23 de agosto de 2010

Masculinidade ameaçada

Por Darci Bergmann


Algumas pessoas mostram-se preocupadas com o lixo visível, aquele que causa entupimentos de esgotos e bueiros e agrava os efeitos das enchentes ou mesmo as provocam. Essas mesmas pessoas nem sempre tem noção exata do lixo invisível, constituído por milhares de substâncias químicas, desde metais pesados até os POPs - poluentes orgânicos persistentes, como as dioxinas. Em 2001, a Comissão da Saúde e Meio Ambiente da AL do Estado discutiu o tema e ali foram mostradas evidências de que as dioxinas, agrotóxicos e outros produtos podem afetar o aparelho reprodutor, sistema neurológico e imunológico das pessoas e causar diferentes tipos de câncer. No nosso cotidiano usamos produtos que geram ou contêm tais poluentes.

Branqueamento do papel libera produtos altamente tóxicos

Dioxinas podem se formar no processo de branqueamento do papel ou na incineração de plásticos, por exemplo. Mas porque é tão difícil as pessoas optarem por papel reciclado ou papel virgem sem branqueamento? Alguém uma vez opinou que as pessoas têm o hábito arraigado de usarem papel branco porque este aparenta mais presença. Também no interior das casas um ambiente sem qualquer vestígio de insetos e similares seria visto como medida de higiene. No entanto, as residências aparentemente muito limpas podem conter resíduos de pesticidas tóxicos cujos efeitos sobre a saúde humana vão se manifestar anos mais tarde. Uma inofensiva lagartixa predadora de insetos não é bem vista por algumas pessoas preocupadas com uma casa supostamente limpa. O comportamento reducionista, nossa visão equivocada de limpeza e de exclusão de todas as outras formas de vida tem sido um campo fértil para as empresas que faturam com o assim denominado saneamento ambiental. Esse neologismo se estende aos pátios das casas e as simples folhas e flores que caem das árvores são vistas como lixo. Lembro do tempo em que praticamente o único produto de limpeza era o tradicional sabão em barra, aquele feito com soda cáustica e gordura animal ou vegetal.

Poluentes no lar. Casas viram depósitos de produtos químicos para limpeza

Hoje são tantos os produtos e as opções que prometem limpeza que as prateleiras se enchem de potes e frascos. Esses produtos, em sua maioria, contem fenóis e outros componentes. Assim como outras substâncias, os fenóis atingem o solo e os rios pelo esgoto cloacal. As águas retornam até nós. Mesmo os chamados poços artesianos podem ficar contaminados. E o ciclo se fecha.

Hormônios femininos sintéticos: masculinidade ameaçada

Os fenóis, aditivos de plásticos e alguns agrotóxicos agem como hormônios femininos sintéticos. Segundo a médica Gerda Caleffi ¨Onde há concentrações dos poluentes, diminuem os nascimentos de crianças do sexo masculino e ocorrem mudanças anatômicas nos aparelhos genitais.¨
Entre os agrotóxicos que tem comportamento de hormônio feminino sintético estão os do grupo piretroides, muito usados nas desinsetizações dentro das residências. Dentro desse grupo estão princípios ativos como a cipermetrina  e a deltametrina, com diversos nomes comerciais.
Existem nas farmácias produtos com princípios ativos piretroides, os mesmos dos agrotóxicos, para uso em crianças. As bulas referem que são de baixa toxidade. Será que dizem toda a verdade? É o caso da deltametrina comercializada para matar piolho de crianças e adolescentes. Com todas as informações hoje disponíveis sobre tais produtos, não seria hora de proibir o uso em pessoas?

É bom ficar alerta. Talvez alguns bichinhos dentro de casa sejam muito menos perigosos do que os agrotóxicos e outros produtos químicos denominados domissanitários.  

                  2)Deltametrina/piolho da cabeça

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