Imagem que acompanha o texto original, de 1979* |
Há mais de trinta anos se debate sobre a destruição da floresta amazônica. Algumas previsões se confirmaram. Atualmente, alguns atores dessa devastação já estão melhor identificados.
Apresento na íntegra, matéria publicada em 1979*. Eis o texto:
O fim da grande floresta
José
Lutzenberger, um dos agrônomos mais considerados em todo o país, principalmente
porque não cansa de gritar em defesa da natureza, diz que o que está
acontecendo hoje na Amazônia ‘é uma das páginas mais tristes e negras de toda a
história da civilização’. Pois de acordo com Lutzenbegrer está sendo destruída
em ritmo acelerado a última grande floresta do nosso planeta, que tem mais de quatro
milhões de quilômetros quadrados de extensão.
E de quem é
a culpa pela destruição desenfreada dessa importante floresta? Para o agrônomo
Lutzenberger pode-se acusar a tecnocracia
imediatista e totalitária, que hoje domina o mundo. Essa tecnocracia - que
significa a ditadura de certos técnicos – é que guia a exploração feita pelas
grandes empresas estrangeiras que exploram a Amazônia. ‘Pois essa tenocracia’,
diz Lutzenberger, ‘está se preparando para consumir a grande floresta depois de
já ter destruído quase todas as culturas genuínas do mundo’.
‘Nós, brasileiros, devemos nos sentir
orgulhosos, diz ele. Isso porque incluímos ainda em nossas fronteiras o último
grande complexo natural mais ou menos intacto de todo o mundo. Esse privilégio,
continua ele, significa para nós tremenda responsabilidade. Entretanto estamos
nos comportando como irresponsáveis e imbecis. É certo que o homem tem direito
a cometer erros. É, inclusive, através do erro que se aprende. Agora neste
caso, como diz, trata-se de um erro para
o qual não há direito. Porque é um erro de conseqüencias irreversíveis, sem
reparo’.
Lutzenberger
explica que a floresta amazônica demorou milhões de anos de lenta e paciente
evolução orgânica para formar-se. Durante dezenas de milhares de anos os
inúmeros ecossistemas da floresta passaram por um processo de adaptação às
grandes flutuações do clima do globo. ‘É muito fácil destruir esse complexo
maravilhoso. Mas depois da destruição, uma possível recuperação levará outros
milhares de anos. Isso se não houver maciço extermínio das espécies. Pois as
espécies perdidas jamais voltarão. E hoje mesmo já são milhares as espécies
apagadas. E com cada espécie exterminada
o universo fica mais pobre’.
Outro que
grita em defesa do solo brasileiro é o senador Evandro Carreira, do estado do
Amazonas. Quando esteve em Porto Alegre no mês passado, participando de um
ciclo de debates intitulado A Amazônia é
nossa?, o senador afirmou que a destruição da grande floresta é ‘mais séria
do que muitos imaginam’. ‘Já foram destruídos 30 milhões de hectares na
Amazônia’, assegurou o senador. ‘E a continuar ocorrendo um desmatamento tão
violento como o que está acontecendo, em breve vai haver um aumento do nível
dos mares em 30 metros enquanto a região pode se transformar em um deserto de
capoeiras’.
De acordo
com as palavras do senador, a destruição da Amazônia esconde um fato muito
grave. Trata-se de um plano sinistro das empresas multinacionais que tem projetos
na área ( como o Projeto Jari que explora 300 mil hectares ) para as quais a
destruição é uma finalidade com terceiras intenções. O senador explica que, se
houver um desmatamento muito grande, provocando o desequilíbrio da natureza, o
Brasil será denunciado junto aos órgãos
internacionais como a ONU e a OEA por estar praticando um crime contra a
floresta. Então será pedida a internacionalização da Amazônia porque o nosso
país foi incompetente e não soube preservar essa riqueza. Assim, a Amazônia não
seria mais do Brasil e sua exploração seria feita por todos os estrangeiros
interessados.
Ele lembra
ainda que o solo da Amazônia não se presta para a exploração da pecuária como
estão fazendo diversas empresas. Bem pelo contrário, uma planta nativa, como a
castanha, ou mesmo o peixe, rendem muito mais, se a natureza for preservada na
Amazônia. ’Uma amêndoa, por exemplo, tem a mesma quantidade de proteínas que
tem um bife de 100 gramas’, afirma o senador. ‘E o que precisamos é mesmo de
proteínas. A Amazônia é um grande celeiro da humanidade que está se esvaindo
porque não sabemos desfrutar suas potencialidades’.
Uma
destruição maciça da cobertura florestal da Amazônia como a que está em marcha,
além da destruição total de ecossistemas, garante Lutzenberger que significará
a perda definitiva de dezenas de milhares de espécies e também significará
grandes desequilíbrios na natureza. Mas não serão apenas a floresta, as árvores
as prejudicadas com a devastação. A bacia dos rios da Amazônia, que é o maior
sistema hídrico do mundo, também está ameaçada de graves desequilíbrios.
‘Hoje
mesmo’, conta o agrônomo, já se pode observar o começo deste desequilíbrio. Na
região de Manaus, que é a capital do estado do Amazonas, estão morrendo todos
os igapós. Isto se deve às derrubadas
na nascente do rio em Manaus. O próprio desnível entre a cheia e a estiagem, que
antes era bem marcado, atinge agora extremos que fazem com que os igapós não consigam mais sobreviver’
Fenômeno
semelhante já se observa ao longo do Rio Paraná. E José Lutzenberger diz que o
que está por vir em termos de inundações e estiagens não se pode fazer idéia.
‘Se continuarem ocorrendo estas destruições logo logo vão acontecer na Amazônia
as maiores enchentes do mundo’.
*texto
publicado na revista Agricultura & Cooperativismo, abril de 1979, páginas 26 e 27
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