5 de julho de 2012

Os animais de estimação e os impactos ambientais (1)



Por Darci Bergmann

   O tema é delicado, pois envolve questões afetivas. Antes, devo dizer que sou um defensor intransigente de todas as formas de vida, desde que em condições naturais ou o mais próximo possível delas. Ocorre que tenho observado tendência de algumas pessoas em adotar animais de estimação e transformá-los em mimos que chega às raias da obsessão e com altos impactos ambientais. No fundo de tudo isso, existe o foco do consumismo dirigido pelos que lucram fortunas com isso. Eis alguns casos desse comportamento obsessivo.
   Faz alguns anos, um casal adotou um papagaio de estimação, notòriamente fruto da traficância. O papagaio recebe todos os ‘cuidados’, articula palavras, mas a maior parte do tempo está na gaiola sob uma copa de árvore, esquecido pelos ‘donos’, que estão mais ligados na televisão. Na visão do casal, o eventual carinho dispensado ao bicho é suficiente para caracterizar esse cárcere privado como paixão pela natureza. Certamente nunca lhes passou pelos neurônios que se a ave estivesse livre, no seu habitat, poderia se acasalar e perpetuar a espécie. Agora, domesticada, ela depende dos humanos, pois tem até dificuldade de voar.
   Num outro caso, uma viúva foi presenteada com uma avezinha canora como forma de atenuar o sofrimento pela perda da pessoa amada. O bichinho, solitário na pequena gaiola, até que faz muita cantoria. No meu modo de ver é para chamar atenção, uma tentativa de atrair, pelo canto, uma fêmea da sua espécie que estivesse próxima.
  Nas redondezas do meu refúgio urbano, ocorrem situações no mínimo bizarras, quando o tema é animais de estimação. Mulheres de várias faixas etárias passeiam com os seus cães pelas calçadas, com aquelas paradinhas obrigatórias para fazer xixi e cocô. Os dejetos ficam por ali mesmo e a dona do bicho ainda torce o nariz quando alguém reclama.
    Descobri que uma dessas senhoras obsessivas por cães gasta fortunas mensais com o trato dos bichos, todos à base de rações e xampus caros, banhos, tosas e tudo o mais que garanta uma boa assepsia. Nas compras, não usa dinheiro papel, pois poderia estar ‘contaminado’. No entanto, ela passeia nas ruas com os seus cães, ruas essas que recebem os dejetos de outros animais, escarros humanos, poeiras e derrames de produtos diversos. Em seqüência, ela põe os cães no colo e ainda os beija na ‘boca’, depois que botaram o focinho no cocô alheio – cachorro gosta de cheirar qualquer coisa diferente. Já vi a madame colocando os cães no seu carrão do ano, sobre os bancos, é claro, depois que espalmaram as patas nos passeios públicos. Essa mesma pessoa, tão preocupada com a assepsia, certamente, num banheiro público, vai exigir torneira com sensor, secador das mãos automático ou coisa assim. Não se trata de um contra-senso?

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