Por Darci Bergmann
O tema é
delicado, pois envolve questões afetivas. Antes, devo dizer que sou um defensor
intransigente de todas as formas de vida, desde que em condições naturais ou o
mais próximo possível delas. Ocorre que tenho observado tendência de algumas
pessoas em adotar animais de estimação e transformá-los em mimos que chega às
raias da obsessão e com altos impactos ambientais. No fundo de tudo isso,
existe o foco do consumismo dirigido pelos que lucram fortunas com isso. Eis
alguns casos desse comportamento obsessivo.
Faz alguns
anos, um casal adotou um papagaio de estimação, notòriamente fruto da
traficância. O papagaio recebe todos os ‘cuidados’, articula palavras, mas a
maior parte do tempo está na gaiola sob uma copa de árvore, esquecido pelos ‘donos’,
que estão mais ligados na televisão. Na visão do casal, o eventual carinho
dispensado ao bicho é suficiente para caracterizar esse cárcere privado como
paixão pela natureza. Certamente nunca lhes passou pelos neurônios que se a ave
estivesse livre, no seu habitat, poderia se acasalar e perpetuar a espécie.
Agora, domesticada, ela depende dos humanos, pois tem até dificuldade de voar.
Num outro
caso, uma viúva foi presenteada com uma avezinha canora como forma de atenuar o
sofrimento pela perda da pessoa amada. O bichinho, solitário na pequena gaiola,
até que faz muita cantoria. No meu modo de ver é para chamar atenção, uma
tentativa de atrair, pelo canto, uma fêmea da sua espécie que estivesse próxima.
Nas redondezas
do meu refúgio urbano, ocorrem situações no mínimo bizarras, quando o tema é
animais de estimação. Mulheres de várias faixas etárias passeiam com os seus cães
pelas calçadas, com aquelas paradinhas obrigatórias para fazer xixi e cocô. Os
dejetos ficam por ali mesmo e a dona do bicho ainda torce o nariz quando alguém
reclama.
Descobri que uma dessas senhoras obsessivas
por cães gasta fortunas mensais com o trato dos bichos, todos à base de rações
e xampus caros, banhos, tosas e tudo o mais que garanta uma boa assepsia. Nas
compras, não usa dinheiro papel, pois poderia estar ‘contaminado’. No entanto,
ela passeia nas ruas com os seus cães, ruas essas que recebem os dejetos de
outros animais, escarros humanos, poeiras e derrames de produtos diversos. Em
seqüência, ela põe os cães no colo e ainda os beija na ‘boca’, depois que
botaram o focinho no cocô alheio – cachorro gosta de cheirar qualquer coisa
diferente. Já vi a madame colocando os cães no seu carrão do ano, sobre os
bancos, é claro, depois que espalmaram as patas nos passeios públicos. Essa
mesma pessoa, tão preocupada com a assepsia, certamente, num banheiro público,
vai exigir torneira com sensor, secador das mãos automático ou coisa assim. Não
se trata de um contra-senso?
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