31 de agosto de 2010

Usinas nucleares: ameaça permanente à vida

Por Darci Bergmann

Parece inerente ao ser humano emaranhar-se em tecnologias com alto poder de destruição, mesmo quando são destinadas ao uso pacífico. A fissão nuclear sabida e reconhecidamente tem um enorme custo para fins energéticos, mas os custos maiores decorrem dos acidentes e das consequencias daí resultantes.
Mesmo assim, ela encontra quem defenda o seu uso em amplos setores da sociedade. Sempre o argumento maior é que as demais fontes de energia ou são caras ou não atendem à crescente demanda de uma civilização cada vez mais consumidora. 
Dentro da visão de progresso linear, expansionista, em que a natureza deve ceder espaço à espécie humana que prolifera e rompe as barreiras da sustentabilidade, a energia  de fissão nuclear faz sentido. Mas para quem ainda pensa viver num planeta mais seguro onde a natureza ainda pode e deve ser preservada nada justifica o uso dessa tecnologia. Se parte dos gigantescos recursos financeiros fosse usada para programas de planejamento familiar, redução do consumo de supérfluos e investimentos em fontes alternativas de energia, as ameaças de acidentes nucleares não existiriam.

As usinas atômicas são concentradoras do capital e das decisões.

Pela complexidade e pelos altos custos o manejo nuclear está nas mãos de pouca gente, mas a sociedade como um todo é que banca os altos investimentos.  A sociedade é trabalhada no sentido de aceitar a energia nuclear como alternativa segura e viável economicamente. Esse discurso une investidores e políticos que se apresentam numa aura de defensores do progresso e da geração de empregos. O dinheiro investido na mídia para informar a opinião pública traz resultados aos interesses da turma atômica. De outro lado, quem se opõe ao uso da energia nuclear é rotulado como retrógrado, desinformado, enfim contrário à modernidade. Mas seria bom perguntar: que modernidade tem essa tecnologia que pode destruir a Vida? Particularmente entendo que a modernidade está em se utilizar energias de outras fontes que não se constituem em ameaças à integridade física de pessoas e às outras formas de vida.

Alguns acidentes nucleares já dispararam o sinal de alerta 

O maior deles foi o de Chernobyl, em 1986, na Ucrania. Naquela época a Ucrania fazia parte da URSS - União das Repúblicas Soviéticas Socialistas. Os relatórios divulgados procuravam minimizar as consequencias do acidente, embora alguns ambientalistas já levantassem suspeitas de que nem tudo estava sendo revelado à opinião pública. O decorrer do tempo mostrou que os efeitos radioativos continuam agindo numa vasta região. Em matéria divulgada por Pavol Stracansky, o autor diz:  

 "Quase 25 anos depois do pior acidente nuclear da história, novas descobertas científicas sugerem que os efeitos da explosão em Chernobyl foram subestimadas. Especialistas publicaram, no mês passado, uma série de estudos indicando que, contrariando conclusões anteriores, as populações de animais diminuíram na área de exclusão em torno do lugar onde funcionava a antiga central nuclear soviética, e que os efeitos da contaminação radioativa depois da explosão foram “assombrosos”. Cada vez mais javalis com altos níveis de césio são encontrados no lugar.



Esta informação foi divulgada meses depois que médicos na Ucrânia e Bielorússia detectaram aumento nas taxas de câncer, mutações e doenças do sangue, que pensam estar relacionado com Chernobyl. Por outro lado, uma pesquisa norte-americana publicada em abril constatou aumento nos defeitos de nascença, aparentemente devido à exposição continuada a doses de radiação de baixo nível".

Concluo, depois dessas informações, que a minha desconfiança em relação à energia de fissão nuclear só me trouxe mais certezas: é preciso que cada um de nós se posicione contra essa pretensão absurda de instalação de novas usinas atômicas. A modernidade está em ultrapassar certos modelos de progresso que sempre nos levaram à destruição da vida nas suas múltiplas formas.


 Matérias relacionadas:
    Efeitos de Chernobyl podem durar séculos 
    Pesadelo Nuclear
    Outros riscos da energia nuclear
    Energia nuclear: debate na Alemanha
   Alemanha e China são precursoras de uma "economia verde"

Nenhum comentário: