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15 de novembro de 2012

O mensalão do campo


Por Darci Bergmann


   Já escrevi e volto a dizer: a degradação ambiental na Floresta Amazônica e em outros biomas brasileiros também tem a ver com a desastrada e bilionária política de assentamentos promovida pelo INCRA. 
   Tudo começa pela falta de critérios na escolha dos assentados. Houve época em que bastava alguém freqüentar, de vez em quando, uma barraca de lona de um acampamento qualquer e se autodenominar 'sem-terra'. Já era candidato a receber um lote bancado com dinheiro público. Depois, recebia auxílio disso e daquilo. Nos municípios que declararam 'estado de emergência' em função da estiagem deste ano de 2012, cada família de assentado teria recebido muito mais dinheiro, como auxílio, do que o agricultor familiar tradicional. 
   Na esteira do desmatamento e de assentamentos mal feitos existem muitas distorções que deveriam ser investigadas a fundo. Há quem diga que o mensalão de Brasília é café pequeno diante do que vem ocorrendo nos rincões brasileiros. Seriam mensalinhos dispersos que, no conjunto da obra, viram um mensalão do campo. Neste, também existiria uma troca de favores entre certos políticos, movimentos de 'sem-terra' e os assentados. Nessa troca, haveria o compromisso eleitoral de apoiar políticos que sustentam a bandeira dos assentamentos, sempre com o slogan de 'produzir alimento e ocupar terras improdutivas'. Confidenciou-me alguém que os assentados deveriam contribuir financeiramente com a causa dos movimentos. Ou seja, parte do dinheiro que sai dos cofres públicos realimentaria a cadeia sem fim de novos contingentes de ‘sem-terra’.
   Esse discurso de 'produzir alimento e ocupar terras improdutivas' seduziu muitas pessoas em outras épocas. Confesso que até já tive outra opinião a respeito da 'reforma agrária'. Era aquela maneira de ver a luta do agricultor tradicional para se manter no campo. Havia ainda a questão dos atingidos por barragens. Nesse caso, de fato, muitos perderam as suas terras e nem sempre as indenizações foram justas. Mas essa visão romântica daquelas lutas justas foi distorcida ao longo do tempo. Vou ser franco, direto: virou negociata em muitos casos. A tal ponto que nem terras públicas destinadas ao ensino e à pesquisa são poupadas. E mais, qualquer propriedade que deixe uma parte dela em período de repouso para recomposição da vida do solo, já pode ser taxada de ‘improdutiva’.
   O mensalão do campo, sob alguns aspectos, ainda é pior que o de Brasília. Está contribuindo para liquidar de vez com a maior Floresta Tropical do Planeta. O Ministério Público Federal já levantou a questão.  Talvez esteja por surgir o segundo capítulo da obra Mensalões do Brasil .
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Mais sobre o tema:
 Na matéria abaixo, extraída de  O ECO, está a informação: "Recentemente, o Ministério Público Federal entrou com ação na Justiça em 6 estados da Amazônia Legal exigindo que o Incra cumpra o licenciamento ambiental dos 2.163 projetos de assentamento na região"

Desmatamento na Amazônia Legal aumenta 377% em outubro


Desmatamento de agosto de 2011 a outubro de 2012 na Amazônia Legal (Fonte: Imazon/SAD)

Em outubro, o desmatamento na Amazônia Legal aumentou 377% sobre o mesmo mês em 2011, segundo o relatório divulgado hoje (14) pelo Imazon. Esse ano, o total do corte raso foi de 487 quilômetros quadrados contra 163,3 em outubro de 2011.

A mesma tendência aparece quando comparamos 3 meses, de agosto a outubro. Em 2012, o total desmatado a corte raso foi de 1.151,6 quilômetros quadrados contra 511 no mesmo período em 2011. Embora menos chocante que o número de outubro, isso significa um aumento de 125%.

O Pará manteve a liderança como o estado que mais desmatou. Pouco mais de um terço (36%) do desmate em outubro aconteceu no estado. Mato Grosso vem em seguida com 30%, seguido do estado do Amazonas (17%) e Rondônia (12%).


                               
Cobertura de núvens em 2011 e 2012. Clique para ampliar.

O relatório do SAD (Sistema de Alerta de Desmatamento) do Imazon diz que esse ano a pequena cobertura de nuvens melhorou a visibilidade. Em outubro de 2012, ela foi de 83%, enquanto em outubro de 2011 não passou de 51%. Quanto maior o número, melhor a visibilidade. A razão da melhora esse ano foi a seca mais intensa.

Essa diferença pode significar que o número de outubro/11 foi distorcido para baixo. Consultado, o Imazon disse que não acredita nessa hipótese, mas que ainda pode retificar os resultados.

Quem desmatou


Categoria
Outubro de 2012
km2
%
Assentamento de Reforma Agrária
111
23
Unidades de Conservação
58
12
Terras Indígenas
17
3
Privadas, Posse & Devolutas
301
62
Total (km²)
139,5
100




O relatório também classifica os locais de desmatamento de acordo com o tipo de propriedade.  A maior parte do corte raso (62%) foi verificada em áreas privadas e 23% ocorreu em assentamentos de reforma agrária. Recentemente, o Ministério Público Federal entrou com ação na Justiça em 6 estados da Amazônia Legal exigindo que o Incra cumpra o licenciamento ambiental dos 2.163 projetos de assentamento na região..

Quase todo restante do desmatamento, 12%, ocorreu em Unidades de Conservação. Em outubro, elas perderam 58 km² de floresta.

O SAD é um sistema independente de monitoramento do Imazon. Os alertas mensais de desmatamentos usados pelo governo são dados pelo Sistema Deter. Os números do Deter para o mês de Outubro ainda não foram publicados

12 de outubro de 2012

Justiça proíbe INCRA de criar novos assentamentos no Pará



Foto: Jefferson Rudy/MMA
Daniele Bragança
10 de outubro de 2012
Fonte acessada: O Eco notícias

A Justiça Federal do Pará determinou que o Incra adote medidas para cessar o desmatamento em todos os 1.220 assentamentos instalados em território paraense. Pelos dados do INPE destacados da decisão judicial, quase 30% do desmatamento na Amazônia Legal registrado em 2011 aconteceu nos assentamentos.

Expedida pelo juiz federal Arthur Pinheiro Chaves, da 9ª Vara Federal, a decisão proíbe o órgão de Reforma Agrária de instalar novos assentamentos no Pará sem o prévio licenciamento aAmbiental e Cadastro Ambiental Rural (CAR).

Pelos dados apresentados no processo, apenas 14 dos 1.220 assentamentos criados no Pará possuem área desmatada inferior a 80%. É o inverso do que diz o Código Florestal Brasileiro, o qual determina uma área de reserva legal (não desmatada ou recomposta com vegetação da região) de 80% da área de propriedades rurais localizadas na Amazônia Legal. 

Segundo o Ministério Público, autor da ação, cresceram continuamente nos últimos anos os danos que ocorrem nos assentamentos feitos em áreas destinadas à reforma agrária.

O juiz federal Arthur Pinheiro Chaves concordou com o entendimento do Ministério Público de que os procedimentos adotados pelo Incra na criação e instalação de assentamentos incentivam o desmatamento ilegal.

Para ilustrar a afirmação, a decisão judicial destacou o estudo do Imazon sobre o desmatamento em assentamentos. Segundo a ONG, no período 1997-2010, uma área de 53.150 quilômetros quadrados, ou cerca de 30% dos 1.440 assentamentos analisados foi desmatada.

O Incra agora fica obrigado a apresentar, num prazo de 30 dias, um plano de trabalho para a conclusão dos cadastros ambientais rurais e licenciamentos ambientais de todos os assentamentos no Pará. Em caso de descumprimento da decisão, o órgão de reforma agrária será multado em R$ 10 mil por dia.

Outra determinação que a Justiça Federal impôs ao Incra é de apresentar, em 90 dias, um plano de recuperação de todas as áreas degradadas apontadas na ação civil pública.

Em resposta, o Incra  divulgou uma nota afirmando que desde 2007 não cria assentamento sem licença ambiental prévia e que já marcou oficina entre os técnicos do Incra e parceiros para a discussão do Plano de Prevenção, Combate e Alternativas ao Desmatamento (PPCAD). O Instituto também afirmou que espera a intimação da Justiça para recorrer da decisão.
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