Por Darci Bergmann
A domesticação de animais iniciou há milênios. São poucas as espécies domesticadas, mas representam um grande número de indivíduos. Quanto mais aumentam as populações humanas e de animais domesticados, maior é o risco de extinção de outras espécies silvestres. Entre os fatores de extinção ocorrem destruição dos habitats, a caça, os venenos e outras ações que reduzem a possibilidade de sobrevivência de animais e plantas. Diversas espécies são alvo da insensatez dos racionais que as vêem como nocivas. Na maioria dos casos essas acusações são descabidas.
Referente às serpentes a reação é de pavor. Venenosas ou não, são mortas indiscriminadamente. Serpentes alimentam-se de camundongos, ratos, preás, entre outras presas. Nos quintais, às vezes aparecem pequenas serpentes malhadas, que chegam a 40 cm. Durante o dia ficam enrodilhadas sob as folhas, gravetos e pedras. À noite, caçam lesmas. São chamadas dormideiras, da espécie Sibynomorphus ventrimaculatus. Inofensivas, mesmo assim são mortas, confundidas com outras espécies venenosas. É preciso muita sensibilização para reverter esse quadro, pois as serpentes sempre foram hostilizadas pelos humanos. Uma vez recebi uma turma de alunos especiais de uma escola mantida pela APAE. Aqueles adolescentes percorreram uma trilha urbana. No percurso, em meio às mudas de espécies florestais, foi localizada uma pequena cobra dormideira. Peguei a serpente, enquanto explicava que ela era dócil e até útil. Logo em seguida todos queriam tocá-la. Perderam o medo e fizeram promessas de proteger as que seriam por eles encontradas. Esse fato mostra que a educação pode contribuir na preservação das espécies, desde que se possibilite aos alunos o acesso aos ambientes naturais.
Os sapos motivam superstições que alimentam ainda mais a ignorância sobre seu importante papel no controle de populações de insetos. Já vi pessoas fazendo rituais macabros com sapos sob alegação de que isto provocaria chuva. Os bichos eram mortos e virados de barriga para cima. Outros eram espetados vivos e agonizavam até a morte. Os preconceitos em relação aos bichos são tantos que até estudantes de nível universitário demonstram uma fobia injustificável. Em certa ocasião, um sapo adentrara uma sala de aula de um curso superior. O bicho estava à cata de pequenos besouros que eram atraídos pela luz. Enquanto a turma, entre gritos de espanto e medo, se refugiava num canto da sala, a professora tomou o sapo em suas mãos e delicadamente o conduziu para fora do prédio. Havia temor de que o contato com o sapo poderia liberar veneno. A aula era de língua inglesa, mas uma atitude correta da professora, mudou o comportamento da turma em relação aos sapos.
Os episódios mencionados nos mostram claramente que algo precisa ser feito na base educacional. Todos os alunos de um curso superior, antes estudaram alguma coisa sobre zoologia. O comportamento humano em relação aos animais silvestres deve ser repensado nos meios de ensino. Só a teoria não basta.
Foto: Jarbas Felício Cardoso
Um comentário:
Lendo essa matéria sobre a relação das pessoas com os animais, lembrei-me de um fato que ocorreu dias atrás com meu vizinho. Ele apareceu na frente de casa apavorado com a quantidade de filhotes de cobras que havia no seu pátio. Olhando as ditas "cobras" mais de perto, logo verifiquei que seu corpo era formado por anéis, e que não se tratavam de serpentes, mas de minhocas! O vizinho quase deu um grito quando percebeu que eu e minha filha de sete anos colocamos os animais na palma da mão para examiná-los. Após explicarmos a ele, acalmou-se, mas ainda ficou ressabiado com os tais bichos.
Imfelizmente, muitas pessoas apresentam esse temor em relação aos animais, achando que devem ser mortos a qualquer custo.
É claro que muitos animais possuem peçonha, e não se deve pegá-los sem conhecê-los, mas esse é um mecanismo de defesa, e não é justificativa para sair aniquilando todos eles. Por isso é importante o estudo das ciências naturais nas escolas, conhecer os animais, seus habitats, sua função no ecossistema.
Pense nisso...
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