Passada a euforia da Copa, a realidade brasileira se mostra dramática. Os bilhões gastos em obras superfaturadas poderiam resolver boa parte dos problemas de saúde e melhorar as condições ambientais de muitas cidades.
O pano de fundo de sediar a Copa no Brasil foi a expectativa de que a seleção nacional seria hexacampeã e traria dividendos políticos ao governo. Nada tenho contra o futebol, pois pratiquei esse esporte quando mais jovem. Praticar esportes faz bem à saúde. O que se discute é a manipulação desse esporte de massas no interesse de magnatas poderosos e de governos que pretendem se perpetuar no poder. Por ironia, na maior parte das cidades, a população já não encontra nem espaços adequados para jogar futebol. Os terrenos 'baldios', onde se localizavam milhares de campinhos de futebol estão em extinção. Eram vistos como áreas de especulação. Os que sobraram são alvos de invasores rotulados como 'trabalhadores sem teto', muitos deles bem vestidos, com celulares de modelos caros. Esses 'trabalhadores' que não trabalham tem todo o tempo de sobra para se articularem e exigirem moradia. Quando são atendidos, logo outros grupos surgem e a ciranda não pára nunca. Transformaram-se num 'movimento social' notoriamente manipulado
Assim, as cidades vão inchando cada vez mais, por conta da falta de uma política de planejamento familiar. A poucos dias, num depoimento na televisão, uma dessas 'sem-teto' e mãe de cinco filhos, aparentando no máximo trinta anos, revelou estar grávida do sexto filho. Alegava direito à moradia e exigia que as autoridades resolvessem o problema. Logo seus outros filhos estarão reivindicando moradia também. Sem emprego, filhos pequenos e a prole aumentando, o custo social é jogado ao poder público e este exigirá que a conta deverá ser paga por todos nós, com nossos impostos. Ouvi certa vez de uma adolescente grávida o seguinte: 'não me preocupo com o sustento do filho porque agora tem ajuda do governo'. Em outras palavras: 'se eu não puder sustentar o meu filho, a sociedade que assuma'.
O inchaço das cidades e a ocupação crescente de novas áreas não é sinal de desenvolvimento. Talvez seja o prenúncio da derrocada ambiental cada vez mais iminente.
Os novos projetos habitacionais deveriam pelo menos contemplar sistemas de captação de águas pluviais, aquecimento solar e placas fotovoltaicas para reduzir os impactos decorrentes. Mas isto quase não ocorre porque a demanda por novas moradias é sempre maior. Então é preciso reduzir custos e com prejuízo à qualidade das obras. Muitas delas, tão logo sejam ocupadas, apresentam defeitos que exigem reparos e os custos aumentam.
Não seria então o caso de se implantar uma política séria de planejamento familiar? Hoje, a ciência médica coloca uma infinidade de opções que permitem à mulher bem orientada evitar uma gravidez indesejável. Mas essas opções parecem não estar ao alcance de uma faixa da população. Seria mais barato para o poder público trabalhar mais a questão social, com planejamento familiar à população de baixa renda.
Se há dinheiro para estádios pomposos, obras temporárias como algumas só para o período da Copa e propagandas oficiais bilionárias nos meios de comunicação, então deve sobrar algo para aplicar em saúde, planejamento familiar e melhorias ambientais.
Por falar em gastos com propagandas oficiais, um conhecido meu disse o seguinte. 'Desconfie dos governos que gastam demais com propagandas. Eles são os que menos fazem pela população'.
A meu ver parece que a Copa de 2014 mostrou isso. O governo federal desperdiçou bilhões de reais, muitos não rotulados como gastos para a Copa. A mobilização de todo o aparato das forças de segurança, com estadias, combustível e outras despesas de custeio teve um custo altíssimo, que não aparece nas contas oficiais.
E mais um problema de saúde agora se escancara: o dos hospitais filantrópicos, que trabalham no prejuízo, porque o governo federal, esse das propagandas bilionárias, não faz o ressarcimento justo dos serviços por eles prestados.
Acorda Brasil. Mudar é preciso.
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