26 de outubro de 2011

Somos 7 bilhões - é possível oferecer bem-estar a todos?


MUNDO | 26.10.2011


Cada habitante da Terra tem direito a uma vida digna, água, comida, educação, moradia e saúde. Se todos seguirem o estilo de vida dos países ricos, seriam necessários três planetas, dizem os especialistas.

Ela nasce por estes dias: a pessoa que, até o final de outubro, elevará a 7 bilhões o cálculo estatístico do crescimento populacional do planeta. O termo empregado pelos especialistas é "explosão demográfica": nos últimos 200 anos ocorreu o mais veloz crescimento da população na história da humanidade.
Até 2050 deverão ser até mesmo 9,1 bilhões de habitantes. Cada um deles com direito a uma vida digna, água e alimento, educação, moradia e saúde. E quase todos sonham com um pouquinho de prosperidade, geralmente segundo os padrões ocidentais de qualidade de vida.
Mas o globo será capaz de comportar tudo isso? "Se todos seguirem o estilo de vida norte-americano ou ocidental, isso não será possível", descarta o cientista Ernst Ulrich von Weizsäcker, especialista em meio ambiente e membro do Conselho para o Futuro do Mundo (WFC, em inglês), fundado em 2007, em Hamburgo. "Para tal, seriam necessários três planetas Terra."
Modelo falido
Há 40 anos, a ideia do crescimento ilimitado já era posta em dúvida pelo Clube de Roma em seu famoso estudo Limits to growth (Limites do crescimento). "Diante da população crescente, contudo, o fim do crescimento é mera ficção", afirma o político verde alemão Ralf Fücks.
Especialistas pedem apoio aos pequenos agricultores nos países em desenvolvimentoEspecialistas pedem apoio aos pequenos agricultores nos países em desenvolvimentoJean Ziegler, perito das Nações Unidas para o assunto, não vê problemas mesmo para alimentar 12 bilhões de pessoas no globo. Contudo somente se os alimentos forem melhor distribuídos e as regiões rurais e os pequenos agricultores no hemisfério sul receberem apoio de forma sustentável. Devido à carência de recursos em diversos setores, "continuar do jeito que está" só é possível por mais algum tempo.
Segundo os prognósticos da ONU, em breve a Índia tomará o lugar da China como o país mais populoso do mundo, enquanto mingua o número de habitantes das nações industrializadas ocidentais. Ao mesmo tempo, essas sociedades minguantes e os populosos emergentes são os maiores consumidores de recursos naturais: alimentos, água, terras e combustíveis fósseis, assim como metais nobres envolvidos na produção de tecnologia digital.
É a era fóssil que de fato chega aos seus limites, diagnostica Fücks. Segundo o político verde, nem o atual sistema de energia nem o sistema de transportes erguido sobre o petróleo barato são "globalizáveis".
Multiplicar recursos
Há projeções de que, devido às mudanças climáticas globais já em curso, as temperaturas médias em todo o mundo possam se elevar em cerca de 4ºC no decorrer do século. Caso esses temores se tornem realidade, dentro em breve 330 milhões de pessoas serão forçadas por devastadoras inundações a abandonar seus locais de residência.
Inundações como as das Tailândia são outro desafioInundações como as das Tailândia são outro desafioSomente em Bangladesh, a cifra dos atingidos chegaria a 70 milhões. Porém outros extremos climáticos também podem tornar inabitáveis certas regiões do mundo, elevando ainda mais a pressão sobre as reservas de água potável, os alimentos e as terras.
Não se pode mais tentar superar o problema da escassez de recursos seguindo o modelo progressista do "cada vez maior, mais alto e mais forte". Tal noção é absurda, afirma Von Weizsäcker. Também a promessa de progresso através dos mercados globais e liberalizados perdeu a validade. Pelo contrário, critica o cientista: "A crença religiosa no poder criador dos mercados revelou-se avassaladoramente equivocada, o mais tardar desde a crise financeira de 2008. Os mercados podem causar danos inacreditáveis".
É preciso "re-regulamentar", paralelamente a reformas radicais em direção à eficiência no uso de recursos, exige Von Weizsäcker. "Em termos bem banais, isso significa retirar de um metro quadrado de terra, de um kilowatt/hora ou de um metro cúbico de água três, quatro, dez vezes mais bem-estar. E isso é tecnicamente possível." Não se trata de nenhuma utopia, enfatiza, mas sim de uma nova meta real, na qual a Alemanha deveria ser pioneira.
Nova onda verde
Essa noção de uma era moderna ambiental é discutida na Alemanha – e não apenas pelo Partido Verde e no recém-inaugurado Fórum do Progresso, da Fundação Friedrich Ebert (ligada ao Partido Social Democrata). O tema também concerne uma recém-formada comissão do Parlamento alemão. Sob o título "Crescimento, bem-estar, qualidade de vida", o grupo de trabalho transpartidário examinará possibilidades de desvincular o crescimento do consumo de recursos.
Empregos "verdes" para as gerações futuras de uma população em crescimento também estão entre as prioridades da Organização Mundial do Trabalho. Recentemente, seu secretário-geral, Juan Somavia, manifestou-se a favor de organizar uma economia pobre em emissões de CO2, em conexão com uma nova política ambiental e social.
No entanto, a atenção de políticos e parlamentos ainda está voltada para o atual modelo econômico e para a superação da crise econômica. Até que ponto a comunidade internacional já está comprometida com o bem-estar de uma população mundial em crescimento só ficará claro em dezembro próximo, quando se realiza na África do Sul a cúpula do clima da ONU.
Autoria: Ulrike Mast-Kirschning (av)
Revisão: Alexandre Schossler
Fonte: Deutsche Welle
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MUNDO | 27.10.2011

O crescimento populacional e o desafio de alimentar a todos

O planeta já abriga 7 bilhões de pessoas. Alimentar tanta gente é possível, dizem os especialistas, mas é necessário aumentar a produtividade de solos e sementes. E comer menos carne também ajuda.

A população do planeta cresce em 83 milhões de pessoas por ano: um pouco mais do que o total dos habitantes da Alemanha. Caso essa tendência se mantenha, em 2050 já haverá 9 bilhões de pessoas no mundo, e até o final do século serão mais de 10 bilhões.

Para saciá-las, seria necessário pelo menos duplicar, se não triplicar, a produção agrícola nos próximos 40 anos. Será possível alcançar essa meta com os recursos limitados de nosso planeta? Segundo o professor de agronomia Harald von Witzke, da Universidade Humboldt de Berlim, a resposta é "sim".

Mas um "sim" seguido de um "porém". O enorme crescimento da produção agrícola nas últimas décadas deve-se 80% ao aumento da produtividade. Apenas 20% são o resultado da ampliação das áreas agricultáveis. "No futuro, precisaremos investir ainda mais no aumento de produtividade para satisfazermos as crescentes necessidades humanas de alimento. O solo será, cada vez, um fator limitante para a produção de gêneros alimentícios", diz Von Witzke.

No momento, 40% da superfície terrestre são usados para a agricultura. Uma área de 16 milhões de quilômetros quadrados – o tamanho da América do Sul – é dedicada aos cereais; 30 milhões de quilômetros quadrados – a superfície da África – são pastos. Os melhores solos, os mais férteis, já são cultivados. Em diversas regiões não existem mais reservas de terra passíveis de utilização na produção de alimentos.

As nações em desenvolvimento são a exceção. Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO, na sigla em inglês), nelas apenas um terço da superfície teoricamente agricultável é cultivada de fato. Entretanto, até mesmo por questões de proteção ao clima global, não se pode considerar a transformação de florestas e mangues tropicais em áreas de cultivo.

Fator fundamental: a água

A superpopulação do planeta é um problema já hojeA superpopulação do planeta é um problema já hojeA alternativa que fica é o aumento da produtividade – uma alternativa, no entanto, comprometida e freada por diversos fatores. Em primeiro lugar encontram-se os dois elementos encarecedores água e energia. A agricultura consome as maiores quantidades de água em todo o mundo.

Previsivelmente, a escassez do ouro azul deverá ser o tema central dos próximos anos, observa o vice-diretor geral da FAO, Alexander Müller. "Estudamos a distribuição da água pela superfície terrestre e constatamos que a falta de água será mais grave nas zonas com maior crescimento demográfico." Isso significa que, justamente nos países em que a produção de alimentos precisa aumentar, faltam os requisitos básicos.

Uma das fórmulas para a solução é "eficiência", como propõe o estudo da equipe internacional de pesquisa da Universidade de Minnesota encabeçada por Jonathan Foley. No futuro, só as terras que realmente valem a pena devem ser irrigadas e fertilizadas. Por exemplo, em territórios áridos não deveriam mais ser cultivadas plantas que necessitem muita água.

No tocante à fertilização, pesquisas demonstraram que a metade dos adubos empregados em todo o mundo simplesmente acaba penetrando solo adentro, em vez de nutrir as plantas. Um desperdício que também acarretou a duplicação das taxas de fósforo e nitrato no meio ambiente, o que, por sua vez, causa a poluição da água: um círculo vicioso que deve ser rompido a todo custo.

Para elevar a atual produtividade, são necessárias, acima de tudo, melhores espécies vegetais e melhores métodos de plantio. Segundo o estudo de Minnesota, com isso já seria possível aumentar em 60% a produção global de alimentos.

"Melhores espécies" significa, por um lado, cereais e verduras especialmente produtivos e resistentes às condições climáticas rigorosas. Por outro lado, cabe elevar o potencial nutritivo desses vegetais, pois já hoje a carência alimentar é um problema. Leguminosas contendo mais ferro, painço com mais zinco, batatas, milho e arroz com maior quantidade de provitamina A: isso poderia ser alcançado pelo desenvolvimento de novos cultivares ou também pela engenharia genética.

O problema da carne

Soldados franceses entregam alimentos em Ruanda, durante a guerra civil do paísSoldados franceses entregam alimentos em Ruanda, durante a guerra civil do paísSeria mais fácil assegurar a alimentação no mundo se menos gente consumisse carne e outros produtos animais. Pois os animais precisam ser nutridos, e a produção de suas rações concorre com o cultivo de alimentos para a população humana – da mesma forma que com o plantio de vegetais para a produção de biocombustíveis.

Porém é ilusório esperar que ocorra uma renúncia aos produtos de origem animal: a tendência é, antes, o aumento de seu consumo. Assim, os cientistas pleiteiam que, no futuro, os solos mais férteis sejam reservados ao cultivo de gêneros alimentícios básicos. Sobretudo na América Latina, na África e no Leste Europeu há solos excelentes, cujas safras podem ser elevadas significativamente – enquanto as produções de rações e bioenergia devem ser relegadas aos campos restantes.

Novos desafios estruturais

No futuro, os efeitos da produção de mais carne, ovos e laticínios também se farão sentir sobre o clima. Atualmente, 30% das emissões de gases-estufa provêm da atividade agrícola. Sabe-se que o aumento de CO2 e metano na atmosfera atingirá especialmente as regiões do planeta com maior crescimento demográfico: são os países emergentes e os mais pobres que enfrentarão ainda mais secas, enchentes e outras catástrofes naturais.

Segundo Alexander Müller, da FAO, essa situação colocará a questão da alimentação no mundo diante de novos e graves problemas estruturais. "Todo debate sobre a alimentação no mundo precisa se ocupar com os novos focos de demanda, que estão nos países emergentes, nas regiões urbanas e nas nações cujo desenvolvimento econômico permite que apenas parte de seu potencial de demanda chegue aos mercados."

Em outras palavras: quase todos esses lugares são importadores de gêneros alimentícios, mas em geral não possuem o dinheiro necessário para comprá-los em volume suficiente no mercado mundial. O agrônomo Harald von Witzke também acentua esse fato: "O que agrava ainda mais o estado das coisas é o fato de esses países só disporem de sistemas rudimentares de pesquisa agronômica, de forma que é muito difícil para seus agricultores se adaptarem à mudança climática global".

Mais pesquisa e cooperação

Consumo de carne agrava problema mundial de alimentaçãoConsumo de carne agrava problema mundial de alimentaçãoSegundo os especialistas, esse quadro precisa mudar: pesquisa agrícola e uma política agrária direcionadas, assim como a ênfase na agricultura também no campo da ajuda ao desenvolvimento, poderão melhorar significativamente a situação. Enquanto em 1980 a parcela da agricultura na cooperação para o desenvolvimento era de 19%, em 2007 ela não passava de 3,5%.

Nos países pobres, falta aconselhamento para métodos de cultivo mais eficientes, formação profissional, créditos mais acessíveis, boas sementes e informações sobre as possibilidades de comercialização. O resultado é que quase a metade de todas as safras nesses países se perde devido ao combate ineficiente às pragas, a formas erradas de colheita, a problemas no transporte e na armazenagem. Também faltam informações de como comercializar melhor a produção.

Outro problema são os numerosos conflitos. Se os países não são capazes de aproveitar seu potencial agrícola devido a guerras civis e má governança, é impossível esperar que apresentem avanços agrícolas e maiores safras.

Quantas pessoas o planeta pode nutrir? Num ponto, todos os peritos são unânimes; não existe nem jamais existirá uma receita pronta para assegurar o abastecimento do mundo. Os recursos do planeta poderiam alimentar também 10 bilhões de habitantes, se necessário. Contudo, essa equação global provavelmente nunca fechará, pois a população mundial cresce mais justamente onde a situação de alimentação hoje já é mais precária.

Autoria: Sabine Kinkartz (av)
Revisão: Roselaine Wandscheer

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