A seca prolongada no Sudeste do Brasil revela um cenário
desolador. Rios, açudes e poços secando, onde antes havia fartura de água. As
plantações e as florestas desidratadas
agora são um combustível para os incêndios que aumentam ainda mais o teor de
gás carbônico na atmosfera. Se nos campos é assim, nas vilas e cidades a
tragédia climática muda o cotidiano das pessoas. Agora é possível perceber o
quanto dependemos da natureza em equilíbrio e o quanto precisamos evitar os
desperdícios de recursos naturais. Estávamos acostumados a abrir as torneiras e
vermos água jorrando muito além do necessário para o banho diário. Ou lavando
calçadas e carros com centenas ou milhares de litros esbanjados numa dessas
operações. Nunca nos perguntamos de onde vem a nossa água. Talvez
a maioria pensa que ela vem das represas. Não, ela vem de muito longe. Vem lá
da fazenda ou do pequeno sítio, onde tem vertente e dali se forma um córrego.
Depois, outros córregos vão se juntando e formam os rios. As represas apenas
são depósitos de água. E até o solo armazena água e a devolve para nosso uso
através dos poços de captação. As cidades dependem dos campos e das florestas.
Desde o alimento até o líquido mais precioso – a água.
E a nossa crise de água tem a ver com preconceito? Tem sim.
Aqui no Brasil, fomos ensinados a ver os sertões e as matas como sinônimos de
atraso. Nas periferias das cidades ou lá
nos rincões ermos, qualquer reserva de mato é vista como área improdutiva e sujeita
a invasões. Córregos e riachos urbanos são logo degradados com lixo e as suas
margens ocupadas por habitações. Temos preconceito contra as matas ciliares,
que protegem as encostas e as margens dos rios. As cidades se expandem e sempre
mais pessoas aparecem para ocupar espaços verdes em prejuízo dos mananciais de
água. Para alguns, a espécie humana tem preferência sobre as demais. Esta
ideologia de crescimento populacional sem limites pode ser o colapso da
civilização. As mudanças climáticas já dão sinais claros da fragilidade humana.
Até um minúsculo vírus, como o ebola, faz tremer de medo o mais valente dos
seres humanos. Nosso preconceito em relação à Mata Atlântica ajudou a
destruí-la na maior parte e o que dela resta agora é alvo de queimadas
criminosas ou não. E mesmo nas romarias, pedindo chuvas aos nossos santos,
alguns incautos lançam rojões que iniciam incêndios na vegetação esturricada
das proximidades.
A crise de água já é uma realidade planetária. O momento é de
profunda reflexão sobre o nosso estilo de vida e a busca de soluções deve
nortear todas as pessoas, sejam elas autoridades ou não. Cada um deve fazer a
sua parte. É inaceitável que candidatos a cargos públicos se aproveitem das mazelas
climáticas e busquem culpados porque as chuvas não caem. A nossa civilização
precisa ser repensada. Até porque falta chuva e ainda sobra preconceito.
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