30 de agosto de 2011

Vida de cão


Cadela Rosinha*: animal maltratado, estava abandonado
e com apenas 2,8 quilos.
*Crédito da foto: Arthur Puls, Correio do Povo, 07/05/2011, pág. 13



Por Darci Bergmann

            Desde tempos remotos os animais acompanham  a espécie Homo sapiens. Nessa trajetória, algumas espécies se adaptaram mais ao convívio dos humanos, sobressaindo-se o cão e o gato. O primeiro até considerado por muitos como o melhor amigo do homem. Outras espécies não tiveram a mesma sorte e estão em risco de extinção devido, principalmente, à destruição de seus habitats.
            Voltemos aos cães e gatos. Esses animais hoje fazem parte do cotidiano das pessoas. Parte deles é adotado por gente de todas as classes sociais. Outros perambulam nas cidades, vilarejos e zonas rurais e ali se reproduzem espontaneamente, sem controle sanitário.
            Adotar animais virou um modismo ou quem sabe uma necessidade.  Talvez um preço a ser pago pelo progresso. O aumento da população humana, com a desnaturação dos seus espaços de convivência, a insegurança - e a isso se agregam outras causas - motivaram um estado de solidão em muitas pessoas. Difícil é aceitar que existe solidão em um mundo tão agitado e populoso, mas é o que parece se evidenciar cada vez mais.

            Os animais adotados têm realidades diferentes, conforme o poder aquisitivo dos proprietários e dos cuidados que lhes dispensam. Nesse tocante, constata-se que algumas pessoas vão ao exagero de humanizar os animais domésticos. Os bichos gozam de uma regalia que muitos humanos não têm. Rações caríssimas, nutritivas, assistência de médicos veterinários, produtos e salões de beleza, creches, festa de aniversário.  Até mesmo vestuário canino que vai do razoável ao ridículo. Às vezes aparece bicho pintado com cores chamativas, extravagantes, no meu entender um desrespeito. O tratamento dispensado aos bichos evidencia cenas inusitadas. Alguém uma vez reclamou do exagero que uma dondoca dedicava ao seu cãozinho de estimação. Ao ver a dona charmosa dispensando beijos no bichinho enfeitado, o sujeito comentou:
            - Desse jeito até eu queria levar vida de cão.
            Pessoalmente, entendo que um animal deve ser respeitado na sua individualidade. Isso implica que não deve ser maltratado, mas também não deveria ser tratado como alguém da espécie humana. Assim procedi em relação a uma cadela vira-lata. Era faminta. Depois de alimentada fixou moradia no meu quintal. Não lhe restringi a liberdade de ir e vir. Até porque não gosto de animal preso, acorrentado ou em espaço muito restrito. Apenas intervenho com a administração de vermífugos e anticoncepcionais. Tem direito a um abrigo contra intempéries. Antes arredia, agora se tornou proprietária do pátio e faz guarda contra eventuais intrusos à noite. Em suma, nada de exagero.
            O comportamento dos humanos em relação aos animais é controverso. Cães e gatos bem alimentados, maquiados e cheios de mimo escondem uma triste realidade. O mundo animal reflete o que ocorre com os humanos. Para uns sobram regalias, para outros as mazelas.

  Começando pela exclusão das outras formas de vida. A civilização caminha mesmo para um mundo cada vez mais artificializado, com predomínio egoísta da espécie humana em prejuízo da biodiversidade. As espécies escolhidas para o convívio são aquelas que se mostram aparentemente submissas, caso dos cães, gatos e algumas outras mais. Também existem as espécies que foram domesticadas para o fornecimento de alimentos e matérias primas diversas.
 O que se percebe é a proliferação exagerada de algumas espécies animais – como as já citadas – e a ganância por lucros polpudos com os extravagantes modismos.
 Se uma parte dos recursos gastos com o luxo aos animais de estimação fosse aplicada na manutenção de reservas biológicas, certamente milhares de outras espécies poderiam ser salvas da extinção. Respeito aos animais de todas as espécies, sim. Extravagância e luxúria, não.

20 de agosto de 2011

Acordo entre cinco países africanos cria maior reserva natural do mundo



Área do Kaza é maior do que a Inglaterra e abriga partes de Angola, Botsuana, Namíbia, Zâmbia e Zimbábue. Parque garante livre circulação de grandes animais africanos, como o elefante, e deve receber turistas em breve.

Foram anos de negociação até que o maior parque natural do mundo, conhecido como Kaza, saísse do papel. Nesta quinta-feira (18/08), celebrou-se em Luanda, capital de Angola, a assinatura do contrato que cria uma gigantesca área de proteção natural no continente africano. O contrato foi assinado por Angola, Botsuana, Namíbia, Zâmbia e Zimbábue. O primeiro passo foi dado já em 2006, quando as cinco nações assinaram um memorando de entendimento.
A reserva não conhece fronteiras: instalada na região dos rios Okavango e Zambezi, o parque tem uma área de 278.132 quilômetros quadrados, o equivalente à área da Itália. O Kaza incorpora parques nacionais dos cinco países africanos, ainda separados pelas fronteiras dos tempos coloniais.
"Os animais sabem o que são fronteiras? Eles conseguem reconhecê-las? Claro que não. Essas fronteiras foram um desastre, um erro sério", argumenta o professor zambiano Andrew Nambota, gestor do projeto, ao saudar a liberação do espaço para circulação dos animais.
Delta do rio Okavango: integrado ao parque Kaza
Delta do rio Okavango: integrado ao parque Kaza 

Proteção da vida selvagem
O projeto também adquiriu outro significado: um reinício para a região depois da era colonial, da luta pela independência e de guerras civis. Ainda assim, o Kaza é formado por 36 parques nacionais e áreas de proteção marcados por grande pobreza e enorme riqueza de vida selvagem.
Em Botsuana vive a maior população de elefantes do continente: são aproximadamente 120 mil animais. No território também vivem girafas, zebras, leões e búfalos. No Zimbábue, as famosas cataratas Vitória, no rio Zambezi, também farão parte do Kaza. Os antílopes, além de leopardos e outros predadores, são os mais comuns na paisagem de Zâmbia.
O principal órgão financiador do projeto é o KfW, banco alemão de desenvolvimento, ou seja, os contribuintes alemães. Segundo Ralph Kadel, a instituição entende que sua ajuda para proteção da natureza é uma forma de luta contra a pobreza. "A pobreza na África, como vemos agora a situação no Chifre da África, é algo que nos atinge profundamente e, por isso, a cooperação alemã para o desenvolvimento tem muito interesse em que essa situação não atinja outras regiões do continente dessa forma drástica. E nesse sentido, a proteção da natureza pode prestar uma grande contribuição."
O ecoturismo é tido como um grande gerador de emprego na região. Mina Mubanga, de Zâmbia, confirma a importância do setor: "Por meio do projeto, apoiamos a proteção ambiental com base comunitária, e esse é um caminho que leva adiante." Segundo a regra geral, oito turistas de safári geram um posto de trabalho.
Kadel, no entanto, ressalta a importância da conservação da biodiversidade num contexto global. "O oxigênio que nós respiramos na Alemanha não é produzido apenas no país, mas também na Amazônia, na bacia do Congo, e também no sul da África."
Famílias de elefantes já mudaram rotas antigas de migração
 Famílias de elefantes já mudaram rotas antigas de migração

Livre de fronteiras
Depois dos sete anos de preparação, o representante do KfW considera a assinatura do contrato entre as cinco nações como uma "pedra fundamental muito importante". Corredores biológicos irão interligar áreas de proteção até então separadas, resgatando antigos caminhos migratórios dos elefantes. Os primeiros 40 quilômetros de cercas de fronteiras já foram retirados.
Willem van Riet, professor sul-africano, teve a oportunidade de observar a movimentação dos elefantes pelo território livre. "Foi fantástico, porque nós colorimos muitos elefantes e acompanhamos a movimentação dos animais por meio de imagens de satélites, e vimos como eles seguiram o caminho para Zâmbia e Angola."
Em breve, as pessoas também poderão seguir os elefantes: os moradores poderão circular em trechos limitados, e os turistas precisarão de apenas um carimbo para todo o Kaza. "Está é uma questão central, que vai decidir o sucesso ou o fracasso desse projeto", opina Kadel.
Autores: Claus Stäcker / Nádia Pontes
Revisão: Carlos Albuquerque

19 de agosto de 2011

Diga não ao tráfico de animais.


Posted by PicasaTecnologia holandesa no combate ao tráfico de animais


A Universidade de Twente teve participação importante no desenvolvimento de um sistema para combater o comércio ilegal de animais: um banco de dados de acesso internacional. Em Genebra, acontece esta semana uma conferência sobre o comércio de espécies ameaçadas, um negócio que permanece sendo muito lucrativo.
Por Klaas den Tek e Peter Hooghiemstra
Contrabandistas de animais ameaçados trabalham em conjunto internacionalmente. Já o mesmo não pode ser dito dos países que tentam combater a captura ilegal de animais. Desta forma, contrabandistas e comerciantes podem com frequência agir sem muitos impedimentos, o que este banco de dados internacional pretende mudar.
No mês passado foi lançado no Quênia o Wildlife Enforcement Monitoring System (WEMS – sistema de reforço no monitoramento da vida selvagem). Este banco de dados foi desenvolvido pelo indiano Remi Chandran, pesquisador vinculado à Universidade de Twente, na Holanda. Ele explica por que um sistema assim era necessário:

“O problema era que, em termos de comércio ilegal de animais, não havia nenhum sistema no qual os países pudessem reunir, analisar e trocar informações. Com o Wildlife Enforcement Monitoring System isso agora é possível.”
Comércio ilegal
Trata-se, por exemplo, de que animais, e quantos, foram apreendidos e onde isso aconteceu. Os dados são postos no sistema e podem ser consultados imediatamente. Desta maneira será mais fácil mapear as rotas de contrabando entre vários países e prevenir o tráfico.
Em primeira instância, três países estão conectados ao sistema. Três vizinhos do leste da África: Uganda, Tanzânia e Quênia. Nos próximos anos Chandran e seus colegas de Twente vão acompanhar o funcionamento do WEMS. “Se for um sucesso, esperamos que o sistema possa ser aplicado em mais países. Iremos passo a passo”, diz Chandran. “Depois talvez seja a vez da Ásia. Isso não será fácil porque muito comércio ilegal vai justamente pra lá. Por isso países asiáticos talvez não estejam tão abertos a trabalhar com o WEMS”, acredita Chandran.
CITES
O temor não é infundado. Esta semana acontece em Genebra a conferência CITES, a convenção internacional sobre comércio de animais e plantas ameaçados. Lá os países asiáticos também oferecem resistência, e não querem, por exemplo, que organizações como o Fundo Mundial da Natureza (WWF) estejam presentes. Os motivos não são claros. Talvez pelo fato de um país como a China não querer ser tão abertamente criticado.
O comércio ilegal da África para os países asiáticos cresceu muito nos últimos anos. E os rinocerontes são os que mais têm sofrido. Seus chifres são levados principalmente para a China, diz Christian van der Hoeven, do Fundo Mundial da Natureza:
“Tem a ver com a demanda. O comércio aumenta se a demanda aumenta. E estamos vendo isso acontecer principalmente em países como a China. Tem a ver com a crescente prosperidade no país. Isso no entanto não quer dizer que as autoridades chinesas não façam nada contra isso. Mas é um processo demorado até que as coisas mudem.”
Prática resistente
Van der Hoeven festeja a criação o banco de dados da Universidade de Twente, mas diz que a prática é resistente. O comércio de marfim e dos chifres de rinoceronte é muito lucrativo. Paga-se valores muito altos na China. E muitas vezes há organizações poderosas por trás – pelo menos é o que se acredita -, que têm contato em altos níveis, o que torna difícil detê-los.
“Você pode penalizar o transportador e o contrabandista, mas com isso não chega à raiz do problema”, diz Van der Hoeven. “Frequentemente há grandes grupos com muito dinheiro e poder por trás. Os preços do marfim são tão altos para que se possa voar rapidamente com um helicóptero a um parque na África do Sul, pegar o marfim e depois ainda voltar com um jatinho particular para a China. E mesmo assim ainda há um grande lucro.”


17 de agosto de 2011

A PATOLOGIA DA NORMALIDADE



Cláudio V L Ferreira*
  
Definitivamente a normalidade dos dias de hoje está cada vez mais intolerável para mim. A mídia, principalmente a televisão, tem nivelado as mentes. Está se tornando proibido pensar. Faustão pensa por nós. Ana Maria Braga pensa por nós. O “jornal nacional” pensa por nós. A “Globo” pensa por nós. E tome novelas, filmes, frivolidades e passa tempo, num processo constante de manutenção da hipnose, pois é proibido pensar.
Tornou-se “normal” passar de 30 a 40 anos levantando todos os dias de madrugada para ir trabalhar, pegando ônibus superlotado na ida e na volta para percorrer o trajeto de casa ao trabalho, deixando os filhos aos cuidados de outras pessoas, às vezes parentes, outras empregadas ou então em creches e escolas, para no final de tantos anos se aposentar doente com um soldo miserável. Tornou-se normal e necessidade a mulher também entrar no mercado de trabalho para ajudar nas despesas da casa, deixando de lado a educação dos filhos. Isso todo dia, todo dia, todo dia. Os finais de semana são vividos como verdadeiras bênçãos de Deus, quando se dorme, se come muito, se vê Televisão. Sexta a tarde, apesar de todo o cansaço da semana, suscita alegria, pois amanhã é sábado e depois domingo. E quando há um feriado, que delícia! Domingo à tarde e Segunda de manhã são momentos de angústia e estresse, pois lá vem outra semana dura, levantando de madrugada e chegando tarde da noite depois de um dia de muito trabalho e desgaste. Tornou-se normal se comer sanduíches, os chamados “fast food” para não se perder tempo e se ganhar quilos a mais e saúde a menos. Se tornou normal trabalhar muito para se ganhar sempre menos do que necessitamos para sobreviver, onde o salário se evapora nos primeiros dias, enquanto o mês parece demorar uma eternidade para terminar.
Tornou-se normal escutar música sertaneja, rock, e funk. Os riquinhos então amam se martirizar com essas músicas tocadas em volume estridente produzido por aparelhos possantes dentro de caminhonetes reluzentes. Tornou-se normal buscar levar vantagem em tudo, dentro da popularmente conhecida “ lei de Gerson”. Somos auto complacentes quanto a transgredir leis, a cometer ilicitudes, pois afinal de contas “ todo mundo comete”. Tornou-se normal criticar os altos salários dos políticos e principalmente seus atos por serem considerados pouco éticos, mas se sonega imposto, se desrespeita o sinal de trânsito, se xinga pedestres atravessando a rua sobre a faixa branca. É um salve-se quem puder onde o mais “ esperto” sempre acha que vence.
Quase trinta anos de vida acadêmica me tornaram normal demais.Limitado que sou, muito mais do que a maioria das pessoas a minha volta, demorei algumas décadas para me rebelar. Definitivamente precisei enlouquecer. Napoleon Hill considera esse processo muito difícil pois todos caminham empurrados para uma mesma direção e para eles você está na direção errada. Uma universidade onde dei aulas durante seis anos me demitiu, pois alguns alunos perceberam que eu estava doido. Eu não dava as aulas mais da forma que esperavam de mim. Eu questionava as teorias acadêmicas. Eu me recusava a pensar pelos alunos. Eu puxava os alunos para que pensassem e construíssem a própria história a partir de suas raízes e problemas. Meus dois últimos anos em uma Universidade Federal, antes de aposentar, depois de duas décadas e meia como docente aí, foram tumultuados. Eu não ensinava mais aquilo que exigiam que eu ensinasse. Os alunos se preocupavam com notas e freqüência. Meus colegas docentes estavam preocupados se eu estava cumprindo o “programa” e se o que eu estava “dando aos alunos” estava dentro do “cronograma”. Ou seja, eu tinha que cumprir um “script”. Tudo certinho, estabelecido, definido. Desgostei alunos, colegas docentes, coordenador de curso e minha chefe. Era proibido pensar. A ordem era passar “conhecimentos” aos alunos, transmitir “conhecimento” e exigir em provas e trabalhos o aprendizado do meu pretenso conhecimento das tais teorias acadêmicas. Me dei conta que por muito tempo reproduzi de forma sofisticada o mesmo processo de hipnose usado por Faustão e “ratinho” na Televisão.
Não consigo mais ser normal. Nos últimos anos tenho piorado bastante. Universidade para mim tem o mesmo sentido dado pelo grande José Pacheco à Escola da Ponte. Quase sempre é enfadonho ver televisão. As músicas que a maioria das pessoas gostam me martirizam. Levanto cedo para fazer o que gosto e não para ir bater ponto em um emprego. Amo trabalhar finais de semana onde todos descansam. Adoro brincar com minha filhinha de sete anos e me emociono toda vez que seu olhar cruza com o meu.
Nasci na roça no sul de Santa Catarina e aí vivi toda minha infância. Era feliz com meus pais e alguns irmãos. Adorava procurar araçá na mata para comer. Subia em coqueiros para colher seus coquinhos quando amarelos. Ah que delícia aquelas quaresmas amarelinhas à beira do rio. Como era gostoso tomar banho nu no rio de águas cristalinas. Era incrível a caça as rãs para comê-las, depois de fritas por minha mãe. Peguei uma vez um jundiá enorme bem na beira do rio, de causar inveja aos meus dois irmãos que conviviam mais de perto comigo e gostavam de pescar em águas mais profundas. Que sensação de liberdade caminhar de pés no chão pela mata às margens do rio e poder fazer xixi ao pé de uma árvore. Como me sentia acolhido quando a noite, a luz de um lampião nos sentávamos para jantar e depois conversar em família e por último, antes de ir dormir, ouvir uma estorinha ora contada por meu pai, ora por minha mãe. Eu era muito feliz, mas ouvia sempre em um velho rádio à bateria que meu pai tinha, que a vida era bem melhor em uma cidade grande. Comecei então a sonhar que seria melhor morar em uma grande cidade. Porto Alegre seria legal, mas se fosse Rio de Janeiro seria um sonho. Se pudesse um dia morar em uma cidade no Exterior então seria inacreditável. Morar em Londres, na Inglaterra, passou a ser um dos meus maiores objetivos na época. Nunca morei em Porto Alegre, mas morei no Rio de Janeiro onde fiz minha graduação. Morei também em S Paulo. Foi aí que percebi que cidade grande tem menos encantos do que eu pensava. Morei em Barcelona na Espanha e realizei meu sonho de morar em Londres. Aos 60 anos de idade a vida me ofereceu muitas oportunidades as quais aproveitei para conhecer lugares diferentes e aprender com a experiência.
Hoje me dei conta que a ordem estabelecida pela natureza me harmoniza enquanto que a produzida pelo homem me estressa. Não tenho mais ilusões sobre as “vantagens” das cidades grandes. Percebi que a vida é simples como a natureza é simples. Somos como a semente, nascemos, vivemos e morremos! Simples! Mas, a sabedoria nos ensina que a felicidade não se encontra no final. Como diz o grande Guimarães Rosa : “ a coisa não está nem na partida nem na chegada; está é na travessia”.Não existe prazer maior do que sentar próximo a uma mata de buritis e ouvir a orquestra produzida pelo vento em suas folhas, acompanhada do som de inúmeros pássaros e insetos. Quer beleza maior do que o grande espetáculo produzido pela natureza? Para qualquer lugar que olho, a natureza me fascina e me comove. Para mim, é principalmente através desse grande espetáculo que Deus se manifesta. A sabedoria e a grandeza de Deus está contida em cada detalhe da natureza, quer na disciplina da formiga, no destemor dos gafanhotos, na infinitude do céu ou no horizonte da extensão do mar. Ah o mar! Sinto a espuma e a areia acariciando meus pés! Chuá...chuá! La vem a onda!

* Psicólogo
,Dr. Em saúde mental, Psicanalista e escritor- Prof. Associado aposentado - Instit. de Psicologia-UFU-Email:cvital@mailcity.com Tel.034-9158-9012
Publicado por Dr. Claudio V L Ferreira en 8/15/2011 07:25:00 AM 

8 de julho de 2011

No Senado, especialistas defendem redução no uso de agrotóxicos

O aumento da produção agrícola brasileira, com redução do uso de agrotóxicos, exige substituição do modelo de produção adotado no país. Já existem tecnologias para produzir alimentos de forma mais ecológica, mas é preciso incentivo estatal para adotá-las. Essas afirmações são do pesquisador da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária(Embrapa), Marcelo Augusto Boechat Morandi, que atua na unidade de Meio Ambiente da entidade. O pesquisador participou ontem (07/07/11) de audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária (CRA) do Senado Federal.

Em curto prazo, disse Morandi, os produtores terão bons resultados com o aperfeiçoamento de práticas já adotadas com o modelo tradicional. O monitoramento integrado de pragas e doenças, o aperfeiçoamento da tecnologia de aplicação de defensivos, a capacitação de técnicos e produtores e a restrição de produtos altamente tóxicos, sugeriu, podem contribuir para a redução do consumo de agrotóxicos.

Marcelo Morandi recomendou ainda a integração e substituição de insumos agrícolas e práticas convencionais por práticas mais sustentáveis. Como exemplo ele sugeriu plantio direto de culturas, fixação biológica de nitrogênio e a integração de lavoura, floresta e pecuária (ILPF). Numa etapa posterior, acrescentou, poderá ser adotado sistema produtivo que funcione em processos ecológicos. Zoneamento adequado para cultivo de cultura certa no lugar e época corretos, com valorização dos ecossistemas, bem como atualização da grade de formação dos profissionais agrários com visão ecológica, são medidas a serem adotadas em longo prazo, sugeriu.

O pesquisador da Embrapa Meio Ambiente defendeu ainda a recuperação do sistema da Empresa Brasileira de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) para oferecer assistência técnica a produtores, tarefa que a Embrapa não teria capacidade de realizar.

Na avaliação do representante da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida!, Vicente Eduardo Soares de Almeida, que também é pesquisador da Embrapa Hortaliças, o Brasil possui tecnologia para, em dez anos, produzir frutas, verduras e legumes de forma ecológica. Em sua avaliação, são necessárias políticas públicas com estratégias para fazer a transição agroecológica, que contemple preocupação com a saúde e com o meio ambiente.

CONTROLE

Para o representante da Agência Nacional de Vigilância Sanitária(Anvisa), Luiz Carlos Meireles, o controle do uso de agrotóxicos depende de melhor coordenação das ações entre os órgãos do governo e de melhor regulação da área, bem como a admissão de mais profissionais e pesquisadores por meio de concurso público. Ele informou que são 80 técnicos com formação em toxicologia para responder a todas as demandas relacionadas a agrotóxicos no país.

Luiz Meireles recomendou ainda a substituição de agrotóxicos mais perigosos por outros mais seguros e o monitoramento da qualidade dos produtos, serviços e resíduos tóxicos em alimentos, água potável e solo. "Em sã consciência, ninguém quer consumir moléculas que causam câncer ou má formação em fetos. O estado quer minimizar os problemas e avançar para moléculas menos tóxicas", garantiu o representante da Anvisa.

CONSUMO

O aumento do consumo de agrotóxicos no Brasil é explicado pelo aumento da produção agrícola, disse o diretor executivo daAssociação Nacional de Defesa Vegetal (Andef), Eduardo Daher. Ele afirmou que a produção do país vai aumentar nos próximos anos e, com isso, crescerá também o consumo de agrotóxicos. Para ele, o clima tropical do Brasil favorece à produção agrícola, mas, ao mesmo tempo, à proliferação de pragas.

Em sua avaliação, não é necessário aumentar a área plantada do país. Daher informou que são 65,38 milhões de hectares destinados à agricultura que, se bem aproveitados, poderão aumentar a produção agrícola. Segundo ele, a integração lavoura-pecuária pode aumentar em 50% a área plantada, sem a necessidade de destruir florestas.

SENADORES PEDEM APOIO DOS AGRICULTORES

Apesar de admitirem a necessidade de uso de agrotóxicos para produzir alimentos em grande escala no Brasil, os senadores que participaram ontem (07/07/11) de audiência pública na Comissão de Agricultura e Reforma Agrária defenderam a redução gradual da utilização dessas substâncias.

O senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), um dos autores do requerimento para a audiência que debateu o tema, ressaltou que a sustentabilidade e a saúde dos brasileiros devem ser prioridade. Ele informou que os agrotóxicos podem causar intoxicação, má formação fetal, cânceres e distúrbios neurológicos, entre outros danos ao ser humano. O meio ambiente também é prejudicado com a contaminação da cadeia alimentar, da água, do solo e do ar, observou o senador.

Valadares informou que o Brasil recebe e utiliza produtos que são proibidos em outros países. Como exemplo, ele citou o Edosulfan, banido em 45 países e ainda em uso no Brasil até 2013, conforme recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. "Estamos consumindo o lixo que os outros países recusam" disse Valadares.

O senador Blairo Maggi (PR-MT), que é produtor agropecuário, afirmou ter interesse em adotar um modelo mais ecológico de produção em razão dos benefícios à saúde e menores custos. Porém, segundo ele, ainda não é possível produzir alimentos em grande escala sem utilizar agrotóxicos.

O senador elogiou as pesquisas Embrapa e disse estar disposto a adotar novos modelos desde que provados eficientes. Para o senador, a mudança da produção convencional por tecnologias mais ecológicas é um processo gradual de substituição das alternativas adotadas.

"Não tem como o Brasil defender a balança comercial e garantir alimentos para o mundo sem o uso de agrotóxicos. Parece que fazemos uso porque queremos poluir. Entre o desejo de não usar e a necessidade de produzir há uma diferença grande" observou Maggi.

Também o senador Waldemir Moka (PMDB-MS) assegurou que os produtores adotariam defensivos agrícolas orgânicos se fosse garantida a produção. Ele afirmou que a agricultura brasileira está em franca expansão, o que exige melhor controle e fiscalização por parte do governo. Ele considerou insuficiente o número de profissionais técnicos em atuação e sugeriu concurso público para reforçar o quadro.

"É inadmissível que haja apenas 80 técnicos para controlar a agricultura brasileira. Cada vez mais, o Brasil vai produzir e precisa ter gente pra controlar" disse Moka.

FONTE

Agência Senado
Iara Farias Borges - Jornalista

2 de julho de 2011

Itaqui, o Portal do Rio Grande

Mercado Público: uma obra rica em detalhes e que precisa de restauração. O imponente portal de acesso retrata uma época de esplendor. Foto: Darci Bergmann, 26/06//2011 
Por Darci Bergmann
Theatro Prezewodowski, um dos muitos marcos culturais
    A cidade de Itaqui, na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, tem um invejável patrimônio arquitetônico. As construções em vários estilos retratam diversos períodos da sua história. Esse rico acervo torna a cidade uma importante fonte de estudos e tem grande potencial turístico. Essa opinião é compartilhada por moradores da cidade, que almejam a restauração e a preservação desse manancial.
Yuri Oliveira, de boné: "é preciso preservar este acervo arquitetônico"
Construções em vários estilos. As pedras tem a ver com o nome da cidade

Matéria-prima usada para as famosas cercas de pedra, as rochas tipicas da região também foram utilizadas na construção de moradias e pavimentação de vias públicas.Mais bonitas que o corriqueiro asfalto, as ruas revestidas de pedra ainda permitem a infiltração de parte das águas pluviais e aquecem menos nos dias quentes de verão. Essas pedras grandes, irregulares, são mais um atrativo que dá charme à bela cidade.



Reminicências
Minha curiosidade sobre Itaqui é antiga. Antes mesmo de conhecer a cidade,  eu já ouvira falar sobre a sua riqueza arquitetônica. Em 1963, eu ingressei na Escola Agrícola Celeste Gobatto, em Palmeira das Missões. Ali conheci o professor Arilo Marques, itaquiense nato, que enaltecia as belezas e a história da sua terra natal. Arilo falava das ruas pavimentadas de pedra, dos passeios largos, dos prédios em vários estilos e descrevia também a zona rural, com os seus campos repletos de bovinos e ovinos. Falava da natureza rica em espécies animais e pela primeira vez ouvi falar na região de São Donato. Ali, cortada pela BR 472, situa-se a hoje Reserva Biológica de São Donato, criada em 12 de março de 1975, pelo decreto estadual nº23.798. Arilo Marques, já naquela época, mostrava preocupação com o acervo histórico-cultural e até ambiental de Itaqui e região. 
Entre 1966 e 1969 estudei na Escola Técnica de Agricultura, a ETA, em Viamão. Ali conheci outros itaquienses e "fronteiriços" como eram designados os pampeanos. Da ETA fui cursar Agronomia em Santa Maria. Nessa época conheci várias cidades na Fronteira Oeste: Alegrete, Uruguaiana, Rosário do Sul, Santana do Livramento, Bagé na Campanha. Eu, que nascera em Lajeado, no Vale do Taquari, morara no Extremo-Oeste de Santa Catarina, na região dos pinhais de Cunha Porã e no vale junto ao Rio Uruguai, em Mondaí, tive então oportunidade de conhecer a metade sul do Rio Grande do Sul, região integrante do Bioma Pampa. 
Em 1974, formado engenheiro-agrônomo pela UFSM, fixei residência em São Borja. Nesse mesmo ano conheci Itaqui. Gostei da cidade e da sua gente. E dei razão ao meu mestre Arilo Marques. Havia uma rica história, um "theatro" imponente, um mercado público único no seu estilo, prédios antigos e ricos em detalhes, as pedras marca registrada da cidade. E havia o campo com as suas planuras, com algumas coxllhas sobressaindo aqui e ali. E as várzeas entrecortadas por rios sinuosos e protegidos pelas matas de galeria.Num dia de sol aberto sobrevoei esta parte do Bioma Pampa. Era um cenário paradisíaco. Do alto pude ver bandos de capivaras e o veado-campeiro ainda em razoável número, às vezes misturado ao gado bovino. As lavouras de arroz já ocupavam parte dessa planície, desde São Borja, até Uruguaiana. Ao longo da BR 472, ainda em construção, percebi uma área em especial, com matas, banhado e o entorno de campos nativos ainda relativamente preservados. Ali era o São Donato, a meio caminho entre São Borja e Itaqui. O cenário era tal como descrevera Arilo Marques. Era tanta riqueza, que era preciso ter cuidado em preservar pelo menos parte dela. Isto incluía o acervo histórico da cidade em si e de parcela representativa da paisagem do Bioma Pampa. E o banhado do São Donato reunia as condições para ser uma dessas reservas, antes que o chamado e muitas vezes transitório "progresso" provocasse estragos profundos nessa paisagem.
A campanha pela preservação da Reserva Biológica de São Donato
Criada a reserva, ela ficou no papel por muitos anos. As lavouras avançaram no seu entorno e uma draga do DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas fez drenagem parcial da área. Nesse tempo, desde a sua criação, então como filiado à AGAPAN, juntamente com pessoas da região, lutei pela implantação definitiva da Reserva. Foram feitos manifestos, abaixo-assinados e até o José Antônio Lutzenberger, renomado ambientalista, se envolveu na campanha. Em 03 de outubro de 1997, a juíza Rosmari Girardi, da Comarca de Itaqui, acolhendo pleito da Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural - ASPAN, exarou sentença condenando o Estado do Rio Grande do Sul a implantar em definitivo a REBIO São Donato. 
O itaquiense Arilo Marques tinha razão: algo deveria ser feito para preservar uma parte da paisagem, da flora e fauna da região de Itaqui.
     Nunca imaginei que um dia eu seria um dos protagonistas dessa história, na questão ambiental. 
     








 
                                                                             

                                                                       


       

20 de junho de 2011

Consumidores menos preocupados com o meio ambiente

RIO DE JANEIRO, 20 de junho de 2011 (Tierramérica).- Apesar da crescente informação a respeito disponível, diminuiu nos últimos anos a disposição dos brasileiros para adotar hábitos de consumo conscientes, revelou uma pesquisa da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro.

Um estudo, realizado em 2007, mostrava que 65% dos entrevistados consideravam a preservação ambiental em seus atos de consumo. Em 2011, essa proporção caiu para 57%. Os que não consomem produtos orgânicos também diminuíram de 27% para 20% no mesmo período.

“Os produtos ecológicos são mais caros, a pesquisa mostra a relação entre poder de compra e consumo consciente. Nas classes A e B (as mais ricas), 39% consomem produtos ecologicamente corretos, nas classes C e D essa porcentagem cai para 25% e 19%, respectivamente”, disse ao Terramérica o superintendente de Economia e Pesquisa da Federação, João Carlos Gomes.

O governo precisa atuar com incentivos tributários para mudar essa situação, propôs.



*Fonte: Inter Press Service.
Tierramerica
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As carnes estão cada vez mais aditivadas.
Veja a matéria abaixo:

Venenos ocultos em carnes mexicanas
Por Emilio Godoy

Remédios e aditivos alimentares utilizados na avicultura industrial e na pecuária produzem carne bovina, de frango e de porco tóxicas ou contaminadas.

CIDADE DO MÉXICO, México, 20 de junho de 2011 (Tierramérica).- O sistema industrial de criação de animais está novamente em xeque no México, após os últimos escândalos pelo uso do anabolizante clembuterol e um medicamento para aves. O clembuterol é um descongestionante e broncodilatador, indicado para doenças respiratórias, que também tem a propriedade de aumentar o tecido muscular, e por isto é usado na engorda de aves e gado bovino e suíno. Estados Unidos e Grã-Bretanha proibiram seu uso humano por causa de seus efeitos sobre coração e pulmões.

No México, “foi gerada uma cultura de uso dessas substâncias. Os que trabalham na engorda querem rendimentos rápidos e somente com o uso de forragem não conseguem ótimos rendimentos. E os açougueiros não compram a carne se ela não tiver clembuterol”, disse ao Terramérica o pecuarista Cosme Amaro, no Estado de Veracruz. O medicamento é aplicado durante três ou quatro meses desde que o novilho completa sete meses de idade. Acumula nos tecidos, sobretudo no fígado dos animais, incluindo porcos e frangos.

A ingestão de carne com clembuterol pode ultrapassar as doses médicas habituais para humanos, entre 40 e 60 miligramas (mg) diários, mas sem superar os 150 mg, segundo o Comitê Misto de Especialistas em Aditivos Alimentares, da Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação e da Organização Mundial da Saúde. E, por ser um anabolizante, é uma substância proibida para os desportistas. Na Copa Ouro 2011 da Concaf (Confederação de Associações de Futebol da América do Norte, América Central e do Caribe), o primeiro exame antidoping de cinco jogadores mexicanos indicou a presença do anabolizante, supostamente por ingestão de carne contaminada neste país.

“As substâncias conhecidas como beta-agonistas adrenérgicos, entre elas o clembuterol, continuam sendo usadas de forma clandestina, irresponsável e sem ética na alimentação animal, principalmente bovinos de corte, mas não se sabe com exatidão a magnitude de seu uso”, disse ao Terramérica o diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Autônoma do Estado do México, Ignácio Domínguez.

Embora melhore o rendimento e a qualidade dos animais, o clembuterol tem potencial tóxico, concluíram Domínguez e outros cinco pesquisadores no estudo “Os Beta-Agonistas Adrenérgicos como Modificadores Metabólicos e seu Efeito na Produção, Qualidade e Inocuidade da Carne de Bovinos e Ovinos: uma Revisão”, publicado na edição de novembro 2009-fevereiro 2010 da revista Ciencia ergo sum.

No México é proibida a produção, venda e utilização na alimentação de animais de 15 substâncias, entre elas o clembuterol. O Ministério da Agricultura autoriza a aplicação do cloridrato de zilpaterol em bovinos, suínos e ovinos, pois é menos potente e tem menor risco de acumular nos tecidos. O clembuterol ganhou notoriedade em 2002 no Estado de Jalisco, quando apareceram mais de cem pessoas doentes por comerem fígado de boi. Desde então, e até 2010, foram contabilizados 807 casos.

Em vista disso, a Secretaria de Saúde estadual determinou um alerta sanitário, que, no entanto, foi suspenso em 31 de maio deste ano, aparentemente pela proximidade dos Jogos Pan-Americanos, que acontecerão em outubro em Guadalajara, capital do Estado, pois não houve um desaparecimento efetivo de casos. O governo e a indústria garantem que a carne é boa, mas a evidência científica e as intervenções sanitárias os desmentem. Desde 2004, foram registradas dezenas de intoxicações em vários Estados do país.

A operação da indústria avícola é semelhante. “O arsênico encontrado no esterco de galinhas poedeiras provém do uso de sais arsenicais no alimento para frango para o controle da coccidiose”, doença parasitária que causa atraso no crescimento e mortalidade entre as aves, diz a pesquisa “Origem e Destino do Arsênico em uma Exploração de Gado de Corte”. A produção avícola gera abundantes dejetos que depois são usados como fertilizantes ou como alimento do gado. Estes podem contaminar o subsolo e eventualmente a água. O arsênico, que também tem origem em fontes minerais, é muito tóxico, cancerígeno e pode provocar dermatite e bronquite.

“A presença de arsênico no sangue dos bovinos é indicativo da exposição, em nosso caso, a fontes como o excremento de galinha com que se alimenta o gado, os sais minerais e a água”, concluiu o estudo que examinou amostras de rebanho, e foi apresentado por René Rosiles, acadêmico da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Nacional Autônoma do México, no XXVIII Congresso da Associação Mexicana de Médicos Veterinários Especialistas em Bovinos, em 2004.

No dia 8 de junho, a companhia farmacêutica norte-americana Pfizer anunciou que retiraria do mercado norte-americano o medicamento 3-Nitro, também conhecido como roxarsone, arsênico orgânico administrado aos frangos para combater a coccidiose. A decisão foi tomada porque a agência norte-americana de controle de alimentos e medicamentos (FDA) encontrou, este ano, traços de arsênico em pedaços de frango à venda em alguns estabelecimentos. Contudo, ele continua permitido em outros 14 países, entre eles o México e mais cinco latino-americanos. A União Europeia proibiu esse composto em 1999.

“O uso ocorre por caminhos legítimos e clandestinos”, afirmou Amaro, dono de um rebanho de 80 cabeças. O estudo de Rosiles conclui que “a contribuição do arsênico em quantidades relativamente pequenas, ao unir-se com o resto das fontes, faz com que finalmente a exposição do gado seja grave”. Para Domínguez, fala-se em “não contar e aplicar um programa de rastreamento desde a unidade de produção até o consumidor final, na cadeia de produção, transformação e comercialização, para que tenhamos uma inocuidade alimentar da carne”.
* * O autor é correspondente da IPS.

18 de junho de 2011

O Charme das pequenas cidades




Por Darci Bergmann


   Sempre me encantei com as pequenas cidades. Elas parecem transmitir uma sensação de paz, segurança e tranqüilidade. Longe do burburinho infernal dos grandes centros urbanos a vida parece fluir de um jeito mais natural. A gente tem mais tempo para todas as coisas do dia a dia, as pessoas se conhecem e o ambiente bucólico e quase sempre romântico da maioria das pequenas cidades me aproxima mais da natureza. Até porque numa simples caminhada a gente percorre toda a área urbana e atinge a zona rural. Cidade e campo se misturam. Ao contrário das grandes metrópoles, cujos horizontes não tem encantos naturais e sim aqueles intermináveis corredores repletos de veículos barulhentos e ladeados por prédios. Prédios e mais prédios e gente correndo com pressa e com medo.
   A maioria das pessoas mora nas cidades. Muitas nas grandes cidades. Atraídas que foram porque se dizia ali existirem mais recursos para saúde, educação e até lazer. Como mariposas, foram atraídas pelas luzes das ribaltas. Luzes que ofuscam e que por isso mesmo escondem a triste realidade dos grandes centros urbanos. Muitas dessas pessoas gostariam de voltar às suas querências, quando se deparam com o engano. Nem todas conseguem. Outras pessoas, gerações inteiras até, nasceram nas grandes urbes e já não tem mais percepção do meio natural. Adaptaram-se ao burburinho, ao movimento e à vida apressada e competitiva. Para essas, o contato com a natureza é uma praça, algum parque, algumas árvores nas ruas e cada vez menos um pátio arborizado. Eu disse contato com a natureza. Na verdade fragmentos da natureza. Árvores nas ruas são vistas como conflito à rede elétrica, ao trânsito, à fachada das lojas. Os parques e praças estão cheios de badulaques a que chamam de mobiliário urbano, quando não atulhados de lixo, chicletes e cocô de cachorro de madame. Aquelas madames orgulhosas, perfumadas, algumas de silhuetas instingantes e que levam os seus bichinhos mais enfeitados do que árvore de natal ao passeio no campo, isto é, no gramado da praça.
  Em algumas pequenas cidades e onde ainda existem áreas naturais preservadas no seu entorno, a diversidade de vida é maior. Nunca se está só. Ali existem mais espécies de plantas, aves e de quebra algum bicho diferente na mata próxima. Cãozinho de estimação também existe, mas ainda não contagiado demais por essa mania consumista de transformar cachorro em modelo de passarela.
  Cidade pequena, quase um vilarejo. Tomara que não cresça. Tomara que não perca o seu encanto. Tomara que não seja vítima dos especuladores e dos demagogos ansiosos por transformá-la em fonte de lucros, sob o falso manto do progresso.  
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Veja a matéria a seguir


MUNDO 17.06.2011

 


Chineses surpreendem austríacos ao copiar vilarejo tombado pela Unesco

 

Reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco, o vilarejo austríaco de Hallstatt ganhará uma cópia na província de Guangdong, na China. Descoberta por acaso, a notícia abalou a pequena comunidade.

 
A igreja evangélica, o hotel Grüner Baum, a praça do mercado e até mesmo um lago como os da pequena Hallstatt, na Áustria, poderão em breve ser visitados na província de Guangdong, no sul da China. A construção da réplica do vilarejo com pouco mais de 800 habitantes, reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco, foi descoberta por acaso pelo prefeito Alexander Scheutz.
Após a descoberta, em maio, a empresa imobiliária chinesa responsável pelo projeto manifestou-se e propôs uma parceria entre as duas Hallstatt, além de uma visita informativa. Alguns dias atrás, o prefeito descobriu que a construção da Hallstatt asiática já está praticamente concluída. "Esse procedimento não nos agrada de maneira alguma", disse Scheutz, apesar de reconhecer que a cópia chinesa poderá incrementar o turismo na versão original.
O pequeno e belo vilarejo de Hallstatt, na Áustria, que os chineses copiaramO pequeno e belo vilarejo de Hallstatt, na Áustria, que os chineses copiaram








Apesar de reclamar da forma de agir dos chineses, o prefeito vê a réplica como um motivo de orgulho para os moradores locais, por demonstrar a popularidade da localidade austríaca na China. "Na verdade, é uma ótima propaganda para a nossa comunidade. Muitos vão querer ver a Hallstatt original", declarou ao jornal Oberösterreichische Nachrichten.
Já a proprietária do hotel Grüner Baum, Monika Wenger, disse que, aparentemente, arquitetos chineses passaram os últimos anos fotografando e desenhando prédios de Hallstatt. Para ela, esse procedimento deixa uma sensação de roubo. Para Klaus Kohout, responsável estadual pela conservação do patrimônio histórico, Hallstatt é única e irreproduzível. "Por isso ela é patrimônio da humanidade. Não se pode copiar Hallstatt. A cópia nunca alcançará o original", disse ao jornal.
Sob o ponto de vista legal, a princípio, não há problema em fotografar e reproduzir construções, apenas medições exigiriam a concordância do proprietário, explicou Hans-Jörg Kaiser, do Icomos Áustria, o conselho nacional patrimonial, uma sub-organização da Unesco. Mas ele questionou os limites do turismo. "Nunca se conseguirá reproduzir a paisagem natural e os moradores que fazem um patrimônio da humanidade ser o que é", opinou a outro jornal austríaco, o Der Standard.
O município chinês onde uma parte de Halstatt será reproduzida chama-se Boluo e tem 820 mil habitantes, cerca de mil vezes mais que a comunidade original. As construções replicadas serão utilizadas como residências, hotéis e lojas.
No inverno, a paisagem fica ainda mais bonita em HallstattNo inverno, a paisagem fica ainda mais bonita em Hallstatt

LF/dpa/ots
Revisão: Alexandre Schossler