17 de maio de 2010

AS CORES DO OUTONO


Por Darci Bergmann

      Sempre ouvi essa expressão, mas confesso que poucas vezes dei importância a ela. Até porque o nosso outono aqui não é tão colorido como aquele de regiões mais frias. Em alguns países o outono é uma sucessão de cores e tonalidades. Algumas plantas caducifólias ficam em tons amarelados, depois avermelhados e finalmente as suas folhas forram o solo num espetáculo que dizem ser emocionante. Em compensação, temos aqui primavera, verão e até parte do próprio outono com floradas magníficas e que também causam inveja aos habitantes das regiões de outono mais frio. Beleza natural pode existir em qualquer lugar ainda relativamente preservado, desde que as nossas percepções sejam sensíveis.
     Ontem, um domingo de pouco sol, estive no meu recanto rural e nas andanças pelas trilhas entre os bosques parei numa clareira de vegetação herbácea, tipo brejal. Aquela área estava relativamente degradada quando a adquiri. Deixei-a em recuperação espontânea, mas em alguns pontos plantei espécies florestais nativas e exóticas. Ali, entre gravatás e outras herbáceas e arbustos, aparecem as corticeiras-do-banhado, os toropis, as aroeiras-vermelhas, entre outras árvores. Poucas plantas ainda ostentavam alguma flor. Mais ao lado, em frente a um renque de bambus, avistei uma copa colorida, contrastando com os tons cinzentos do brejal. A visão daquela copa me arrebatou e por alguns instantes eu tive a sensação de estar contemplando aquele colorido outonal de alguma região mais fria. Era uma só copada de uma árvore ainda jovem. Não tinha flores, mas folhas coloridas – as cores do outono. Um espetáculo deslumbrante e causador de uma sensação de paz e tranqüilidade lá no meio do brejal. É algo quase indescritível, mas que revela a capacidade que tem a Natureza de nos arrebatar e de nos dar forças para enfrentar os desafios do cotidiano. É uma terapia da alma e do corpo. Por gratidão, fiz mentalmente um agradecimento ao Criador por me permitir momentos de tamanha harmonia. Ainda, por gratidão, plantei nesse mesmo dia mais algumas mudas de espécies frutíferas nativas, com o pensamento voltado a outros habitantes que aparecerão para o banquete alguns anos depois. Aves e outros animais são atraídos por um ambiente assim e nos transmitem momentos inesquecíveis. Depois, registrei algumas fotos daquela copa colorida. Não é de uma espécie nativa. Plantei-a por curiosidade, porque já vira na literatura referência às suas qualidades ornamentais e não me decepcionei. Trata-se do Taxodium distichum, conhecido popularmente como cipreste-vermelho, cipreste-do-brejo, pinheiro-do-brejo e outros nomes.

     Às vezes, penso que os seres humanos estão ofuscados por essa onda de consumir futilidades a tal ponto de esquecerem certos espetáculos da Natureza. O progresso insustentável que dá pouco espaço às áreas verdes, talvez um dia nos apresente um outro colorido que não as cores do outono. Esse colorido artificial de carros de luxo e de obras suntuosas talvez não tenha essa magia de nos arrebatar tanto quanto as cores da natureza.

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Foto: Darci Bergmann
Taxodium distichum

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