Queimada na Estação Ecológica do Taim-RS/Brasil Foto: Lauro Alves, 27 mar. 2013 Agência RBS/Folhapress |
Por Darci Bergmann
O que eu vou propor não é um estudo de especialista em estratégia
de guerras e conflitos convencionais. Refiro-me aqui aos desastres naturais que
tem a participação de agentes e condutas bem identificados dentro da espécie
humana e da sua civilização predatória. Até agora, os nossos conceitos de
segurança, ordem pública e 'defesa da pátria ante inimigos externos', foram as premissas na estruturação de forças policiais e militares. Pessoas e estados
precisam de segurança, ninguém discorda. Há que se ampliar esses conceitos, frente às mudanças ambientais de ordem
planetária, que já fazem milhões de vítimas. E as perspectivas não parecem animadoras.
As estruturas até agora implementadas para a segurança da
população civil, não atendem à demanda da nova realidade. Já convivemos com
episódios piores do que os de uma guerra convencional. É preciso que a
segurança da sociedade seja vista de forma mais abrangente. Em
outras palavras: as Forças Armadas deverão se envolver nas questões
relacionadas aos desastres naturais e à preservação ambiental. E com tanto
empenho como se fossem se envolver em qualquer outro tipo de guerra ou
conflito.
Pode-se argumentar que as Forças Armadas já participam de
alguma forma em eventos extremos. Mas são ações tímidas, paliativas, quando as tragédias já ocorreram. As Forças Armadas sempre se mantém
prontas para uma possível guerra contra algum inimigo imaginário. No caso
brasileiro, quais seriam nossos potenciais inimigos? Seriam alguns países limítrofes eventualmente governados por tiranos agressores? Pelo tamanho do nosso território, nenhum deles teria
condição para uma ocupação efetiva. No entanto, o Brasil está sendo vítima de
outra guerra, mais devastadora, dentro das suas próprias fronteiras. A acelerada destruição ambiental e a ocupação irresponsável
de áreas de risco já fizeram dezenas de milhares de vítimas nas últimas décadas
e exigem cada vez mais recursos públicos. Ninguém se
engane. A desordem climática pode resultar em desordem social.
Enquanto temos pessoas
saudáveis e lúcidas sempre prontas para combater um inimigo virtual nos
quartéis, o nosso ambiente ao redor tem outros conflitos reais. Um caso
emblemático é o que aconteceu recentemente com a Estação Ecológica do Taim,
vítima de uma queimada que atingiu milhares de hectares. Parece nada a ver com
as forças armadas. Parece! No fundo é a tremenda inversão de valores e a
rendição do estado e da sociedade ante o colapso ambiental. Enquanto tres
aeronaves e alguns bombeiros tentavam apagar as chamas, numa batalha desigual,
a poucos quilômetros dali os quartéis mantinham as suas tropas bem treinadas
para uma hipotética guerra contra um suposto inimigo externo.
Agora,
discute-se a ‘modernização’ das aeronaves de guerra com gastos bilionários, ao
mesmo tempo em que não temos estrutura para combatermos um
incêndio como o que atingiu o Taim e tantos outros nas Unidades de Conservação espalhadas pelo País. As queimadas não apenas destroem a
biodiversidade, empobrecendo biomas e países. Lançam também toneladas de gases
causadores do efeito estufa, como o CO². As fuligens atingem as cidades e
agravam ou provocam doenças respiratórias. A intervenção das Forças Armadas em
casos como o do Taim, é questão de segurança nacional. Alguns soldados e
mais aeronaves próprias de combate às chamas teriam reduzido o tempo de duração do
incêndio. Argumentarão alguns que isso é tarefa dos Bombeiros. Será que
precisamos manter eternamente soldados e equipamentos caros e ociosos, à espera
de uma guerra contra um inimigo imaginário, enquanto ao nosso redor outra guerra
acontece?
Por oportuno, proponho
aqui que as Forças Armadas do Brasil criem setores bem treinados e equipados
para os novos tempos que virão com as mudanças climáticas. E que, além de
preservarem a integridade das nossas fronteiras, ajudem a proteger de forma
objetiva a biodiversidade e um estado de segurança ambiental,onde natureza e
pessoas possam conviver de forma mais harmoniosa.
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