18 de maio de 2013

As minhas desilusões com a reforma agrária

Por Darci Bergmann  


   Já fui um adepto da reforma agrária. Resultado de um esquerdismo utópico dos tempos acadêmicos. Cheguei mesmo a colaborar com doações a um grupo de assentados. Depois, conhecendo melhor a sistemática de recrutamento dos ‘sem-terra’, caiu a ficha. Marcou-me  uma visita a um acampamento às margens de uma rodovia, próximo a São Luiz Gonzaga-RS. Cheguei ao local numa manhã, lá pelas nove horas. Quase ninguém circulando. Apenas um ou outro acampado aos bocejos e ostentando boina e camisa com a estampa de Chê Guevara. O lixo e as garrafas vazias de cerveja e cachaça revelaram que a balada campeira havia varado a noite. Um terço dos barracos de lona encontrava-se desabitado. Conversei com alguns ‘sem-terra’. Desses, apenas um tinha origem no campo e demonstrava conhecimento de agricultura. Os outros eram politizados no discurso de direito à terra e combate ao latifúndio, mas nunca  manejaram um arado ou plantaram um pé de alface. Esses jovens de origem urbana receberam lotes de terra. Dentro dos assentamentos, tinham a missão de politizar o grupo e as crianças. Eram instrutores ideológicos dos movimentos de sem terra. Mas não sabiam produzir e, com freqüência, eram vistos bem vestidos nas cidades da região, recrutando gente para novos acampamentos.
   Outro fato marcante. Numa sexta-feira, recebi a visita de um contabilista, morador em casa de classe média, no centro de São Borja. Disse-me que agora era um ‘sem-terra’, convencido por sua companheira, uma assentada. Nos finais de semana, acampava numa barraca de lona, junto a outros ‘sem-terras’, às margens da BR 285, próximo ao Rio Urucutaí, em Santo Antônio das Missões. Percebi que descera de uma camioneta abarrotada de ingredientes para o churrasco do fim de semana. Eram muitas garrafas de cerveja e carne de primeira em meio ao gelo nas caixas de ‘isopor’. Este ‘sem-terra’ foi aquinhoado com um lote pelo INCRA. Hoje, desfila numa camioneta quase nova, cabine dupla e cria gado em vários lotes de assentados.
  Enquanto isso, pequenos produtores, de mãos calejadas, da agricultura familiar tradicional, saem do campo. Eles não têm os privilégios dos assentados pelo INCRA e bancados com os impostos de todos nós.

Nenhum comentário: