3 de novembro de 2012

Uma experiência de paisagismo em trevo rodoviário



Por Darci Bergmann

   O paisagismo em áreas marginais às rodovias, como os trevos de acesso às cidades, tem aspectos particulares: não pode esconder os sinais de trânsito, nem tampouco prejudicar a visibilidade dos condutores sobre o tráfego nas pistas. Outro aspecto se refere às condições de umidade, temperatura e correntes de ar nesses locais. Isto porque são espaços abertos e sujeitos a condições meteorológicas que variam muito no decorrer das estações do ano e mesmo no transcurso de um dia. A escolha das espécies de plantas ornamentais deve ser criteriosa e recair sobre aquelas resistentes e que se adaptem melhor. E o solo deve ser trabalhado, visando dar-lhe bom teor de matéria orgânica e boa permeabilidade.
   Foi pensando assim, que implantei um projeto de paisagismo no trevo de acesso a São Borja, na BR 285, a convite da patrocinadora, Pirahy Alimentos Ltda. As dificuldades iniciais foram muitas. O terreno, recoberto por uma rala grama-forquilha   (Paspalum dilatatum), escondia um solo compactado sobre uma camada de pedras e restos de asfalto. Esses materiais ficaram ali quando da construção do trevo e a empreiteira apenas o esparramou.  
   Foram meses preparando o solo, removendo pedras e cascalhos e adicionando toneladas de esterco de curral bem decomposto. Mas valeu a pena. Também foi implantado um poço tipo artesiano no canteiro central e dali a água foi levada aos demais canteiros por baixo do asfalto. A seguir, foram demarcados os canteiros  para  as plantas anuais e aquelas mais perenes e providenciada a colocação de placas de grama-são-carlos (Axonopus compressus). O paisagismo começou a tomar forma e dois anos depois já apresentava um belo visual. 
  Paisagismo assim, precisa de manutenção constante e a observação cuidadosa do comportamento das espécies. Aquelas que não se adaptam vão sendo substituídas. A cada cinco ou seis anos faz-se uma mexida mais radical nos canteiros, redesenhando o espaço e experimentando outras espécies, se necessário. As que se deram bem permanecem, até para reduzir custos.
   A utilização de arbustos e árvores fica restrita aos canteiros mais externos, por questões de segurança. Em dias de vento os galhos quebrados podem provocar acidentes. No miolo do canteiro central, podem ser colocadas algumas plantas arbustivas ou pequenas palmeiras, pois ali não interferem na visibilidade dos condutores.
   Na sequencia de fotos, um registro das etapas do projeto e dos resultados. 

A reforma do trevo em 2010 e 2011. Projeto adicional*. 

   Havia necessidade de algumas reformas no trevo. Entre elas a redução no número e tamanho dos canteiros com plantas anuais para redução dos custos de manutenção. 
    Também se fazia necessária a colocação de aspersores enterrados no solo, em substituição às mangueiras aspersoras que ficavam estendidas sobre os canteiros.
    O novo projeto também propôs a substituição da grama-são-carlos pela grama-coreana (Zoysia tenuifolia) na maior parte do trevo. 
     Os canteiros foram redesenhados. E plantas perenes foram usadas em maior quantidade.
     A reforma teve aspectos positivos e negativos.
     Positivos: a) sistema de irrigação; b) redução de plantas anuais, aquelas que precisam ser substituídas, conforme a estação do ano; c) plantio de grama-coreana, motivo para redução do número de cortes, embora o verde da grama-são-carlos seja mais vistoso.
     Negativos: a) houve perda da harmonia nos canteiros; b) surgiram pontos críticos de risco pela redução da visibilidade para condutores em veículos pequenos; c) opinião pessoal - a colocação de luminárias de luz verde nas palmeiras fênix-anãs (Phoenix roebelenii) do canteiro central, que artificializa em demasia esse tipo de área verde. 
*Darci Bergmann Paisagismo não participou desse projeto adicional.
     
      
Em muitas cidades brasileiras, a poluição visual causada
por painéis de publicidade prejudica a paisagem e oferece
risco de acidentes. As empresas  de São Borja colaboraram
retirando os painéis, por ocasião do projeto de paisagismo
no trevo da BR 285. 

A demarcação de canteiros de linhas sinuosas é mais fácil
se for feita com uma mangueira de irrigação.










O grupo da foto acima participou de um curso de arborização
urbana, com noções de paisagismo. Na época da foto, o trevo
 esbanjava harmonia e exuberância.  



Acima imagem do Google, ano 2008, mostrando a disposição
 dos canteiros, antes da 'reforma'



Imagens depois da reforma


A grama-coreana - Zoysia tenuifolia -  permite a redução do
número de cortes. Mas pode expor manchas de coloração
mais clara após ceifada.

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