Pesquisa no espaço descobriu que os efeitos do sal no organismo vão além da pressão arterial. Excesso de sal pode estar diretamente relacionado à perda óssea e doenças autoimunes.
O astronauta alemão Reinhold Ewald ficou no espaço como pesquisador e também objeto de pesquisa durante três semanas, em 1997. O físico e médico participou de um experimento sobre o metabolismo na ausência de gravidade.
Para tal, teve que anotar tudo o que ingeriu e bebeu, durante a viagem e duas semanas após retornar. Todas as excreções do astronauta foram recolhidas e comparadas com o que ele consumira, com resultado surpreendente.
"A partir daí constatou-se que alguma coisa na minha metabolização do sal funcionava diferente do que se conhece na Terra ou nos livros clínicos", conta Ewald. Durante o tempo que passou no espaço Ewald acumulou muito sal no corpo, o equivalente ao que uma pessoa saudável retém em seis litros de fluídos corporais. Mas o astronauta não estava seis quilos mais pesado.
Até o experimento, os cientistas acreditavam que todo o sal se diluía no corpo. "Os livros didáticos diziam, até então: água e sal fluem paralelamente", explica Rupert Gerzer, do Centro Alemão de Aeronáutica e Astronáutica (DLR, na sigla original). Ou seja, o excesso de cloreto de sódio deveria ser eliminado pelos rins, através da urina.
Mas depois do experimento ficou claro que o corpo humano não funciona tão simples assim. "Ao que tudo indica, os efeitos descritos na literatura médica não são os únicos, há mais alguma coisa, e isso é um terreno totalmente virgem", comenta Gerzer.
Sal demais e pressão alta
Para investigar em profundidade essa descoberta, os próximos objetos de pesquisa foram estudantes. Em isolamento, eles ingeriram quantidades de sal acima do normal. "Descobriu-se que o sal não somente regula os fluídos corporais e a pressão arterial, mas também afeta o sistema imunológico e a formação e dissolução óssea", relata o astronauta Ewald.
Assim como o astronauta na ausência de gravidade, os estudantes que receberam a superdose de sal também acumularam sódio no corpo e sua pressão arterial subiu. Jens Titze, que na época estudava medicina de Berlim, ficou tão fascinado com o comportamento do sal, que se dedicou a entender os mecanismos moleculares de ação. Atualmente, ele dirige o setor de pesquisa de medicina molecular no Hospital Universitário de Erlangen.
Glóbulos sanguíneos em guerra
No decorrer da pesquisa, Titze pôde acompanhar os caminhos que o sal depositado traça pelo corpo. Um papel importante cabe aos macrófagos, que são "glóbulos brancos que cuidam muito carinhosamente do sal", como explica o pesquisador.
Eles medem o teor de sódio sob a pele, "e quando há sódio demais armazenado, cuidam para que o excesso seja eliminado pelos capilares linfáticos da pele". Para tal, os macrófagos expelem uma substância semioquímica que estimula o sistema linfático a se expandir.
Mas nem todos os glóbulos brancos lidam tão bem com o sal quanto os macrófagos. "Há outro tipo de glóbulo branco, os linfócitos T. Quando eles detectam o sal, nas mesmas condições, atacam e destroem tecido endógeno – o que naturalmente é uma catástrofe", aponta Titze.
Esse efeito é chamado autoimunidade. Portanto, quem consome sal em excesso não só eleva a sua pressão arterial, mas também aumenta as chances de que uma doença autoimune já existente – como, por exemplo, a esclerose múltipla – transcorra de forma mais violenta.
Monitorando o corpo
No entanto, ainda há muito que pesquisar sobre o tema. Não está claro, por exemplo, por que os idosos acumulam grande quantidade de sal sob a pele, mesmo quando se alimentam normalmente. Mas já é certo que sal demais estimula a degradação dos ossos, agravando, portanto, a osteoporose.
O objetivo dos médicos é desenvolver medidas preventivas práticas para os pacientes, a fim de que, por exemplo, a pressão alta não culmine num acidente vascular cerebral (AVC) ou infarto. A tecnologia pode ajudar no diagnóstico, na forma de um aparelho de tomografia e de ressonância magnética especial, equipado com uma bobina de sódio, que realiza uma radiografia tridimensional da acumulação de sal.
O laboratório de medicina do Centro Alemão de Aeronáutica e Astronáutica vem empregando um aparelho desse tipo. "Quando vemos alguém que começa a acumular sal, trata-se de um sinal prognóstico. Naturalmente também precisamos disso para os astronautas, mas a grande importância é para a medicina normal", anuncia Gerzer.
- Data 24.07.2013
- Autoria Fabian Schmidt (cn)
- Edição Augusto Valente
- Fonte: DW
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