3 de abril de 2014

As espécies exóticas podem se tornar invasoras indesejáveis

Na matéria a seguir, publicada no site DW, é abordado o impacto da introdução da espécie exótica esquilo-cinzento na Escócia.

Para evitar extinção de nativos, esquilo cinzento é condenado à morte na Escócia

Espécies exóticas podem destruir ecossistemas naturais. Esse é o caso do esquilo cinzento na Escócia, que está acabando com o esquilo vermelho. No Brasil, há mais de 500 espécies trazidas de outras regiões.



Laura MacPherson não se lembra de ter visto um esquilo vermelho pessoalmente. "Talvez na Ilha de Skye quando eu era criança, mas não me lembro", afirma a dona de um pequeno hotel em Stirling, na Escócia.
Em vez dos esquilos vermelhos nativos da região, os esquilos cinzentos, uma espécie exótica – ou seja, fora de seu habitat natural – correm em seu jardim. "Eles incomodam um pouco. Eles roem os contêineres de plástico mais duros, entram no lixo e destroem coisas", conta MacPherson.
Mas esse é apenas um pequeno aspecto do potencial de destruição dessa espécie. Ela está provocando a extinção dos esquilos vermelhos. Os animais cinzentos têm mais filhotes, são maiores e comem mais, roubam até a comida que os vermelhos estocam para o inverno.
A estimativa é de que apenas 160 mil esquilos vermelhos ainda habitam o Reino Unido. Entretanto, a população dos cinzentos é composta por mais de três milhões de animais, segundo a organização Red Squirrels in South Scotland.
Acredita-se que os primeiros esquilos cinzentos tenham sido trazidos dos Estados Unidos para a Inglaterra no século 19 por um banqueiro chamado Thomas Brocklehurst. A espécie deveria embelezar o jardim de sua casa de campo.
Esquilos vermelhos não conseguem competir com cinzentos
"Eu gostaria de ter uma máquina do tempo para voltar e dizer a Thomas Brocklehurst que não foi uma boa ideia", diz o ambientalista Ken Neil, que trabalha no projeto do governo escocês Saving Scotland´s Red Squerrels. A grande maioria dos animais nativos restantes no Reino Unido, ou seja 75% deles, vivem na Escócia.
Erradicar o invasor
Ambientalistas se propuseram a livrar a Escócia da espécie cinzenta, para que a vermelha possa repovoar o habitat de onde fora expulsa. Neil e sua equipe espalham armadilhas pelas florestas e cidades do país.
Quando um esquilo vermelho é pego, ele é solto. Mas se um cinzento é capturado, ele é morto. "Não há alternativa. Eles não têm para onde ir e nós não podemos enviá-los de volta para os Estados Unidos", justifica Neil. A organização treina seus caçadores para matar os animais com apenas um tiro.
Mesmo se recusando admitir, Neil parece ter pena dos animais. Ele não quer demonizar os esquilos cinzentos, "mas a questão é essa: os homens criaram o problema e agora têm que consertá-lo", afirma, completando que a única a solução é erradicar a espécie exótica.
"Proteger espécies nativas é essencial, porque elas compõem a biodiversidade específica e única de um país ", argumenta.
Todos os anos, durante a primavera, Neil recolhe a amostras de pelos de esquilos das florestas escocesas para descobrir quais espécies habitam a região. Para colher o material, Neil cola uma fita adesiva dupla na entrada de caixas cheias de amendoim. Conforme o resultado da amostragem, ele decide onde colocar as armadilhas na próxima temporada.
Esquilos são atraídos com comida
O último levantamento feito pela organização revelou que houve uma queda na população de esquilos cinzentos em 2013 em relação a 2011. No mesmo período, os vermelhos foram encontrados em regiões onde não estavam antes. "Acreditamos que nossa estratégia está funcionando", argumenta Neil.
Predadores
Os seres humanos não são os únicos predadores do esquilo cinzento. Para a marta-do-pinheiro-europeia, eles são uma ótima refeição. Essa espécie de mamífero carnívoro que viva nas Ilhas Britânicas foi extinta em várias regiões. Mas agora, sua população está se recuperando na Escócia e na Irlanda.
Há alguns anos, os ambientalistas discutem o efeito da marta-do-pinheiro-europeia sobre as populações de esquilo vermelho ou cinzento. Esses animais se alimentam dos vermelhos, mas parecem preferir os cinzentos, que são maiores.
Um estudo recente dos pesquisadores Emma Sheehy e Colin Lawton da Universidade Nacional da Irlanda, em Galway, confirmou essa teoria. Eles descobriram que em regiões irlandesas onde havia a presença da marta-do-pinheiro-europeia, a população de esquilos vermelhos prosperava, enquanto a de cinzentos era mais rara.
"A abundância da marta-do-pinheiro-europeia pode ser um fator fundamental para o sucesso ou fracasso do esquilo cinzento como espécie invasora", escrevem Sheehy e Lawton.
Mas o esquilo cinzento não é a única espécie que incomoda ambientalistas. No início do século 20, o vison norte-americano foi importado para o Reino Unido, para a criação de peles. Ele escapou do cativeiro e se espalhou pelas Ilhas Britânicas. Outras espécies exóticas invasoras são o lagostim norte-americano e o mexilhão zebra. Essas espécies também estão sendo caçadas para serem erradicadas.
Marta-do-pinheiro-europeia se alimenta de esquilos
Espécies invasoras no Brasil
O problema de animais introduzido em ecossistemas diferentes que ameaçam o equilíbrio natural também ocorre no Brasil. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, já foram catalogadas no país mais de 500 espécies exóticas.
Algumas delas são consideradas pragas e prejudicam também a economia, como o mexilhão dourado. Esse molusco foi introduzido no Brasil na década de 1990, vindo em navios mercantes. No país, a espécie se proliferou rapidamente e entope tubulações de abastecimento de águas e filtros das usinas hidrelétricas.
Outro exemplo é a tilápia-do-nilo que chegou ao Brasil no século 20. Por se alimentar de plantas e animais, esse peixe causa a extinção de outras espécies. Até mesmo a jaca que se adaptou bem ao clima brasileiro é uma espécie exótica invasora.
A planta, originária da Índia e de outras regiões, foi trazida na época colonial e se dispersou pelo país. Em regiões de floresta onde há grande quantidade de jaqueiras, foi constatado o desaparecimento de mamíferos e insetos nativos.

DW.DE

  • Data 03.04.2014
  • Autoria Brigitte Osterath/Clarissa Neher
  • Edição Nádia Pontes

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