25 de fevereiro de 2010

A RESSONÂNCIA SCHUMANN


Por Leonardo Boff - Teólogo

Não apenas as pessoas mais idosas mas também jovens fazem a experiência de que tudo está se acelerando excessivamente. Ontem foi carnaval, dentro de pouco será Páscoa, mais um pouco, Natal. Esse sentimento é ilusório ou possui base real? Pela “ressonância Schumann” se procura dar uma explicação. O físico alemão W.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por uma campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera que fica cerca de 100 km acima de nós. Esse campo possui uma ressonância (dai chamar-se ressonância Schumann) mais ou menos constante da ordem de 7,83 pulsações por segundo. Funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera, condição comum de todas as formas de vida. Verificou-se também que todos os vertebrados e o nosso cérebro são dotados da mesma frequência de 7,83 hertz. Empiricamente fêz-se a constatação que não podemos ser saudáveis fora desta frequência biológica natural. Sempre que os astronautas, em razão das viagens espaciais, ficavam fora da ressonância Schumann, adoeciam. Mas submetidos à ação de um “simulador Schumann” recuperavam o equilíbrio e a saúde.

Por milhares de anos as batidas do coração da Terra tinham essa frequência de pulsações e a vida se desenrolava em relativo equilíbrio ecológico. Ocorre que a partir dos anos 80 e de forma mais acentuada a partir dos anos 90 a frequência passou de 7,83 para 11 e para 13 hertz por segundo. O coração da Terra disparou. Coincidentemente desequilíbrios ecológicos se fizeram sentir: perturbações climáticas, maior atividade dos vulcões, crescimento de tensões e conflitos no mundo e aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros. Devido a aceleração geral, a jornada de 24 horas, na verdade, é somente de 16 horas. Portanto, a percepção de que tudo está passando rápido demais não é ilusória, mas teria base real neste transtorno da ressonância Schumann.

Gaia, esse superorganismo vivo que é a Mãe Terra, deverá estar buscando formas de retornar a seu equilíbrio natural. E vai consegui-lo, mas não sabemos a que preço, a ser pago pela biosfera e pelos seres humanos. Aqui abre-se o espaço para grupos exotéricos e outros futuristas projetarem cenários, ora dramáticos, com catástrofes terríveis, ora esperançadores como a irrupção da quarta dimensão pela qual todos seremos mais intuitivos, mais espirituais e mais sintonizados com o bioritmo da Terra.

Não pretendo reforçar este tipo de leitura. Apenas enfatizo a tese recorrente entre grandes cosmólogos e biólogos de que a Terra é, efetivamente, um superorganismo vivo, de que Terra e humanidade formamos uma única entidade, como os astronautas testemunham de suas naves espaciais. Nós, seres humanos, somos Terra que sente, pensa, ama e venera. Porque somos isso, possuimos a mesma natureza bioelétrica e estamos envoltos pelas mesmas ondas ressonantes Schumann. Se queremos que a Terra reencontre seu equilíbrio devemos começar por nós mesmos: fazer tudo sem stress, com mais serenidade, com mais amor que é uma energia essencialmente harmonizadora. Para isso importa termos coragem de ser anti-cultura dominante que nos obriga a ser cada vez mais competitivos e efetivos. Precisamos respirar juntos com a Terra para conspirar com ela pela paz.

Foto: Darci Bergmann

24 de fevereiro de 2010

FUMO E MEIO AMBIENTE

                                                                            

Por Darci Bergmann


Desnecessário dizer que fumar prejudica a saúde. Até os fumantes sabem dos riscos que correm. O difícil, ao que parece, é conscientizá-los de que o tabagismo afeta a saúde de quem não fuma quando exposto à fumaça tóxica. O mesmo tabagismo é causa de grandes prejuízos ao meio ambiente.
       A poluição já inicia no plantio do fumo. Nessa cultura são utilizados agrotóxicos entre eles herbicidas e inseticidas. Parte desses agrotóxicos atinge os cursos de água e parte se infiltra nas camadas mais profundas do solo. O fumo, depois de colhido, é armazenado em grandes depósitos. Ali ele está sujeito ao ataque de pragas como traças, gorgulhos e outras. Então recebe nova carga de pesticidas. Antes de chegar ao consumidor o cigarro ou seu similar já causou prejuízos à Natureza.
      Além da poluição do ar pela combustão de cigarros e assemelhados, ocorrem queimadas nos campos e matas com grandes prejuízos à biota e ao patrimônio. Somam-se a isso os incêndios em moradias e prédios em geral. As estatísticas revelam que o cigarro está entre os maiores causadores de incêndios. Assim, o simples hábito de fumar desencadeia uma gama de conseqüências que atinge o Planeta como um todo.
       O fumante é vítima e causa de outras vítimas na ciranda perniciosa do tabagismo. Ele é um consumidor cativo que sacrifica a sua saúde para sustentar a cadeia produtiva do tabaco e os impostos do Estado. O fumante é o hospedeiro de parasitas de toda a ordem que lhe sugam a saúde e o dinheiro às vezes minguado. Do seu consumo dependem milhares de produtores, trabalhadores em fábricas de cigarro e os lucros polpudos de empresários do setor. Do seu consumo resultam impactos ambientais como contaminação do ar, do solo, incêndios e gastos na área da saúde, solapando os recursos dos tributos arrecadados.
       Um amigo meu, que se livrou do tabagismo, disse: eu, enquanto fumante, era um tolo que sentia prazer em ser parasitado e ainda pagava por isso. Não é por outra razão que uma empresa fabricante de cigarros chegou a divulgar uma frase até cínica: obrigado por fumar. Em outras palavras seria dizer: obrigado, seu tolo, o seu vício é o meu lucro e a sua saúde não me interessa.
        Outros que eram fumantes, tiveram ou ainda têm problemas de saúde que poderiam ter sido evitados. Eu próprio tive experiência amarga com tabagismo. Meus pais eram fumantes. Contraíram doenças ligadas ao tabagismo: ele com enfisema pulmonar, ela com problemas cardíacos. Eu também por algumas vezes dava minhas pitadas. Depois eu percebi a minha tolice. Parei quando constataram que meu pai, aos 52 anos, já tinha sinais de enfisema pulmonar. A partir daí tornei-me um antitabagista. Por isso, caro leitor, se você fuma, tome uma decisão inteligente: pare de fumar. Sua saúde e o Planeta lhe agradecerão.

Foto: Darci Bergmann

23 de fevereiro de 2010

A CRUZADA PARA NEGAR O AQUECIMENTO GLOBAL

Opinião / Artigos

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 22/02/2010 - Autor: Ladislau Dowbor * - Fonte: Envolverde


Não há dúvidas sobre o aquecimento global, nem sobre o peso das atividades humanas na sua geração. No entanto, depois de dois anos de uma gigantesca campanha de mídia, envolvendo também a criação de ONGs fajutas e de movimentos aparentemente “grass-root”, portanto “espontâneas e comunitárias”, e sobre tudo listagens de cientístas “céticos” visando dar impressão de “quantidade”, temos resultados, e para os grupos do petróleo, do carvão e semelhantes, terá valido a pena. Segundo a revista britânica The Economist, a proporção de americanos que achavam existir evidências sólidas de aumento das temperaturas globais caiu de 71% em abril de 2008 para 57% em outubro de 2009 (Carta Capital, 16/12/2009, página 48).

O estudo de James Hoggan (Climate cover-up: The cruzade to deny global warming) não é sobre o clima, mas sobre comunicação, e consiste essencialmente em mapear como a campanha foi montada e como hoje funciona. A articulação é poderosa, envolvendo instituições conservadoras como o George C. Marshall Institute, o American Enterprise Institute (AEI), o Information Council for Environment (ICE), o Fraser Institute, o Competitive Enterprise Institute (CEI), o Heartland Institute, e evidentemente o American Petroleum Institute (API) e o American Coalition for Clean Coal Electricity (ACCCE), além do Hawthorne Group e tantos outros. Sempre petróleo, carvão, produtores de carros, muitos republicanos e a direita religiosa.

Os grandes grupos corporativos aparecem mais discretamente, com exceção da ExxonMobil que inundou com dinheiro o mercado de consultoria e de comunicação. Este “inundou”, naturalmente, é um conceito relativo: são centenas de milhões de dólares, mas New Scientist lembra que “as empresas de petróleo têm vastos lucros. Só a ExxonMobil lucrou US$ 45 bilhões em 2008. Em um mundo sano, certamente encontraríamos uma maneira de desviar um pouco deste dinheiro para resolver os problemas que o próprio petróleo está gerando. A questão é: estamos vivendo num mundo sano?” (NS, 5/12/2010, p. 5) Não custa lembrar que estas empresas não “produzem” petróleo, e sim extraem e comercializam um bem herdado da natureza que está acabando.

Em termos de personagens, encontraremos os das causas conservadoras e muitos personagens “flexíveis”, como Frank Luntz, Christopher Walker, Fred Singer, Patrick Michaels, Arthur Robinson, Steven Milloy, Benny Peiser e numerosos outros, além da eterna estrela do “contra”, o dinamarquês Lomborg, que graças à sua disponibilidade anti-clima ganha financiamentos para incessantes palestras.

Profissionais das relações públicas (sim, o nome é este) estão sempre presentes. Hoggan, o autor deste estudo, é um profissional de relações públicas e conhece profundamente como funciona a indústria da construção e da destruição das reputações de pessoas ou de causas. Isso o levou a fazer o presente levantamento detalhado de como se estrutura, com o impressionante poder das tecnologias modernas de comunicação, a manipulação da opinião pública. Independentemente da causa, no caso o drama do aquecimento global, o que é muito interessante no livro é entender esta indústria da desinformação.

Naomi Oreskes organizou uma meta-pesquisa, com o buscador “mudança climática global”, e limitada a artigos revistos por pares (peer review). Encontrou 928 artigos, nenhum colocando dúvidas sobre a realidade do processo climático. Nos jornais, no entanto, comentando a pesquisa, 53% dos artigos, buscaram ouvir “os dois lados”, e colocaram de maneira equilibrada opiniões de contestadores. Zero porcento de artigos científicos contestadores sobre o processo climático em si, mas nos jornais aparecia como “um tema em discussão”. O que era o objetivo. O tema está em discussão, afirmam gravemente os grandes grupos geradores do aquecimento (não diretamente, sempre por meio de listas de livre inscrição), portanto o assunto “é controverso”. Os “céticos” passam a se apresentar não como contestadores do fenômeno, mas como os que têm uma visão equilibrada, sem extremismos, portanto acreditam que talvez haja um problema, mas temos de ser ponderados, e adiar decisões.

No caso de Naomi Oreskes, é curioso, pois um Dr. Benny Peiser, professor de educação física (esporte mesmo, não física), realizou uma pesquisa sobre “mudança climática” (e não “mudança climática global”) e apresentou uma lista não de 928 artigos, mas de mais de 12 mil. Portanto, os 928 representariam apenas uma pequena parcela das opiniões. Os jornais, devidamente estimulados (a Fox em particular, naturalmente), fizeram alarde. Faltava demonstrar que os 12 mil tinham opinião contrária. Pressionado por revistas científicas que se recusavam a publicar o seu artigo, Peiser conseguiu localizar 34 artigos “que rejeitam ou duvidam da visão de que as atividades humanas são a principal causa do aquecimento observado nos últimos 50 anos”. Pressionado ainda para mostrar os artigos e os argumentos científicos em artigos “peer reviewed”, Peiser finalmente chegou a um artigo científico de contestação. Não era revisto por pares, e foi publicado na American Association of Petroleum Geologists. (102).

Tudo isto, evidentemente, amplamente divulgado, em particular por redes de institutos empresariais conservadores, utilizando em parte os mesmos grupos de relações públicas utilizados nas campanhas de caça-voto dos republicanos, e apoiados nas tecnologias de ampla divulgação como youtube. O resultado de tudo? Frente a tanta celeuma, os grupos interessados puderam passar a dar entrevistas “equilibradas”, pois estaria claro que “há controvérsias”. Que era o único objetivo da campanha. Não de negar o inegável, mas de dar a entender que as pessoas comedidas, equilibradas, não vão fazer nada, e muito menos pressionar os agentes do aquecimento global.

O livro é muito instrutivo para quem lida com comunicação, com teoria dos lobbies, com manipulação política. O próprio Hoggan menciona como é cansativo, a cada vez que aparece um cientista de peso mencionado no grupo “cético”, fazer circular a carta de denegação do cientista, ou destrinchar uma lista de milhares de “opositores” para ver se há no meio alguém que realmente tenha feito alguma pesquisa sobre a única coisa finalmente relevante, que não é a “opinião”, e sim dados científicos novos que provem algo diferente. E depois tentar fazer circular a informação de que a “notícia” afinal não era notícia, isto numa mídia onde as corporações financiam a publicidade.

Uma pérola entre os argumentos e uma das mais utilizadas: “Como os cientistas dizem que podem prever o clima dentro de 50 anos se não são capazes de prever a chuva de amanhã”. Como se meteorologia e estudos climáticos fossem da mesma área. Um britânico pode não saber se vai nevar amanhã, mas sabe perfeitamente prever que vai chegar o inverno e o frio correspondente, e não hesita em comprar um casaco. Mas o argumento pega e se apoia numa fragilidade que é de todos nós: se nos dão um argumento que confirma a opinião que já estávamos propensos a ter, qualquer estribo vale.

O estudo bem poderia ser traduzido e utilizado para os nossos próprios problemas, como por exemplo o peso da bancada ruralista na opinião pública, ou as campanhas orquestradas pela Febraban, ou ainda a campanha contra a proibição de armas de fogo individuais, estribadas no “direito de se defender” e até na “liberdade”. Nos Estados Unidos, temos precedentes interessantes e igualmente desastrosos tanto no caso das armas, como na batalha das grandes empresas de saúde privada aliadas com o “Big Pharma” para tentar travar o direito de acesso a serviços de saúde, sem falar das gigantescas campanhas das empresas de cigarros.

O último livro de Robert Reich, aliás, Supercapitalim, também trata desta apropriação dos processos políticos pelas corporações. O filme O Informante mostra como isto se deu com a indústria do cigarro, enquanto The Corporation explicita o mecanismo de maneira ampla. Marcia Angell fez um excelente estudo dos procedimentos equivalentes na indústria farmacêutica (em português, A verdade sobre os laboratórios farmacêuticos). A própria desinformação se transformou numa indústria. É a indústria da opinião pública.

No caso da mudança climática, como qualificar a dimensão ética do que constitui uma clara compra de opiniões? Ou os ataques impressionantes das empresas de advocacia das corporações, que processam qualquer pessoa que ouse sugerir que uma opinião poderia envolver não a verdade mas interesses corporativos? O liberalismo tem uma concepção curiosa da liberdade.



*Ladislau Dowbor, é doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de Varsóvia, professor titular da PUC de São Paulo e da UMESP, e consultor de diversas agências das Nações Unidas. É autor de “Democracia Econômica”, “A Reprodução Social”, “O Mosaico Partido”, pela editora Vozes, além de “O que Acontece com o Trabalho?” (Ed. Senac) e co-organizador da coletânea “Economia Social no Brasil“ (ed. Senac) Seus numerosos trabalhos sobre planejamento econômico e social estão disponíveis no site http://dowbor.org

A NATUREZA NÃO VOTA, MAS COBRA

                                                        
                                                                    Por Darci Bergmann
As mudanças climáticas estão por toda a parte. Nós humanos precisamos mudar conceitos e atitudes, sob pena de flagelos ainda maiores. A ocupação dos espaços urbanos e rurais é caótica. As chamadas áreas de preservação permanente e de reserva legal desempenham importante papel na infiltração da água através do perfil do solo, promovendo a recarga dos aqüíferos. Também auxiliam na conservação do solo, evitando o assoreamento dos rios. As matas e demais formas de vegetação nativa, ao longo dos cursos de água e nas encostas, se preservados, com certeza, atenuam os efeitos das enxurradas. É engano supor que a preservação dessas áreas causa perdas à agricultura. As perdas são maiores devido aos desastres ambientais, como as enchentes de agora, aguçadas pela atividade humana imediatista. Também, por ora, não faltam terras para a produção de alimentos. Na verdade boa parte das áreas agrícolas é ocupada para a produção de produtos supérfluos, não alimentícios, caso do tabaco. No que se refere à parte de sustentabilidade financeira das áreas preservadas, é possível criar um fundo ambiental, remunerando os proprietários pelos serviços ambientais. A sociedade como um todo será beneficiada e, portanto, ela deverá auxiliar na manutenção desse fundo. No momento em que se fala na reformulação do Código Florestal, a sociedade e os políticos devem refletir com seriedade sobre este tema.

No ano corrente, mais uma vez, teremos eleições. Como é sabido, alguns candidatos não medem esforços para apresentar propostas demagógicas. Essas incluem a concessão de facilidades a quem deliberadamente degrada o meio ambiente. Tudo isso na ânsia de atrair eleitores. Promessas eleitoreiras que criam vínculos e que elegem deputados e senadores e governantes. Claro, é fácil corromper a questão ambiental, prometendo a ocupação de áreas e a distribuição irresponsável de terras públicas ou até impedindo a criação de unidades de conservação. Sempre o pretexto é o mesmo: que a agropecuária não pode ser prejudicada, que o mundo precisa de alimentos e o argumento de fundo social de gerar empregos. A natureza não vota, mas pode decidir o futuro da humanidade. Quando a natureza se manifesta pelos desajustes do clima e pelas mazelas das ocupações de áreas impróprias que os próprios demagogos estimularam, esses mesmos cobram do Estado a destinação de recursos e socorro rápido às vítimas.

Não sou contra o socorro às vítimas. Até porque a natureza tem o seu lado imprevisível. Mas sou muito mais a favor de evitar o quanto possível que elas ocorram. E isso inclui ações preventivas focadas em leis sérias, criadas com responsabilidade que deve transcender aos interesses eleitoreiros e imediatistas. A reforma das leis ambientais deve levar em conta esses aspectos.

Também é preciso que as leis sejam realmente cumpridas, mesmo antes da ocorrência de tragédias. Multas sobre fatos ocorridos não recuperam os danos, nem com as medidas compensatórias. De positivo servem para inibir outras ações. O cumprimento das leis ambientais que podem prevenir certas tragédias está muito ligado ao licenciamento de algumas atividades. E aí existem falhas que oportunamente serão analisadas.

Apesar do desgaste perante a opinião pública, ainda existem políticos sérios. Não arrisco um percentual. Mas um voto consciente de cada eleitor pode ajudar a eleger ou até reeleger aqueles que, de fato, se preocupam com as questões ambientais.

Foto: Ligia Fagundes Riesgo
Local: Gramado-RS, Brasil, ano 2009 

15 de fevereiro de 2010

MAIS EVIDÊNCIAS SOBRE OS RISCOS DOS TRANSGÊNICOS PARA A SAÚDE

Por Júnior Warne
Pesquisadores da Universidade de Caen e Rouen, na França, conduziram avaliação detalhada sobre efeitos de transgênicos na saúde de mamíferos. Os resultados mostram efeitos colaterais no fígado e rins, danos no coração, glândula supra-renal, baço e sistema hematopoiético (responsável por formar os constituintes do sangue).
Os cientistas analisaram os dados de três estudos sobre alimentação de cobaias (ratos), realizados pela Monsanto ou em nome da Monsanto. Os estudos, que tiveram a duração de apenas 90 dias, avaliaram os milhos transgênicos MON 810, MON 863 (ambos tóxicos a lagartas) e NK 603 (tolerante à aplicação do herbicida glifosato).
Os estudos foram fornecidos pela Monsanto às autoridades de saúde para obter a autorização para comercializar os produtos, mas os pesquisadores só conseguiram a íntegra dos documentos da Monsanto através de uma ação judicial.
As conclusões dos cientistas a partir da análise dos dados brutos são bem diferentes das conclusões da multinacional sobre os mesmos dados. Segundo Gilles-Eric Séralini, um dos autores da nova avaliação, as autoridades de saúde se baseiam na leitura das conclusões apresentadas pela Monsanto e não no conjunto dos números.
Os pesquisadores concluíram que todos os três transgênicos avaliados contêm novos resíduos de agrotóxicos que estarão presentes nos alimentos e rações e poderão apresentar graves riscos de saúde a quem consumi-los. Eles também defenderam a proibição imediata da importação e do cultivo destes transgênicos e recomendaram a condução de estudos adicionais com alimentação de cobaias de longo prazo (mais de dois anos) e multigeracionais, envolvendo pelo menos três espécies, para fornecer dados realmente válidos cientificamente sobre os efeitos agudos e crônicos das lavouras, alimentos e rações transgênicas.

O texto acima foi publicado na Comunidade do Greenpeace, no Orkut, 04/01/2010, no tópico O MUNDO SEGUNDO A MONSANTO LEGENDADO NO YOUTUBE.

Comentários de Darci Bergmann:
Foto: Antônio Eduardo Lanna
Qualquer semelhança de procedimento com o que vem ocorrendo com o Clomazone, marca comercial Gamit e Gamit 360, da multinacional FMC, talvez não seja mero acaso. Esses herbicidas estão fazendo uma devassa na biodiversidade do Bioma Pampa e já causam enormes prejuízos aos pequenos produtores. Num estudo feito em São Paulo, o autor cita que o Clomazone tende a se acumular no fígado. Sobre a meia vida do produto, após a aplicação, as discrepâncias de informações são grandes. Vão de vinte e poucos dias até quase quatro meses. Sobre o metabolismo, isto é, a degradação, existe uma cortina de fumaça. Não dizem claramente qual o potencial fitotóxico dos metabólitos ou mesmo da sua toxidade sobre os mamíferos e a fauna em geral. As empresas apresentam às autoridades estudos parciais sobre os produtos que querem registrar. Omitem informações que elas mesmas produziram. As pesquisas quase sempre se baseiam em experimentos de curto prazo, ou sem levar em conta outros aspectos ambientais. Por exemplo: uma situação de experimento de herbicidas em canteiros e aplicação com pulverizadores tipo costal é bem diferente daquilo que ocorre na prática, em áreas maiores e pulverização aérea. Se faltam informações aos técnicos, que garantia teriam os consumidores?

OUTROS CARNAVAIS


Por Darci Bergmann

A origem do carnaval está ligada à agricultura. Antes do advento do Cristianismo, alguns povos festejavam as boas colheitas e o costume pagão se espalhou no Ocidente. A tradição milenar das festas de regozijo e de agradecimento tem variantes que adentram as religiões. Algumas etnias preservam tradições e costumes, numa diversidade cultural equivalente, em importância, à própria biodiversidade. As festas sagradas e profanas por vezes se misturam. Outras vezes ocorrem numa mesma comunidade, mas os atores sociais mudam conforme as ideologias de cada um. Até Beethoven, na bela Sexta Sinfonia, conhecida como a Pastoral, apresenta uma parte chamada Festa na Aldeia. A tradição gaúcha, o forró nordestino, o bumba-meu-boi do norte, a música sertaneja, a cultura indígena, os costumes afros, as oktoberfest da etnia germânica e o próprio carnaval, entre outras manifestações profanas e religiosas, fazem do Brasil um celeiro multicultural. Essas manifestações também geram emprego e renda. Divulgam artesanato, cultura, produtos da região e alimentam o turismo. Esse é o lado bom e que deveria predominar sempre. No entanto, algumas festas tem sido usadas por alguns indivíduos para extravasar sentimentos negativos. O consumo de bebidas alcoólicas, além do normal, potencializa atitudes agressivas, o desrespeito, enfim o bom relacionamento. Pior ainda é outro componente trágico que invade a arena pública das festas. Os traficantes de drogas ditas ilícitas estão de plantão, infiltrados em grupos ingênuos. Ao menor descuido, conseguem uma presa.

Desde milênios ocorrem festas. Eu mesmo participei de muitas delas. Fiz carnaval na minha juventude e o faria agora não fosse uma constatação: O excesso de barulho e o excesso de bebida alcoólica, aliado a um trânsito caótico que termina ceifando vidas ou as mutilando.

Talvez eu esteja ultrapassado no meu modo de ver as coisas. Talvez não. Nos carnavais dos quais eu participei, as músicas não diferiam muito das de agora. Nem a alegria era menor. As fantasias eram simples, quase sempre de papel que virava húmus. As bebidas estavam em garrafas retornáveis. Depois da festa não havia muito lixo. Dependendo o tamanho do salão, a orquestra tocava sem equipamento de amplificação. O barulho não superava a arte e o galanteio se expressava também em palavras. Ocorriam algumas escaramuças, mas sem maior gravidade. Automóveis ainda eram poucos e os acidentes muito raros. Nem se fazia tumulto na via pública, na saída dos bailes. O sossego público era respeitado. Mesmo numa festa caseira, sempre havia o cuidado de não perturbar a vizinhança. Esses eram outros carnavais.

Seria possível mesclar alguns bons costumes dos carnavais antigos com os dos carnavais de hoje? Sempre haverá carnaval e nós foliões do passado e do presente poderemos transformá-lo num estado de arte, sem violência, sem droga, sem poluição sonora e sem transformar em lixeira as nossas ruas. Esses são outros carnavais. Depende apenas de nós.

Foto: Darci Bergmann

11 de fevereiro de 2010

O BRECHÓ E A VIÚVA



                                                       

Por Darci Bergmann

   Fazia um calor danado naquele veranico de maio. Numa dessas noites quentes tomei um ônibus e viajei até a capital. Levava só algumas tralhas, pois voltaria na noite seguinte. Para surpresa minha, o tempo mudara e já ao desembarcar em Porto Alegre fazia um frio de arrepiar. A situação exigia uma tomada de providências. Enquanto tomava um café para aquentar o corpo, ocorreu-me a idéia de por em prática aquele princípio de reutilizar as coisas que já estão no ambiente, sem que seja necessário adquirir novos produtos. A isso chamam de perciclagem. Então decidi ir a um brechó para ver da possibilidade de encontrar um blazer ou coisa assim. Nunca tinha ido antes, talvez até por preconceito ou por aquela vaidade idiota que me assolou por um bom tempo. Ou até porque um amigo meu, bem aquinhoado financeiramente e chegado ao consumo desmedido, tinha restrições às mercadorias de brechós. Dizia ele que não compraria peça de vestuário nesses locais. Um dos motivos por ele alegado era de que um blazer bonito poderia ter pertencido a algum mafioso. Ou quem sabe a alguém que já morreu. Chegou a repetir que não usava coisas que foram usadas pelos mortos.
   Naquelas alturas, premido pelo frio e até por uma questão de consciência ambiental, deixei de lado os preconceitos. Adentrei no brechó só de artigos masculinos. O atendente era alfaiate profissional. Fiquei impressionado com a quantidade e qualidade dos artigos ali expostos e tudo a um preço acessível. Depois de experimentar algumas peças decidi-me por um blazer de meia lã, praticamente novo, por menos da metade do preço de loja naquela ocasião. Saí dali elegantemente vestido, com alta moral, pois vencera mais um preconceito. A reutilização de coisas usadas é uma necessidade que se impõe para diminuirmos o lixo no planeta.
    Mas a história não terminou ainda. Depois de alguns meses, recebi a visita do meu amigo que não gostava de usar coisas que os mortos usaram. Era um dia de certo frio e na conversa regada por um café cada um contou um pouco das coisas da vida. Fiquei sabendo que ele havia desfeito o namoro. Estava agora com um novo relacionamento. A nova namorada era uma viúva, muito bonita e, segundo ele, muito bem conservada. Chegou até a dizer que agora acertou na escolha. Eu lhe desejei muita sorte e felicidade. Antes de se despedir, o meu amigo fez um reparo. Achou muito bonito o blazer que eu vestia e perguntou onde eu tinha comprado. Expliquei-lhe, então, que fora adquirido num brechó da capital. Com certa ironia lhe disse que talvez o primeiro dono do blazer já tivesse morrido. Meu amigo entendeu a deixa e retrucou: o tempo muda nossas percepções. Agora entendo porque é preciso dar valor às coisas que já foram usadas pelos mortos. Deu um sorriso e saiu porque a viúva o aguardava.

Foto: Darci Bergmann

9 de fevereiro de 2010

ORAÇÃO PELA TERRA



                                                                   Foto: Darci Bergmann


 Por Darci Bergmann

Obrigado, Senhor, por nos ter concedido o dom da Vida.

Obrigado, Senhor, por nos ter dado como morada este Planeta, a nossa Terra, verdadeira jóia do sistema solar.

Obrigado, Senhor, por nos ter permitido a companhia de outras formas de vida, que se apresentam em milhões de espécies.

Senhor, todo o Universo faz parte da Vossa grandiosa obra. E aqui, nesta linda querência planetária, permitistes que nossos espíritos, Vossas criaturas eternas, encontrassem morada. Há bilhões de anos a Vida se fixou aqui em formas tão surpreendentes, que evoluíram e se adaptaram às condições dos elementos organizados por Vós e banhados pela luz do Sol. Nossa Terra, graciosamente, gira em torno dele. O sistema solar está em harmonia com outros semelhantes dentro da nossa Galáxia, que também não é única. Senhor, tão grandiosa é Vossa obra que não sabemos onde estão os seus limites, por mais que tentemos desvendar tal mistério.

Somos aprendizes e, nas sucessivas gerações, cometemos muitos erros. Temos sido intolerantes com os da nossa própria espécie, movidos pela cobiça, pela ganância ou por diferenças no modo de pensar. Dividimos a Terra em territórios, regidos por regulamentos, que muitas vezes dissimulam o domínio de nações sobre nações ou de governos e corporações sobre os indivíduos. Por vaidade, afrontamos a Natureza, subjugando-a em nome do progresso.

Como seres racionais, estabelecemos metodologias para o conhecimento, a isso denominando Ciência. Mas o conhecimento está tão fracionado, que já perdemos a noção do Todo. Muitos de nós queríamos mudar a Natureza e algumas tecnologias foram adotadas como deusas na mitologia da modernidade. Sim, nossos deuses são outros. Eles nos fascinaram pela promessa de bem estar, de mais tempo livre, de poder e de prestígio social. No entanto, nos cobram sacrifícios cada vez mais pesados. Por essas conquistas aparentes e pelo consumismo é preciso sacrificar a ética, o respeito entre os humanos e destes com a Natureza. Os outros deuses exigem de nós a pilhagem dos recursos naturais, como se fôssemos uma última geração aqui na Terra. Senhor, esses deuses querem ver poluídos o solo, a água, o ar e qualquer elemento que lembre a Vossa Criação. Na ânsia de dominação, utilizam seres humanos a quem conferem poder transitório, mas capaz de provocar profundas feridas na Terra. Muitos humanos inocentes foram seduzidos pelos novos deuses e ainda participam da orgia consumista. Nem a estabilidade do clima foi poupada. A Terra aquece perigosamente. Os véus brancos das neves nas montanhas derretem-se em enxurradas. Os gelos polares se liquefazem e aumentam o nível das águas oceânicas. As estações do ano estão indefinidas. Os ventos e as secas nos assolam cada vez mais em algumas áreas, enquanto as enchentes se intensificam em outras. Perdemos a noção de limites e as nossas cidades avançam sobre as paisagens, deformando-as. Ainda assim, queremos aniquilar as últimas florestas, conspurcar as águas e consumir futilidades.

Colocamos a nossa espécie acima das outras e não como integrante de toda a Criação. Nós ainda maltratamos os animais, privando-os da liberdade para o deleite egoísta. Destruímos santuários onde milhões de espécies viviam em harmonia. Existe uma só Verdade: os seres humanos, todas as formas de vida e a matéria componente do Universo são Vossa criação.

Já temos dificuldade em ouvir o canto das aves e o farfalhar das folhas ao vento. Os ruídos da civilização, com sua parafernália eletrônica, agridem nossos ouvidos. Já perdemos parte da audição e a capacidade de nos concentrar.

Os resíduos que geramos consomem recursos vultosos e a nossa saúde. Alguns são invisíveis, mas se espalharam pelo ambiente e circulam na cadeia vital de todos os seres. Podem induzir mutações genéticas, alterar nosso sistema hormonal e provocar estados depressivos.

Nossa Terra agoniza. É um ente vivo e seu estado é febril. Ela vai se livrar do seu agente patológico, restabelecendo os equilíbrios vitais. Quando isso ocorrer na sua plenitude, os agentes destruidores serão julgados pelo Tribunal da Natureza.

Se ainda for possível, rogamos a Vós, Criador do Universo, que nos conceda uma nova oportunidade. Cometemos muitas tropelias e Vos pedimos desculpas. Ainda resta em nós uma semente de humildade. Quem sabe um dia ela germine e permita a nós seres humanos, vermos o nascimento de uma nova Civilização, como parte da Natureza e não como o seu exterminador.

                                                                 Foto: Web

Dia 22 de Abril: Dia da Terra. Texto de ABRIL 2006.
Elaborei o texto a pedido de simpatizantes do movimento ambientalista. Foram distribuídas cópias avulsas e também no jornal Folha de São Borja, na coluna de Alberi Cogo.

3 de fevereiro de 2010

PINTURA DE MAU GOSTO


Por Darci Bergmann


Pintar o tronco das árvores com cal não é medida recomendável.
A cal provoca o ressecamento da casca e em algumas espécies pode levar à morte prematura da planta. Ao contrário do que pensam alguns, essa prática debilita o vegetal, prejudicando as suas defesas naturais. Para que ocorra o branqueamento, a concentração de cal é alta e nessas condições os danos acontecem.
Há outra questão envolvida que se refere à descaracterização da árvore. Cada espécie tem sua identidade e parte dela está no aspecto da casca. A caiação polui o visual e impede o desenvolvimento dos inofensivos líquenes que se fixam na casca. Literalmente parece que o tronco da árvore pintada com cal fica dividido em dois, ou seja, com duas caras.
Curiosamente, notei que no período em que ia ao ar uma novela da Rede Globo, com o nome Duas Caras, aumentou o número de árvores pintadas com cal na cidade de São Borja. O mesmo fenômeno foi notado em outras cidades.
Não sou muito afeito a novelas. No entanto, reparei que as cenas externas da novela Duas Caras foram filmadas em ruas onde as árvores estavam pintadas fortemente de branco. Tudo leva a crer que o cenário foi preparado, sem muita preocupação ambiental. E o resultado não poderia ser outro. A televisão tem grande influência sobre o comportamento das pessoas.
Comportamentos errôneos, ainda que não intencionais, podem atingir o grande público. Pintar árvores com cal é um tremendo mau gosto e uma atitude prejudicial às árvores, que já são obrigadas a viver em ambientes urbanos cada vez mais hostis. Os roteiristas de novela deveriam ter mais cuidados com o que veiculam. Num País cheio de leis ambientais, as práticas danosas ao meio ambiente e os maus exemplos influenciam as pessoas. Paradoxalmente, num programa da TV Globo, o Globo Rural, foi passada recomendação de não se pintar árvores com cal. O problema é que a audiência das novelas deve ser bem maior.



A foto à direita mostra uma cena inusitada: o tronco e parte dos ramos da árvore foram pintados de amarelo, a mesma cor do prédio e do muro.