Uma Declaração de Movimentos não pode prescindir da democracia e dos temas brasileiros!
Por Paulo Brack*
A chamada Declaração dos Movimentos Sociais, apesar de trazer questões preocupantes quanto às Mudanças Climáticas, Transgênicos, e inclusive o Sistema Capitalista (Sistema de Esgotamento da Vida), infelizmente ignorou algumas das principais bandeiras de luta do movimento ambientalista brasileiro. Não foram citadas a questão do Código Florestal (principal luta socioambiental brasileira de 2011), de Belo Monte (o pior e mais irregular empreendimento de 2011), da Copa Business 2014 (o baú de negociatas mais gigantesco de nossa história) e as demais megaobras de infra estrutura destruidoras, bem como a questão dos Agrotóxicos, que estão fazendo nosso País sucumbir, de forma melancólica no cenário ambiental mundial. Não vimos nem mesmo a citação do nome do Brasil na carta, enquanto são citados Colômbia, Honduras, Palestina, EUA, Cuba, entre outros. Por que?
E, vejam, nosso País (Campeão da Diversidade Biológica e também do desmatamento e uso de agrotóxicos) será o que vai sediar a Rio + 20, daqui a pouco mais de quatro meses!
De que adianta falarmos contra o Capitalismo, algo que concordamos, se na PRÁTICA nem falamos no agronegócio que estrangulou o Código Florestal brasileiro? Não falamos no BNDES que hoje é o banco que mais financia a degradação do Brasil e de Países vizinhos?
Lamentavelmente, documentos que não tiverem nenhuma consulta prévia aos movimentos ambientalistas e outros setores importantes da sociedade ficam comprometidas em sua legitimidade de representação. Fica, assim, muito mais como uma carta de alguns dos movimentos sociais - com algumas lideranças bem alinhadas com os governos que financiaram o FST - com bandeiras muito mais estratosféricas, e não representa o universo dos movimentos sociais no Brasil.
Assim, os ambientalistas não podem chancelar um documento ao qual não tiveram tempo hábil para opinar. Sem democracia,e uma construção coletiva, não vamos longe. E este é um dos principais problemas de nossas lutas no Brasil, ou seja, tratarmos, sem medo, as questões ligadas à democracia, à necessidade de desalinhamento político-partidário e governamental bem como a não permissão de que o capital predador financie nossas ações e movimentos, como vem acontecendo, infelizmente.
Cabe provocarmos a reflexão necessária para que possamos sair desta inércia, de tutelas que podem nos comprometer, de pautas que podem se tornar vazias (e estão se tornando, na prática), se não tivermos O FOCO dos principais problemas socioambientais e das principais lutas que temos que enfrentar, em cada canto do País e do Mundo.
Sempre é bom lembrar o velho ditado ambientalista: “Pensar globalmente e agir localmente”, e então vamos lutar para colocar em nossos documentos a nossa realidade e nossas lutas, principalmente aquelas representadas pelos Territórios da Sociobiodiversidade, que estão sendo aniquilados pelas políticas anti-socioambientais dos governos federal e estaduais.
Então para uma nova versão de carta futura, com construção democrática, seguem nossas sugestões:
- Parem Belo Monte e demais hidrelétricas de grande impacto ambiental importadas pelo Brasil, concebidas para manter a sangria de nossos recursos naturais (em especial a exportação de commodities minerais)!
- Parem de resgatar Megaobras dos governos militares (década de 70), e de incrementar uma Megainfraestrutura Autoritária, Concentradora e que espalha Morte no Brasil!
- Veto integral às mudanças do Código Florestal, que está destruindo a Amazônia e ameaça com o aprofundamento da destruição de nossa Biodiversidade!
- Não vamos permitir nenhum retrocesso nas conquistas socioambientais brasileiras! Auditorias nos licenciamentos irregulares no Brasil e nos bancos que financiam a destruição da natureza!
- Nenhum tostão público à Copa-Business 2014, e nenhuma expulsão de comunidades pobres para este Evento de Negócios/Negociatas!
- Pelas Energias Alternativas, descentralizadas, pela Agroecologia e Defesa e Empoderamento dos Territórios da Sociobiodiversidade! O Brasil merece ser o Campeão da Sociobiodiversidade, e não das mortes no campo e no uso de agrotóxicos!
- Pelo desatrelamento de setores dos movimentos sociais a partidos, governos e empresas, e por uma reflexão fraterna de nossas práticas e nos focos centrais dos problemas que afligem o Brasil, a America Latina e os demais países, com a construção de estratégias coletivas que integrem a Tod@s!
*Paulo Brack
InGá - Instituto Gaúcho de Estudos Ambientais
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