25 de maio de 2011

Aprovação do Código Florestal pela Câmara aumenta pressão sobre Dilma

MEIO AMBIENTE | 25.05.2011


Após adiamentos, debates acalorados e ataques entre políticos, o texto-base que altera o Código Florestal brasileiro passou pelo primeiro obstáculo. Antes de chegar à presidente, a controversa lei passará pelo Senado.

Depois de semanas de suspense e conflitos, nas primeiras horas desta quarta-feira (25/05), a Câmara dos Deputados aprovou o texto-base do Código Florestal brasileiro, por 410 votos a favor e 63 contrários. Mas a novela ainda não terminou. O texto precisa agora ser aprovado pelo Senado para, então, seguir para a ratificação da presidente, Dilma Rousseff.
De todas as polêmicas em torno da lei que regulamenta a maior extensão florestal do mundo, a emenda 164, sobre a área de preservação permanente (APP), foi a que levantou o debate mais acalorado. Segundo a lei até agora vigente, estas faixas de terra – localizadas em margens de nascentes, córregos, rios, lagos, represas, no topo de morros, em dunas, encostas, manguezais, restingas e veredas, inclusive em áreas urbanas – devem permanecer intocadas.
Mas para Marina Silva, senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, todo o texto-base redigido pelo deputado Aldo Rebelo é problemático. "Lamentavelmente, o que saiu foi mais um código agrário do que um código florestal, permitindo pecuária, plantio de eucaliptos e de pinos e agricultura às margens de rios, topos de morros e nas nascentes. É um retrocesso em todos os sentidos", lamentou.Marina Silva: 'texto-base é problemático'Marina Silva: 'texto-base é problemático'
164, o centro da disputa
A controversa emenda – aprovada por 273 votos a favor, 182 contra e duas abstenções – vai perdoar quem nunca obedeceu a esse parágrafo do código. Assim, as atividades agrícolas e pecuárias em áreas de preservação permanentes já ocupadas serão regularizadas.
Segundo o texto, o perdão só valerá para aqueles que desmataram APPs até 22 de julho de 2008 – data de publicação do segundo decreto que regulamentou as infrações contra o meio ambiente. A emenda também dá aos estados o poder de estabelecer outras atividades que possam justificar a regularização de áreas desmatadas, o que foi recebido a contragosto pelo governo federal, que reivindica poder único de decisão nesse quesito.
Antes da votação, o líder da bancada governista na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza, alertou que a presidente vetará a liberação de atividades nas APPs caso o texto não seja mudado no Senado. Estima-se que 20% do território brasileiro estejam em áreas de preservação permanente.
A ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, disse que "é clara a posição da presidenta Dilma. Ela não aceita anistia a desmatador. Ela não aceita desmatamento em áreas de preservação permanente. Tem que recuperar reserva legal e tem que ter manejo. Tem que entender a situação da agricultura familiar diferenciada, que no Sul e no Sudeste é diferente da da Amazônia".
Elke Mannigel, coordenadora dos projetos internacionais da fundação alemã OroVerde e que já trabalhou na Amazônia, teme o futuro da floresta: "Para a preservação florestal, é um retrocesso. O Brasil estava na frente antes, com as leis que tinha, que eram muito mais fortes". Não só o perdão dos criminosos ambientais é um ponto crítico, mas a "licença para desmatar" pode colocar em cheque o compromisso assumido pelo governo de reduzir a derrubada da Amazônia, avalia a especialista.
"Campanha nacional pelo veto"
Marina Silva divide a opinião de Mannigel: "O desmatamento, que aumentou em 450% no estado o Mato Grosso só pela expectativa da aprovação da lei, agora vai ficar fora de controle". Ainda há a discussão no Senado, mas nessa esfera o debate é ainda mais difícil do que na Câmara dos Deputados.
A senadora diz que atuará fortemente para alertar os colegas a corrigir todos os "erros no texto" aprovado pelos deputados. "Se isso não for possível, restará fazer uma campanha nacional pelo veto. Porque no segundo turno, quando a presidente Dilma buscou meu apoio, eu encaminhei uma série de pontos pedindo o comprometimento dela. E um dos compromissos que ela assumiu foi vetar qualquer lei que significasse aumento de desmatamento."Desmatamento na AmazôniaDesmatamento na Amazônia
O defensor do projeto
O relator Aldo Rebelo argumenta que trabalhou a favor dos pequenos produtores e da agricultura do país: "O Brasil precisa defender os seus agricultores da concorrência interesseira da agricultura subsidiada dos países ricos, que, lamentavelmente, têm aliados declarados ou ingênuos. Não imagino na Europa defensores da agricultura francesa sendo vaiados por seus compatriotas, nem defensores da agricultura norte-americana sendo vaiados por seus conterrâneos".
A legislação florestal brasileira, de 1965, foi sendo alterada por medidas provisórias, decretos, portarias ministeriais, resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente, entre outros. Segundo Rebelo, "o país tem hoje 16 mil normas federais, estaduais e municipais, que tratam do mesmo assunto".
O Código Florestal prevê duas estruturas de proteção ao meio ambiente: as áreas de preservação permanentes e a reserva legal, área de mata nativa dentro das propriedades rurais que não pode ser desmatada. No novo texto, os índices de preservação da reserva legal dentro de uma propriedade se mantiveram: na Amazônia, 80% das terras em áreas de floresta devem permanecer intactas; 35% em áreas de cerrado; e 20% em campos gerais. Nas demais regiões do Brasil, 20%.
O desmatamento ilegal nas APPs e de reserva legal na Amazônia é o crime mais comum contra o Código Florestal, segundo dados do Ibama, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis. Até 22 de julho de 2008, foram registradas 13 mil multas pelo órgão, no valor equivalente a 2,4 bilhões de reais.
Conflito com marca de sangue
Enquanto os deputados aprovavam as mudanças no Código, um crime era cometido no Assentamento Agroextrativista Praia Alta Piranheira, em Nova Ipixuna, no sul do Pará. Um assassinato provavelmente motivado pelo mesmo debate que se dava em Brasília. José Claudio Ribeiro e sua esposa, Maria do Espírito Santo, foram atacados por dois pistoleiros, segundo informações divulgadas pelo Ministério Público.
Ele vivia da extração de castanhas e outras frutas na floresta, morava num local protegido por lei onde corte de árvores era ilegal. Durante uma palestra no TEDxAmazônia, em outubro de 2010, Claudio contou que se negava a negociar com os madeireiros da região, que denunciava os crimes e que, por isso, recebia ameaças. Numa de sua falas, ele previu: "A mesma coisa que fizeram no Acre com Chico Mendes, querem fazer comigo".
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer
_____________________________________________________________________________

Mais sobre o tema:


MEIO AMBIENTE | 26.05.2011

Nova lei ambiental pode prejudicar credibilidade brasileira no exterior

Com a aprovação do novo Código Florestal, a produção agrícola no Brasil pode voltar a ser associada ao desmatamento, já que a derrubada de árvores pode aumentar com as mudanças na lei ambiental.

A mesma plateia que aplaudiu as iniciativas brasileiras para frear o desmatamento e impulsionar o mundo rumo ao desenvolvimento sustentável, agora volta a olhar o cenário com preocupação.
"O afrouxamento das leis ambientais para favorecer a agricultura terá uma repercussão negativa. Afinal, o aumento da produção (agrícola e pecuária) terá um custo ambiental à custa da Amazônia, que tem toda essa percepção no exterior", avalia Fabíola Zerbini, secretária-executiva da Forest Stewardship Council, FSC, no Brasil.
A organização é baseada em Bonn, na Alemanha, e no Brasil é conhecida como Conselho Brasileiro de Manejo Florestal. O selo da FSC é encontrado em diversos produtos nos supermercados europeus, originários de florestas com manejo certificado – com garantia de boas práticas ecológicas, benefícios sociais e viabilidade econômica.
A Europa, que recebe boa parte dos produtos agrícolas e da carne de origem brasileira e exige cada vez mais responsabilidade ambiental, pode voltar a ficar desconfiada. Em conversa com a Deutsche Welle, Marina Silva faz uma previsão pouco animadora.
"O desmatamento vai aumentar, com prejuízo para as florestas, para a biodiversidade, para os recursos hídricos e prejuízo duplo para a agricultura, porque mina as bases naturais do nosso desenvolvimento e também porque, novamente, o agronegócio brasileiro vai ser associado ao desmatamento", advertiu nesta quarta-feira (25/05) a senadora e ex-ministra do Meio Ambiente.
Amarras para agricultura
O tema é controverso. Flávio Viegas, presidente da Associtrus, Associação Brasileira de Citricultores, diz que o setor é a favor do novo texto, aprovado na madrugada desta quarta-feira. "E rejeitamos a pecha de antiambientalistas e destruidores da natureza. A nossa posição é a do Brasil, de forma geral", disse à Deutsche Welle.
O setor é responsável por 60% da produção mundial de suco de laranja, e faz do Brasil o campeão de exportações do produto. Segundo Viegas, o cenário brasileiro de citricultura é composto por 90% de pequenos produtores, cujas propriedades têm menos de 60 hectares.
Na visão da Associtrus, o Código Florestal vigente, de 1965, destoa da realidade da agricultura brasileira. "E inviabiliza muitas atividades. Em Santa Catarina, por exemplo, as maçãs são plantadas em encostas. O café é plantado em região de encosta em Minas Gerais. Quanto à produção de leite, os pastos ficam em encostas de montanhas", argumenta Viegas, se referindo à proibição de atividade econômica em área de proteção permanente, APP, conforme a lei ainda vigente e prestes a mudar.
Entre os produtores de laranja, o desrespeito mais comum ao código é a ausência de reserva legal. Segundo a legislação, toda a propriedade é obrigada a manter uma área de mata nativa que não pode ser desmatada. O novo texto aprovado pelos deputados isenta os pequenos produtores da obrigatoriedade de recompor a reserva legal em propriedades de até quatro módulos fiscais – um módulo pode variar de 40 hectares a 100 hectares.Plantação de soja no Mato Grosso Plantação de soja no Mato Grosso
Na contramão
Marina Silva não se deixa convencer pelos argumentos dos produtores e vê, ao longo de todo o texto da proposta do novo código, pequenos incentivos para o aumento do desmatamento. A suspensão do embargo automático, por exemplo, é um dos pontos citados pela ex-ministra.
Segundo o decreto assinado ainda no governo Lula, quando o Ibama constatava um desmatamento ilegal, a área em questão era embargada. "Quem plantasse, comprasse e transportasse os produtos dessa área era passível também de ser punido. E automaticamente os créditos para os embargados eram vedados. Agora isso tudo está suspenso."
Para Flávio Viegas, a legislação atual beira a inviabilidade. "Gostaríamos que esse Código Florestal brasileiro fosse aplicado em todos os países do mundo, inclusive na Europa, o que seria inviável. O nível de proteção no Brasil é muito superior ao da Europa. "A representante da FSC chama a atenção para outro caso polêmico – e que envolve os europeus: "A China nunca priorizou o meio ambiente, mas todo mundo continua comprando os produtos agrícolas chineses."
No caso do Brasil, que propaga internacionalmente uma postura mais sustentável, o caso pode ser diferente. "Se haverá efeito comercial, não podemos dizer. Mas pode ser que venham retaliações do campo público", supõe Fabíola Zerbini.
A decisão final sobre as alterações do Código Florestal vai passar pelas mãos de quem é considerado o maior plantador de soja do mundo. Blairo Maggi, empresário e senador, foi eleito pelo Mato Grosso – estado responsável por 480 km2 do total de 593 km2 desmatados na Amazônia entre março e abril de 2011, segundo dados de satélites do Inpe. O Senado prevê que a discussão do texto possa durar até quatro meses, antes de seguir para a sanção da presidente, Dilma Rousseff. 
Autora: Nádia Pontes
Revisão: Roselaine Wandscheer
Fonte: DW (Deutsche Welle)
_____________________________________________________________________
Alterações no Código Florestal:

O que dizem os especialistas

"A partir de agora, a Reserva Legal poderá passar para 50% em muitos Estados e conter espécies exóticas. Ou seja, na prática a Reserva Legal vai passar de 80% não para 50%, mas para 25%. Estamos dizendo que 55% poderá ser desmatado legalmente. É isso o que este Código prepara para a Amazônia"Jean Paul Metzguer, professor da Universidade de São Paulo (USP)

"Se a Dilma Rousseff não vetar em nada o Código, como aprovado pela Câmara dos Deputados, há o risco de aumento do desmatamento. A sensação de impunidade mostra que o desmate pode continuar. A presidente precisa entrar em campo, porque até agora não entrou"
 Paulo Barreto, pesquisador do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)

"A votação do Código e aprovação dele como está, em relação à Amazônia, representa a perda de um fantástico potencial capaz de melhorar a vida da maior parte da população regional e também perda de uma enorme riqueza para o Brasil"
 Bertha Becker, professora emérita da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e integrante da Academia Brasileira de Ciências 

"O Brasil é um país injusto. Não merece o sangue derramado por brasileiros que protegem suas florestas. A aprovação do novo Código Florestal no mesmo dia do assassinato de duas lideranças extrativistas reativa as mesmas causas que levaram ao assassinato de Chico Mendes, o desmatamento em áreas de floresta habitadas e protegidas. É urgente encontrar um equilíbrio entre meio ambiente e agricultura para evitar a proliferação de conflitos na Amazônia".
Mary Allegretti, antropóloga e professora visitante das universidades Yale, Chicago, Florida e Wisconsin-Madison, nos EUA.
Fonte:O Eco
_____________________________________________________________________________

Infográfico: Mudanças no Código Florestal


A Câmara dos Deputados aprovou por ampla maioria nesta terça-feira o texto que altera o Código Florestal, depois de intensas negociações entre o relator, deputado Aldo Rebelo (PCdoB), o governo e parlamentares.

O texto será encaminhado ao Senado. Se for modificado pelos senadores, volta à Câmara. Se aprovado, segue para sanção presidencial.

Confira como é o Código atualmente e como fica após as mudanças na lei. 


Fonte: Yahoo

13 de maio de 2011

Glifosato 'transmite' AIDS para plantas, compara pesquisador

12 de maio de 2011

Por Jill Richardson*
Da AlterNet

O Dr. Don Huber não buscava fama quando ele discretamente escreveu uma carta confidencial ao  Secretário de Agricultura, Tom Vilsack, em janeiro deste ano, alertando Vilsack sobre evidências preliminares de um organismo microscópico que aparece em altas concentrações no milho e soja geneticamente modificado Roundup Ready e "parece ter impacto significativo na saúde das plantas, animais e, provavelmente, nos seres humanos."

Huber, um professor aposentado em fitopatologia pela Universidade de Purdue e coronel do Exército dos EUA, pediu ajuda ao Departamentyo Norte Americano de Agricultura [USDA] para pesquisar o assunto e sugeriu que Vilsack aguardasse até que a pesquisa estivesse concluída, antes de prosseguir com a desregulamentação da alfafa Roundup Ready. Mas cerca de um mês após o envio da carta, o seu conteúdo vazou na internet, e logo se tornou um fenômeno da web. 


Huber não estava disponível para responder às perguntas da mídia nas semanas que se seguiram, portanto, incapaz de defender-se quando vários colegas de Purdue refutaram publicamente as suas acusações sobre o herbicida amplamente utilizado da Monsanto, Roundup (glifosato) e culturas de Roundup Ready.

Quando a carta foi finalmente reconhecida pela grande mídia, foi sob títulos como "cientistas questionam as declarações da Carta Biotec", observando que a popularidade da carta na internet "suscitou preocupação entre os cientistas, de que o público iria acreditar que a sua afirmação infundada era verdade. "
Agora, Huber finalmente falou tanto em uma segunda carta, enviada a "um grande número de indivíduos em todo o mundo" explicando e oferecendo fundamentos à sua primeira carta, como em entrevistas.
Embora sua primeira carta descrevesse uma pesquisa que ainda não havia sido concluída ou publicada, a sua segunda carta já cita mais evidências sobre o glifosato e as culturas geneticamente modificadas com base em estudos já publicados e revisados por colegas.
A base das duas cartas e grande parte da pesquisa é sobre o herbicida glifosato. Comercializado primeiramente em 1974, o glifosato tem sido o herbicida mais utilizado no mundo por um bom tempo. O glifosato foi considerado um produto relativamente benigno, porque se entendia que ele se quebra rapidamente no meio ambiente e seus danos são pouco mais do que causam as próprias ervas daninhas que deveria matar. 


Segundo o Centro Nacional de Informação sobre Pesticida [National Pesticide Information Center], o glifosato impede que as plantas produzam uma certa enzima. Sem essa enzima, elas são incapazes de produzir três aminoácidos essenciais e, portanto, não conseguem sobreviver.

Uma vez aplicado, o glifosato liga-se ou às partículas do solo (e, portanto, é imobilizado e já não pode causar qualquer dano à planta) ou os microorganismos quebram o glifosato em amônia e dióxido de carbono. Muito pouco glifosato corre para os veios de água . Por estas razões, o glifosato era visto como mais ou menos inofensivo: você pulveriza as pragas, elas morrem, o glifosato vai embora, e não há mais danos ao meio ambiente.

Plantas com Aids

Mas Huber diz que isso não é verdade. Em primeiro lugar, ele aponta, começaram a surgir evidencias em 1980 de que “o que o glifosato faz é essentialmente  transmitir AIDS para as plantas". Assim como a Aids, que paralisa o sistema imunológico do ser humano, o glifosato torna as plantas incapazes de criar defesas contra patógenos no solo.

Sem os seus mecanismos de defesa funcionando, as plantas sucumbem aos patógenos do solo e morrem. Além disso, o glifosato tem um impacto sobre os microrganismos do solo, ajudando uns e prejudicando outros. Isto é potencialmente problemático para os agricultores, já que a última coisa que se deseja é um acúmulo de patógenos no solo onde há cultivos. 


O destino do glifosato no meio ambiente também não é tão benigno como se pensava. É verdade que o glifosato se liga ao solo ou é quebrado rapidamente pelos micróbios. O glifosato liga-se a qualquer íon com carga positiva no solo, e como conseqüência faz muitos nutrientes (como ferro e manganês) menos disponíveis para as plantas.


Além disso, o glifosato permanece no solo ligado a partículas por um longo tempo e pode ser liberado mais tarde através de práticas agrícolas corriqueiras, como adubação fosfatada. "Não é incomum encontrar 1-3 kg de glifosato por acre em solos agrícolas no Meio - Oeste", diz Huber, ressaltando que isso representa 1-3 vezes a quantidade normal de glifosato aplicado a uma área agrícola em um ano. 

Huber diz que estes fatos sobre o glifosato são muito bem conhecidos cientificamente, mas raramente citados. Quando questionado sobre isso, ele respondeu que seria mais difícil para uma empresa obter a aprovação do glifosato para utilização ampla se fosse sabido que o produto pode aumentar a severidade das doenças em cultivos comuns, bem como as ervas daninhas que deveria matar. Aqui nos EUA, muitos jornais acadêmicos não estão interessadas em publicar estudos que fazem essa sugestão  sobre o glifosato, um grande número dos estudos que Huber cita foram publicados no Jornal Europeu de Agronomia. 

Se as alegações de Huber são verdadeiras, então segue-se que devem haver problemas de doenças em lavouras onde o glifosato é usado.  A segunda carta de Huber verifica isto, dizendo: "estamos tendo um grande número de problemas na produção agrícola dos EUA que parece se intensificar, por vezes estão  diretamente relacionadas às culturas genéticamente modificadas (OGM), e / ou os produtos que eles foram modificados para tolerar - especialmente aqueles relacionadas ao glifosato (o componente químico ativo no herbicida Roundup ® e versões genéricas desse herbicida). " 

Ele prossegue, dizendo: "Temos testemunhado recentemente a deterioração na saúde da planta do milho, soja, trigo e outras culturas com epidemias inexplicáveis da síndrome da morte súbita da soja (SMS), a ferrugem [Goss’ wilt] do milho, e take-all de pequenas culturas de grãos nos últimos dois anos. Ao mesmo tempo, houve um aumento da frequencia de infertilidade e [aborto] nos animais (bovinos, suínos, eqüinos, aves) que era previamente inexplicável. Essas situações ameaçam a viabilidade econômica dos produtores agrícolas e pecuários ".
Algumas das culturas que Huber apontou, o milho e a soja, são geneticamente modificadas para sobreviver à pulverização com glifosato. Outras, como o trigo e a cevada, não são. Nesses casos, o agricultor aplica o glifosato para matar as ervas daninhas, cerca de uma semana antes do plantio, mas não pulveriza a cultura em si. No caso do milho, como aponta Huber, grande parte das variedades de milho nos EUA são cultivadas usando-se técnicas de melhoramento convencional para resistir à ferrugem. No entanto, pesquisas preliminares recentes revelaram que, quando o milho transgênico é pulverizado com o herbicida glifosato, o milho torna-se suscetível à ferrugem [Goss’wilt]. Huber diz em sua carta que "Essa doença foi comumente observada em muitas plantações de milho [Roundup Ready] no Meio-Oeste dos EUA em 2009 e 2010, enquanto o milho adjacente não-geneticamente modificado teve muito pouca ou nenhuma infecção." Em 2010,  a ferrugem [Goss’ wilt] "contribuiu significativamente" para a perda de cerca de um bilhão de bushels de milho nos EUA ", apesar das condições de colheita serem geralmente boas", disse Huber. 

O tema da carta inicial de Huber é um organismo recém-identificado que parece ser a causa da infertilidade e abortos em animais. Os cientistas têm um processo para verificar se um organismo é a causa de uma doença: eles isolam o organismo, fazem uma cultura, e reintroduzem o organismo no animal para verificar se ele reproduz os sintomas da doença, e, em seguida, voltam a isolar o organismo do tecido animal. Isso já foi concluído para o organismo em questão. O organismo aparece em altas concentrações em culturas Roundup Ready. No entanto, mais estudos são necessários para entender o que este organismo é, e qual é a sua relação com o glifosato e / ou culturas Roundup Ready. 

Para poder garantir  uma pesquisa adicional necessária, Huber escreveu ao secretário Vilsack. Huber diz que ele escreveu a sua primeira carta ao secretário Vilsack com a expectativa de que ela seria enviada ao órgão competente dentro do USDA para acompanhamento, o que ocorreu.  Quando o USDA contatou Huber para obter mais informações, ele forneceu, mas ele não sabe que prosseguimento foi dado àquela informação. A carta era "uma carta pessoal pedindo uma equipe [do USDA] e financiamento", diz Huber. Dado os problemas recentes  com doenças de plantas e infertilidade e aborto de animais, ele diz que "muitos produtores não podem esperar entre três e 10 anos adicionais para que alguém encontre financiamento e um ambiente neutro" para poder concluir a pesquisa sobre esse organismo. 

Se a ligação entre o organismo recém-descoberto e a infertilidade e abortos no gado for verdade, será uma grande história. Mas já existe uma grande história aqui: a falta de pesquisa independente sobre os transgênicos, a relutância das revistas acadêmicas dos EUA em publicar estudos críticos sobre o glifosato e os organismos geneticamente modificados, e o quase total silêncio da mídia sobre a carta de Huber que vazou.
___________________________________________________________________________________________ 


*Jill Richardson é a fundadora do blog La Vida locavore e um membro do conselho consultivo de políticas da Associação de Consumidores Orgânicos. Ela é a autora de Recipe for America: Why Our Food System Is Broken and What We Can Do to Fix It.. [Receita para os Estados Unidos: Por que nosso sistema alimentar está quebrado e o que nós podemos fazer para corrigir isso].


(Tradução: Ana Amorim)

Colaboração de Ana Carolina Martins, por e-mail.

10 de maio de 2011

Arborização urbana e rural: dicas

Por Darci Bergmann


A experiência de vários  anos em arborização permite-me sugerir alguns procedimentos. Essas sugestões atendem à maioria dos casos, como veremos a seguir:

Arborização urbana: sempre é conveniente verificar a legislação do município, principalmente quando se trata de plantio de árvores em vias públicas. Nesse caso, o que mais se deve observar é a rede elétrica e a largura do passeio público. Sob a rede elétrica, a opção é por espécies arbóreas de pequeno porte. Observe as árvores que estão plantadas na cidade. Elas dão idéia da sua adaptação ou não ao ambiente urbano. Isso facilita a escolha das espécies.

Rua de Porto Alegre; Foto: Darci Bergmann



Foto: Darci Bergmann
Tamanho da cova e recuo do cordão da calçada: Como regra geral, recomenda-se que o centro da cova fique pelo menos a 0,60 m de distância do cordão do passeio público. Quanto às dimensões da cova, recomenda-se que sejam de 0,60 m de lado e 0,60 m de profundidade. Covas muito pequenas dificultam o desenvolvimento das  mudas. Geralmente o solo urbano é compactado, outras vezes recoberto com material oriundo de demolições.


Para o plantio de espécies de raízes pivotantes, é recomendável
que se faça um aprofundamento da cova em forma de 'V', como
aparece na imagem acima. Isto permite melhor
penetração da raiz principal.
Imagem: Darci Bergmann




Como melhorar o solo (substrato ) da cova: Há quem recomende a mistura de adubos minerais, mas deve-se ter muito cuidado na dose, porque eles sãos sais e, quando em excesso, podem prejudicar as mudas. Tenho conseguido bons resultados da seguinte forma: quando da abertura da cova, separar as camadas de terra. A metade de cima para um lado e a outra camada para outro lado da cova. No fundo, faço mais um corte em "V", com a largura de um palmo e mais ou menos 0,50 m de fundura. Esse cone invertido facilita o aprofundamento da raiz da muda se esta for do tipo pivotante. 
Misturo, então, a terra da primeira camada com uma porção igual de material orgânico. Este pode ser esterco de curral bem curtido, composto de lixo orgânico ou equivalente. Nessa mistura, pode-se adicionar areia, entre 10% e 20%. Farinha de osso também pode ser adicionada na base de 0,5 Kg até 1 Kg por cova. Ela não provoca 'queima' das raízes, sendo boa fonte de cálcio e de fósforo. O que não se pode dispensar é a matéria orgânica. Ela deixa o substrato mais poroso e disponibiliza nutrientes, facilitando o desenvolvimento das raízes.

Foto: Darci Bergmann

Preenchimento da cova: Agora faz-se o preenchimento da cova. Coloca-se primeiro a camada superior de terra misturada com o material orgânico. Depois se adiciona a terra da camada de baixo também misturada com material orgânico. Faz-se uma inversão da terra que saiu da cova. Agora, antes do plantio, recomendo aplicar bastante água sobre a cova preenchida. Ou então fazer uma compressão com os pés sobre o substrato. Isto faz com que o substrato fique bem assentado.
Plantio da muda: No substrato, faço uma pequena cova para alojar o torrão da muda ou a muda de raiz nua - sem torrão - observando que as raízes fiquem enterradas até pouco acima do colo da planta, ou seja, quase no mesmo nível do solo em torno da cova. Não é a muda que deve ficar lá no 
fundo da cova, mas sim as raízes que chegarão até lá com o crescimento da planta.


Imagem: Darci Bergmann

Cuidados com o sistema radicular das mudas
As mudas devem ser examinadas quanto às raízes. Se estas estiverem enroladas, deve-se proceder o corte da parte em excesso, mas preservando o torrão. Ali estão as raízes secundárias que irão suprir a planta. Raízes tipo pivotante tortas tendem a se tornar  deformadas e lenhosas, o que prejudica a planta com o passar do tempo.

Mudas com raízes fasciculadas, como as das palmeiras
Exemplos:





Foto: Darci Bergmann

Foto: Darci Bergmann



Mudas com raízes pivotantes
Exemplo um:
Raiz tipo pivotante com desvio lateral de 90º
Deve ser cortada
Fotos: Darci Bergmann


Raiz deformada suprimida, muda apta para o plantio


Exemplo dois:





______________________________________________________________

Veja também:



7 de maio de 2011

Arroz e a concentração de terras na Fronteira Oeste do Rio Grande do Sul

Por Darci Bergmann

Lavoura de arroz: Foto Darci Bergmann


A safra de arroz 2010//2011 no Rio Grande do Sul foi recorde. No entanto os produtores reclamam que os preços do produto não cobrem os custos de produção. Os silos guardam produto de safras anteriores e isto faz com que os beneficiadores forcem a baixa no preço pago aos produtores.
É a lei da oferta e da procura.  
A situação atual reflete um problema recorrente. O setor produtivo do arroz conseguiu ganhos em produtividade e também aumentou a área plantada. O consumo de arroz não aumentou nessa  proporção.
A maior produção por hectare é sempre um objetivo de quem produz. Isto deve se dar de forma equilibrada no que se refere ao binômio custo/benefício. A tecnologia atualmente disponível permite esses ganhos em produtividade. Esse fator deveria ser levado em conta para definir a área plantada com arroz. Observou-se um acréscimo de área na maioria dos municípios produtores e aí está a matemática do preço baixo.

Redução de área já foi proposta em outros tempos.
 Jovani Streck, que já foi presidente da Associação dos Arrozeiros de São Borja, chegou a propor em certa ocasião a redução da área de plantio como forma de conseguir melhores preços  no arroz. Estava certo. Mas nenhum produtor quer reduzir a área de plantio, pois sempre tem a expectativa de que na próxima safra os preços podem reagir. Essa ânsia por ganhos incertos só tende a piorar as coisas. Para os produtores e para o meio ambiente. Para os primeiros porque preços aviltados reduzem a margem de lucro e nessa condição trabalham apenas para sustentar a cadeia de insumos e aumentar a renda dos beneficiadores de arroz, os donos de engenho.
Para o meio ambiente as coisas também pioram. Tem produtor que teima em plantar até nas áreas de proteção permanente, bem próximo das barrancas dos rios. Algo inútil, porque se destrói sem nenhum lucro. A degradação ambiental já tem  cobrado preços altos dos produtores devido às enchentes. Sem contar que na lavoura de arroz ainda se usam agrotóxicos que já deveriam estar na lista dos proibidos, há muito tempo – caso do Clomazone - mais conhecido por Gamit.

Expansão do latifúndio
Os preços baixos do arroz aumentam os lucros dos beneficiadores. Alguns donos de engenho estão se tornando grandes proprietários de terra em São Borja e região. E há uma razão elementar para isso. O excesso de oferta de arroz faz o preço baixar ao produtor, mas pouca diferença se nota nas prateleiras dos supermercados. Na cadeia produtiva do arroz quem leva a melhor é quem beneficia o produto. Em alguns casos ainda, os engenhos aliam o fornecimento de insumos – adubos, sementes e agrotóxicos – e assim o produtor fica dependente de quem lhe financia. Preços baixos, lucro zero e contas para pagar tem  sido causa de perda de patrimônio. Muitos proprietários tiveram que vender parte de suas terras por conta dessa dependência. Em outras palavras: perdem terra de plantio. Não por causa do Código Florestal como alegam alguns.

Os fazendeiros tradicionais de São Borja estão em vias de extinção
Agora, os grandes proprietários de terras não são mais os tradicionais estancieiros.  A cada ano, novas empresas do agronegócio aqui se estabelecem e adquirem terras de quem um dia já foi produtor. Não lhes cabe culpa por isso. Até porque apenas aplicam melhor os ensinamentos da lei de oferta e procura, o que a maioria dos produtores ainda não pratica.
Está aí algo para ser pensado. Como explicar que as mazelas do campo se devem às leis ambientais? O discurso de que ambientalistas e produtores rurais tem  posições antagônicas não é sustentável. Na verdade, os ambientalistas até querem o melhor para os produtores, quando pretendem assegurar as condições de sobrevivência de toda a sociedade. Um solo preservado e produtivo, a proteção dos mananciais de água e preços justos a quem produz alimentos e matérias primas indispensáveis é o que os ambientalistas mais querem. Mas dentro do chamado agronegócio  brasileiro nem todos pensam assim. Parte desse setor quer - e está  conseguindo - concentrar  ainda mais as terras nas mãos de poucos, às custas justamente de quem também é produtor. Estranhamente, proprietários de terras, vítimas da falta de uma política agrícola mais coerente, relutam em manter as áreas de preservação permanente e de reserva legal. Muitos deles já perderam terras para os atravessadores do agronegócio - estes sim os grandes beneficiários da ”modernização” do Código Florestal.   
O que foi dito em relação ao arroz, também pode ser o caso de outras culturas em outras regiões do País. A expansão da monocultura de cana-de-açúcar tem suscitado preocupações em muitos municípios. Poucas empresas transformam totalmente o cenário de produção, extinguindo até a produção de alimentos tradicionais e expulsando o agricultor tradicional para os centros urbanos.
Não seria o caso de uma ampla discussão do modelo de agricultura vigente, antes de reformar o Código Florestal? Talvez um dia se chegue ao bom senso.
___________________________________________________________________________

Mais sobre o tema:
Orientação é para que arrozeiros reduzam área de lavoura

 Objetivo é diminuir a oferta na época de comercialização e evitar prejuízos diversos
           As lideranças do movimento dos arrozeiros em São Borja estão orientando os colegas a reduzirem área quando do plantio da próxima lavoura, a partir de setembro. Entre os objetivos, estão a menor oferta do produto no momento da colheita, com vistas a um melhor preço; evitar aquelas áreas com arrendamento mais caro (embora isso deva ocorrer ao natural); entre outros. De acordo com Jovani Streck, um dos líderes do movimento dos orizicultores, a grande maioria tem se mostrado receptível à idéia, até porque, segundo observa, 95% dos produtores estão descapitalizados e, em decorrência disso, já não terão recursos para plantio de área maior.
            No entanto, segundo Jovani Streck, terão maior resultado aqueles produtores que efetuarem de forma consciente a redução da área, uma vez que vão poder cuidar melhor da lavoura, não irão ultrapassar a capacidade de irrigação, e além disso, terão produtividade e qualidade maiores. Jovani observa que devido ao fato de a grande maioria estar sem recursos, devido ao endividamento, a tecnologia na próxima lavoura será muito pouca, e que por si só a idéia de redução já é uma vantagem. A coordenação do movimento orizícola tem se mostrada preocupada com o futuro de boa parte dos produtores, uma vez que, embora todas as mobilizações realizadas, as reivindicações não têm sido atendidas.
            De acordo com Jovani Streck, é grande o desânimo junto à maioria dos orizicultores, devido ao fato das dificuldades porque passa a classe no momento e também porque não se tem perspectiva de melhora  em curto prazo.
            Jovani observa que em anos anteriores todos pensavam de forma positiva, na esperança de serem atendidos pleitos como preços, recursos, etc. Agora, a situação é diferente e muitos talvez até não consigam recursos para plantar, uma vez que foram alijados das linhas oficiais de crédito e boa parte já não dispõe de crédito junto a fornecedores, por não ter dinheiro. A situação é grave e deve ser fator predominante para que a lavoura de arroz seja reduzida em pelo menos 8 mil hectares a menor do que a última, quando foram plantados cerca de 35mil hectares no município.
 FONTE: Folha de São Borja – 26/07/2000 
_________________________________________________________________________________

Safra de arroz 2000/2001 
A redução de área é inevitável


*Jovani Streck
*Produtor rural e dirigente
Do Sindicato Rural
            Para a próxima safra, é consenso de que haverá redução da área de arroz. Primeiro por que o produtor está consciente de que esse é o caminho para que a lucratividade da lavoura arrozeira retorne. Se persistir a mesma área, certamente a oferta será maior que a demanda e, conseqüentemente, os preços serão menores. Além disso, o arrozeiro sabe que dentro de uma área, sempre existem aquelas que são deficitárias por diversos fatores com infestações de arroz vermelho, muitas vezes, fazendo plantio de parte da área fora de época e com problemas na irrigação.
            É preciso que o produtor cada vez mais tenha em mente que o que regula os preços é a velha lei da oferta e da procura e dessa maneira, procure reduzir gradativamente a área cultivada com arroz. Se cada produtor plantar área de 20 a 30 % menor, com certeza, obterá maior rendimento, com menos custo e com lucro, por que a produção global será menor, logo a procura puxará os preços a patamares mais compensadores, o que, sem dúvida, tornaria, em parte, a atividade orizícola viável.
            Outro fator que ganha espaços no momento atual da orizicultura é a opção pela diversificação da propriedade, obedecendo ao zoneamento agroclimático, para ocupar as áreas livres pelo arroz. É necessário ter outros produtos para preencher as lacunas do arroz durante a entressafra e quando o produto estiver com preços aviltados. Caso contrário, o produtor estará sem capital no primeiro caso para tocar a atividade ou terá que vender com prejuízo, no segundo para atender compromissos.
            Os subsídios governamentais também são fundamentais para a recuperação do setor, a exemplo da Comunidade Européia, Estados Unidos e países do próprio Mercosul, do qual o Brasil faz parte. É preciso que os governos estadual e federal percebam que as lavouras irrigadas do sul devem ser incentivadas, pois são as únicas lavouras seguras, capazes de manter uma média histórica de 4.500.000 a 5.500.000 de toneladas de arroz por safra, sendo que somente o RS supre 85% do arroz irrigado consumido no país.
            Contudo, enquanto persistir a entrada livre de arroz do Mercosul no Brasil, sem quotas e sem preços iguais ao custo da produção interna, em plena colheita do arroz gaúcho, a orizicultura não terá futuro. A concorrência desleal do produto vindo de países do Mercosul é comprovadamente danosa para o produtor nacional que não consegue competir com todos esses obstáculos e, ainda, com os subsídios na origem e, muitas vezes, com arroz oriundo de terceiros países, como foi comprovado pela presença de fungos existentes somente em países asiáticos, encontrados em lotes exportados pela Argentina nesse ano.
            Além da redução de área gradativa e dos incentivos governamentais, torna-se urgente encontrar mecanismos para escoar os estoques que se encontram em armazéns oficiais por conta de compras no mercado de opções, seja através de exportações ou de doação para os mais de 30.000.000 de brasileiros que passam fome em todos os cantos do País.
                  O setor, principalmente na Fronteira Oeste, continua mobilizado em torno desses pontos  e trabalhando para vencer outros como o problema do endividamento e o sucateamento do maquinário. E concluímos que mesmo diante de tantos empecilhos o produtor, ainda, continua plantando porque tem essa vocação no sangue e tem orgulho de produzir alimentos, gerando tributos e empregos para a nação.
              Por isso, senhores governantes, pensem melhor e façam algo para salvar o setor produtivo, enquanto ainda temos coragem de continuar na atividade.

Fonte: Folha de São Borja, Pág. 2 , edição de 18/11/200

           






6 de maio de 2011

Estudo comprova que aquecimento global diminui produção agrícola

Para quem acha que as mudanças climáticas globais não têm impactado na produção agrícola, um artigo publicado ontem (06/05/11) no site da revista Science serve como uma grande ducha de água fria. De acordo com uma pesquisa feita por David Lobell, da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, e colegas, nos últimos 30 anos as produções de milho e de trigo em todo o mundo caíram, respectivamente, 5,5% e 4% em resposta ao clima mais quente. A queda se refere aos valores que teriam sido atingidos se não houvesse o aquecimento climático. As produções de soja e de arroz não foram afetadas significativamente.


"Verificamos que, desde 1980, os efeitos das mudanças climáticas nas lavouras agrícolas provocaram um aumento de cerca de 20% nos preços no mercado global", disse Wolfram Schlenker, da Universidade Columbia, outro autor do Estudo.

Os cientistas analisaram dados da produção de alimentos no mundo de 1980 a 2008, centrando-se nas quatro principais commodities agrícolas: milho, trigo, arroz e soja.

Foram desenvolvidos dois modelos, um que representa os aumentos reais na temperatura no período e outro que manteve as temperaturas nos níveis de 1980. Ao considerar todas as outras variáveis que afetam a produção agrícola, o grupo verificou a relação entre aquecimento e queda na produção.

Mas os pesquisadores identificaram exceções. Nos Estados Unidos, Canadá e norte do México a produção não caiu no período. Segundo eles, o resultado aponta que, embora a relação entre aquecimento e produtividade agrícola seja óbvia em escala global, regional ou nacionalmente ela pode não ter os mesmos efeitos.

Desde 1950, a temperatura global média tem aumentado cerca de 0,13º por década, mas, de acordo com relatório do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o aquecimento esperado para as próximas duas ou três décadas é 50% maior.

O artigo Climate Trends and Global Crop Production Since 1980 (10.1126/science.1204531) de David Lobell e outros, pode ser lido por assinantes da Science em www.sciencemag.org.

PARA SABER MAIS
Clique aqui e baixe o artigo (arquivo PDF).
Fonte: Agrosoft

3 de maio de 2011

Corrupção é séria ameaça no combate às mudanças climáticas, afirma TI

MEIO AMBIENTE | 03.05.2011

 

O combate às mudanças climáticas exigirá centenas de bilhões de dólares nos próximos anos. Todo esse dinheiro corre o risco de atender a outros interesses, alerta relatório da Transparência Internacional.

 
O combate às mudanças climáticas enfrenta um risco grave: a corrupção. O alerta foi dado pela organização Transparência Internacional (TI), num documento de 360 páginas publicado no último sábado (30/04), em Bangladesh. O Relatório global de corrupção: Mudanças climáticas contou com a contribuição de 50 autores de todo o mundo.
Estima-se que, até 2020, mais de 700 bilhões de dólares serão investidos no combate aos problemas climáticos. Após esse período, somente os países em desenvolvimento deverão necessitar pelo menos 100 bilhões de dólares por ano para enfrentar as questões relacionadas ao clima.
A Transparência Internacional avisa que, já agora, são necessárias medidas maciças anticorrupção para evitar que o dinheiro seja desperdiçado. "Os 20 países mais afetados pelas mudanças climáticas têm menos de 3,6 pontos no índice de percepção da corrupção da TI, indicando que a corrupção é endêmica nessas nações", diz Lisa Elges, diretora do programa de governança climática da organização.
Segundo o índice criado pela TI, zero é o pior nível de corrupção numa escala que vai até dez. No entanto, a organização é cuidadosa ao alertar que o risco de desvio de dinheiro não está limitado aos países em desenvolvimento. "A corrupção é um problema para todas as nações. Precisamos garantir mais responsabilidade, transparência e práticas íntegras em todos os países", argumenta Elges.
Dinheiro atraente
Na Europa industrializada, não é preciso ir muito longe para se encontrar armadilhas potenciais. "O Sistema de Comércio de Emissões da União Europeia (ETS) mostrou que os mercados de carbono são suscetíveis à influência exagerada de grupos de interesse que, no caso do ETS, pode ter contribuído para o excesso de alocação de permissões de emissões de carbono. O resultado foi um lucro inesperado de 6 a 8 bilhões de euros para os quatro maiores produtores de energia europeus", diz o relatório.
O ETS (European Union Emissions Trading Scheme) é a principal ferramenta do bloco para cumprir as metas do Protocolo de Kyoto. Cada país-membro segue um plano nacional de alocações, que determina a quantidade de licenças de emissão de gases do efeito-estufa para suas indústrias e usinas de energia. As indústrias e usinas podem vender ou comprar licenças, dependendo se o nível de emissões ficou acima ou abaixo da cota permitida.
Insegurança digital
O desrespeito às regras para atender interesses de lobbies é apenas um problema. Um outro é a vulnerabilidade do sistema, que facilita o roubo propriamente dito: milhões de dólares foram desviados em ataques de hackers contra o ETS europeu. "Foi deprimentemente fácil", comenta Henry Derwent, chefe da Associação Internacional de Comércio de Emissões (IETA, em inglês).
"O padrão da segurança digital era simplesmente insuficiente, em particular um número de postos de registro realmente não faziam qualquer sindicância sobre os candidatos a contas. Há mais de um ano vimos alertando a Comissão Europeia sobre isso", acrescenta Derwent.
Em janeiro último, ciberpiratas invadiram os banco de dados com registros na República Tcheca, Áustria, Estônia, Grécia e Polônia e escaparam com 28 milhões de euros em certificados. Derwent é otimista e acredita que reformas no ETS o deixarão "mais fácil de ser supervisionado" no futuro. No entanto, problemas do tipo podem comprometer os esforços de combate às mudanças climáticas.
Burlando as regras
O relatório da Transparência Internacional chama a atenção para o fato de que o comércio de certificados de emissões – centro da ação apoiada pelas Nações Unidas para combater as mudanças do clima – é particularmente suscetível a conflitos de interesse.
Não há espaço para "qualquer supervisão independente das tomadas de decisão" no Mecanismo de Desenvolvimento Limpo da ONU (CDM), lamenta o documento. A TI sugere que grupos específicos podem se aproveitar do sistema que permite às nações ricas compensar suas emissões, financiando ações em países pobres.
Um exemplo envolve o gás industrial HFC-23, subproduto da fabricação de fluídos de refrigeração, que é um gás estufa 11.700 vezes mais potente do que o dióxido de carbono. "A destruição de uma tonelada de HFC-23 garante 11.700 créditos de carbono. Isso o transforma num negócio muito lucrativo, já que cada crédito de carbono vale cerca de 10 euros", diz Eva Filzmoser, da organização CDM Watch.
Até pouco tempo, fábricas na China eram suspeitas de terem transformado esse processo num modelo de negócio: elas produziam níveis excessivos do poluente com o objetivo de exigir crédito – e dinheiro – para destruí-lo.
"O incentivo do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo tem um impacto direto nos padrões de produção daquelas unidades. Poderíamos, na verdade, propor um corte de 90%: acreditamos que bastam apenas 10% de créditos de carbono para prover incentivo suficiente para a destruição do gás continue", diz Filzmoser.
Apesar de executivos da União Europeia já terem proposto o fim do comércio de permissões de HFC-23 após 2013, críticos como a CDM Watch dizem que o sistema da ONU continua não sendo suficientemente transparente.
Corrupção alimenta desmatamento
O comércio ilegal de madeiras é outra área em destaque para a TI. Segundo os organizadores do relatório, chegam anualmente ao mercado até 23 bilhões de dólares em madeira originária de plantações irregulares.
Segundo a organização, muitas das maiores companhias do setor madeireiro estão prontas a conspirar com governos corruptos para extrair madeiras raras e valiosas, apesar de campanhas de marketing tentarem despertar a consciência ambiental dos consumidores.
"Em muitos casos, essas tentativas parecem ser um mecanismo cínico para maximizar lucros à custa dos contribuintes, já que as práticas reais dessas empresas contradizem seu compromisso com as metas de desenvolvimento, assumido publicamente", diz o relatório.
Outras organizações não-governamentais concordam. "A corrupção é uma das maiores razões pela qual continuamos a ter índices tão altos de desmatamento", diz o especialista Philipp Göltenboth, da WWF.
"As florestas, principalmente nos trópicos, são normalmente de difícil acesso e estão localizadas em países com alto índice de corrupção. A madeira pode ser transformada rapidamente em dinheiro", comenta Gavin Hayman, da Global Witness. A organização, que monitora a exploração de recursos, cita o Camboja como um espantoso exemplo de anos de corrupção no setor florestal.
"Conseguimos mostrar como o primeiro-ministro e membros da elite dominante tinham interesse direto na corrupção do setor florestal e em distribuir concessões às madeireiras, que então devastavam as florestas do Camboja", acusa Hayman.
Primeiro a credibilidade, depois os bilhões
Os capítulos do relatório dedicados à engenharia florestal dão um alerta importante sobre um dos poucos sucessos alcançados na última Conferência do Clima, em Cancún. O sistema conhecido como REDD (Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação) visa coibir a extração excessiva de madeira, estimulando as nações ricas a investir nas florestas de países pobres.
O mecanismo poderia gerar até 28 bilhões de dólares por ano, quando estiver plenamente operacional, mas a TI alerta que ele pode fracassar, caso não seja bem supervisionado. "A maioria dos países participantes no REDD está pouco preparada para medir e verificar mudanças em emissões e estoques de carbono nas florestas", comenta Hayman. Jogar bilhões de dólares nessa situação é uma receita para o desastre, adverte o Relatório global de Corrupção: Mudanças climáticas.
"Nos países onde os mecanismos de responsabilização não funcionam plenamente, ou que sejam politicamente comprometidos, os pagamentos podem oferecer incentivos à corrupção e fraude por parte das autoridades governamentais e de financiadores de projetos ávidos de 'jogar com o sistema'."
A menos que as regras sejam endurecidas em breve, bilhões de dólares – sem falar na confiança pública – podem estar sendo jogados pela janela.
Autor: Sarah Steffen / Nádia Pontes 
Revisão: Augusto Valente
Fonte: DW (Deutsche Welle)