Por Darci Bergmann
Getúlio Vargas, quando presidente do Brasil, criou a Petrobrás. Isto foi depois de uma grande mobilização nacional para manter nas mãos do Estado a produção do petróleo. O presidente cunhou a frase “o petróleo é nosso”, pois entendia que o assunto tinha a ver com a soberania nacional. De fato o petróleo – o ouro negro – desencadeou a cobiça das grandes corporações onde quer que fosse encontrado. Nos Estados Unidos da América os trustes ligados ao petróleo têm forte representação no congresso. Assim como o setor do carvão mineral.
Em que pese a importância do petróleo na movimentação da frota de centenas de milhões de veículos automotores no planeta, em alguns países o seu preço é menor que o da água potável. Portanto, o valor relativo da água é maior. E fácil de compreender isso. A falta repentina de petróleo provocaria um caos planetário. Mas o que seria se faltasse água potável? Quantas horas uma pessoa resiste sem água? Pois água é uma questão vital. Por isso mesmo não deveria ser vista apenas como uma simples mercadoria.
Nestes tempos de globalização grupos privados apostam nos chamados bens essenciais – água e alimentos. A produção de comida faz parte do agronegócio e movimenta uma grande cadeia de bens e serviços.
O fornecimento de água potável está ligado ao setor de saneamento. Empresas privadas querem abocanhar esse filão. Para isso, tentam desqualificar as empresas estatais, influenciando a opinião pública. Ardilosamente apregoam problemas na coleta e tratamento do esgoto cloacal, que de fato existem ainda em muitas cidades. Isto confunde muitas pessoas que ligam a questão dos esgotos com o fornecimento de água. Se essas corporações privadas realmente têm condições de resolver a questão da coleta e tratamento do esgoto cloacal, que se lhes transfira participação nesse setor.
Por outro lado deveria permanecer nas mãos do Estado o serviço de fornecimento de água, um bem público vital. Em países onde a água foi transformada em fonte de lucro por empresas privadas, as populações estão sendo penalizadas com tarifas absurdas. Na cidade de Paris, o serviço voltou às mãos estatais. Na Itália, a população, em referendo, votou maciçamente contra a privatização dos serviços de fornecimento de água.
Agora os políticos brigam pelos recursos do petróleo. Querem repartir o bolo entre os estados. Alguns invocam a soberania nacional. E água potável, um bem ainda mais valioso que o petróleo, não é também uma questão de soberania nacional? Quiçá não prospere uma campanha do tipo “o petróleo é nosso, a água é deles”.
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