Falta de conservação do solo causa erosão e perda de lavouras no PR
Há 30 anos, Paraná foi referência mundial em recuperação dos solos.
Mas agricultores retiram a proteção para abrir caminho para o maquinário.
Durante décadas, os agricultores brasileiros investiram em técnicas de conservação do solo. Mas, nos últimos anos, muitas práticas foram abandonadas, deixando as lavouras desprotegidas, em uma busca sem limites pelo aumento da produtividade. O Paraná, estado que já foi modelo mundial de conservação de solos, hoje sofre com problemas como a erosão e a poluição de rios.
O agricultor Juarez Hagemann, dono de uma área de 60 hectares no município de Realeza, no sudoeste do Paraná, sentiu na pele e no bolso os efeitos da erosão, ação da água da chuva quando cai sobre um solo desprotegido. Em 2013, um temporal destruiu a lavoura que o produtor tinha acabado de plantar.
O agricultor Juarez Hagemann, dono de uma área de 60 hectares no município de Realeza, no sudoeste do Paraná, sentiu na pele e no bolso os efeitos da erosão, ação da água da chuva quando cai sobre um solo desprotegido. Em 2013, um temporal destruiu a lavoura que o produtor tinha acabado de plantar.
A erosão leva a lavoura e a camada mais fértil do solo, que fica na superfície. As gotas de chuva batem com força no solo, desagregam os torrões de terra e formam pequenos grãos. Leves e barreiras no caminho, eles são arrastados seguindo o declive natural do terreno e se acumulam nas partes mais baixas, onde, geralmente, há outra propriedade, uma nascente ou um rio. Por isso, é essencial construir barreiras de proteção que mantenham o solo e a água dentro da área da lavoura.
Entre as décadas de 1980 e 1990, o Paraná conseguiu espalhar por praticamente todo estado um sistema de conservação de solos feito em microbacias. Em 1990, o Globo Rural conheceu o trabalho desenvolvido na região. Estradas foram refeitas de forma a não jogar água para dentro das propriedades. As lavouras foram colocadas em nível, cortando o sentido em que a água corre, como explicou a engenheira agrícola Graziela Barbosa, pesquisadora do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), em Londrina.
“A água é um processo natural. Vai chover e vai escorrer. Se o sulco de plantio forma uma pequena rugosidade. Quando a água começa a escorrer, ela já tem essa rugosidade como uma pequena barreira mecânica para diminuir a velocidade”, diz Graziela.
Além do plantio em nível, terraços foram construídos para segurar a água que passa por cima dos sulcos. “Quando vem no sentido da pendente, a água vai ter um canal. Depois, nós vamos ter a parte maior da terra que chamamos de camaleão, que vai fazer com que a água que escorreu pare nesse canal. Quando a chuva parar, essa água naturalmente se infiltra e mantém a umidade no solo e não se perde”, completa Graziela.
O tamanho dos terraços e o espaçamento entre eles dependem do tipo de solo, do declive e do regime de chuvas de cada região. Antigamente, no Paraná eles passavam de uma propriedade para outra acompanhando a bacia dos rios e formando uma grande barreira.
O plantio direto foi outra ferramenta importante integrada ao sistema. A técnica consiste em colher uma lavoura e fazer o próximo plantio diretamente sobre a palhada da cultura anterior.
A palha que fica sobre o solo também diminui o impacto das gostas de chuva e protege a terra do sol, mantendo a umidade por mais tempo. Para ser eficiente, o plantio direto deve deixar pelo menos seis toneladas de palha por hectare. Mas o trabalho de duas décadas para implantar esse sistema de conservação está indo literalmente por água abaixo porque muitos agricultores retiram os terraços de suas propriedades.
“Os terraços, de certa forma, são uma restrição à mecanização. Numa situação mais recente, dos últimos cinco ou 5 dez anos em que o tamanho das máquinas tende a ser cada vez maior”, diz o pesquisador Augusto Araújo, engenheiro agrícola do IAPAR.
Especialista em mecanização, Araújo explica que para ganhar tempo e poder plantar e adiantar a colheita, para fugir do risco de secas, geadas e chuvas fora de hora, os agricultores estão comprando máquinas maiores, mais rápidas e potentes, mas que têm dificuldade para passar no espaço entre um terraço e outro e precisam fazer muitas manobras para circular entre eles.
A decisão mais comum é retirar um de cada três terraços, abrindo espaço para a máquina passar. Há agricultor agravando a situação e elimina todos os terraços para plantar no sentido em que a água corre, ou seja, morro abaixo.
“A velha prática de se plantar em nível, uma das técnicas mais tradicionais e clássicas de conservação de solo, está se perdendo também. Para aumentar a produtividade se faz um tiro morro abaixo e morro acima”, alerta Araújo.
Foi o que fez o dono de uma propriedade da região que não quis gravar entrevista. Na fazenda com 1,2 hectares no município de Bela Vista do Paraíso já houve um sistema de conservação de solo, mas hoje não restou nenhum terraço. Eles não foram reformados ou simplesmente retirados ao longo do tempo. Há sinais de problema por toda a área.
Assista ao vídeo:
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