Por Darci Bergmann
A origem do carnaval está ligada à agricultura. Antes do advento do Cristianismo, alguns povos festejavam as boas colheitas e o costume pagão se espalhou no Ocidente. A tradição milenar das festas de regozijo e de agradecimento tem variantes que adentram as religiões. Algumas etnias preservam tradições e costumes, numa diversidade cultural equivalente, em importância, à própria biodiversidade. As festas sagradas e profanas por vezes se misturam. Outras vezes ocorrem numa mesma comunidade, mas os atores sociais mudam conforme as ideologias de cada um. Até Beethoven, na bela Sexta Sinfonia, conhecida como a Pastoral, apresenta uma parte chamada Festa na Aldeia. A tradição gaúcha, o forró nordestino, o bumba-meu-boi do norte, a música sertaneja, a cultura indígena, os costumes afros, as oktoberfest da etnia germânica e o próprio carnaval, entre outras manifestações profanas e religiosas, fazem do Brasil um celeiro multicultural. Essas manifestações também geram emprego e renda. Divulgam artesanato, cultura, produtos da região e alimentam o turismo. Esse é o lado bom e que deveria predominar sempre. No entanto, algumas festas tem sido usadas por alguns indivíduos para extravasar sentimentos negativos. O consumo de bebidas alcoólicas, além do normal, potencializa atitudes agressivas, o desrespeito, enfim o bom relacionamento. Pior ainda é outro componente trágico que invade a arena pública das festas. Os traficantes de drogas ditas ilícitas estão de plantão, infiltrados em grupos ingênuos. Ao menor descuido, conseguem uma presa.
Desde milênios ocorrem festas. Eu mesmo participei de muitas delas. Fiz carnaval na minha juventude e o faria agora não fosse uma constatação: O excesso de barulho e o excesso de bebida alcoólica, aliado a um trânsito caótico que termina ceifando vidas ou as mutilando.
Talvez eu esteja ultrapassado no meu modo de ver as coisas. Talvez não. Nos carnavais dos quais eu participei, as músicas não diferiam muito das de agora. Nem a alegria era menor. As fantasias eram simples, quase sempre de papel que virava húmus. As bebidas estavam em garrafas retornáveis. Depois da festa não havia muito lixo. Dependendo o tamanho do salão, a orquestra tocava sem equipamento de amplificação. O barulho não superava a arte e o galanteio se expressava também em palavras. Ocorriam algumas escaramuças, mas sem maior gravidade. Automóveis ainda eram poucos e os acidentes muito raros. Nem se fazia tumulto na via pública, na saída dos bailes. O sossego público era respeitado. Mesmo numa festa caseira, sempre havia o cuidado de não perturbar a vizinhança. Esses eram outros carnavais.
Seria possível mesclar alguns bons costumes dos carnavais antigos com os dos carnavais de hoje? Sempre haverá carnaval e nós foliões do passado e do presente poderemos transformá-lo num estado de arte, sem violência, sem droga, sem poluição sonora e sem transformar em lixeira as nossas ruas. Esses são outros carnavais. Depende apenas de nós.
Foto: Darci Bergmann
Um comentário:
Lady:
Oi Darci!!!! Obrigada pelo teu comentario nas minhs fotos do carnaval. E este foi ecologicamente correto pq a prefeitura fez toda a decoracao com reciclados, que era o tema deste ano.: "RECILCAR É VIVER"Entao os enfeites eram de pet e outros materiais reciclados. Por todo centro historico tinham banners com mensagens educativas voltadas para meio ambiente e coletores para a selecao dos residuos (metal, vidro, papel, plastico, e nao reciclados).
Infelizmente mta gente nao entendeu o "espirito da coisa", mas achei a iniciativa muito legal
Postar um comentário