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18 de maio de 2013

As minhas desilusões com a reforma agrária

Por Darci Bergmann  


   Já fui um adepto da reforma agrária. Resultado de um esquerdismo utópico dos tempos acadêmicos. Cheguei mesmo a colaborar com doações a um grupo de assentados. Depois, conhecendo melhor a sistemática de recrutamento dos ‘sem-terra’, caiu a ficha. Marcou-me  uma visita a um acampamento às margens de uma rodovia, próximo a São Luiz Gonzaga-RS. Cheguei ao local numa manhã, lá pelas nove horas. Quase ninguém circulando. Apenas um ou outro acampado aos bocejos e ostentando boina e camisa com a estampa de Chê Guevara. O lixo e as garrafas vazias de cerveja e cachaça revelaram que a balada campeira havia varado a noite. Um terço dos barracos de lona encontrava-se desabitado. Conversei com alguns ‘sem-terra’. Desses, apenas um tinha origem no campo e demonstrava conhecimento de agricultura. Os outros eram politizados no discurso de direito à terra e combate ao latifúndio, mas nunca  manejaram um arado ou plantaram um pé de alface. Esses jovens de origem urbana receberam lotes de terra. Dentro dos assentamentos, tinham a missão de politizar o grupo e as crianças. Eram instrutores ideológicos dos movimentos de sem terra. Mas não sabiam produzir e, com freqüência, eram vistos bem vestidos nas cidades da região, recrutando gente para novos acampamentos.
   Outro fato marcante. Numa sexta-feira, recebi a visita de um contabilista, morador em casa de classe média, no centro de São Borja. Disse-me que agora era um ‘sem-terra’, convencido por sua companheira, uma assentada. Nos finais de semana, acampava numa barraca de lona, junto a outros ‘sem-terras’, às margens da BR 285, próximo ao Rio Urucutaí, em Santo Antônio das Missões. Percebi que descera de uma camioneta abarrotada de ingredientes para o churrasco do fim de semana. Eram muitas garrafas de cerveja e carne de primeira em meio ao gelo nas caixas de ‘isopor’. Este ‘sem-terra’ foi aquinhoado com um lote pelo INCRA. Hoje, desfila numa camioneta quase nova, cabine dupla e cria gado em vários lotes de assentados.
  Enquanto isso, pequenos produtores, de mãos calejadas, da agricultura familiar tradicional, saem do campo. Eles não têm os privilégios dos assentados pelo INCRA e bancados com os impostos de todos nós.

8 de fevereiro de 2013

As favelas rurais


Por Darci Bergmann


    Vários assentamentos da reforma agrária se transformaram em favelas rurais. Não é de hoje que as mazelas de uma reforma agrária feita sem critérios tem mudado a fisionomia do campo para pior. O sucateado INCRA, na desapropriação de uma propriedade para reforma agrária, estabelece índices de produtividade. Quer dizer, exige dos proprietários tais índices, mas na maioria dos assentamentos a produtividade é muito baixa. Por outro lado, não há critério para escolha dos candidatos a um lote de terras. A coisa funciona na base da pressão exercida pelos movimentos de sem-terras. Estes organizam grupos de pessoas sem nenhuma vocação no trato com a terra, na maioria desempregados e até mesmo aventureiros dispostos a receber terra  e outras benesses, tudo com recursos públicos.
     O discurso dos líderes dos sem-terras é recorrente: 'produzir alimento', 'eliminar o latifúndio improdutivo', 'dar terra para quem não tem', etc. Nunca dizem que, por detrás da retórica midiática, está a politicagem que se nutre eleitoralmente com os assentados. Pelo Brasil afora, existem assentamentos que são   mantidos pelo INCRA e que praticamente nada produzem. Esses recursos, se fossem destinados aos agricultores familiares que sabem produzir, evitariam que muitos deles deixassem o campo.   Repito: gente que já está no campo há gerações e que sabe produzir, abandona a lide por falta de uma política agrícola adequada aos pequenos produtores. Por outro lado, os movimentos de sem-terra querem reforma agrária com gente que não é da terra, na maioria das vezes sem aptidão, sem preparo para produzir. O cenário não poderia ser outro: as favelas rurais se multiplicam. Caso persista essa  malfadada 'reforma agrária', a produção de alimentos corre riscos. Não será com a simples partilha de terras que o Brasil vai alimentar as massas urbanas que aumentam dia a dia. As cidades incharam e a população precisa ser alimentada com os alimentos básicos, que a agricultura em grande escala é capaz de produzir. 
    Outra questão é quanto ao tamanho da propriedade da agricultura familiar. Foi-se o tempo em que uma área de quinhentos hectares era considerada latifúndio. Hoje, com a mecanização, uma família de tamanho médio toca uma propriedade dessas com muito mais eficiência e produtividade. Mesmo áreas maiores, de cunho empresarial, são imprescindíveis para a produção de cereais em grande volume. Os cereais* são básicos para a alimentação das enormes populações urbanas. Isto pela facilidade de transporte e armazenamento.  Cabe ao governo estabelecer incentivos para que essas propriedades maiores produzam esse tipo de alimento. As pequenas propriedades tradicionais, com incentivo e assistência técnica, já tem, e terão mais ainda, papel importante na diversificação da base alimentar. Quanto ao excedente populacional desempregado, o chamado exército de reserva de mão-de-obra, a solução não está em deslocá-lo para assentamentos que mais parecem favelas. Essas pessoas precisam qualificação para trabalharem em outros setores, como na indústria, comércio, serviços, pequenos empreendimentos, etc., onde podem prosperar. O poder público precisa investir em educação profissionalizante e já vem fazendo isso. Há uma lacuna enorme nessa área. Gasta-se menos e os resultados são melhores do que simplesmente partilhar terras e levar mais pobreza ao campo.
  A apologia da miséria, a instigação de ódio e o fanatismo sectário, apregoados por alguns movimentos de sem-terra, não se justificam. Também não convence o discurso de que nos assentamentos se faz agricultura que respeita o consumidor e o meio ambiente. Até existem exceções à regra. Um grande proprietário rural pode promover muitos impactos ambientais negativos. Mas na mesma área, se partilhada, a soma dos impactos de um contingente de assentados sem preparo, com certeza, será maior. Isto já é constatado em várias regiões do Brasil, algumas já mostradas pela grande mídia.
   Reforma agrária não se faz só no grito, 'na marra' como já ouvi alguém falar. Reforma agrária é uma questão muito mais complexa. Não faz sentido desestabilizar o campo com invasões e depois assentamentos, quando o próprio poder público arranca da terra centenas de milhares de pessoas, com as bilionárias hidrelétricas, tipo Belo Monte. Onde estão os líderes dos 'sem-terras' que compactuam  com essa sangria do erário público e do meio ambiente? Onde estão os políticos que pregam reforma agrária e não se opõem a essas obras superfaturadas e que inundarão enormes áreas, a pretexto de energia barata às empresas mineradoras? Um final rimado talvez defina parte do perfil de certos 'representantes do povo'.

 Políticos demagogos e safados,
 É sempre bom removermos. 
 Estão nos partidos dos governos, 
 Estão nos partidos das oposições. 
 São farinha do mesmo saco.
 Saco cheio, de bandidos e  ladrões.

Nota do blog
*Cereais. Aqui no conceito de qualquer grão alimentício
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Matéria extraída do G1


08/02/2013 10h07 - Atualizado em 08/02/2013 10h13
Ministro fala em 'tensão' com campo e diz que assentamento virou 'favela'
Ministro comentou críticas ao governo sobre baixo índice de assentamentos. Segundo Carvalho, Dilma 'fez freio' para 'repensar' reforma agrária. 

Priscilla MendesDo G1, em Brasília
2 comentários

O ministro da Secretaria-Geral da Presidência,
Gilberto Carvalho (Foto: Ueslei Marcelino/ Reuters)


                                                        O ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, reconheceu nesta sexta-feira (8) que há uma “tensão” entre os trabalhadores rurais e o governo e afirmou que os assentamentos da reforma agrária se transformaram “quase em favelas rurais”.
Carvalho comentou sobre as críticas que o governo vem recebendo quanto ao baixo índice de assentamentos no governo da presidente Dilma Rousseff. Ele falou nesta manhã durante o programa semanal de rádio “Bom Dia, Ministro”, da estatal Empresa Brasil de Comunicação.
Dados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e do Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc) apontam que 2011, primeiro ano do governo Dilma, foi o ano com o menor número de famílias assentadas nos últimos 16 anos. A pior marca anterior era do primeiro ano de mandato de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003. Pelos números do Incra, 22.021 foram assentadas em 2011.
“Há realmente uma tensão entre os movimentos de trabalhadores rurais e o governo, uma vez que os movimentos nos criticam pelo baixo índice de assentados nos últimos três anos, final do governo Lula início do governo da presidenta Dilma”, afirmou.
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 Matéria publicada no site da Deutsche Welle:

Itamaraty cobra explicações da Venezuela por acordo com MST

Visita de ministro venezuelano sem aviso prévio causa mal-estar no governo brasileiro, que exige esclarecimento da embaixada. Líder da oposição no Congresso convoca Figueiredo a falar sobre o caso.
A visita ao Brasil do ministro venezuelano para o Poder Popular das Comunas e Movimentos Sociais, Elias Jaua, sem comunicar o Itamaraty, causou mal-estar em Brasília. Durante a viagem, ele assinou um convênio com o Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), entre outras atividades.
O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, pediu explicações, nesta quarta-feira (05/11), a um representante da embaixada da Venezuela no Brasil.
Segundo a assessoria do ministério, Figueiredo convocou o encarregado de negócios do venezuelano, Reinaldo Segóvia, para “manifestar a estranheza do governo brasileiro” com a visita de Jaua, que cumpriu agenda de trabalho sem notificar o Itamaraty.
Já a assessoria do MST disse que o convênio não foi “formalizado”. “A carta assinada foi apenas de intenções na área da cooperação agrícola, realizando intercâmbios entre camponeses do Brasil e da Venezuela para a troca de experiências agroecológicas. Mas ainda não tem nada concretizado sobre o assunto”, informaram.
Na diplomacia, a ausência de um aviso pode ser interpretada como ingerência em assuntos internos e prejudicial às relações dos dois países.
Revolução socialista
Segundo o site do ministério venezuelano, o acordo firmado com o MST tem como objetivo “incrementar a capacidade de intercâmbio de experiências de formação”.
Nas palavras de Jaua, o convênio serve “para fortalecer o que é fundamental em uma revolução socialista, que é a formação, a consciência e a organização do povo para defender o que conquistou e seguir avançando na construção de uma sociedade socialista”.
Além de encontro com o MST, o ministro venezuelano fechou convênios com farmacêuticos no Paraná e conheceu experiências de transporte público e gestão de resíduos da prefeitura de Curitiba.
Convocação dos ministros
O líder da oposição no Congresso, o deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO), apresentou um requerimento de convocação de Figueiredo. O ministro foi chamado a prestar esclarecimentos à Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional da Câmara dos Deputados.
“O governo tem a obrigação legal e constitucional de jamais permitir que sejam assinados acordos, por quem quer que seja, em que sejam violados os princípios da soberania e da não intervenção”, defendeu Caiado.
Um acordo entre a base aliada e a oposição transformou a convocação em convite, ou seja, o ministro não é obrigado a comparecer. No entanto, Figueiredo já confirmou presença na audiência da comissão, marcada para 19 de novembro.
No Encontro Nacional da Indústria, realizado nesta quarta-feira em Brasília, Caiado classificou o convênio como “venezualização do Brasil” e foi aplaudido pela plateia de empresários.
Já o deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP) foi vaiado ao tentar defender o governo. “Se a Venezuela financia ou quer convênio com o MST, é um problema da Venezuela e do MST”, disse.
Babá com arma
Na chegada ao Brasil, no dia 24 de outubro, pelo aeroporto internacional de Guarulhos, a babá da família de Jaua foi presa, acusada de tráfico internacional de armas. Ela carregava um revólver, que pertencia ao ministro, em uma das maletas. A arma foi identificada quando a bagagem passou pelo raio-x.
A família chegou ao aeroporto em um avião da PDVSA, a estatal de petróleo da Venezuela. A babá foi liberada, e o ministro afirmou que a viagem com a arma havia sido “um erro”.
Segundo Jaua, a babá havia viajado ao Brasil para ajudá-lo nos cuidados com a esposa dele, que passava por um tratamento de saúde em um hospital em São Paulo.
  • Data 06.11.2014
  • Autoria Marina Estarque, de São Paulo

15 de novembro de 2012

O mensalão do campo


Por Darci Bergmann


   Já escrevi e volto a dizer: a degradação ambiental na Floresta Amazônica e em outros biomas brasileiros também tem a ver com a desastrada e bilionária política de assentamentos promovida pelo INCRA. 
   Tudo começa pela falta de critérios na escolha dos assentados. Houve época em que bastava alguém freqüentar, de vez em quando, uma barraca de lona de um acampamento qualquer e se autodenominar 'sem-terra'. Já era candidato a receber um lote bancado com dinheiro público. Depois, recebia auxílio disso e daquilo. Nos municípios que declararam 'estado de emergência' em função da estiagem deste ano de 2012, cada família de assentado teria recebido muito mais dinheiro, como auxílio, do que o agricultor familiar tradicional. 
   Na esteira do desmatamento e de assentamentos mal feitos existem muitas distorções que deveriam ser investigadas a fundo. Há quem diga que o mensalão de Brasília é café pequeno diante do que vem ocorrendo nos rincões brasileiros. Seriam mensalinhos dispersos que, no conjunto da obra, viram um mensalão do campo. Neste, também existiria uma troca de favores entre certos políticos, movimentos de 'sem-terra' e os assentados. Nessa troca, haveria o compromisso eleitoral de apoiar políticos que sustentam a bandeira dos assentamentos, sempre com o slogan de 'produzir alimento e ocupar terras improdutivas'. Confidenciou-me alguém que os assentados deveriam contribuir financeiramente com a causa dos movimentos. Ou seja, parte do dinheiro que sai dos cofres públicos realimentaria a cadeia sem fim de novos contingentes de ‘sem-terra’.
   Esse discurso de 'produzir alimento e ocupar terras improdutivas' seduziu muitas pessoas em outras épocas. Confesso que até já tive outra opinião a respeito da 'reforma agrária'. Era aquela maneira de ver a luta do agricultor tradicional para se manter no campo. Havia ainda a questão dos atingidos por barragens. Nesse caso, de fato, muitos perderam as suas terras e nem sempre as indenizações foram justas. Mas essa visão romântica daquelas lutas justas foi distorcida ao longo do tempo. Vou ser franco, direto: virou negociata em muitos casos. A tal ponto que nem terras públicas destinadas ao ensino e à pesquisa são poupadas. E mais, qualquer propriedade que deixe uma parte dela em período de repouso para recomposição da vida do solo, já pode ser taxada de ‘improdutiva’.
   O mensalão do campo, sob alguns aspectos, ainda é pior que o de Brasília. Está contribuindo para liquidar de vez com a maior Floresta Tropical do Planeta. O Ministério Público Federal já levantou a questão.  Talvez esteja por surgir o segundo capítulo da obra Mensalões do Brasil .
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Mais sobre o tema:
 Na matéria abaixo, extraída de  O ECO, está a informação: "Recentemente, o Ministério Público Federal entrou com ação na Justiça em 6 estados da Amazônia Legal exigindo que o Incra cumpra o licenciamento ambiental dos 2.163 projetos de assentamento na região"

Desmatamento na Amazônia Legal aumenta 377% em outubro


Desmatamento de agosto de 2011 a outubro de 2012 na Amazônia Legal (Fonte: Imazon/SAD)

Em outubro, o desmatamento na Amazônia Legal aumentou 377% sobre o mesmo mês em 2011, segundo o relatório divulgado hoje (14) pelo Imazon. Esse ano, o total do corte raso foi de 487 quilômetros quadrados contra 163,3 em outubro de 2011.

A mesma tendência aparece quando comparamos 3 meses, de agosto a outubro. Em 2012, o total desmatado a corte raso foi de 1.151,6 quilômetros quadrados contra 511 no mesmo período em 2011. Embora menos chocante que o número de outubro, isso significa um aumento de 125%.

O Pará manteve a liderança como o estado que mais desmatou. Pouco mais de um terço (36%) do desmate em outubro aconteceu no estado. Mato Grosso vem em seguida com 30%, seguido do estado do Amazonas (17%) e Rondônia (12%).


                               
Cobertura de núvens em 2011 e 2012. Clique para ampliar.

O relatório do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) do Imazon diz que esse ano a pequena cobertura de nuvens melhorou a visibilidade. Em outubro de 2012, ela foi de 83%, enquanto em outubro de 2011 não passou de 51%. Quanto maior o número, melhor a visibilidade. A razão da melhora esse ano foi a seca mais intensa.

Essa diferença pode significar que o número de outubro/11 foi distorcido para baixo. Consultado, o Imazon disse que não acredita nessa hipótese, mas que ainda pode retificar os resultados.

Quem desmatou


Categoria
Outubro de 2012
km2
%
Assentamento de Reforma Agrária
111
23
Unidades de Conservação
58
12
Terras Indígenas
17
3
Privadas, Posse & Devolutas
301
62
Total (km²)
139,5
100




O relatório também classifica os locais de desmatamento de acordo com o tipo de propriedade.  A maior parte do corte raso (62%) foi verificada em áreas privadas e 23% ocorreu em assentamentos de reforma agrária. Recentemente, o Ministério Público Federal entrou com ação na Justiça em 6 estados da Amazônia Legal exigindo que o Incra cumpra o licenciamento ambiental dos 2.163 projetos de assentamento na região..

Quase todo restante do desmatamento, 12%, ocorreu em Unidades de Conservação. Em outubro, elas perderam 58 km² de floresta.

O SAD é um sistema independente de monitoramento do Imazon. Os alertas mensais de desmatamentos usados pelo governo são dados pelo Sistema Deter. Os números do Deter para o mês de Outubro ainda não foram publicados

12 de outubro de 2012

Justiça proíbe INCRA de criar novos assentamentos no Pará



Foto: Jefferson Rudy/MMA
Daniele Bragança
10 de outubro de 2012
Fonte acessada: O Eco notícias

A Justiça Federal do Pará determinou que o Incra adote medidas para cessar o desmatamento em todos os 1.220 assentamentos instalados em território paraense. Pelos dados do INPE destacados da decisão judicial, quase 30% do desmatamento na Amazônia Legal registrado em 2011 aconteceu nos assentamentos.

Expedida pelo juiz federal Arthur Pinheiro Chaves, da 9ª Vara Federal, a decisão proíbe o órgão de Reforma Agrária de instalar novos assentamentos no Pará sem o prévio licenciamento aAmbiental e Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Pelos dados apresentados no processo, apenas 14 dos 1.220 assentamentos criados no Pará possuem área desmatada inferior a 80%. É o inverso do que diz o Código Florestal Brasileiro, o qual determina uma área de reserva legal (não desmatada ou recomposta com vegetação da região) de 80% da área de propriedades rurais localizadas na Amazônia Legal. 

Segundo o Ministério Público, autor da ação, cresceram continuamente nos últimos anos os danos que ocorrem nos assentamentos feitos em áreas destinadas à reforma agrária.

O juiz federal Arthur Pinheiro Chaves concordou com o entendimento do Ministério Público de que os procedimentos adotados pelo Incra na criação e instalação de assentamentos incentivam o desmatamento ilegal.

Para ilustrar a afirmação, a decisão judicial destacou o estudo do Imazon sobre o desmatamento em assentamentos. Segundo a ONG, no período 1997-2010, uma área de 53.150 quilômetros quadrados, ou cerca de 30% dos 1.440 assentamentos analisados foi desmatada.

O Incra agora fica obrigado a apresentar, num prazo de 30 dias, um plano de trabalho para a conclusão dos cadastros ambientais rurais e licenciamentos ambientais de todos os assentamentos no Pará. Em caso de descumprimento da decisão, o órgão de reforma agrária será multado em R$ 10 mil por dia.

Outra determinação que a Justiça Federal impôs ao Incra é de apresentar, em 90 dias, um plano de recuperação de todas as áreas degradadas apontadas na ação civil pública.

Em resposta, o Incra  divulgou uma nota afirmando que desde 2007 não cria assentamento sem licença ambiental prévia e que já marcou oficina entre os técnicos do Incra e parceiros para a discussão do Plano de Prevenção, Combate e Alternativas ao Desmatamento (PPCAD). O Instituto também afirmou que espera a intimação da Justiça para recorrer da decisão.
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Leia também:
Acabem com o INCRA. A natureza agradece (Há décadas, assentamentos do INCRA dilapidam as florestas brasileiras).
UERGS reivindica terras para estudos e pesquisas (Terras da UFSM, em São Borja, invadidas por integrantes do MST).
Dilma e Tarso querem privatizar áreas públicas no RS (Professor Mairesse, UERGS)
UFSM: Uma área de 400 hectares foi alvo de negociata (Terras em São Borja, destinadas ao ensino e pesquisa. Assentamento de 'sem-terras').
Negociata de terras públicas é uma afronta à Lei (Assentamento em terras da UFSM)
Negociata de terras: advogado encaminha representação junto ao MPF(Assentamento em terras da UFSM)
O mito das terras improdutivas (Ambientes naturais nunca são improdutivos)
A reforma agrária e o mito das terras improdutivas (Reforma agrária não é só distribuição de lotes a quem não sabe produzir).
Reforma agrária ou cambalacho? (Assentamento em terras da UFSM a custo milionário)
Uma pessoa assim merece um lote de terras? ('Sem-terra', acampado do MST, mata mulher com 29 facadas. Notícia da Folha de São Borja)

3 de agosto de 2012

UFSM: Área de 400 hectares foi alvo de negociata

Desde 29 de julho de 2012 nesta casa tremula uma bandeira do MST.
Antes o local abrigava a família de um funcionário da FEPAGRO, em São Borja - RS,
numa gleba da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM.
As terras pertenciam ao Ministério da Agricultura e foram doadas
à UFSM para implantar um campus universitário e talvez um dia a
'Universidade das Américas'
Foto: Darci Bergmann, 03/08/2012. 

Por Darci Bergmann


Uma gleba de terras de 400 hectares localizada em São Borja-RS foi cedida ao INCRA pela Universidade Federal de Santa Maria - UFSM com a finalidade de assentar 23 famílias ligadas ao MST.
Há mais de 40 anos as terras, que pertenciam ao Ministério da Agricultura, foram repassadas para a UFSM, por solicitação de José Mariano da Rocha, então reitor. A área deveria sediar um campus universitário e falava-se até na criação de uma Universidade das Américas. Por muitos anos a gleba foi administrada pela Fundação Estadual de Pesquisa Agropecuária - FEPAGRO. A falta de investimentos fez com que a FEPAGRO devolvesse as terras à UFSM.
Curiosamente, quando da instalação de um campus da Universidade Federal do Pampa - UNIPAMPA, as terras da UFSM não foram repassadas à nova instituição de ensino. O mesmo aconteceu depois com a instalação em São Borja de outra instituição federal - o Instituto Federal Farroupilha. Nem a Universidade Estadual do Rio Grande Sul - UERGS foi contemplada com algum quinhão.

Existem terras particulares para assentamentos do INCRA

As 23 famílias que estão em fase de assentamento na antiga gleba da UFSM poderiam ocupar outras glebas em oferta na região. O assunto causou polêmica em muitos setores, uma vez que algumas entidades já vinham se mobilizando para que a gleba de terra tivesse mantida a sua finalidade para educação e pesquisa. É bom lembrar que a pouco mais de 80 Km de São Borja, em Itaqui, tem um campus da UNIPAMPA onde funcionam cursos de Agronomia e Nutrição que também poderiam ocupar partes das terras da UFSM.

Educação e pesquisa também geram empregos. 

Se a argumentação é assentar pessoas desempregadas, algumas notoriamente sem vinculação com a terra, melhor seria promover o emprego com a criação de cursos técnicos e centros de pesquisa, integrando as instituições públicas - União, Estado e Município de São Borja. Sem demérito aos assentados, recrutados entre a população urbana e rural de vários municípios, a maneira como a transação foi feita cheira a algo muito estranho.

 A questão mereceria ser apreciada pelo Ministério Público Federal?

Há muitas pessoas que entendem que a questão deveria ser objeto de uma interferência do Ministério Público Federal. Como admitir que a UFSM não tenha repassado às suas coirmãs também federais as terras? Como admitir que a UFSM não tenha projetos e nunca se interessou em encontrar alternativas quando a FEPAGRO lhe devolveu a gleba? Que tipo de ideologia percorre a intelectualidade de uma massa crítica universitária que se mostrou incompetente e omissa em buscar parcerias para alavancar projetos na área de ensino e pesquisa? Uma vez que a finalidade das terras repassadas à UFSM e agora cedidas ao INCRA tinham a finalidade única de ensino e pesquisa, essas questões afloram nas mentes de muitas pessoas.

Quem teria sido o mentor da transação das terras públicas da UFSM em São Borja?

Recebi informações de que as tratativas para a transação foram articuladas pelo diretor presidente da FEPAGRO e também professor da UFSM, Danilo Rheinheimer dos Santos.O assunto vinha sendo tratado com certo sigilo.  A esta pessoa se atribui também a investida contra outras parcerias que a unidade da FEPAGRO de São Borja mantém com a Prefeitura. Uma delas seria a retirada da Casa do Mel, mantida por um convênio entre Município, FEPAGRO e Associação dos Apicultores de São Borja. Até um leigo sabe da importância das abelhas na polinização das plantas, aumentando a sua produtividade. A 'casa do mel' foi uma antiga reivindicação da comunidade. Parece que um ar de superioridade e arrogância contaminou esse nomeado político que agora preside a FEPAGRO. Ele não teria recebido pessoas da Prefeitura de São Borja para tratarem da questão das parcerias e outras formas de aproveitamento das terras da UFSM em um amplo projeto envolvendo diversas instituições locais.

A questão ambiental nas terras que pertenciam à UFSM em São Borja

Em outra matéria deste blog já foi relatada a ação ambiental desenvolvida pela ASPAN, e por mim também, em parte das terras que então pertenciam à UFSM. Igualmente a Patrulha Ambiental - PATRAM fez muitas solturas de animais silvestres ali e no meu sítio. Ainda muitas vezes fiz diligências contra as queimadas, mobilizando até voluntários para que o fogo não atingisse áreas maiores. Sempre nessas diligências, e até de forma preventiva, a Associação São Borjense de Proteção ao Ambiente Natural colaborou com algum recurso financeiro na implantação de aceiros e outras medidas de prevenção às queimadas e à caça ilegal.
Resta saber como vai ficar esse santuário da vida silvestre a partir de agora. Ao INCRA cabe a tarefa de passar instruções aos assentados, entre elas as que demandam o respeito ao meio ambiente, não só das glebas dos assentados, como no seu entorno.
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Leia também:
Dilma e Tarso querem privatizar áreas públicas no RS
A Universidade não fez. A natureza e voluntários estão fazendo uma parte
O Estado e a degradação ambiental 



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