30 de maio de 2011

Alemanha quer acabar com as usinas nucleares até 2022

31/05/2011


Folha de S.Paulo
BERLIM -- A Alemanha anunciou ontem um plano para pôr fim definitivo ao uso de energia nuclear até 2022, no que está sendo chamado no país de uma "virada energética".
Cerca de 22% da energia produzida na Alemanha hoje é de origem nuclear. Com a mudança, fontes renováveis passarão a responder por 35% da produção --o dobro do percentual atual. O restante virá principalmente de fontes como carvão e gás.
O plano foi anunciado pelo ministro do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, após reunião entre os partidos que integram a coalizão da chanceler (premiê) Angela Merkel. A ideia é que a proposta seja formalizada pelo gabinete na semana que vem e submetida ao Parlamento.
"Não é nada mais, nada menos que uma revolução. Temos a chance de ser a primeira nação industrial a fazer a transição para a energia renovável", disse Merkel.
Pelo plano, as 17 usinas nucleares do país serão desativadas até 2021. Há, porém, a possibilidade de extensão por um ano para três delas.
Além disso, as sete usinas cujas atividades haviam sido congeladas por três meses em março, após o acidente nuclear em Fukushima (Japão), já não voltarão a operar. Uma usina que estava parada desde um acidente em 2009 também será desativada.
Porém ao menos uma delas ficará como uma reserva, para um eventual desabastecimento. As demais nove usinas do país serão desligadas ao longo dos próximos dez anos.
Trata-se de uma reversão da posição tradicional da chanceler. Em 2010, seu governo decidiu prolongar em 12 anos, em média, a vida útil das usinas mais antigas.
O acidente em Fukushima --somado ao temor de novas derrotas nas eleições estaduais deste ano, como a que ocorreu em Baden-Württemberg em março-- provocou a guinada.
Cerca de 80% dos alemães são contrários à utilização de energia nuclear.
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Para Medvedev, maior lição de Chernobyl e Fukushima é dizer a verdade

Data de publicação25 Abril 2011 - 7:19pm
A maior lição que as autoridades de todo o mundo aprenderam com as tragédias de Chernobyl e Fukushima é que é necessário dizer sempre a verdade, estimou nesta segunda-feira o presidente russo Dmitri Medvedev, na véspera do aniversário de 25 anos do acidente nuclear soviético que paralisou o mundo.
Em uma reunião no Kremlin com socorristas que participaram dos arriscados trabalhos de limpeza de Chernobyl, Medvedev pediu transparência dos governos em caso de uma emergência nuclear. A maior reclamação destes técnicos, que foram expostos a níveis inconcebíveis de radiação, foi a maneira nebulosa como o governo socialista os informou do risco real que corriam.
"Acho que nossos Estados modernos devem compreender a maior lição do que aconteceu em Chernobyl e na mais recente tragédia japonesa como a necessidade de dizer às pessoas a verdade", indicou Medvedev.
"O mundo é tão frágil e nós estamos tão ligados que qualquer tentativa de esconder a verdade, de manipular uma situação, tornando-a mais otimista, terminará em tragédia e custará a vida de muitas pessoas", destacou.
"Esta é uma lição difícil e importante sobre o que aconteceu".
Em 1986, Moscou permaneceu em silêncio sobre o desastre de Chernobyl durante três dias. Agências oficiais como a TASS só reportaram o incidente no dia 28 de abril, depois que a usina nuclear de Forsmark, na Suécia, detectou um nível alto de radiação no continente.
A Tokyio Electrical Power Co. (Tepco), que opera a central nuclear de Fukushima, no Japão, foi alvo de muitas críticas devido à sua política de informação, acusada de não divulgar tudo o que sabia de maneira clara, principalmente nos primeiros dias após o acidente, no mês passado, cujas consequências ainda não foram completamente controladas.
Medvedev condenou a atitude da União Soviética durante a catástrofe de Chernobyl. Na época, seus líderes não queriam admitir a extensão do acidente, e a primeira reportagem divulgada na mídia oficial comunista foi uma pequena nota em letras minúsculas no verso do tabloide Pravda.
"O Estado não teve a coragem de admitir imediatamente as consequências do que havia acontecido. Eu me lembro, como muitas outras pessoas se lembram, como tudo parecia muito estranho", disse o presidente.
Seis liquidadores - como ficaram conhecidos os trabalhadores de limpeza de Chernobyl - e 22 técnicos da usina ucraniana, então sob governo soviético, morreram em poucos meses devido à exposição radioativa.
A maioria dos liquidadores que sobreviveu ainda sofre com os graves problemas de saúde provocados pelo trabalho no local do desastre, mas muito se questiona a respeito da real causa da morte dos mortos contabilizados da tragédia.
Dmitri Medvedev homenageou 16 dos liquidadores com medalhas de honra, enquanto champanhe era servido no Kremlin para comemorar sua vitória contra a radiação, mas muitos veteranos do grupo lamentam o tratamento indiferente do Estado russo em relação a eles e às famílias dos que não sobreviveram nestes 25 anos.
"Algumas viúvas cuidaram de seus maridos por anos", contou o liquidador Alexander Shabutkin a Medvedev, após receber sua medalha. "Hoje, elas não têm dinheiro suficiente nem para alimentar seus filhos".
Medvedev anunciou que visitará o reator acidentado de Chernobyl na terça-feira ao lado do presidente ucraniano, Viktor Yanukovych, e que pretende encontrar-se com mais veteranos.
"Vocês e seus camaradas - alguns dos quais infelizmente não estão mais entre nós - realizaram seu trabalho de maneira muito corajosa em situações excepcionalmente difíceis, com enorme perigo para suas próprias vidas", declarou o presidente russo, em um discurso para homenagear os liquidadores.
"Na época, ninguém entendeu a extensão do risco pessoal. Sua capacidade de tomar as decisões mais reponsáveis durante os tempos mais difíceis permitiram que vidas humanas fossem salvas".

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