1 de setembro de 2014

Floresta Amazônica: a maior parte do Brasil depende dela

Por Darci Bergmann



A voz dos ambientalistas foi abafada pelo barulho das máquinas. Os projetos de colonização na Amazônia abriram feridas e alteraram o regime das chuvas em vastas regiões do Brasil. 

As rodovias que rasgaram a Amazônia foram consideradas como o início de uma era de progresso. Hoje, quase meio século depois, o que se vê é a destruição do bioma Floresta Amazônica cujas consequências vão muio além. Outros biomas dependem da floresta preservada para manterem seus mananciais hídricos. É uma interdependência que só agora começa a ser mais conhecida. 
O desmatamento na Amazônia já causa prejuízos bilionários nas regiões maiores produtoras de grãos do Brasil. Essa é a conta da seca mais prolongada de que se tem notícia, caso da região Sudeste.
Se o desmatamento da Amazônia prosseguir, o Brasil terá enormes dificuldades de produzir alimentos suficientes em futuro não muito distante. 
Por outro lado, sucessivos governos aplicaram centenas de bilhões de dólares na geração de energia a partir de mananciais hídricos que dependem das chuvas formadas com a umidade oriunda da Amazônia.
É preciso, com urgência, que autoridades e a sociedade unam esforços na preservação da Floresta Amazônica. Isto implica em combater os desmatamentos feitos pelos grileiros, mas também em limitar novos assentamentos feitos pelo INCRA.
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Ver mais: Reportagem do Fantástico, da Rede Globo, exibida em 31-08-2014

Falta d'água  em  cidades  tem  a ver com  devastação desenfreada da Amazônia  


2 comentários:

Fagner Garcia Vicente disse...

Prezado Darci,

Acompanho seus artigos e, via de regra, concordo com seus posicionamentos. Faço uma ressalva apenas em relação à parte final deste texto, acerca da necessidade de limitar a criação de novos assentamentos na Amazônia, tese bastante repetida por uma ala da militância ambientalista, representada, especialmente, por entidades como o Imazon. Minha ressalva é mais no sentido de agregar informações que podem conferir outro enfoque à questão.

Conheço bem esta realidade e posso afirmar que a criação de assentamentos na Amazônia difere em muito da política correlata no sul/sudeste/centro-oeste. Aqui, no norte do país, a imensa maioria das áreas destinadas à Reforma Agrária se enquadra em uma das seguintes situações:
a)são historicamente ocupadas por populações tradicionais;
b) estão ocupadas por agricultores familiares de forma irregular do ponto de vista fundiário;
c) são áreas já antropizadas através da pecuária extensiva, fruto de processo de grilagem de terras públicas, e que, uma vez retomadas, são destinadas à agricultura camponesa.

Nos dois primeiros casos, não se trata de "assentamento" strictu sensu, se aproximando mais da regularização da situação fundiária através da criação de um projeto de reforma agrária. No terceiro caso, no qual efetivamente são assentadas famílias que ainda não ocupavam aquela área específica, trata-se da substituição de uma atividade altamente predatória por outra, de menor impacto e, normalmente, mais sustentável do ponto de vista ambiental, como a agricultura familiar.

Além disso, ao contrário do que ocorreu nas décadas de 70 e 80, não são as políticas públicas de destinação de terras que estão forçando novas fronteiras agrícolas, mas a pressão da monocultura em áreas já estabelecidas que "empurram" atividades menos rentáveis (como a pecuária) cada vez mais para dentro da floresta.

Enfim, não há como negar que a situação fundiária e a situação ambiental da Amazônia estão intrinsecamente ligadas, mas é um debate extremamente complexo, que não admite soluções simplistas.

Darci Bergmann disse...

Prezado Fagner,
Os impactos causados pelos assentamentos para fins de reforma agrária na Amazônia, são referidos há muitas décadas. O ambientalista José Antônio Lutzenberger alertava sobre isso.
No Pará, em 2012, a Justiça Federal exigiu explicações do INCRA. Em 23/09/2012, o programa Globo Rural exibiu matéria do Globo Natureza, mostrando a situação de alguns assentamentos no Pará. Um dos trechos dessa matéria cita:
"O município de Anapu, no centro do Pará, acabou de entrar na lista dos grandes desmatadores. No ano passado, o lugar perdeu 225 quilômetros quadrados, mais de 20 mil hectares de floresta, quase o triplo que em 2010. A maior parte da derrubada se concentra em terras da reforma agrária. Duas mil famílias vivem em lotes distribuídos pelo Incra.
No assentamento Grotão da Onça fica uma área queimada recentemente. Por lei, até os assentamentos da reforma agrária são obrigados a preservar 80% da floresta como reserva legal. Mas não é o que ocorre em Anapu. Muitos colonos já derrubaram quase tudo pra vender a madeira".
Em outros estados da Amazônia, ocorrem situações parecidas.
Sobre a regularização fundiária em terras da União, há ressalvas: na maioria das vezes são áreas invadidas com apoio de movimentos articulados. Quando se cria um assentamento, logo depois surgem outros, numa ciranda interminável.
Com grileiros e assentamentos desordenados, não há floresta que resista.
Você, que é ligado ao INCRA, poderia propor algo novo e mais sustentável. Essa forma simplista de reforma agrária, é tão predatória quanto aquela praticada pelos grileiros, salvo algumas exceções.