9 de agosto de 2010

Cientistas procuram 100 espécies de anfíbios “perdidos”

Washington, DC, 09 de agosto de 2010 —

Foto: Rã incubadora: as fêmeas engoliam os ovos fertilizados e os chocavam no estômago. Davam à luz a girinos pela boca.



Equipes de cientistas ao redor do mundo começaram uma busca inédita na esperança de redescobrir 100 espécies de anfíbios “perdidos”. São animais considerados potencialmente extintos, mas que podem existir em alguns poucos lugares remotos, anunciaram hoje a Conservação Internacional e o Grupo de Especialistas em Anfíbios da União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN, da sigla em inglês).

A procura, que já começou em 14 países nos cinco continentes, é o primeiro esforço coordenado já realizado para encontrar um número tão grande de criaturas “perdidas” e ocorre em um momento em que as populações mundiais de anfíbios sofrem um declínio dramático – com mais de 30% de todas as espécies ameaçadas de extinção. Duas das expedições de busca ocorrerão no Brasil (ver informações ao final do texto).

Muitos dos anfíbios que estão sendo procurados não são vistos há várias décadas. Os cientistas estão procurando entender a recente crise de extinção dos anfíbios, por isso é vital conhecer se as populações sobreviveram ou não. Os anfíbios provêem muitos serviços importantes para o equilíbrio do meio ambiente e também para a qualidade de vida humana, como o controle de insetos que espalham doenças e destroem plantações agrícolas e a manutenção de sistemas aquáticos saudáveis. A pele desses animais contém componentes químicos fundamentais para a criação de medicamentos que podem salvar vidas, incluindo um analgésico 200 vezes mais potente do que a morfina.

“Os anfíbios são particularmente sensíveis às mudanças no meio ambiente, por isso são geralmente um indicador do dano que tem sido causado aos ecossistemas,” explica Robin Moore da Conservação Internacional, que organizou a busca para o Grupo de Especialistas em Anfíbios da IUCN. “Esse papel de ‘anunciador da crise’ significa que as alterações rápidas e profundas que têm ocorrido no meio ambiente nos últimos 50 anos– particularmente a mudança climática e a perda de habitat – têm tido um impacto devastador nessas criaturas. Organizamos esta procura por espécies ‘perdidas’ que acreditamos terem conseguido sobreviver para obtermos respostas e para saber o que permitiu a algumas pequenas populações de certas espécies sobreviverem quando o resto de sua espécie desapareceu”, esclarece Moore.

Os problemas que os anfíbios enfrentam como resultado de perda de habitat têm sido bastante potencializados por um fungo patogênico que causa quitridiomicose, uma doença que devastou populações inteiras de anfíbios e, em alguns casos, já é responsável até mesmo pela extinção de espécies.

Dentre as 100 espécies selecionadas para a busca, Moore e sua equipe fizeram uma lista das “10 principais” espécies cuja redescoberta seria ‘mais emocionante’ para os pesquisadores. “Embora reconheçamos que é muito difícil atribuir importância e priorizar uma espécie em detrimento da outra, criamos a lista das 10 principais porque acreditamos que estes animais em particular têm um valor científico ou estético especial”, pontua.

As 10 principais espécies são:

1. Sapo dourado, Incilius periglenes, Costa Rica. Visto pela última vez em 1989. Talvez o mais famoso anfíbio perdido. Passou de abundante a extinto em pouco mais de um ano no final dos anos 1980.

2. Rã “incubadora”, Austrália (a rã não tem nome comum em português). Duas espécies – Rheobatrachus vitellinus e R. silus, vistas pela última vez em 1985. (Tinha uma forma singular de reprodução: as fêmeas engoliam os ovos fertilizados e os chocavam no estômago. Davam à luz a girinos pela boca.)

3. O sapo da mesopotâmia, Rhinella rostrata, Colômbia. Visto pela última vez em 1914. Tem forma fascinante, com uma cabeça distinta em formato de pirâmide.

4. Salamandra Bolitoglossa jacksoni, Guatemala. Vista pela última vez em 1975. Uma impressionante salamandra preta e amarela – uma das únicas duas espécies conhecidas, acredita-se que foi roubada de um laboratório na Califórnia em meados dos anos 1970.

5. O sapo africano Callixalus pictus (sem nome comum em português), República Democrática do Congo/Ruanda. Visto pela última vez em 1950. Muito pouco se sabe sobre esse animal.

6. Sapo do Rio Pescado, Atelopus balios, Equador. Visto pela última vez em abril de 1995. Pode muito bem ter sido dizimado pelo fungo quitridiomicose.

7. Salamandra Hynobius turkestanicus (sem nome comum em português), Quirguistão, Tadjiquistão ou Uzbequistão. Vista pela última vez em 1909. Conhecida pelos únicos dois espécimes coletados em 1909 em algum lugar “entre Pamir e Samarcanda”

8. Sapo arlequim; Atelopus sorianoi, Venezuela. Visto pela última vez em 1990. Encontrado em um único riacho em uma floresta isolada do país.

9. Rã sem teto, Discoglossus nigriventer, Israel. Vista pela última vez em 1955. Um único adulto coletado em 1955 representa o último registro confirmado da espécie. Esforços para drenar pântanos na Síria para erradicar a malária podem ter sido responsáveis pelo desaparecimento da espécie.

10. Sapo Ansonia latidisca (sem nome comum em português), Bornéu (Indonésia e Malásia): Visto pela última vez nos anos 1950. O aumento da sedimentação nos riachos após o desflorestamento pode ter contribuído para o declínio.

Para Claude Gascon, co-presidente do Grupo de Especialistas em Anfíbios da IUCN e Vice-Presidente Executivo da Conservação Internacional, a iniciativa é pioneira e de extrema importância, não apenas devido às ameaças que os anfíbios enfrentam e nossa necessidade de entender melhor o que tem ocorrido com eles, mas também porque representa uma oportunidade incrível para os cientistas de redescobrir espécies há muito tempo perdidas. “A busca por esses animais perdidos pode render informações vitais em nossas tentativas de parar a crise da extinção dos anfíbios e ajudar a humanidade a entender melhor o impacto que temos no planeta”, avalia.

Expedições no Brasil

Crossodactylus grandis (sem nome popular)- Visto pela última vez na década de 1960. A pesquisa, liderada por Taran Grant, professor da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, acontecerá em cidades de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro de 18 a31 de setembro.. A espécie foi descrita a partir de Brejo da Lapa, Itamonte (Minas Gerais).

Cycloramphus valae (rãzinha-das-pedras) - Vista pela última vez em 1982. Liderada por Patrick Colombo, doutorando da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, a pesquisa acontecerá entre 20 a 30 de setembro. A espécie é conhecida em quatro localidades da Mata Atlântica nos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul.

Para acompanhar a busca pelos anfíbios perdidos, acesse: www.conservation.org/lostfrogs

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