Mostrando postagens com marcador Onda verde. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Onda verde. Mostrar todas as postagens

11 de novembro de 2011

Antigamente não tinha essa "onda verde"

Foto: Darci Bergmann


Recebido por e-mail*


Na fila do supermercado, o caixa diz uma senhora idosa:

- A senhora deveria trazer suas próprias sacolas para as compras, uma  vez que sacos de plástico não são amigáveis ao meio ambiente.

A senhora pediu desculpas e disse:

- Não havia essa onda verde no meu tempo.

O empregado respondeu:

- Esse é exatamente o nosso problema hoje, minha senhora. Sua geração  não se preocupou o suficiente com  nosso meio ambiente.

- Você está certo - responde a velha senhora - nossa geração não se preocupou adequadamente com o meio ambiente. Naquela época, as  garrafas de leite, garrafas de refrigerante e cerveja eram devolvidos  à loja. A loja mandava de volta para a fábrica, onde eram lavadas e  esterilizadas antes de cada reuso, e eles, os fabricantes de bebidas,  usavam as garrafas, umas tantas outras vezes.

Realmente não nos preocupamos com o meio ambiente no nosso tempo. Subíamos as escadas, porque não havia escadas rolantes nas lojas e nos escritórios. Caminhamos até o comércio, ao invés de usar o nosso carro  de 300 cavalos de potência a cada vez que precisamos ir a dois  quarteirões.

Mas você está certo. Nós não nos preocupávamos com o meio ambiente.  Até então, as fraldas de bebês eram lavadas, porque não havia fraldas descartáveis. Roupas secas: a secagem era feita por nós mesmos, não nestas máquinas bamboleantes de 220 volts. A energia solar e eólica é  que realmente secavam nossas roupas. Os meninos pequenos usavam as  roupas que tinham sido de seus irmãos mais velhos, e não roupas sempre  novas.

Mas é verdade: não havia preocupação com o meio ambiente, naqueles  dias. Naquela época tínhamos somente uma TV ou rádio em casa, e não  uma TV em cada quarto. E a TV tinha uma tela do tamanho de um lenço,  não um telão do tamanho de um estádio; que depois será descartado como?

Na cozinha, tínhamos que bater tudo com as mãos porque não havia  máquinas elétricas, que fazem tudo por nós. Quando embalávamos algo um  pouco frágil para o correio, usávamos jornal amassado para protegê-lo,  não plástico-bolha ou pellets de plástico que duram cinco séculos para começar a degradar. Naqueles tempos não se usava um motor a gasolina apenas para cortar a grama, era utilizado um cortador de grama que  exigia músculos. O exercício era extraordinário, e não precisava ir a  uma academia e usar esteiras que também funcionam à eletricidade.

Mas você tem razão: não havia naquela época preocupação com o meio ambiente. Bebíamos diretamente da fonte, quando estávamos com sede, em vez de usar copos plásticos e garrafas pet que agora lotam os oceanos. Canetas: recarregávamos com tinta umas tantas vezes ao invés de  comprar uma outra. Abandonamos as navalhas, ao invés de jogar fora  todos os aparelhos 'descartáveis' e poluentes só porque a lâmina ficou  sem corte.

Na verdade, tivemos uma onda verde naquela época. Naqueles dias, as pessoas tomavam o bonde ou ônibus e os meninos iam em bicicletas  ou a pé para a escola, ao invés de usar a mãe como um serviço de táxi  24 horas. Tínhamos só  uma tomada em cada quarto, e não um quadro de  tomadas em cada parede para alimentar uma dúzia de aparelhos. E nós  não precisávamos de um GPS para receber sinais de satélites a milhas  de distância no espaço, só para encontrar a pizzaria mais próxima.

Então, não é risível que a atual geração fale tanto em meio ambiente,  mas não quer abrir mão de nada e não pensa em viver um pouco como na  minha época?




  *Não foi identificada a autoria do texto. 



  

5 de outubro de 2010

Marina Silva, a grande vitoriosa

Por Darci Bergmann

   Nunca antes na história deste País, a questão ambiental sacudiu tanto as estruturas do poder. A expressiva votação de Marina Silva é um recado claro de que uma parcela significativa da sociedade brasileira já não aceita mais a política mercantilista que ignora a sustentabilidade ambiental. Sim, mercantilista até nas eleições, quando o poder é almejado a qualquer preço e em desrespeito à privacidade do eleitor, ao meio ambiente e à probidade administrativa. Tanto a coligação oficial quanto à de oposição fizeram campanhas milionárias, poluidoras e promoveram um desserviço à educação ambiental. À luz da legislação vigente cometeram crimes ambientais. A ostentação grotesca começou pela confecção de milhares de toneladas de folders em papel caro e de grande impacto ambiental. Boa parte desse papel  impermeável e de difícil decomposição atingiu os bueiros, os terrenos baldios e outros locais. Na noite anterior ao pleito foi lançado em vias públicas, especialmente nas proximidades dos locais de votação. Cartazes estavam espalhados pelas praças, nos passeios públicos e onde mais fosse possível.
A poluição visual escancarada ofuscou as cores da primavera. Nessa época do ano, a maioria das aves inicia o ritual do acasalamento. O canto das aves também foi ofuscado pelas geringonças barulhentas que dia e noite atormentaram os moradores. Os muitos decibéis acima dos níveis permitidos fizeram estremecer as vidraças e as estruturas dos prédios e, pasmem, fizeram até disparar alarmes. Essa arrogância eleitoral cara e esbanjadora já mostra que para muitos candidatos, a maioria talvez, a política é a arte do vale tudo. Se é assim antes das eleições, como vão proceder depois de eleitos?
   Mas nem todos os eleitores se deixam seduzir pelos malabarismos eleitoreiros. Aos poucos as pessoas se dão conta das falsas promessas de campanha e reagem votando em propostas alternativas e apresentadas de forma a respeitar o sossego público e o meio ambiente com um todo. Talvez esse tenha sido um dos motivos para que muitos decidissem votar em Marina Silva. Nunca esteve aqui em São Borja. Não vi sequer um poster dela, não vi ninguém distribuindo propaganda sua, não havia um único carro de som anunciando o seu nome e mesmo assim fez aqui em torno de sete por cento dos votos. Não se elegeu, não foi para o segundo turno, mas que vitória ela teve ao arrebanhar o sentimento de vinte milhões de brasileiros.
Sei que existem ambientalistas em outros partidos. Pessoas realmente preocupadas com a questão ambiental. Mas as estruturas desses partidos quase sempre transformam a questão ambiental em mera retórica. Os filiados e candidatos de visão ambiental tem que aparar muitas arestas para que algumas práticas ecológicas sejam implementadas. Um dos motivos é que os partidos políticos no Brasil se moldam pelo chamado desenvolvimento linear, imediatista e focado apenas em obras e programas assistencialistas, sempre com o intuito de que haja retorno nas próximas eleições. Assim, a natureza é relegada a um plano secundário. O tema meio ambiente se limita a saneamento básico e alguns outros pontos focais, mas é permissivo à destruição ambiental quando o assunto é geração de emprego, renda e impostos, por exemplo. Setores organizados da sociedade, dentro dos partidos políticos, conseguem frear as boas práticas ambientais, como se elas fossem a causa do desemprego e da geração de renda.
    Essa visão distorcida ficou evidente quando da discussão da reforma do Código Florestal brasileiro. A maioria dos proprietários rurais não quer abrir mão de parcela da área destinada à reserva legal. No entanto, esquecem-se de que muitos perdem as suas terras ou boa parte delas para o ressarcimento de dívidas com os bancos credores. Nesse caso, a saída seria a criação de um fundo especial, uma espécie de bolsa para reserva legal  que poderia pagar aos proprietários os serviços ambientais gerados por essas áreas. 
   A sociedade brasileira e os jovens em especial já perceberam que existe saída política para esse tipo de impasse e que o meio ambiente é coisa séria. Marina Silva centralizou a preocupação ambiental difusa que ve saídas políticas para a verdadeira crise ambiental que assola o País. As queimadas, o desmatamento, os desastres ambientais, a poluição em seus vários aspectos, tudo isso motivou a busca de alternativas. 
  A votação em Marina Silva é apenas o começo de uma grande mudança no trato das questões ambientais.    
 Os grandes partidos agora foram sacudidos e o serão mais ainda se não implementarem boas políticas ambientais. O Partido Verde se tornará uma realidade e deverá se estruturar em todo o Brasil. Nas próximas eleições terá certamente muito mais representação em parlamentos e no poder executivo. Isso também estimulará a que os demais partidos sejam mais amigáveis ao meio ambiente.
   A onda verde que iniciou lá nas florestas do Acre trouxe Marina Silva ao cenário político do Brasil. Essa onda verde silenciosa, suave até, foi o contraponto a essa maneira arrogante de fazer política sem respeito às pessoas e à natureza.
  Valeu, Marina!