta pode nutrir? Num ponto, todos os peritos são unânimes; não existe nem jamais existirá uma receita pronta para assegurar o abastecimento do mundo. Os recursos do planeta poderiam alimentar também 10 bilhões de habitantes, se necessário. Contudo, essa equação global provavelmente nunca fechará, pois a população mundial cresce mais justamente onde a situação de alimentação hoje já é mais precária.

Autoria: Sabine Kinkartz (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer

21 de outubro de 2011

Prefeitura aniquila árvores.


Rua Venâncio Aires, em São Borja/RS.
Obras da Prefeitura estreitaram o passeio público e já suprimiram dezenas de árvores.
 Aqui  nesse ponto , o passeio terá  praticamente a largura do conteiner.
Fotos: Darci Bergmann, 21/10/2011


Por Darci Bergmann

A pretexto de fazer melhorias na rua Venâncio Aires, tornando-a de  mão única no sentido Centro-Bairro do Passo, a prefeitura de São Borja está promovendo um verdadeiro arboricídio urbano. 

   Depois de décadas de ações de arborização, a maioria por iniciativa dos moradores daquela artéria, eis que a prefeitura de São Borja quer impor na marra um projeto que já está causando um grande impacto ambiental. Já por muitas semanas os transtornos aos moradores são  grandes. Poeira, passeios públicos danificados e estreitados, pedras amontoadas, buracos e a retirada de árvores frondosas que forneciam ótima sombra aos moradores.

Obras não levam em conta os anseios dos moradores

Os passeios públicos, em alguns trechos, ficarão reduzidos a pequenas trilhas com largura pouco maior de um metro. Isto significa: Menos segurança aos transeuntes, remoção de centenas de árvores já existentes, dificuldades em arborização futura, prejuízos aos proprietários que terão de consertar os passeios públicos e outros transtornos mais.

A prefeitura descumpre a legislação

Uma obra assim de grande impacto sócio-ambiental, precisa ser discutida com a população atingida, pois envolve também custos futuros aos moradores. Nada foi discutido previamente. Não houve uma audiência pública com os atingidos diretamente pela obra. Não se tem conhecimento de EIA - Estudo de Impacto Ambiental, necessário para obras desse porte e de comprovado impacto sobre a arborização da cidade.
A proprietária do prédio reformou o passeio que será reduzido a partir do ponto indicado por ela.
De quase 3 m passará a 2,09m. As árvores serão retiradas de acordo com o projeto absurdo. 



Crime ambiental 

A lei complementar 24/2000 incorporou no seu texto os decretos sobre arborização urbana que vigoravam desde 1991. Essa lei está sendo descumprida em vários de seus artigos pelo próprio ente fiscalizador e licenciador, que é a Prefeitura de São Borja.

Ninguém é contra a via de mão única.

O que se discute é a falta de diálogo com os moradores e o estreitamento desnecessário dos passeios e a conseqüente retirada das árvores. Dá-se mais valor aos automóveis do que às pessoas. O projeto é um desastre ambiental e uma irresponsabilidade com a mobilidade urbana tão propalada pela prefeitura nas suas fanfarronadas publicitárias. Ora, não há necessidade de esculhambar passeios públicos arborizados, jogando ainda o custo dos reparos aos contribuintes.
A rua Venâncio Aires, em São Borja/RS. Há necessidade de retirar árvores frondosas
para implantar mão única?

Houve tempo em que tais questões eram discutidas em audiências públicas. Assim foi com relação ao Plano Diretor e as sucessivas alterações deste. A mão única na rua Venâncio Aires é uma aspiração popular, mas ficou sempre claro que não deveria prejudicar os passeios públicos e a arborização já existentes.
Recebi inúmeras manifestações de moradores e pessoas da cidade sobre os fatos trazidos à tona. Fui um dos que estimularam o plantio de árvores em toda a cidade. Sei que em casos especiais de risco à segurança das pessoas algumas árvores precisam ser suprimidas. Mas não todas as árvores de uma rua.
A hora é de mobilização.
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Mais fotos da Rua Venâncio Aires
Sombra e conforto ameaçados. As obras na Rua Venâncio Aires vão reduzir pela metade a largura do
passeio público neste ponto. As árvores serão retiradas. Os moradores plantaram, cuidaram e a Prefeitura de
São Borja quer destruir a arborização. Um mau exemplo.Tudo em nome do progresso que valoriza mais o automóvel do que as pessoas. Foto: Darci Bergmann, 22-10-2011

Uma cerejeira e na sequencia outras árvores nativas na Rua Venâncio Aires.
Forneci as  mudas e a Cooperativa Agrícola Imembuy  as plantou. Estão ameaçadas pelas obras de alargamento da rua.
Foto: Darci Bergmann, 22-10-2011

Arborização ameaçada. Rua Venâncio Aires, em São Borja/RS.
Guabijus e outras árvores nativas plantadas pela Cooperativa Agrícola Imembuy
Foto: Darci Bergmann, 22-10-2011





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Moradores se mobilizam com expediente ao Ministério Público Estadual
A seguir o texto do abaixo-assinado encaminhado ao MP, em 01/11/2011, com 129 assinaturas.

Ao Ministério Público Estadual
Nesta Cidade
Os abaixo-assinados, moradores desta cidade de São Borja, dirigem-se a Vossas Excelências para expor os seguintes fatos:
1)    A Prefeitura Municipal de São Borja está promovendo obras na Rua Venâncio Aires, visando torná-la de mão única para o trânsito, sentido Centro ao Bairro do Passo;
2)    As obras estão causando grande impacto ambiental, com a retirada  praticamente de todas as árvores, a maioria delas plantadas pelos próprios moradores ao longo de dezenas de anos;
3)      Após a retirada das árvores as máquinas destroem os passeios públicos, sendo estes estreitados, com alegação de que isto está previsto no projeto da obra: a largura dos passeios em alguns pontos ficou tão reduzida que vai dificultar o trânsito de pedestres e praticamente inviabilizar a arborização;
4)     O alegado projeto técnico da obra não levou em conta os aspectos da segurança dos pedestres, arborização e é omisso em responsabilizar a Prefeitura na reconstrução dos passeios públicos danificados;
5)   Ninguém tomou conhecimento de audiência prévia, necessária nesse tipo de obra, até porque envolve questões ambientais, de segurança pública e danos materiais;
6)   Ressalte-se que em determinada altura da Rua Venâncio Aires, ocorre um estreitamento, isto próximo à Cerealista Beira-Rio; daí não se justificar o alargamento viário já efetuado no trecho próximo à Praça da Viação Férrea;
Pelo exposto, solicitam os signatários que:
a)    Vossas Excelências determinem pela suspensão temporária das obras, antes que maiores danos sejam causados;
b)      Seja respeitada a legislação ambiental, inclusive a lei municipal complementar 24/2000, que prevê o Estudo de Impacto Ambiental para obras desse porte, inclusive a realização de audiência pública para manifestação dos interessados.
  São Borja, 24 de outubro de 2011.
                          Atenciosamente
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15 de outubro de 2011

Código florestal: entidades científicas apontam equívocos


Entidades científicas apontam equívocos no Código Florestal aprovado pela Câmara
  Comentários :: Publicado em 14/10/2011 na seção noticias :: Versões alternativas: Texto PDF



Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) encaminharam ao Senado Federal um documento no qual as entidades destacam os pontos que precisam ser revistos no Projeto de Lei da Câmara 30/2011, que trata da reformulação do Código Florestal brasileiro. Baseado em critérios científicos, o documento visa contribuir para o aperfeiçoamento do PLC, corrigindo os equívocos verificados na votação da matéria pela Câmara dos DeputadosLeia aqui a íntegra do documento (arquivo PDF).

Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência e a Academia Brasileira de Ciências encaminharam, no dia 11 de outubro de 2011, ao Senado Federal, um documento no qual as entidades destacam os pontos que precisam ser revistos no Projeto de Lei da Câmara 30/2011, que trata da reformulação do Código Florestal brasileiro. Fruto de estudos de um grupo de trabalho de cientistas e pesquisadores da área, o documento se soma ao livro O Código Florestal e a Ciência - Contribuições para o Diálogo, publicado pelas duas entidades em abril deste ano.

"No primeiro estudo, publicado em livro, defendemos que a Ciência tinha que ser ouvida nas discussões do Código Florestal; é um documento mais geral que aborda como a Ciência poderia ajudar nos debates. Agora o texto é mais objetivo e ataca pontos específicos que o grupo entende que devem ser revistos, que merecem maior dedicação dos congressistas", esclarece José Antônio Aleixo da Silva, coordenador do GT e secretário da SBPC.

O documento defende que a atualização do Código Florestal precisa ser feita à luz da ciência e tecnologia hoje disponíveis e alerta aos senadores a importante missão de corrigir os equívocos verificados na votação da matéria na Câmara dos Deputados. De acordo com Aleixo, o estudo divulgado no dia 11 atende à demanda dos próprios senadores que querem ouvir o posicionamento dos cientistas. "Trazemos uma posição mais clara dos pontos que merecem maior atenção. Esperamos que esse texto tenha grande impacto, que seja levado em consideração, porque a briga política entorno do Código é grande", avalia Aleixo.

DESTAQUES

O documento traz um sumário resumido e uma parte mais detalhada com bibliografia indicativa. São dez pontos de destaque, entre eles três se concentram sobre as Áreas de Preservação Permanente (APPs). Os cientistas alertam que todas as APPs de beira de cursos d'água devem ter sua vegetação preservada e aquelas em que essa vegetação foi degradada devem ser integralmente restauradas. Segundo o estudo, deve ser mantida a definição de APP de cursos d'água do Código Florestal atual e os usos ribeirinhos das APPs na Amazônia devem receber tratamento diferenciado. A definição dos limites das APPs nas áreas úmidas deve ser calculada a partir do nível mais alto da cheia conforme definição da Convenção de Ramsar(Convenção sobre Zonas Úmidas de Importância Internacional) e as APPs em áreas urbanas devem ser reguladas pelo Plano Diretor da cidade.

Os cientistas alertam que é um equívoco considerar que APPs desmatadas até a data de 22 de julho de 2008, para uso alternativo do solo, sejam definidas como atividades consolidadas e por isso possam ser mantidas e regularizadas pelo Plano de Regularização Ambiental (PRA). A maioria dessas APPs foi desmatada em desacordo com a legislação ambiental vigente na época e a definição de área rural consolidada deve ser retirada do texto. O documento indica também a inclusão dos manguezais e apicun como APPs no texto do PLC 30/2011, em função de sua importância ecológica.

De acordo com o estudo, não se justifica cientificamente a inclusão das APPs no cômputo das Reservas Legais (RLs) já que apresentam estruturas e funções distintas e comunidades biológicas complementares. Elas devem ser mantidas separadas. Os cientistas recomendam que a compensação da Reserva Legal não deve ser prevista no âmbito do bioma indistintamente, pois devido a sua heterogeneidade física, biológica e ecológica, poderá levar à compensação de áreas que não têm equivalência nem em termos de composição e estrutura, nem de função. A compensação deve ser realizada em áreas mais próximas possíveis, dentro da mesma unidade fitoecológica (mesmo ecossistema), de preferência na mesma microbacia ou bacia, para que haja a desejada equivalência ecológica.

Os pesquisadores alertam que a permissão do uso de espécies exóticas em até 50% da Reserva Legal é extremamente prejudicial para as principais funções da área: conservação da biodiversidade nativa e uso sustentável de recursos naturais. Mas o uso temporário de espécies exóticas, combinado com espécies nativas regionais nas fases iniciais de restauração de uma área, pode ser uma alternativa interessante.

O documento destaca ainda que a Agricultura Familiar é definida naLei 11.326/2006, art. 3, com quatro critérios que devem ser simultaneamente observados e dizem respeito a tamanho, mão de obra, renda e gestão. Esses critérios não podem ser reduzidos na lei apenas ao tamanho da propriedade (quatro Módulos Fiscais).

DILEMA

Os cientistas ressaltam que não existe dilema entre conservar o meio ambiente e produzir alimentos, afirmando que a limitação para o crescimento da agricultura nacional se deve à falta de adequação de política agrícola e não às restrições ambientais colocadas pelo Código Florestal. O documento também trata do custo de restauração de área degradadas, que varia conforme diferentes situações, e destaca alguns serviços ambientais essenciais da vegetação ripária [mata ciliar] que justificam sua preservação e restauração.

FONTE

Jornal Agrosoft/Jornal da Ciência