Por Darci Bergmann
A matéria foi apresentada na televisão. O cenário um amontoado de barracos num cortiço de uma cidade próxima à Porto Alegre. Naquele local está prevista a expansão da linha do trensurb e os moradores devem ser retirados dali. Vão para um núcleo habitacional, onde cada moradia terá em torno de 40m². Dinheiro da prefeitura e da União, isto é, de todos nós. Entre os moradores a serem removidos, foi citado o caso de uma catadora de papel, mãe de doze filhos. Espremidos dentro do barraco atual, vão ficar amontoados na nova moradia. A família é grande demais. Os filhos crescem e em pouco tempo novas moradias devem ser construídas para abrigá-los. Novas áreas devem ser disponibilizadas para novos conjuntos habitacionais e a cidade se expande, incha e mais recursos públicos serão necessários. Enquanto isso, falta dinheiro para outras necessidades como saúde, educação, segurança e saneamento.
A propósito, lembro de outro caso. Uma doméstica, mãe de oito filhos, reclamava que não tinha creches suficientes na sua cidade. Agora, com mais filhos, não podia mais trabalhar como doméstica e o salário do marido era insuficiente para alimentar toda a prole.
Essa é a rotina nas áreas metropolitanas do Brasil e agora nas cidades do interior também. Os casos em questão mostram uma triste realidade. A falta de prioridade no planejamento familiar. É uma estranha negligência das administrações municipais, que parecem ignorar o problema. Como pano de fundo dessa problemática, pode ser citado o interesse eleitoreiro e irresponsável de muitos mandatários e legisladores municipais. Boa parte desses políticos faz apologia assistencialista. A miséria lhes permite sempre buscar novos recursos públicos que são aplicados paliativamente, à medida que as cidades aumentam quase sempre de forma desordenada. Em alguns casos até áreas impróprias para habitação são ocupadas, tudo para atender uma demanda crescente. Assim, não é de estranhar que faltem creches, escolas, postos de saúde, mais áreas verdes, entre outras necessidades.
Qualidade de vida nada tem a ver com inchaço urbano. Talvez ainda demore para que tenhamos políticas públicas mais responsáveis na área do planejamento familiar. Sai muito mais barato investir em assistência às famílias, dando-lhes condições para que limitem a prole quando assim o desejarem. Isso não exclui a necessidade de resolver com urgência os problemas já criados, como a falta de moradias e de creches. A papeleira, mãe de doze filhos, amontoados num barraco, mostra o quanto ainda devemos melhorar em termos de planejamento familiar. E também na escolha dos nossos mandatários.
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