4 de abril de 2013

O novo papel das Forças Armadas


Queimada na Estação Ecológica do Taim-RS/Brasil
Foto: Lauro Alves, 27 mar. 2013
 Agência RBS/Folhapress

  


Por Darci Bergmann   

   O que eu vou propor não é um estudo de especialista em estratégia de guerras e conflitos convencionais. Refiro-me aqui aos desastres naturais que tem a participação de agentes e condutas bem identificados dentro da espécie humana e da sua civilização predatória. Até agora, os nossos conceitos de segurança, ordem pública e 'defesa da pátria ante inimigos externos', foram as premissas na estruturação de forças policiais e militares. Pessoas e estados precisam de segurança, ninguém discorda. Há que se ampliar esses conceitos, frente às mudanças ambientais de ordem planetária, que já fazem milhões de vítimas. E as perspectivas não parecem animadoras. 
   As estruturas até agora implementadas para a segurança da população civil, não atendem à demanda da nova realidade. Já convivemos com episódios piores do que os de uma guerra convencional. É preciso que a segurança da sociedade seja vista de forma mais abrangente. Em outras palavras: as Forças Armadas deverão se envolver nas questões relacionadas aos desastres naturais e à preservação ambiental. E com tanto empenho como se fossem se envolver em qualquer outro tipo de guerra ou conflito.
   Pode-se argumentar que as Forças Armadas já participam de alguma forma   em eventos extremos. Mas são ações tímidas, paliativas, quando as tragédias já ocorreram. As Forças Armadas sempre se mantém prontas para uma possível guerra contra algum inimigo imaginário. No caso brasileiro, quais seriam nossos potenciais inimigos? Seriam alguns países limítrofes eventualmente governados por tiranos agressores? Pelo tamanho do nosso território, nenhum deles teria condição para uma ocupação efetiva. No entanto, o Brasil está sendo vítima de outra guerra, mais devastadora, dentro das suas próprias fronteiras.  A acelerada destruição ambiental e a ocupação irresponsável de áreas de risco já fizeram dezenas de milhares de vítimas nas últimas décadas e exigem cada vez mais recursos públicos. Ninguém se engane. A desordem climática pode resultar em desordem social.
  Enquanto temos pessoas saudáveis e lúcidas sempre prontas para combater um inimigo virtual nos quartéis, o nosso ambiente ao redor tem outros conflitos reais. Um caso emblemático é o que aconteceu recentemente com a Estação Ecológica do Taim, vítima de uma queimada que atingiu milhares de hectares. Parece nada a ver com as forças armadas. Parece! No fundo é a tremenda inversão de valores e a rendição do estado e da sociedade ante o colapso ambiental. Enquanto tres aeronaves e alguns bombeiros tentavam apagar as chamas, numa batalha desigual, a poucos quilômetros dali os quartéis mantinham as suas tropas bem treinadas para uma hipotética guerra contra um suposto inimigo externo.
   Agora, discute-se a ‘modernização’ das aeronaves de guerra com gastos bilionários, ao mesmo tempo em que não temos estrutura para combatermos um incêndio como o que atingiu o Taim e tantos outros nas Unidades de Conservação espalhadas pelo País. As queimadas não apenas destroem a biodiversidade, empobrecendo biomas e países. Lançam também toneladas de gases causadores do efeito estufa, como o CO². As fuligens atingem as cidades e agravam ou provocam doenças respiratórias. A intervenção das Forças Armadas em casos como o do Taim, é questão de segurança nacional. Alguns soldados e mais aeronaves próprias de combate às chamas teriam reduzido o tempo de duração do incêndio. Argumentarão alguns que isso é tarefa dos Bombeiros. Será que precisamos manter eternamente soldados e equipamentos caros e ociosos, à espera de uma guerra contra um inimigo imaginário, enquanto ao nosso redor outra guerra acontece?
   Por oportuno, proponho aqui que as Forças Armadas do Brasil criem setores bem treinados e equipados para os novos tempos que virão com as mudanças climáticas. E que, além de preservarem a integridade das nossas fronteiras, ajudem a proteger de forma objetiva a biodiversidade e um estado de segurança ambiental,onde natureza e pessoas possam conviver de forma mais harmoniosa.

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