30 de julho de 2013

Árvores: o que os olhos não vêem o coração não sente

Por Darci Bergmann








   A retirada de uma árvore exótica causa polêmica. A morte lenta de milhares de árvores nativas não comove. Parecem coisas distintas, mas os fatos se dão na mesma cidade e no mesmo tempo, ante a vista das mesmas pessoas. Como explicar a reação e a indiferença? As questões ambientais seriam vistas de forma diferente mesmo entre as pessoas sensíveis à causa?

   Existem perguntas que não tem respostas fáceis, pois o comportamento humano depende de muitos fatores. Estamos num tempo de muita mobilização para algumas causas. Em termos de preservação ambiental, as pessoas também se articulam e se posicionam, mesmo que muitas delas não tenham pleno conhecimento do tema. Nesses casos, o coração fala mais alto. E cortar uma árvore exótica, mal localizada e sujeita a cair a qualquer momento pode causar uma sensação de perda. Realmente é uma perda, que já começou bem antes no plantio. Perda pela escolha mal feita da espécie em relação ao local de plantio que um dia mostraria os problemas que muitos não vêem. 
  Foi assim num caso recente.O que todos percebiam era uma árvore crescendo, inserindo-se na paisagem e fornecendo sombra num local de muita circulação. E todos querem sombra num centro de cidade, cujos verões registram altas temperaturas. De repente, com o passar dos anos, a mesma entidade que plantou a muda - agora árvore - precisa retirá-la, porque o tronco se inclinou e apresenta rachadura na bifurcação. A copa também se desviou em busca da luz, eis que outra árvore mais alta, próximo a ela, fazia-lhe concorrência. E o local de plantio era um terreno elevado, acima do nível do chão aterrado, em frente a uma Igreja. E mais, localizada entre duas escadarias, sobre as quais caíam os figos que as pessoas mais idosas não viam ao saírem do templo. Algumas pessoas caíram nos degraus repletos de frutos e pararam no hospital da cidade. No outro lado da rua, onde se localizava a árvore exótica Ficus auriculata, cujo corte foi requerido, a não mais de quarenta metros, uma outra realidade acontece. Ali existe uma praça com dezenas de ipês amarelos e da espécie ipê-roxo, entre espécies nativas e exóticas. Muitas delas estão afetadas por um parasita conhecido como erva-de-passarinho. Na cidade e no entorno, milhares de árvores estão assim, condenadas à morte lenta, pois a sucção da seiva pelo parasita exaure o hospedeiro. Centenas de exemplares de ipê-roxo já pereceram assim nos últimos anos. A remoção do parasita é lenta e cara, mas necessária. A Prefeitura, alertada, alega falta de equipamento e pessoal para realizar o serviço. As pessoas olham para as árvores, mas não percebem o dano. Não se sensibilizam. Ninguém nas redes sociais brada contra o descaso, a não ser uns poucos conhecedores do assunto. 
    As coisas são assim mesmo, como diz o ditado popular. O que os olhos não vêem, o coração não sente.
   

Um comentário:

Tiago G. Lopes disse...

É interessante que, quando é para salvar árvores, faltam recursos, mas quando é para destruí-las, em menos de 15 minutos está tudo no chão. Temos que protegê-las todas e plantar mais (não só quando tem de se fazer a compensação). Parabéns pelo teu trabalho, Darci.