31 de maio de 2010

A CEPA SOCIAL URBANÓIDE

Por Darci Bergmann

O mundo está urbanizado. As cidades cresceram demasiadamente em alguns casos. Isso faz com que os espaços naturais sejam tão alterados que a espécie humana perde o contato com a Natureza original. Todo equilíbrio, interdependência de espécies e destas com o meio físico está deteriorado. As ilusões do progresso e da crença cega no crescimento ilimitado moldaram uma conduta predatória sem precedentes. O propalado conhecimento científico dissociou ainda mais a sociedade do meio natural. Agora existe gente culta, ultra-especializada, que não é capaz de entender o papel de uma simples lagartixa. Pessoas brilhantes, doutas em suas áreas, mas incapazes de separar o lixo doméstico. Ou magistrados que aplicam leis nascidas de parlamentos corruptos que legalizam a destruição do que ainda resta do patrimônio natural. O cenário contemporâneo é fruto da visão antropocêntrica em que a espécie humana é a razão central da própria existência. É o conhecimento humano que dita a conduta e a relação com a Natureza.

Por milênios, a espécie humana encontrou desafios pela frente. A Natureza lhe fornecia o ambiente para a expansão dos seus sonhos de aventura e conquista. Com o passar do tempo a Terra foi ocupada. Mas a ocupação não se deu sem conflitos. Pelo contrário. Guerras de conquista, por divergências, por supremacia e, como pano de fundo, a questão religiosa. Os conflitos se davam entre os clãs da própria espécie humana. Esses conflitos foram levados às outras espécies e à Natureza como um todo.

A civilização globalizada aparentemente revela a supremacia da espécie humana, vitoriosa sobre a Natureza indomável. Mas é um engano pensar que essa mesma civilização sobreviva nos moldes em que foi estabelecida. Os sinais de fraqueza desse modelo de comportamento assolam a sociedade planetária. A modernidade tecnológica não satisfaz plenamente a espécie humana. Os sinais de que o mundo artificializado está perturbado estão por toda a parte. As gigantescas metrópoles, opulentas por si só, estão repletas de seres humanos confusos, amedrontados, fragilizados e escravizados. Muitos desses humanos são criaturas vitoriosas no que tange à carreira profissional, consumidores de elite que tem acesso à tecnologia e seus produtos. Mas no fundo são presas da rotina massacrante do mundo artificial. Não são mais felizes do que outros de menos posses materiais e que vivem ainda em relativa harmonia com a Natureza, ou com o que resta dela. A excessiva urbanização determina um comportamento diferenciado e talvez o surgimento de uma cepa social da espécie Homo sapiens que aqui eu denomino urbanóide. Os urbanóides constituem a ampla maioria da população. Formam a grande massa consumidora, escolhem os governantes e concentram o conhecimento científico. Alguns deles já percebem os enganos desse modelo civilizatório. Resta saber o que a maioria deles quer para o futuro.



Nenhum comentário: