12 de maio de 2011
Por Jill Richardson*
Da AlterNet
Da AlterNet
O Dr. Don Huber não buscava fama quando ele discretamente escreveu uma carta confidencial ao Secretário de Agricultura, Tom Vilsack, em janeiro deste ano, alertando Vilsack sobre evidências preliminares de um organismo microscópico que aparece em altas concentrações no milho e soja geneticamente modificado Roundup Ready e "parece ter impacto significativo na saúde das plantas, animais e, provavelmente, nos seres humanos."
Huber, um professor aposentado em fitopatologia pela Universidade de Purdue e coronel do Exército dos EUA, pediu ajuda ao Departamentyo Norte Americano de Agricultura [USDA] para pesquisar o assunto e sugeriu que Vilsack aguardasse até que a pesquisa estivesse concluída, antes de prosseguir com a desregulamentação da alfafa Roundup Ready. Mas cerca de um mês após o envio da carta, o seu conteúdo vazou na internet, e logo se tornou um fenômeno da web.
Huber não estava disponível para responder às perguntas da mídia nas semanas que se seguiram, portanto, incapaz de defender-se quando vários colegas de Purdue refutaram publicamente as suas acusações sobre o herbicida amplamente utilizado da Monsanto, Roundup (glifosato) e culturas de Roundup Ready.
Quando a carta foi finalmente reconhecida pela grande mídia, foi sob títulos como "cientistas questionam as declarações da Carta Biotec", observando que a popularidade da carta na internet "suscitou preocupação entre os cientistas, de que o público iria acreditar que a sua afirmação infundada era verdade. "
Agora, Huber finalmente falou tanto em uma segunda carta, enviada a "um grande número de indivíduos em todo o mundo" explicando e oferecendo fundamentos à sua primeira carta, como em entrevistas.
Embora sua primeira carta descrevesse uma pesquisa que ainda não havia sido concluída ou publicada, a sua segunda carta já cita mais evidências sobre o glifosato e as culturas geneticamente modificadas com base em estudos já publicados e revisados por colegas.
A base das duas cartas e grande parte da pesquisa é sobre o herbicida glifosato. Comercializado primeiramente em 1974, o glifosato tem sido o herbicida mais utilizado no mundo por um bom tempo. O glifosato foi considerado um produto relativamente benigno, porque se entendia que ele se quebra rapidamente no meio ambiente e seus danos são pouco mais do que causam as próprias ervas daninhas que deveria matar.
Segundo o Centro Nacional de Informação sobre Pesticida [National Pesticide Information Center], o glifosato impede que as plantas produzam uma certa enzima. Sem essa enzima, elas são incapazes de produzir três aminoácidos essenciais e, portanto, não conseguem sobreviver.
Uma vez aplicado, o glifosato liga-se ou às partículas do solo (e, portanto, é imobilizado e já não pode causar qualquer dano à planta) ou os microorganismos quebram o glifosato em amônia e dióxido de carbono. Muito pouco glifosato corre para os veios de água . Por estas razões, o glifosato era visto como mais ou menos inofensivo: você pulveriza as pragas, elas morrem, o glifosato vai embora, e não há mais danos ao meio ambiente.
Plantas com Aids
Mas Huber diz que isso não é verdade. Em primeiro lugar, ele aponta, começaram a surgir evidencias em 1980 de que “o que o glifosato faz é essentialmente transmitir AIDS para as plantas". Assim como a Aids, que paralisa o sistema imunológico do ser humano, o glifosato torna as plantas incapazes de criar defesas contra patógenos no solo.
Sem os seus mecanismos de defesa funcionando, as plantas sucumbem aos patógenos do solo e morrem. Além disso, o glifosato tem um impacto sobre os microrganismos do solo, ajudando uns e prejudicando outros. Isto é potencialmente problemático para os agricultores, já que a última coisa que se deseja é um acúmulo de patógenos no solo onde há cultivos.
O destino do glifosato no meio ambiente também não é tão benigno como se pensava. É verdade que o glifosato se liga ao solo ou é quebrado rapidamente pelos micróbios. O glifosato liga-se a qualquer íon com carga positiva no solo, e como conseqüência faz muitos nutrientes (como ferro e manganês) menos disponíveis para as plantas.
Além disso, o glifosato permanece no solo ligado a partículas por um longo tempo e pode ser liberado mais tarde através de práticas agrícolas corriqueiras, como adubação fosfatada. "Não é incomum encontrar 1-3 kg de glifosato por acre em solos agrícolas no Meio - Oeste", diz Huber, ressaltando que isso representa 1-3 vezes a quantidade normal de glifosato aplicado a uma área agrícola em um ano.
Huber diz que estes fatos sobre o glifosato são muito bem conhecidos cientificamente, mas raramente citados. Quando questionado sobre isso, ele respondeu que seria mais difícil para uma empresa obter a aprovação do glifosato para utilização ampla se fosse sabido que o produto pode aumentar a severidade das doenças em cultivos comuns, bem como as ervas daninhas que deveria matar. Aqui nos EUA, muitos jornais acadêmicos não estão interessadas em publicar estudos que fazem essa sugestão sobre o glifosato, um grande número dos estudos que Huber cita foram publicados no Jornal Europeu de Agronomia.
Se as alegações de Huber são verdadeiras, então segue-se que devem haver problemas de doenças em lavouras onde o glifosato é usado. A segunda carta de Huber verifica isto, dizendo: "estamos tendo um grande número de problemas na produção agrícola dos EUA que parece se intensificar, por vezes estão diretamente relacionadas às culturas genéticamente modificadas (OGM), e / ou os produtos que eles foram modificados para tolerar - especialmente aqueles relacionadas ao glifosato (o componente químico ativo no herbicida Roundup ® e versões genéricas desse herbicida). "
Ele prossegue, dizendo: "Temos testemunhado recentemente a deterioração na saúde da planta do milho, soja, trigo e outras culturas com epidemias inexplicáveis da síndrome da morte súbita da soja (SMS), a ferrugem [Goss’ wilt] do milho, e take-all de pequenas culturas de grãos nos últimos dois anos. Ao mesmo tempo, houve um aumento da frequencia de infertilidade e [aborto] nos animais (bovinos, suínos, eqüinos, aves) que era previamente inexplicável. Essas situações ameaçam a viabilidade econômica dos produtores agrícolas e pecuários ".
Algumas das culturas que Huber apontou, o milho e a soja, são geneticamente modificadas para sobreviver à pulverização com glifosato. Outras, como o trigo e a cevada, não são. Nesses casos, o agricultor aplica o glifosato para matar as ervas daninhas, cerca de uma semana antes do plantio, mas não pulveriza a cultura em si. No caso do milho, como aponta Huber, grande parte das variedades de milho nos EUA são cultivadas usando-se técnicas de melhoramento convencional para resistir à ferrugem. No entanto, pesquisas preliminares recentes revelaram que, quando o milho transgênico é pulverizado com o herbicida glifosato, o milho torna-se suscetível à ferrugem [Goss’wilt]. Huber diz em sua carta que "Essa doença foi comumente observada em muitas plantações de milho [Roundup Ready] no Meio-Oeste dos EUA em 2009 e 2010, enquanto o milho adjacente não-geneticamente modificado teve muito pouca ou nenhuma infecção." Em 2010, a ferrugem [Goss’ wilt] "contribuiu significativamente" para a perda de cerca de um bilhão de bushels de milho nos EUA ", apesar das condições de colheita serem geralmente boas", disse Huber. O tema da carta inicial de Huber é um organismo recém-identificado que parece ser a causa da infertilidade e abortos em animais. Os cientistas têm um processo para verificar se um organismo é a causa de uma doença: eles isolam o organismo, fazem uma cultura, e reintroduzem o organismo no animal para verificar se ele reproduz os sintomas da doença, e, em seguida, voltam a isolar o organismo do tecido animal. Isso já foi concluído para o organismo em questão. O organismo aparece em altas concentrações em culturas Roundup Ready. No entanto, mais estudos são necessários para entender o que este organismo é, e qual é a sua relação com o glifosato e / ou culturas Roundup Ready.
Para poder garantir uma pesquisa adicional necessária, Huber escreveu ao secretário Vilsack. Huber diz que ele escreveu a sua primeira carta ao secretário Vilsack com a expectativa de que ela seria enviada ao órgão competente dentro do USDA para acompanhamento, o que ocorreu. Quando o USDA contatou Huber para obter mais informações, ele forneceu, mas ele não sabe que prosseguimento foi dado àquela informação. A carta era "uma carta pessoal pedindo uma equipe [do USDA] e financiamento", diz Huber. Dado os problemas recentes com doenças de plantas e infertilidade e aborto de animais, ele diz que "muitos produtores não podem esperar entre três e 10 anos adicionais para que alguém encontre financiamento e um ambiente neutro" para poder concluir a pesquisa sobre esse organismo.
Se a ligação entre o organismo recém-descoberto e a infertilidade e abortos no gado for verdade, será uma grande história. Mas já existe uma grande história aqui: a falta de pesquisa independente sobre os transgênicos, a relutância das revistas acadêmicas dos EUA em publicar estudos críticos sobre o glifosato e os organismos geneticamente modificados, e o quase total silêncio da mídia sobre a carta de Huber que vazou.
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*Jill Richardson é a fundadora do blog La Vida locavore e um membro do conselho consultivo de políticas da Associação de Consumidores Orgânicos. Ela é a autora de Recipe for America: Why Our Food System Is Broken and What We Can Do to Fix It.. [Receita para os Estados Unidos: Por que nosso sistema alimentar está quebrado e o que nós podemos fazer para corrigir isso].
(Tradução: Ana Amorim)
Colaboração de Ana Carolina Martins, por e-mail.
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