As galhas da foto acima mostram as deformações dos tecidos causados pelo ataque da minúscula vespa-de- galhas em muda de Eucaliptus sp. Foto: Darci Bergmann |
A foto acima mostra ramos novos e nervuras de folhas de eucalipto atacadas pela vespa-de-galha. |
Entre as novas pragas de introdução recente no Brasil, a vespa-de-galha tem causado preocupação devido à rapidez com que se dissemina. Em mudas ainda no viveiro, o ataque pode causar severos danos. O controle é difícil devido às características da praga, cuja larva fica protegida dentro dos tecidos da planta.
Veja matéria abaixo sobre a nova praga
VESPA-DA-GALHA DO
EUCALIPTO
Novas
pragas ameaçam a cultura do eucalipto
por
Carlos Frederico Wilcken
Nos últimos anos, as plantações de eucaliptos no Brasil têm enfrentado
problemas com pragas exóticas, como o psilídeo de concha, identificado em 2003
e que até hoje vem dando dor de cabeça aos produtores.
No final de 2007, outra praga foi encontrada em plantações brasileiras de
eucaliptos: a vespa-de-galha. Trata-se de uma outra espécie da praga chamada Leptocybe
invasa, que ataca especificamenteEucalyptus camaldulensis, mais
usado para a produção de madeira e carvão vegetal e também o principal alvo do
psilídeo de concha.
A vespa de galha mede cerca de meio milímetro, é difícil de ser visualizada a
olho nu e tem preferência por atacar as partes novas da planta, principalmente
a gema apical e as folhas em início de desenvolvimento. Sua reprodução ocorre
por partenogênese, ou seja, todos os insetos que nascem são fêmeas que vão
continuar a atacar a planta e a se reproduzir.
Seu
potencial de ataque é muito grande. Ela põe os ovos dentro da planta que, com o
passar do tempo, começam a formar o que se chama da galha, uma espécie de tumor
que deforma as folhas e ramos, prejudica a circulação da seiva e leva a queda
de folhas e secamento de ponteiras. Toda a parte apical da planta pode secar,
impedindo o crescimento e reduzindo significativamente a produtividade.
Somente em 2008 foi feita a identificação e a confirmação da ocorrência pelo
professor Evoneo Berti Filho, da Esalq. “É uma das pragas do eucalipto de mais
rápida disseminação no mundo”, afirma o professor Carlos Frederico Wilcken, da
área de Defesa Fitossanitária da Faculdade de Ciências Agronômicas da Unesp,
campus de Botucatu.
O inseto é originário da Austrália e se disseminou pela Ásia. Atualmente, gera
problemas na Índia e na China, dois países que têm se destacado na produção de
eucalipto. A praga também chegou ao Oriente Médio, em Israel, subiu até a
Europa e já é encontrada na Espanha, no norte da África, em Marrocos e, de
maneira bastante intensa, na África do Sul.
A
ocorrência da vespa de galha no Brasil, mais especificamente no nordeste da
Bahia, é o primeiro registro feito no continente americano. Apesar de haver
outros meios os especialistas entendem que há uma probabilidade alta de essa introdução ter
ocorrido de modo acidental por estrangeiros que visitam as culturas.
Como
a detecção foi restrita a uma área experimental, foi recomendada a erradicação
das plantas. Todas as árvores e mudas, independentemente do valor do
experimento, foram cortadas e a queimadas. Atualmente, estão sendo feitas as
avaliações para saber se a medida foi suficiente e monitoramentos na região
para investigar a possibilidade da disseminação para outras áreas.
Existe
a suspeita de que a vespa de galha esteja presente na região de Piracicaba. O
professor Evoneo Berti Filho da Esalq/USP estuda diretamente o problema, em
busca da confirmação da ocorrência.
Percevejo
Bronzeado
Também da Austrália vem o mais novo inimigo das florestas brasileiras de
eucalipto: o percevejo bronzeado. O inseto foi encontrado na África em
2004 e só agora estão acontecendo os problemas mais sérios de desfolha e
clorose nas árvores. Em 2005, o inseto foi encontrado na Argentina e depois no
Uruguai. Em fevereiro deste ano um alerta fitossanitário foi encaminhado para
várias empresas sobre um possível risco de introdução nas plantações
localizadas em regiões fronteiriças.
O percevejo bronzeado mede cerca de três milímetros e coloca seus ovos sobre as
folhas. Quando eles eclodem as ninfas passam a sugar a seiva da planta.
Inicialmente, as folhas atingidas ficam esbranquiçadas. Com o tempo, a planta
passa a ficar com tons marrons ou avermelhados. Daí o nome do inseto de
percevejo “bronzeado”. Finalmente, ocorre a queda de folhas, que pode ser total
nas plantas mais suscetíveis.
A espécie mais suscetível é o Eucalyptus camaldulensis, mas o
percevejo se adaptou muito bem aos clones híbridos como o urograndis,
muito plantado no Brasil. Responsável pela detecção do psilídeo de concha em
2003, o professor Wilcken detectou o percevejo em dois municípios do Rio Grande
do Sul. “Durante o inverno a praga foi vista, ainda sem provocar danos às
plantas. Mas a tendência é que ela se espalhe durante o verão”, alerta o
professor.
A
preocupação aumenta em razão da comprovação da ocorrência da praga também no
Estado de São Paulo. “O ponto zero da ocorrência foi em Jaguariúna. Hoje,
depois de dois meses de detecção, as árvores daquela região estão inteiramente
desfolhadas. O dano é muito rápido”, relata o professor Wilcken.
Uma
vistoria detectou árvores com presença do inseto em Campinas, na região do
Aeroporto de Viracopos, no entorno de São Paulo, principalmente a região de
Barueri, e em outros 15 municípios do Estado, entre eles Itu, Sorocaba,
Piracicaba, Santa Bárbara do Oeste, Limeira, Anhembi, Botucatu e Avaí.
Como
a disseminação do inseto parece seguir o traçado das rodovias, a tendência é
que se espalhe pelo oeste paulista, além de poder atingir os estados do Paraná,
Minas Gerais e Mato Grosso do Sul. Já foram realizadas vistorias em alguns
municípios mineiros sem que o inseto fosse encontrado até o momento.
Combate
No
momento da detecção de cada uma das pragas foi feito um comunicado oficial para
a divisão de sanidade vegetal do Ministério da Agricultura. “Temos mantido
contato freqüente com os técnicos do Ministério”, conta o professor. “Estamos
elaborando programas para treinamento dos fiscais do Ministério da Agricultura
para a detecção da praga”.
Certamente,
as medidas deverão envolver ações de fiscalização nas rodovias, consideradas os
melhores canais para a disseminação do percevejo bronzeado. O inseto se instala
nas folhas e nas cascas da madeira e seus ovos podem permanecer vivos durante
um tempo considerável e serem transportados juntamente com a madeira.
O
transporte de mudas também pode colaborar para a disseminação. O ideal seria
plantar mudas obtidas de viveiristas dentro de cada Estado, de forma a
restringir a circulação de mudas dos locais em que o problema existe para
outras regiões. Medidas de controle químico e biológico devem ser adotadas, mas
ainda requerem estudos mais aprofundados.
No
início de setembro, um evento na Esalq/USP voltado para as novas pragas do
eucalipto, convidou pesquisadores para comentar a situação das plantações de Pinus que,
em outros tempos, tiveram sua produtividade reduzida em razão de pragas
exóticas. Segundo o professor Wilcken, durante o evento foi discutida a
possibilidade de elaboração de um projeto cooperativo envolvendo empresas e
pesquisadores ligados a instituições como a FCA/UNESP, a ESALQ/USP, a Embrapa
Meio Ambiente e a Embrapa Florestas. “São pragas presentes em regiões isoladas
e razoavelmente distantes umas das outras, como Bahia, São Paulo e Rio Grande
do Sul. Por isso precisamos trabalhar do ponto de vista cooperativo para
alcançar uma solução”.
Uma
das propostas para o combate das pragas é o controle biológico. “Vamos buscar
informações de outros países, principalmente no país de origem das pragas, para
fazer os estudos iniciais e a avaliação do risco da introdução dos inimigos
naturais de cada inseto”, revela Wilcken. “Como são insetos não pertencentes à
nossa fauna é difícil encontrarmos inimigos naturais nativos do Brasil que
possam controlar esse tipo de praga”.
A
África do Sul já está importando da Austrália o inimigo natural do percevejo
bronzeado. O professor Wilcken foi conhecer a experiência sul-africana e tem
mantido contato freqüente com pesquisadores de lá para acompanhar os resultados
das medidas de controle.
Com relação à vespa de galha, Israel já fez a introdução dos inimigos naturais.
Ainda em 2008, pesquisadores brasileiros devem fazer uma visita para conhecer
os resultados lá obtidos e avaliar a possibilidade de adotar as mesmas medidas no
Brasil.
A extensão territorial e as variações climáticas do Brasil não permitem ter
certeza do sucesso das medidas de controle biológico. Para combater o psilídeo
de concha também foi utilizada a introdução de um inimigo natural. Em algumas
regiões, como em São Paulo, a medida funcionou bem. Por outro lado, em Minas
Gerais a praga continuou com infestações altas.
O
manejo integrado de pragas parece ser a melhor estratégia. “Estamos estudando
vários métodos de controle e a possibilidade de integração entre eles”, explica
o professor Wilcken. Os métodos potencias de controle são a resistência das
plantas, através da seleção de clones de eucaliptos resistentes, avaliação de
inseticidas químicos para uso em situações emergenciais e avaliação de
inseticidas biológicos.
O
professor Wilcken anunciou o início de estudos do uso de fungos
entomopatogênicos, ou seja, fungos que causam doenças em insetos. “Vamos buscar
selecionar cepas desses fungos que sejam capazes de controlar essas pragas, com
maior potencial para o percevejo bronzeado”.
Produção
em risco
Atualmente,
a espécie de eucalipto com maior destaque no Brasil são os híbridos de Eucalyptus
urophylla e de E. grandis, também conhecido por
“urograndis”. É um material híbrido, de rápido crescimento, grande
uniformidade. “Teremos que fazer os estudos para verificar a suscetibilidade de
cada clone a cada uma dessas novas pragas. É um trabalho que vai levar cerca de
dois anos para nos dar uma idéia geral dos riscos que estamos correndo”, afirma
o professor Wilcken.
Embora ainda não seja possível prever o potencial dos danos causados pelas
novas pragas, os pesquisadores do setor têm uma certeza: o Eucalyptus
camaldulensis muito plantado na região central do Brasil, devido à
qualidade da madeira para produção de lenha e carvão, além de ser resistente à
seca, é considerada hoje uma espécie condenada por essas pragas.
A
principal recomendação é evitar plantios com essa espécie, porque há alto risco
grandes infestações, gerando perdas significativas aos produtores rurais. Os
produtores terão que evitar a espécie até obterem material resistente ou
conseguirem um inimigo natural eficiente. “Com três pragas diferentes é muito
difícil obter resistência e leva-se tempo até que tenhamos todo um manejo para
manter a produção sem o ataque das pragas”.
Carlos Frederico Wilcken é Engenheiro Agrônomo pela
Faculdade de Ciências Agronômicas - FCA/UNESP - Campus de Botucatu e concluiu
o mestrado em 1992 e o doutorado em 1997 na área de Entomologia, ambos pela
ESALQ/USP. Atualmente é Professor Assistente Doutor da, sendo responsável por
disciplinas na área de entomologia florestal, para o curso de Engenharia
Florestal e entomologia agrícola para o curso de Agronomia. É docente nos
Programas de Pós-Graduação (PG) de Proteção de Plantas e de Ciências
Florestais, ambos da UNESP-Botucatu. Atualmente é coordenador do PG-Proteção
de Plantas (período 2007-2010) e Coordenador Científico do Programa de
Proteção Florestal (PROTEF), do Instituto de Pesquisas Carlos Frederico
Wilcken concluiu o doutorado em Ciências Entomologia pela Universidade de São
Paulo em 1997. Atualmente é Professor Assistente Doutor da Universidade
Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Atua na área de Agronomia, com
ênfase em Entomologia Florestal. Em seu currículo Lattes os termos mais
freqüentes na contextualização da produção científica, tecnológica e
artístico-cultural são: Proteção florestal, Praga florestal, Proteção de
Plantas, Entomologia Florestal,Eucalyptus, Controle biológico,
Controle Químico, Lagarta parda, eucalipto e Insecta.
Contato: (14) 3811-7167 – (14) 8115-5965 |
Reprodução autorizada desde que citado a autoria e a fonte
Dados para citação bibliográfica(ABNT):
WILCKEN, C.F. Novas
pragas ameaçam a cultura do eucalipto. 2008.
Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/Artigos/2008_4/eucalipto/index.htm>. Acesso em: 4/3/2013
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