Foto: Darci Bergmann
Por Darci Bergmann
Obrigado, Senhor, por nos ter concedido o dom da Vida.
Obrigado, Senhor, por nos ter dado como morada este Planeta, a nossa Terra, verdadeira jóia do sistema solar.
Obrigado, Senhor, por nos ter permitido a companhia de outras formas de vida, que se apresentam em milhões de espécies.
Senhor, todo o Universo faz parte da Vossa grandiosa obra. E aqui, nesta linda querência planetária, permitistes que nossos espíritos, Vossas criaturas eternas, encontrassem morada. Há bilhões de anos a Vida se fixou aqui em formas tão surpreendentes, que evoluíram e se adaptaram às condições dos elementos organizados por Vós e banhados pela luz do Sol. Nossa Terra, graciosamente, gira em torno dele. O sistema solar está em harmonia com outros semelhantes dentro da nossa Galáxia, que também não é única. Senhor, tão grandiosa é Vossa obra que não sabemos onde estão os seus limites, por mais que tentemos desvendar tal mistério.
Somos aprendizes e, nas sucessivas gerações, cometemos muitos erros. Temos sido intolerantes com os da nossa própria espécie, movidos pela cobiça, pela ganância ou por diferenças no modo de pensar. Dividimos a Terra em territórios, regidos por regulamentos, que muitas vezes dissimulam o domínio de nações sobre nações ou de governos e corporações sobre os indivíduos. Por vaidade, afrontamos a Natureza, subjugando-a em nome do progresso.
Como seres racionais, estabelecemos metodologias para o conhecimento, a isso denominando Ciência. Mas o conhecimento está tão fracionado, que já perdemos a noção do Todo. Muitos de nós queríamos mudar a Natureza e algumas tecnologias foram adotadas como deusas na mitologia da modernidade. Sim, nossos deuses são outros. Eles nos fascinaram pela promessa de bem estar, de mais tempo livre, de poder e de prestígio social. No entanto, nos cobram sacrifícios cada vez mais pesados. Por essas conquistas aparentes e pelo consumismo é preciso sacrificar a ética, o respeito entre os humanos e destes com a Natureza. Os outros deuses exigem de nós a pilhagem dos recursos naturais, como se fôssemos uma última geração aqui na Terra. Senhor, esses deuses querem ver poluídos o solo, a água, o ar e qualquer elemento que lembre a Vossa Criação. Na ânsia de dominação, utilizam seres humanos a quem conferem poder transitório, mas capaz de provocar profundas feridas na Terra. Muitos humanos inocentes foram seduzidos pelos novos deuses e ainda participam da orgia consumista. Nem a estabilidade do clima foi poupada. A Terra aquece perigosamente. Os véus brancos das neves nas montanhas derretem-se em enxurradas. Os gelos polares se liquefazem e aumentam o nível das águas oceânicas. As estações do ano estão indefinidas. Os ventos e as secas nos assolam cada vez mais em algumas áreas, enquanto as enchentes se intensificam em outras. Perdemos a noção de limites e as nossas cidades avançam sobre as paisagens, deformando-as. Ainda assim, queremos aniquilar as últimas florestas, conspurcar as águas e consumir futilidades.
Colocamos a nossa espécie acima das outras e não como integrante de toda a Criação. Nós ainda maltratamos os animais, privando-os da liberdade para o deleite egoísta. Destruímos santuários onde milhões de espécies viviam em harmonia. Existe uma só Verdade: os seres humanos, todas as formas de vida e a matéria componente do Universo são Vossa criação.
Já temos dificuldade em ouvir o canto das aves e o farfalhar das folhas ao vento. Os ruídos da civilização, com sua parafernália eletrônica, agridem nossos ouvidos. Já perdemos parte da audição e a capacidade de nos concentrar.
Os resíduos que geramos consomem recursos vultosos e a nossa saúde. Alguns são invisíveis, mas se espalharam pelo ambiente e circulam na cadeia vital de todos os seres. Podem induzir mutações genéticas, alterar nosso sistema hormonal e provocar estados depressivos.
Nossa Terra agoniza. É um ente vivo e seu estado é febril. Ela vai se livrar do seu agente patológico, restabelecendo os equilíbrios vitais. Quando isso ocorrer na sua plenitude, os agentes destruidores serão julgados pelo Tribunal da Natureza.
Se ainda for possível, rogamos a Vós, Criador do Universo, que nos conceda uma nova oportunidade. Cometemos muitas tropelias e Vos pedimos desculpas. Ainda resta em nós uma semente de humildade. Quem sabe um dia ela germine e permita a nós seres humanos, vermos o nascimento de uma nova Civilização, como parte da Natureza e não como o seu exterminador.
Dia 22 de Abril: Dia da Terra. Texto de ABRIL 2006.
Elaborei o texto a pedido de simpatizantes do movimento ambientalista. Foram distribuídas cópias avulsas e também no jornal Folha de São Borja, na coluna de Alberi Cogo.
3 comentários:
maneeeeiro o texto ;)
Belíssima oração!
"Aquilo que germina queima. O que queima germina..."(Bachelard) Parabéns! Belíssima oração.
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