Já fui um adepto da reforma agrária. Resultado de um
esquerdismo utópico dos tempos acadêmicos. Cheguei mesmo a colaborar com
doações a um grupo de assentados. Depois, conhecendo melhor a sistemática de
recrutamento dos ‘sem-terra’, caiu a ficha. Marcou-me uma visita a um acampamento às margens de uma
rodovia, próximo a São Luiz Gonzaga-RS. Cheguei ao local numa manhã, lá pelas
nove horas. Quase ninguém circulando. Apenas um ou outro acampado aos bocejos e
ostentando boina e camisa com a estampa de Chê Guevara. O lixo e as garrafas
vazias de cerveja e cachaça revelaram que a balada campeira havia varado a
noite. Um terço dos barracos de lona encontrava-se desabitado. Conversei com
alguns ‘sem-terra’. Desses, apenas um tinha origem no campo e demonstrava
conhecimento de agricultura. Os outros eram politizados no discurso de direito
à terra e combate ao latifúndio, mas nunca
manejaram um arado ou plantaram um pé de alface. Esses jovens de origem
urbana receberam lotes de terra. Dentro dos assentamentos, tinham a missão de
politizar o grupo e as crianças. Eram instrutores ideológicos dos movimentos de
sem terra. Mas não sabiam produzir e, com freqüência, eram vistos bem vestidos
nas cidades da região, recrutando gente para novos acampamentos.
Outro fato marcante. Numa sexta-feira, recebi a visita de um
contabilista, morador em casa de classe média, no centro de São
Borja. Disse-me que agora era um ‘sem-terra’, convencido por sua companheira, uma assentada. Nos finais de semana, acampava numa barraca de
lona, junto a outros ‘sem-terras’, às margens da BR 285, próximo ao Rio Urucutaí,
em Santo Antônio das Missões. Percebi que descera de uma camioneta abarrotada
de ingredientes para o churrasco do fim de semana. Eram muitas garrafas de
cerveja e carne de primeira em meio ao gelo nas caixas de ‘isopor’. Este
‘sem-terra’ foi aquinhoado com um lote pelo INCRA. Hoje, desfila numa camioneta
quase nova, cabine dupla e cria gado em vários lotes de assentados.
Enquanto isso, pequenos produtores, de mãos calejadas, da
agricultura familiar tradicional, saem do campo. Eles não têm os privilégios
dos assentados pelo INCRA e bancados com os impostos de todos nós.
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