8 de julho de 2011

No Senado, especialistas defendem redução no uso de agrotóxicos

O aumento da produção agrícola brasileira, com redução do uso de agrotóxicos, exige substituição do modelo de produção adotado no país. Já existem tecnologias para produzir alimentos de forma mais ecológica, mas é preciso incentivo estatal para adotá-las. Essas afirmações são do pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), Marcelo Augusto Boechat Morandi, que atua na unidade de Meio Ambiente da entidade. O pesquisador participou ontem (07/07/11) de audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal.

Em curto prazo, disse Morandi, os produtores terão bons resultados com o aperfeiçoamento de práticas já adotadas com o modelo tradicional. O monitoramento integrado de pragas e doenças, o aperfeiçoamento da tecnologia de aplicação de defensivos, a capacitação de técnicos e produtores e a restrição de produtos altamente tóxicos, sugeriu, podem contribuir para a redução do consumo de agrotóxicos.

Marcelo Morandi recomendou ainda a integração e substituição de insumos agrícolas e práticas convencionais por práticas mais sustentáveis. Como exemplo ele sugeriu plantio direto de culturas, fixação biológica de nitrogênio e a integração de lavoura, floresta e pecuária (ILPF). Numa etapa posterior, acrescentou, poderá ser adotado sistema produtivo que funcione em processos ecológicos. Zoneamento adequado para cultivo de cultura certa no lugar e época corretos, com valorização dos ecossistemas, bem como atualização da grade de formação dos profissionais agrários com visão ecológica, são medidas a serem adotadas em longo prazo, sugeriu.

O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente defendeu ainda a recuperação do sistema da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para oferecer assistência técnica a produtores, tarefa que a Embrapa não teria capacidade de realizar.

Na avaliação do representante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida!, Vicente Eduardo Soares de Almeida, que também é pesquisador da Embrapa Hortaliças, o Brasil possui tecnologia para, em dez anos, produzir frutas, verduras e legumes de forma ecológica. Em sua avaliação, são necessárias políticas públicas com estratégias para fazer a transição agroecológica, que contemple preocupação com a saúde e com o meio ambiente.

CONTROLE

Para o representante da Agência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa), Luiz Carlos Meireles, o controle do uso de agrotóxicos depende de melhor coordenação das ações entre os órgãos do governo e de melhor regulação da área, bem como a admissão de mais profissionais e pesquisadores por meio de concurso público. Ele informou que são 80 técnicos com formação em toxicologia para responder a todas as demandas relacionadas a agrotóxicos no país.

Luiz Meireles recomendou ainda a substituição de agrotóxicos mais perigosos por outros mais seguros e o monitoramento da qualidade dos produtos, serviços e resíduos tóxicos em alimentos, água potável e solo. "Em sã consciência, ninguém quer consumir moléculas que causam câncer ou má formação em fetos. O estado quer minimizar os problemas e avançar para moléculas menos tóxicas", garantiu o representante da Anvisa.

CONSUMO

O aumento do consumo de agrotóxicos no Brasil é explicado pelo aumento da produção agrícola, disse o diretor executivo daAssociação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher. Ele afirmou que a produção do país vai aumentar nos próximos anos e, com isso, crescerá também o consumo de agrotóxicos. Para ele, o clima tropical do Brasil favorece à produção agrícola, mas, ao mesmo tempo, à proliferação de pragas.

Em sua avaliação, não é necessário aumentar a área plantada do país. Daher informou que são 65,38 milhões de hectares destinados à agricultura que, se bem aproveitados, poderão aumentar a produção agrícola. Segundo ele, a integração lavoura-pecuária pode aumentar em 50% a área plantada, sem a necessidade de destruir florestas.

SENADORES PEDEM APOIO DOS AGRICULTORES

Apesar de admitirem a necessidade de uso de agrotóxicos para produzir alimentos em grande escala no Brasil, os senadores que participaram ontem (07/07/11) de audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária defenderam a redução gradual da utilização dessas substâncias.

O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), um dos autores do requerimento para a audiência que debateu o tema, ressaltou que a sustentabilidade e a saúde dos brasileiros devem ser prioridade. Ele informou que os agrotóxicos podem causar intoxicação, má formação fetal, cânceres e distúrbios neurológicos, entre outros danos ao ser humano. O meio ambiente também é prejudicado com a contaminação da cadeia alimentar, da água, do solo e do ar, observou o senador.

Valadares informou que o Brasil recebe e utiliza produtos que são proibidos em outros países. Como exemplo, ele citou o Edosulfan, banido em 45 países e ainda em uso no Brasil até 2013, conforme recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. "Estamos consumindo o lixo que os outros países recusam" disse Valadares.

O senador Blairo Maggi (PR-MT), que é produtor agropecuário, afirmou ter interesse em adotar um modelo mais ecológico de produção em razão dos benefícios à saúde e menores custos. Porém, segundo ele, ainda não é possível produzir alimentos em grande escala sem utilizar agrotóxicos.

O senador elogiou as pesquisas Embrapa e disse estar disposto a adotar novos modelos desde que provados eficientes. Para o senador, a mudança da produção convencional por tecnologias mais ecológicas é um processo gradual de substituição das alternativas adotadas.

"Não tem como o Brasil defender a balança comercial e garantir alimentos para o mundo sem o uso de agrotóxicos. Parece que fazemos uso porque queremos poluir. Entre o desejo de não usar e a necessidade de produzir há uma diferença grande" observou Maggi.

Também o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) assegurou que os produtores adotariam defensivos agrícolas orgânicos se fosse garantida a produção. Ele afirmou que a agricultura brasileira está em franca expansão, o que exige melhor controle e fiscalização por parte do governo. Ele considerou insuficiente o número de profissionais técnicos em atuação e sugeriu concurso público para reforçar o quadro.

"É inadmissível que haja apenas 80 técnicos para controlar a agricultura brasileira. Cada vez mais, o Brasil vai produzir e precisa ter gente pra controlar" disse Moka.

FONTE

Agência Senado
Iara Farias Borges - Jornalista

2 de julho de 2011

Itaqui, o Portal do Rio Grande

Mercado Público: uma obra rica em detalhes e que precisa de restauração. O imponente portal de acesso retrata uma época de esplendor. Foto: Darci Bergmann, 26/06//2011 
Por Darci Bergmann
Theatro Prezewodowski, um dos muitos marcos culturais
    A cidade de Itaqui, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, tem um invejável patrimônio arquitetônico. As construções em vários estilos retratam diversos períodos da sua história. Esse rico acervo torna a cidade uma importante fonte de estudos e tem grande potencial turístico. Essa opinião é compartilhada por moradores da cidade, que almejam a restauração e a preservação desse manancial.
Yuri Oliveira, de boné: "é preciso preservar este acervo arquitetônico"
Construções em vários estilos. As pedras tem a ver com o nome da cidade

Matéria-prima usada para as famosas cercas de pedra, as rochas tipicas da região também foram utilizadas na construção de moradias e pavimentação de vias públicas.Mais bonitas que o corriqueiro asfalto, as ruas revestidas de pedra ainda permitem a infiltração de parte das águas pluviais e aquecem menos nos dias quentes de verão. Essas pedras grandes, irregulares, são mais um atrativo que dá charme à bela cidade.



Reminicências
Minha curiosidade sobre Itaqui é antiga. Antes mesmo de conhecer a cidade,  eu já ouvira falar sobre a sua riqueza arquitetônica. Em 1963, eu ingressei na Escola Agrícola Celeste Gobatto, em Palmeira das Missões. Ali conheci o professor Arilo Marques, itaquiense nato, que enaltecia as belezas e a história da sua terra natal. Arilo falava das ruas pavimentadas de pedra, dos passeios largos, dos prédios em vários estilos e descrevia também a zona rural, com os seus campos repletos de bovinos e ovinos. Falava da natureza rica em espécies animais e pela primeira vez ouvi falar na região de São Donato. Ali, cortada pela BR 472, situa-se a hoje Reserva Biológica de São Donato, criada em 12 de março de 1975, pelo decreto estadual nº23.798. Arilo Marques, já naquela época, mostrava preocupação com o acervo histórico-cultural e até ambiental de Itaqui e região. 
Entre 1966 e 1969 estudei na Escola Técnica de Agricultura, a ETA, em Viamão. Ali conheci outros itaquienses e "fronteiriços" como eram designados os pampeanos. Da ETA fui cursar Agronomia em Santa Maria. Nessa época conheci várias cidades na Fronteira Oeste: Alegrete, Uruguaiana, Rosário do Sul, Santana do Livramento, Bagé na Campanha. Eu, que nascera em Lajeado, no Vale do Taquari, morara no Extremo-Oeste de Santa Catarina, na região dos pinhais de Cunha Porã e no vale junto ao Rio Uruguai, em Mondaí, tive então oportunidade de conhecer a metade sul do Rio Grande do Sul, região integrante do Bioma Pampa. 
Em 1974, formado engenheiro-agrônomo pela UFSM, fixei residência em São Borja. Nesse mesmo ano conheci Itaqui. Gostei da cidade e da sua gente. E dei razão ao meu mestre Arilo Marques. Havia uma rica história, um "theatro" imponente, um mercado público único no seu estilo, prédios antigos e ricos em detalhes, as pedras marca registrada da cidade. E havia o campo com as suas planuras, com algumas coxllhas sobressaindo aqui e ali. E as várzeas entrecortadas por rios sinuosos e protegidos pelas matas de galeria.Num dia de sol aberto sobrevoei esta parte do Bioma Pampa. Era um cenário paradisíaco. Do alto pude ver bandos de capivaras e o veado-campeiro ainda em razoável número, às vezes misturado ao gado bovino. As lavouras de arroz já ocupavam parte dessa planície, desde São Borja, até Uruguaiana. Ao longo da BR 472, ainda em construção, percebi uma área em especial, com matas, banhado e o entorno de campos nativos ainda relativamente preservados. Ali era o São Donato, a meio caminho entre São Borja e Itaqui. O cenário era tal como descrevera Arilo Marques. Era tanta riqueza, que era preciso ter cuidado em preservar pelo menos parte dela. Isto incluía o acervo histórico da cidade em si e de parcela representativa da paisagem do Bioma Pampa. E o banhado do São Donato reunia as condições para ser uma dessas reservas, antes que o chamado e muitas vezes transitório "progresso" provocasse estragos profundos nessa paisagem.
A campanha pela preservação da Reserva Biológica de São Donato
Criada a reserva, ela ficou no papel por muitos anos. As lavouras avançaram no seu entorno e uma draga do DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas fez drenagem parcial da área. Nesse tempo, desde a sua criação, então como filiado à AGAPAN, juntamente com pessoas da região, lutei pela implantação definitiva da Reserva. Foram feitos manifestos, abaixo-assinados e até o José Antônio Lutzenberger, renomado ambientalista, se envolveu na campanha. Em 03 de outubro de 1997, a juíza Rosmari Girardi, da Comarca de Itaqui, acolhendo pleito da Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural - ASPAN, exarou sentença condenando o Estado do Rio Grande do Sul a implantar em definitivo a REBIO São Donato. 
O itaquiense Arilo Marques tinha razão: algo deveria ser feito para preservar uma parte da paisagem, da flora e fauna da região de Itaqui.
     Nunca imaginei que um dia eu seria um dos protagonistas dessa história, na questão ambiental.