25 de julho de 2013

Ciência estuda efeitos nocivos do sal para além da pressão alta


Pesquisa no espaço descobriu que os efeitos do sal no organismo vão além da pressão arterial. Excesso de sal pode estar diretamente relacionado à perda óssea e doenças autoimunes.
O astronauta alemão Reinhold Ewald ficou no espaço como pesquisador e também objeto de pesquisa durante três semanas, em 1997. O físico e médico participou de um experimento sobre o metabolismo na ausência de gravidade.
Para tal, teve que anotar tudo o que ingeriu e bebeu, durante a viagem e duas semanas após retornar. Todas as excreções do astronauta foram recolhidas e comparadas com o que ele consumira, com resultado surpreendente.
"A partir daí constatou-se que alguma coisa na minha metabolização do sal funcionava diferente do que se conhece na Terra ou nos livros clínicos", conta Ewald. Durante o tempo que passou no espaço Ewald acumulou muito sal no corpo, o equivalente ao que uma pessoa saudável retém em seis litros de fluídos corporais. Mas o astronauta não estava seis quilos mais pesado.
Corpo de Ewald acumulou sal durante viagem espacial
Até o experimento, os cientistas acreditavam que todo o sal se diluía no corpo. "Os livros didáticos diziam, até então: água e sal fluem paralelamente", explica Rupert Gerzer, do Centro Alemão de Aeronáutica e Astronáutica (DLR, na sigla original). Ou seja, o excesso de cloreto de sódio deveria ser eliminado pelos rins, através da urina.
Mas depois do experimento ficou claro que o corpo humano não funciona tão simples assim. "Ao que tudo indica, os efeitos descritos na literatura médica não são os únicos, há mais alguma coisa, e isso é um terreno totalmente virgem", comenta Gerzer.
Sal demais e pressão alta
Para investigar em profundidade essa descoberta, os próximos objetos de pesquisa foram estudantes. Em isolamento, eles ingeriram quantidades de sal acima do normal. "Descobriu-se que o sal não somente regula os fluídos corporais e a pressão arterial, mas também afeta o sistema imunológico e a formação e dissolução óssea", relata o astronauta Ewald.
Assim como o astronauta na ausência de gravidade, os estudantes que receberam a superdose de sal também acumularam sódio no corpo e sua pressão arterial subiu. Jens Titze, que na época estudava medicina de Berlim, ficou tão fascinado com o comportamento do sal, que se dedicou a entender os mecanismos moleculares de ação. Atualmente, ele dirige o setor de pesquisa de medicina molecular no Hospital Universitário de Erlangen.
Glóbulos sanguíneos em guerra
Com aparelho de tomografia especial é possível medir sal no corpo
No decorrer da pesquisa, Titze pôde acompanhar os caminhos que o sal depositado traça pelo corpo. Um papel importante cabe aos macrófagos, que são "glóbulos brancos que cuidam muito carinhosamente do sal", como explica o pesquisador.
Eles medem o teor de sódio sob a pele, "e quando há sódio demais armazenado, cuidam para que o excesso seja eliminado pelos capilares linfáticos da pele". Para tal, os macrófagos expelem uma substância semioquímica que estimula o sistema linfático a se expandir.
Mas nem todos os glóbulos brancos lidam tão bem com o sal quanto os macrófagos. "Há outro tipo de glóbulo branco, os linfócitos T. Quando eles detectam o sal, nas mesmas condições, atacam e destroem tecido endógeno – o que naturalmente é uma catástrofe", aponta Titze.
Esse efeito é chamado autoimunidade. Portanto, quem consome sal em excesso não só eleva a sua pressão arterial, mas também aumenta as chances de que uma doença autoimune já existente – como, por exemplo, a esclerose múltipla – transcorra de forma mais violenta.
Monitorando o corpo
Paciente da esquerda acumulou sal em excesso, o da direita, menos
No entanto, ainda há muito que pesquisar sobre o tema. Não está claro, por exemplo, por que os idosos acumulam grande quantidade de sal sob a pele, mesmo quando se alimentam normalmente. Mas já é certo que sal demais estimula a degradação dos ossos, agravando, portanto, a osteoporose.
O objetivo dos médicos é desenvolver medidas preventivas práticas para os pacientes, a fim de que, por exemplo, a pressão alta não culmine num acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto. A tecnologia pode ajudar no diagnóstico, na forma de um aparelho de tomografia e de ressonância magnética especial, equipado com uma bobina de sódio, que realiza uma radiografia tridimensional da acumulação de sal.
O laboratório de medicina do Centro Alemão de Aeronáutica e Astronáutica vem empregando um aparelho desse tipo. "Quando vemos alguém que começa a acumular sal, trata-se de um sinal prognóstico. Naturalmente também precisamos disso para os astronautas, mas a grande importância é para a medicina normal", anuncia Gerzer.
  • Data 24.07.2013
  • Autoria Fabian Schmidt (cn)
  • Edição Augusto Valente
  • Fonte: DW

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