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1 de abril de 2013

Florestas artificiais ameaçam biodiversidade do Pampa






Em estados como Mato Grosso e Pará, a Floresta Amazônica está sendo transformada em pasto. No Rio Grande do Sul ocorre o problema inverso: a vegetação campestre dos pampas - que há séculos convive em harmonia com a pecuária - está sendo dizimada para dar lugar a florestas plantadas pelo homem.



O impacto visual da destruição pode ser maior na Amazônia, mas se engana quem pensa que a perda biológica no Bioma Pampa é menor. Segundo levantamento coordenado pela professora Ilsi Iob Boldrini, daUniversidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), os campos sulinos concentram uma diversidade vegetal três vezes maior que a da floresta, quando se leva em conta a proporção da área ocupada por cada bioma.

Os dados foram apresentados no segundo evento do Ciclo de Conferências 2013 do Biota Educação, organizado pelo Programa Biota-Fapesp, que teve como tema o Pampa.

Com 176 mil km², o bioma era considerado parte da Mata Atlântica até 2004. Originalmente, ocupava 63% do território gaúcho. Hoje, apenas 36% dessa área ainda está coberta pela vegetação original.

"A paisagem campestre pode parecer homogênea e pobre para quem não conhece, mas nesse pequeno remanescente do bioma mapeamos 2.169 táxons -- a maioria espécies diferentes, pertencentes a 502 gêneros e 89 famílias. Desses, 990 táxons são exclusivos do Pampa. É um número muito grande para uma área tão pequena. No Cerrado, por exemplo, são 7 mil espécies em 3 milhões de km²", afirmou Boldrini.

Segundo a pesquisadora, aproximadamente 1 milhão de hectares -- ou 25% do Bioma Pampa -- foi ocupado nos últimos cinco anos por florestas de eucalipto e de pinus, que visam a abastecer a indústria de papel e celulose.

Poucas plantas nativas sobrevivem debaixo das árvores, pois há pouca luz disponível e as espécies de campo aberto precisam de muito sol. "Quando as árvores forem cortadas, restarão apenas os tocos e um solo descoberto -- ambiente propício para espécies invasoras como o capim-annoni ou a grama-paulista, que são muito fibrosas e não servem para pasto", disse.

Mas, segundo Boldrini, o mais antigo e ainda hoje o principal fator de destruição do Pampa é a agricultura. "As plantações de soja e trigo nas terras mais secas e as plantações de arroz nas áreas úmidas, próximas a rios. O cultivo começou no planalto e está se espalhando para todo o Pampa, embora a vocação da região seja para a pecuária", argumentou.

Mesmo a criação de gado para corte, introduzida no Rio Grande do Sul pelos jesuítas ainda no século XVI, tem se tornado uma ameaça por falta de manejo adequado.

"Os produtores usam uma carga animal muito alta. Como consequência, o campo fica baixo e falta pasto no inverno. Eles então aplicam herbicidas para eliminar a vegetação nativa e abrir espaço para plantar espécies hibernais exóticas, como azevém, trevo branco e cornichão", alertou Boldrini.

A prática não só ameaça a biodiversidade local, como contamina o solo e a água e ainda diminui a produtividade dos pecuaristas. O ideal, segundo Boldrini, seria ter uma oferta de forragem de três a quatro vezes maior do que o gado é capaz de consumir. Dessa forma, o animal escolhe as espécies mais adequadas para sua alimentação, desenvolve-se mais rápido e se reproduz de forma mais eficiente.

"A produtividade média do estado hoje é de 70 kg de carne por hectare ao ano. Com o manejo correto, pode passar para 200 kg a 230 kg por hectare ao ano. Além disso, a qualidade da carne também melhora. Basta cuidar para o animal não liquidar com a vegetação", disse.

SOS Pampa

Segundo dados do Ministério do Meio Ambiente (MMA), o Pampa é hoje o segundo bioma mais devastado do país -- atrás apenas da Mata Atlântica. Entre as espécies vegetais endêmicas da região já descritas, 151 estão ameaçadas de extinção.

"Algumas plantas, como a Pavonia secreta, existem apenas em uma pequena região do Pampa. No momento em que aquele lugar for devastado, elas vão se extinguir", disse Boldrini.

O desaparecimento da flora local ameaça não apenas a fauna a ela associada como também os mananciais da região, alertou a pesquisadora.

"As nascentes de todos os afluentes e subafluentes dos grandes rios do estado, como Jacuí, Ibicuí e Uruguai, estão completamente interligadas à vegetação de campo. Se não cuidarmos da periferia dessas nascentes, não adianta plantar pinus depois", afirmou a professora.

Desconhecimento

Ainda durante o evento, Márcio Borges Martins, da UFRGS, afirmou que um dos principais obstáculos à preservação do Pampa é o desconhecimento da biodiversidade local. "Há muitas pesquisas sendo feitas, mas quase nada publicado. Isso dificulta a definição de áreas prioritárias para a conservação", disse.

A falta de informações sobre as espécies de animais da região também foi destacada por Eduardo Eizirik, da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS), que apresentou a palestraOrigem, evolução e diversidade da fauna de vertebrados do Bioma Pampa.

Organizado pelo Programa Biota-Fapesp, o Ciclo de Conferências 2013 tem o objetivo de contribuir para o aperfeiçoamento do ensino de ciência. A terceira etapa será no dia 18 de abril, quando estará em destaque o "Bioma Pantanal".

Em 16 de maio de 2013, o tema será "Bioma Cerrado". Em 20 de junho, será abordado o "Bioma Caatinga". Em 22 de agosto, será a vez do "Bioma Mata Atlântica". Em 19 de setembro, "Bioma Amazônia". Em 24 de outubro, o tema será "Ambientes Marinhos e Costeiros". Finalizando o ciclo, em 21 de novembro, o tema será "Biodiversidade em Ambientes Antrópicos -- Urbanos e Rurais". 

FONTE

Agência Fapesp
Karina Toledo - Jornalista
Telefone: (11) 3838-4000 
Fax: (11) 3838-4117 
E-mail: agencia@fapesp.br

Links referenciados

Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
www.pucrs.br

Universidade Federal do Rio Grande do Sul
www.ufrgs.br

Ministério do Meio Ambiente
www.mma.gov.br

Ciclo de Conferências 2013
www.fapesp.br/biotaeduc

Márcio Borges Martins
lattes.cnpq.br/0479990476812992

Programa Biota-Fapesp
www.fapesp.br/biota

Ilsi Iob Boldrini
attes.cnpq.br/3170421043879122

agencia@fapesp.br
agencia@fapesp.br

Agência Fapesp
www.agencia.fapesp.br

Eduardo Eizirik
lattes.cnpq.br/3626004211018550

Pavonia secreta
www.ufrgs.br/fitoecologia/florars/open_s
p.php?img=6208

Bioma Pampa
pt.wikipedia.org/wiki/Pampa

12 de março de 2013

Em Defesa dos Nossos Rios



Ambientalistas gaúchos se movimentam para defenderem o Rio Uruguai e outros rios contra as grandes obras previstas no PAC. Veja a matéria a seguir, encaminhada pela ambientalista Edi Fonseca.

Tendo em vista a aproximação do Dia Internacional de Luta contra o Impacto das Grandes Barragens (14/03), entidades e movimentos ambientalistas, incluindo grupos de estudantes, decidiram esta semana, em reunião realizada na sede do InGá, que realizarão uma manifestação em Defesa dos Nossos Rios e contra as barragens do PAC no Rio Grande do Sul. A atividade ocorrerá em frente do Palácio Piratini, no dia 12 de março (terça-feira) a partir das 13h30min.
O movimento pretende manifestar-se contestando as grandes barragens de irrigação e hidrelétricas que vêm causando inúmeros impactos ambientais, sendo seguidas de incontáveis irregularidades no licenciamento ambiental. Apesar disso, estas obras do PAC estão recebendo atenção especial dos governos federal e estadual para a instalação de um monitoramento articulado no RS, para seu “destravamento” e “aceleração”.
O evento aproveitará que a Ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão, Miriam Belchior, vem à capital gaúcha para participar da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES-RS), presidida pelo governador Tarso Genro, ocasião que divulgará aos conselheiros os investimentos federais das obras PAC no RS.
Os ambientalistas contestam, mais uma vez, a forma da elaboração dos projetos de infraestrutura, geralmente visando os interesses mais imediatistas de alguns setores econômicos, semelhante à maneira autoritária daqueles montados em pleno governo militar, na década de 70. Assim, não são levadas em consideração as características locais diferenciadas (sociobiodiversidade), com frequente atropelo tecnocrático e falta de diálogo com as comunidades, fomentados pela apologia pró-grandes obras, como ocorria no século passado. Essas, geralmente, carecem de estudos de viabilidade ambiental, recorrentemente trazem grandes impactos prejudiciais à natureza, às populações e ao erário público, pelo desvio e superfaturamento de recursos levado a cabo por grandes empreiteiras responsáveis pela construção de empreendimentos que recebem recursos públicos de programas considerados prioritários, como o PAC.
Cobram, em contraponto, o Monitoramento da situação socioambiental do Estado do RS e do Brasil, considerada calamitosa pelo setor ambientalista. Para isso, argumentam que os rios estão cada vez mais crivados de empreendimentos e que 2/3 das obras das hidrelétricas do PAC no Brasil estão sendo implementadas justamente em Áreas Prioritárias para a Conservação da Biodiversidade (APCBio, MMA, 2007), ¼ em áreas caracterizadas no grau mais elevado – de Extrema Importância – com o deslocamento compulsório de mais de 150 mil pessoas, em parte povos indígenas, com desaparecimento de peixes nativos de piracema, importantes para os ribeirinhos, como o dourado, o surubim e o grumatã. Por outro lado, lembram também do comprometimento da qualidade da água, ar e solo pela agricultura empresarial brasileira de exportação, que consome enorme caudal de água e utiliza a maior quantidade de agrotóxicos de todo o Planeta, sem falar na consequência sobre os rios poluídos que agonizam, como o Sinos e o Gravataí, praticamente sem programas consistentes de reversão de suas situações críticas.
Entre as obras contestadas estão as megabarragens de irrigação do PAC Taquarembó e Jaguari, em pleno bioma Pampa, que receberam ações civis públicas por parte de entidades ambientalistas e ações judiciais e inquéritos por parte do Ministério Público, devido a inúmeras irregularidades. As duas barragens causarão o desmatamento conjunto de mais de 1.100 hectares de matas em galeria e outros milhares de hectares de campos nativos, destinadas a irrigar monoculturas (arroz, eucalipto, etc.) de algumas dezenas de grandes propriedades, com valores triplicados. Outra grande crítica dos ambientalistas é a forma de tratamento “fato consumado” do Complexo Binacional das Hidrelétricas Garabi-Panambi que, mesmo carecendo de estudos de viabilidade e de licenças ambientais, recebeu no final de 2012 um decreto do governador do Estado promovendo a criação de um Grupo de Trabalho e um Fórum Estadual de promoção da implementação destes projetos, incluindo o órgão ambiental que, além do Ibama, participa da emissão das licenças após os estudos ambientais (EIA-RIMA) ainda nem realizados.
O movimento ambientalista gaúcho vem, há anos, apelando para o diálogo com os governos, apesar das tentativas frustradas por promessas evasivas e forma dissimulada por parte de seus agentes. Entre os temas prioritários reivindicados para o debate estão o frequente desrespeito à legislação ambiental, a ausência de estudos de capacidade de suporte das bacias e dos ecossistemas fluviais frente ao conjunto crescente de barragens, e extinção de espécies, a proteção necessária das ACPBio (MMA, 2007), bem como uma discussão franca sobre os temas do chamado crescimento econômico e desenvolvimento, que respeitem as vocações locais e a biodiversidade. O que também é altamente preocupante aos ambientalistas é que essas obras são recheadas de recursos vultosos, e levadas a cabo por grandes empreiteiras (algumas concessionárias) financiadoras de milionárias campanhas eleitorais e que, ademais, recebem recursos facilitados do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), fato que depõe ainda mais contra o processo democrático.
Movimento Rio Uruguai Vivo, Apedema-RS, Mogdema, DAIB