18 de agosto de 2010

Economia global: novos paradigmas

Por Darci Bergmann

Algumas décadas atrás  pessoas já alertavam para as crises que haveriam de assolar o Planeta, caso fossem mantidos os mesmos paradigmas de crescimento da economia. Naquela época, documentos como Os Limites do Crescimento e outros foram lidos por muitas lideranças, mas de prático pouca coisa mudou. Com a população aumentando e os padrões de consumo também, certamente haveria uma grande demanda de recursos naturais, alguns não renováveis. Some-se a isso a poluição nos seus vários aspectos e tem-se uma idéia da vulnerabilidade da civilização que já não consegue mais se recompor das inúmeras tragédias ambientais, apesar de tantos avanços tecnológicos.

No atual momento, em pontos diferentes do Planeta, ocorrem desastres naturais como enchentes e secas que já afetam a produção de alimentos, causam perdas de vidas humanas, problemas de saúde, entre outras mazelas.


As mudanças climáticas já seriam reflexo do aquecimento global?

Embora toda a discussão que esse tema sucita, a tempertaura média da Terra vem aumentando. Secas e enchentes já ocorreram em outros tempos, mas as consequencias desses desastres naturais hoje causam maior impacto sobre a espécie humana. É fácil de perceber que um dos fatores é o aumento populacional. Isto gera uma tremenda pressão por mais alimentos e bens de consumo, o que por sua vez necessita a ocupação de mais espaços naturais. O crescimento em espiral da atividade humana ligada ao aumento populacional é um modelo que não tem sustentabilidade. O modelo econômico atual calcado num mero crescimento vegetativo realmente não faz mais sentido. O Planeta está mostrando os seus limites para uma civilização que quer crescer infinitamente. Essa é a questão central da crise que nos assola. Queremos cidades opulentas, gigantescas que se transformam em enormes mercados consumidores. Mesmo cidades pequenas, com razoável qualidade de vida, adotam modelos de crescimento visando o aumento da área urbana numa visão equivocada de progresso. Prefeitos e vereadores querem arrecadar mais impostos e acham que cidades maiores contribuem na solução dos problemas. Mas é mais um equívoco desses conceitos ultrapassados e nada sustentáveis. O aumento do PIB quase sempre está ligado ao aumento dos problemas sociais e ambientais. Isto pode não ser visível numa pequena escala, mas a nível global percebe-se que esse indicador da economia não leva em conta variáveis como poluição e esgotamento de recursos naturais.

Planejamento familiar deveria ser prioridade em todos os países

É muito melhor prevenir do que  tentar remediar situações de calamidade. Alguns países já chegaram no limite  da população e adotam programas de controle da natalidade. No entanto na maioria dos países em desenvolvimento, por vários motivos, esse controle não existe na prática dos governos. As ocupações desordenadas dos espaços territoriais com políticas equivocadas só aumentam os problemas ao invés de resolve-los. O Brasil cometeu esse engano quando estimulou a migração de milhões de pessoas para áreas de baixa densidade populacional nos biomas Cerrado e Amazônia. A pressa fez com que o desmatamento aumentasse e milhões de hectares de terras foram destruídos. Não é por acaso que nesse momento em que escrevo essa matéria grande parte do Brasil está sendo assolado por queimadas com intensidade nunca antes vista. Pelo menos o novo censo já mostra que o crescimento populacional tende ao equilíbrio. Mas é preciso educar para um consumo  mais consciente, práticas ambientais e mudança de paradigmas, o que implica numa árdua e impostergável tarefa de governos e sociedade. Não vejo nenhum sentido quando se argumenta que é preciso exportar grãos para alimentar animais em outros países, com a destruição de forestas e solo a nível local. Ou a exportação de minério bruto, não renovável, para depois importar quinquilharias que só vão aumentar os lixões. Se alguém duvida, é só observar o que ocorre nas comemorações natalinas, quando o consumo de futilidades é exorbitante. Cito, a propósito, o tão propalado milagre da China. Esse país de população gigantesca consegue a proeza de atrair matérias primas de base alimentar produzidos por países que dilapidam a natureza - caso do Brasil. Na contrapartida do comércio internacional a China inunda esses países com uma gama de artigos, a maioria futilidades que depois viram lixo. As bugigangas incluem até árvores de enfeite natalino, luzinhas coloridas e outras parafernálias que em nada contribuem para a solução dos problemas estruturais do Brasil.


 Pessoas de visão propõem mudanças no modelo econômico
Na matéria   Sustentabilidade versus crescimento: limites do atual modelo econômico,  publicada pela Deutsche Welle, o autor Zhang Danhong (md),  expõe a opinião de vários especialistas, conforme transcrevo a seguir:

Para o economista alemão Gerhard Scherhorn, professor emérito de Mannheim, o problema central da humanidade é o esgotamento dos recursos naturais. "Nós esgotamos os recursos naturais por meio da sobrepesca dos oceanos, da redução do nível das águas subterrâneas, da diminuição da biodiversidade e do aquecimento global", afirma¨.


O ex-vice-ministro alemão do Meio Ambiente Michael Müller tem opinião semelhante. "Temos um histórico de desenvolvimento industrial em que os recursos materiais da Terra foram usados com desperdício e ignorância", afirma.

O mau exemplo China

Na opinião dele, a China sofrerá em breve as consequências das mudanças climáticas, causadas também pelo próprio crescimento econômico a todo custo. Ele lembra que, segundo os estudos do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), o aquecimento global ameaçará sobretudo as zonas industrializadas próximas aos deltas dos rios chineses.


"Isso quer dizer que a China terá que organizar e financiar imensos programas de relocação de moradores. Eu não sei se o país é capaz disso. De qualquer forma, seria uma tragédia humana", alerta. A sua conclusão é que os limites de crescimento econômico já foram alcançados em todo o mundo.

O economista Hans Diefenbacher, de Heidelberg, acha necessária uma reconstrução dentro de padrões ambientais. Ele cita como exemplo a Alemanha. "Podemos começar isolando termicamente as construções antigas dentro dos próximos 30 anos, a um ritmo anual de 3%. Podemos também ampliar os sistemas de transporte público", sugere.

Ele sugere ainda que as pessoas sejam mais contidas nos seus gastos. Mas mudanças no estilo de vida dos consumidores podem levar a uma contração do Produto Interno Bruto (PIB), cujo crescimento é a medida de todas as coisas para os governantes de qualquer país.

Diefenbacher, que desde meados dos anos 80 estuda a forma como o crescimento econômico é medido, defende uma revisão desse critério. "O Produto Interno Bruto deve ser substituído como medida de crescimento por um novo indicador de qualidade de vida, pois muitos aspectos importantes não são considerados no PIB", afirma.

Primeiro, a distribuição de renda não é contemplada pelo Produto Interno Bruto, lembra. Em segundo lugar, ele também não reflete os danos ambientais causados pela produção e pelo consumo. "Também não reproduz devidamente o consumo de recursos naturais não renováveis", explica o economista.

Franceses chegaram à mesma conclusão

Ou seja, a distribuição de renda e o uso dos recursos naturais teriam que ser levados em consideração por um novo indicador. Mas também o trabalho doméstico e os serviços voluntários deveriam ser incluídos como fatores positivos, de acordo com Diefenbacher.

Por muito tempo, a discussão sobre crescimento e sustentabilidade recebeu pouca atenção. Agora, esse debate começa a sair do seu nicho. Em alguns países europeus, ele está mais avançado do que na Alemanha.

Como na França, onde uma comissão criada pelo governo Sarkozy e chefiada pelo Prêmio Nobel Joseph Stiglitz chegou ano passado à mesma conclusão: o PIB não é um indicador suficiente, e distribuição de renda e consumo de recursos naturais também devem ser considerados.

Autor: Zhang Danhong (md) (matéria em itálico)
Revisão: Alexandre Schossler

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