Os índios já ocupavam todo o território brasileiro, quando os
colonizadores portugueses aqui chegaram. Depois, foi a vez de africanos,
trazidos como escravos e de levas de imigrantes. O choque de culturas era
evidente. Os índios, sem anticorpos que os protegessem, em boa parte foram dizimados
pelas doenças contagiosas trazidas pelos colonizadores.
Os colonizadores foram expandindo as suas áreas
de exploração agropastoril e os índios recuaram cada vez mais. Some-se a isso as cidades, a
mineração, as obras de infra-estrutura, tais como estradas e, mais recentemente,
as hidrelétricas. As diversas nações indígenas
dispersas nunca formaram um estado de fato, embora tivessem um território
imenso à sua disposição. O estado surgiu como extensão dependente de Portugal,
depois como país independente – o Brasil. A implantação do estado, em terras
que foram dos índios, muda a realidade. O estado, entre outras atribuições, é
responsável por administrar o território reconhecido pelos outros países, bem
como estabelecer as normas pertinentes à convivência entre as diversas etnias
que compõem a sua população, inclusive as indígenas.
Por quase dois séculos, o estado falhou na questão indígena.
A cultura civilizatória e de expansão populacional, trazida de fora, exigiu
cada vez mais terras e estas foram arrebatadas dos índios. E o estado também é
responsável pelas terras que repassou aos colonizadores, legitimando-as com
escrituras públicas. O quadro hoje é o de nações indígenas fragilizadas e dispersas
em busca de um modelo de sobrevivência que não é, e nunca foi, aquele desejado
pelos colonizadores que formaram o estado. A maior parcela da população atual
está forjada pela civilização que lhe incutiu o progresso como premissa maior,
baseada na utilização intensiva dos recursos naturais, ali incluída a terra
como meio de produção. Os índios se
tornaram minoria e perderam boa parte da sua cultura, quando assimilaram costumes
dos colonizadores. Até caçam animais com armas de fogo e fazem comida em
panelas de alumínio.
O estado brasileiro é resultado de uma civilização que tem
uma cultura oposta à dos índios. Por isso, a tutela dos índios pelo estado é uma
balela, é uma mentira desmentida pelos fatos. Vejamos o que acontece com as
usinas hidrelétricas, em pleno coração da Amazônia, praticamente o último
reduto indígena. O desrespeito é total. A legislação que prevê consulta prévia
aos povos indígenas e ribeirinhos, nas áreas afetadas, é simplesmente ignorada
pelo governo. Mais conflitos à vista, numa versão moderna do tratamento que
sempre foi dispensado aos índios do Brasil.
A arrogância do estado também faz vítimas entre os não
indígenas que, por décadas, adquiriram terras com a supervisão e até incentivo
oficial. São proprietários rurais que alavancam a produção e geram alimentos,
que os índios não têm condições de produzir em montante que abasteça a
população brasileira. Alegar que estão em áreas indígenas e ameaçá-los de
despejo com indenizações miseráveis, só cria um clima mais tenso. E não resolve
o problema dos índios. O que ajuda a resolver a questão indígena é o estado
brasileiro parar com as obras faraônicas das hidrelétricas, que visam gerar
energia barata para as grandes mineradoras, verdadeira sangria dos cofres
públicos. O maior gerador de conflitos é o próprio governo com a sua gastança
em mega-projetos que desalojam centenas de milhares de índios e produtores
rurais.
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