5 de junho de 2014

Os nossos solos também são cisternas de água


 Por Darci Bergmann

  Lá no meio do brejal silencioso,  entre aromas e o adejar de borboletas, encontro mais um motivo   de gratidão a Deus quando mato a sede com a água pura que brota das entranhas da terra.
  

   Quero me reportar à água, em especial sobre a importância de armazená-la no solo, melhorando as condições de infiltração e recarga dos aquíferos. Nos últimos anos temos desenvolvido muito a capacidade de armazenar água na superfície – através das barragens e o seu uso na irrigação das lavouras. Isto já é um avanço, mas ainda não o suficiente para resolvermos a crise de água. No atual momento, em muitas regiões, as populações e as lavouras amargam grandes perdas com a escassez de chuvas. As comunidades e gestores públicos se mobilizam para ampliar os sistemas de armazenamento de água. Os cuidados começam com a conservação do solo e dos ambientes naturais de recarga. 


   É de fundamental importância melhorar a infiltração de água no solo

Isto se consegue com o aumento da cobertura vegetal, investimentos em arborização e na preservação e recuperação dos banhados.     Preocupa o fato de que alguns técnicos recomendem a utilização das águas profundas para irrigação de lavouras sem medidas que melhorem a recarga desses mananciais. As consequências podem ser o esgotamento dessas reservas. Demoram meses, anos e décadas para que uma parte das águas das chuvas chegue novamente a esses reservatórios subterrâneos. E o quadro se agrava com a expansão urbana que impermeabiliza a superfície do solo.

A vegetação forra a superfície do solo e, junto com as raízes,
aumenta a infiltração das águas pluviais.


   Os banhados desempenham um papel importante na reposição da água

Eles fazem o efeito esponja, retendo a água das chuvas que vão se infiltrando nas camadas mais profundas. A drenagem dos banhados acelera o escoamento das águas. O acréscimo de mais alguns hectares de terra drenada não traz ganho real, quando se perde o principal fator de uma boa colheita - a água.

Banhados e brejos retardam as enchentes e recarregam
os mananciais.


   A água dos reservatórios de superfície – açudes - sofre perdas expressivas pela evaporação.

 A baixa umidade relativa do ar, a incidência de ventos e as altas temperaturas quase sempre coincidem com os meses de poucas chuvas.

   O assoreamento da bacia de acumulação dos açudes também reduz a capacidade de estocagem de água.

Nesses casos, muitos proprietários procuram aumentar a altura da barragem, o que nem sempre é a melhor solução. Isto porque aumenta a área alagada com perdas de vegetação nativa e a maior superfície de lâmina de água expõe a maiores perdas por evaporação. Quando é feita a ampliação da barragem, é de suma importância fazer arborização no entorno do açude, como preconiza o Código Florestal.

   Nas pequenas propriedades

 Algumas práticas conservacionistas podem resultar em melhor aproveitamento da água. Pelo menos garante água para o consumo humano e para alguns animais. Aqui me refiro à água subterrânea de pequenos poços – os chamados poços de balde. Quanto mais arborizada a área, maior será a infiltração da água das chuvas. Terraços em nível, pequenas barragens e a preservação dos baixios úmidos são medidas que fazem a diferença nas épocas de seca. Formei experiência nessa área aplicando os conceitos da cobertura vegetal – principalmente arborização e recuperação de um pequeno banhado de menos de um hectare. Um poço com diâmetro de 0,10 m e com profundidade de16,00 m era a única garantia de água no período de estiagens. Com o passar dos anos, a parte reflorestada e a várzea recuperada aumentaram a retenção de água. Agora, pequenos poços revestidos de tijolo e com bocal cimentado também garantem água mesmo nos meses críticos. Um desses poços tem apenas dois metros de profundidade. Escavado num leito pedregoso, manteve sempre uma lâmina de 0,30 m de água fria e cristalina, no mesmo período de escassez em que poços mais profundos da região secaram. A vazão desse poço não permite sonhar com irrigação em escala, mas garante água potável de boa qualidade a uma família média. 
 O custo é destinar parte das terras à preservação dos mananciais.




   É desalentador ver a estiagem castigando os campos, as lavouras e as árvores perdendo as folhas. Os riscos de queimadas aumentam e parece não existirem alternativas de permanência no campo. Mas, quando chove, o cenário muda completamente e o ânimo se renova. É nesse momento de reflexão que nós humanos precisamos tomar consciência de que a natureza precisa ser  entendida e não hostilizada com mais destruição. Essa reverência aos ambientes naturais é uma forma de gratidão ao Princípio Criador que faz uma ligação entre o sagrado e a sustentabilidade. 

Lá no meio do brejal silencioso,  entre aromas e o adejar de borboletas, encontro mais um motivo de gratidão a Deus quando mato a sede com a água pura que brota das entranhas da terra.
  
   

31 de maio de 2014

Produção de mel com abelhas sem ferrão


Abelha jataí (Tetragonisca angustula)
Foto: Demeter, site Wikipédia

Com baixo custo e alta rentabilidade, a produção de mel de abelhas sem ferrão torna-se cada vez mais uma boa alternativa de renda aos agricultores familiares. Quem comprova é o José Nelson Nunes que desde criança lida com a abelha jataí e já faz uma década que passou a comercializar a produção.
Acesse:

Fontes: Jornal Agrosoft, 11-04-2014
Foto: Demeter, site Wikipédia

29 de maio de 2014

Brasil padrão Fifa


O artista se chama Paulo Ito, do Bairro de Pompéia, em São Paulo-SP


Por Darci Bergmann


Como gostaria que no Brasil fosse tudo no padrão Fifa. Eis que agora padrão Fifa é sinônimo de qualidade
Assim, não teríamos tantas cenas de violência. 
Não veríamos as televisões mostrando as pessoas amontoadas nos hospitais ou esperando meses e anos por uma cirurgia pelo SUS.

Não veríamos o trânsito caótico das cidades e as pessoas espremidas em trens e ônibus como se fosse gado em brete de curral.
Não teríamos tantas moradias em áreas de risco, como encostas de morros e margens de rios, que deveriam estar ocupadas pela vegetação protetora.  
No padrão Fifa, as nossas cidades  seriam mais limpas, com saneamento básico, reciclagem e destinação correta do lixo, mais áreas verdes e mais segurança.
No padrão Fifa, a educação seria uma das prioridades, começando com a remuneração adequada dos profissionais do ensino. Só para lembrar. Tem educadores que, trabalhando uma vida inteira, recebem menos do que alguns jogadores de futebol num único mês.
No padrão Fifa, os governos deveriam fornecer obras e serviços de qualidade. Para isso, toda a eficiência é necessária, eliminando-se o desperdício com propagandas e a utilização do poder para empregar amigos e correligionários. Nenhum turista estrangeiro entende porque um país com tantas mazelas tem um governo com trinta e nove ministérios.
Pelo que se percebe, o padrão Fifa no Brasil é focado apenas no evento Copa do Mundo. Nem as obras de mobilidade urbana e outras melhorias tão alardeadas como ganhos para a sociedade ficarão concluídas. Mas a claque palaciana recheia os noticiários com propaganda enganosa. Claro, com dinheiro dos nossos impostos. 
Padrão Fifa é só para os estádios. Para o povo brasileiro continua tudo padrão fifi. 
Vou torcer pela nossa seleção. Mas depois da Copa, vou torcer para que as coisas mudem neste País.
  



27 de maio de 2014

Berlinenses decidem manter parque na área do antigo aeroporto de Tempelhof

Referendo acaba com planos do governo de construir milhares de apartamentos e escritórios no local, que se transformou num popular espaço de lazer da capital alemã.




Os moradores de Berlim decidiram neste domingo (25/05), através de um referendo, o destino da grande área em que funcionava o aeroporto de Tempelhof. A grande maioria, 64,3% dos eleitores, votou a favor de que o local, onde hoje fica o maior parque público da cidade, seja mantido como está.

Os berlinenses tiveram que decidir sobre dois projetos de lei. O primeiro previa a preservação completa do parque, o Tempelhofer Feld (Campo de Tempelhof), e o outro, a aprovação de um projeto desenvolvido pelo Senado de Berlim para construir apartamentos, escritórios e uma biblioteca em 70 dos 300 hectares ao redor do antigo aeroporto.
A maioria dos moradores votou, portanto, contra qualquer tipo de construção na área, frustrando os planos do prefeito Klaus Wowereit (SPD). O político anunciou que buscará outro local para os empreendimentos. "O resultado do referendo sobre o Tempelhof é claro e temos de aceitá-lo", disse na noite de domingo.
O senador Michael Müller (SPD) chamou o resultado de uma amarga derrota. Ele lamentou a chance perdida de construir 4.700 apartamentos na área, que, segundo ele, também beneficiariam moradores de baixa renda.
Com base no valor de imóveis na região, calcula-se que os 300 hectares cobertos de grama do Tempelhofer Feld, cortados por duas pistas de asfalto, valham mais de um bilhão de euros.
O referendo ocorreu em paralelo às eleições europeias, o que não diminuiu o interesse da população. Em algumas zonas eleitorais, os moradores tiveram que esperar até uma hora, pois as células haviam acabado.
Projeto não aprovado previa prédios em cerca de um quarto da área total do parque



Local histórico
Após o fechamento do aeroporto, em 2008, o prédio principal foi transformado num local para feiras, shows e eventos. Em 2010, foi aberto o parque Tempelhofer Feld. Com seu vasto gramado no meio da cidade e quase nenhuma árvore, moradores encontram ali espaço para soltar pipa, tomar sol, praticar esportes e admirar o pôr do sol.
Muitos berlinenses se engajaram para manter o parque como ele está. Para Felix Herzog, que liderou a campanha de preservação, o resultado do referendo mostra que os habitantes não confiam no governo da cidade.
A vitória foi comemorada no parque na noite deste domingo, com rojões e uma legião de bicicletas tocando seus sinos. Os ativistas a favor da preservação argumentam que Berlim, com 3,4 milhões de habitantes, precisa de mais espaços abertos e que se trata de um local histórico.
Originalmente um campo de treinamento do Exército, o local funcionou como aeroporto a partir de 1923. O grande terminal de passageiros, em forma de arco, foi construído pelos nazistas em 1936 e seu futuro não foi discutido no referendo. O aeroporto também foi usado para abastecer a cidade com carvão e alimentos durante um bloqueio imposto a Berlim Ocidental pelos soviéticos, entre 1948 e 1949.
MAS/dpa/afp

  • Data 26.05.2014
  • Edição Luisa Frey
Fonte: DW-DE

16 de maio de 2014

Menos florestas, menos água

Por Darci Bergmann


  Em teoria, a maior parte das pessoas sabe que as florestas são importantes na preservação dos mananciais hídricos. Na prática, árvores e florestas inteiras são removidas ante a expansão crescente das cidades e da agricultura. Conciliar essas questões tem sido difícil. Uma das razões é que a população humana cresce desordenadamente.
    O crescimento demográfico exige mais espaço físico para moradias, produção de alimentos, bens de consumo e muita água. As crises da falta de água, que antes pareciam distantes e restritas às regiões mais áridas, podem se tornar mais frequentes em cidades e regiões mais densamente povoadas, diante do novo cenário de mudanças climáticas.
         Isto explica em parte o que vem ocorrendo na região metropolitana de São Paulo. A rápida expansão urbana destruiu o cinturão de florestas, impermeabilizou e reduziu a infiltração das águas de recarga dos mananciais num raio de dezenas de quilômetros. Sem falar na poluição e assoreamento dos rios. Num cenário de chuvas normais, os sistemas de captação permitiram a expansão urbana prevista, mas cada vez mais vulnerável. E o inusitado ocorreu com a seca prolongada na região Sudeste, minguando os mananciais de abastecimento.    
     Crises de água, como a de São Paulo, devem remeter à reflexão de todos os consumidores e autoridades. Os consumidores devem assumir o seu papel, deixando de gastar irresponsavelmente um bem de valor inestimável. Também podem buscar soluções locais de captação de águas das chuvas, reutilização das águas servidas, etc. Simplesmente criticar este ou aquele gestor não resolve o problema. As autoridades podem criar dispositivos para os novos tempos num cenário de incertezas do clima. 
   Dentre as medidas que as autoridades podem estabelecer, está a de estimular a preservação dos recursos hídricos com o pagamento de serviços ambientais aos proprietários rurais. Por exemplo: recuperação de nascentes, reflorestamento, etc. Redução de impostos a produtos e serviços de reciclagem e reuso da água, tanto para a agricultura, quanto nas atividades industriais e mesmo a nível domiciliar. Neste contexto, é muito válido o desconto a quem reduzir o consumo como já está em vigor em São Paulo. É um reconhecimento das autoridades a quem poupa um bem tão valioso quanto a água, especialmente numa época de seca, da qual ninguém está imune. 
    



Mais sobre o tema: 1) Os nossos solos também são cisternas de água

2) Matéria publicada no site da DW

3) Falta d'água em cidades tem a ver com a devastação desenfreada da Amazônia (Reportagem do Fantástico, Rede Globo, edição de 31-08-2014).

Desmatamento agravou crise da água em SP

Sistema Cantareira perdeu 70% de mata em duas décadas. Cobertura vegetal aumenta a vida útil dos reservatórios, além de prolongar tempo de abastecimento durante seca.

Depois de atingir o menor nível já registrado – apenas 8,4% da sua capacidade –, o sistema Cantareira, principal fornecedor de água da região metropolitana de São Paulo, vai em busca das últimas gotas. Nesta quinta-feira (15/05), a Sabesp inicia uma operação emergencial para recuperar o chamado "volume morto" do reservatório.
A crise no abastecimento de água não se deve apenas ao calor recorde e ao menor índice de chuvas já registrado nos últimos 84 anos. Especialistas defendem que o desmatamento em bacias hidrográficas contribui para diminuir a quantidade e a qualidade das águas, tanto superficiais quanto subterrâneas.
"Nós temos apenas 30% de área com florestas preservadas nesse manancial [Sistema Cantareira]. O restante precisa ser recuperado ou têm uso inadequado de solo", afirma a coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro.
Resultados de um experimento feito pela ONG desde 2007 – que restaura uma floresta num centro em Itu, interior de São Paulo – comprovam essa relação. "Em 2012, apenas cinco anos depois, foi verificado que o nível dos lençóis freáticos subiu 20% e o dos reservatórios, 5%", argumenta Ribeiro.
Estudos apontam que a floresta atua como reguladora do ciclo hidrológico, atenuando os impactos de eventos climáticos extremos, como secas e enchentes. "A floresta aumenta a resiliência dos mananciais. O desmatamento não é causa da seca, mas, se houvesse maior cobertura vegetal, o esgotamento dos reservatórios poderia ser evitado", diz Ribeiro.
O problema, entretanto, não está restrito a São Paulo. De acordo com um levantamento inédito do Pacto pela Restauração da Mata Atlântica, os reservatórios considerados críticos pela Agência Nacional de Águas (ANA) perderam em média 80% de sua cobertura florestal.
"Ainda estamos detalhando o estudo, mas já podemos perceber que uma das semelhanças entre os mananciais críticos em relação ao abastecimento de água é o desmatamento", explica o coordenador geral do Pacto e diretor para Mata Atlântica da Conservação Internacional, Beto Mesquita.
A pesquisa inclui as capitais do litoral do país, além de Belo Horizonte, Curitiba e São Paulo, bem como cidades do interior paulista, como Sorocaba e Campinas.
Abastecimento de água da metrópole paulista está ameaçado


O papel da floresta
A floresta tem uma série de funções no ciclo hidrológico. Quando a chuva cai num terreno com cobertura vegetal, a água infiltra lentamente no solo, até atingir os lençóis freáticos. Aos poucos, ela aflora nas nascentes e enche os rios, até chegar às represas.
"A floresta quebra a energia da chuva, porque parte da água fica na cobertura das árvores e atinge o chão devagar. Além disso, o solo da mata é muito poroso, com matéria orgânica e raízes. Por isso, há mais espaço interno e maior capacidade de armazenamento", explica Mesquita. Ele aponta também que, por essa característica, o solo da floresta libera um fluxo de água mais constante, mesmo durante uma estiagem.
Malu Ribeiro ressalta que o desmatamento ao redor do Cantareira está prejudicando a oferta de água na região. "O sistema está localizado no fundo do vale do Rio Jaguari, que tem um conjunto de nascentes na Serra da Mantiqueira. O desmatamento no curso dos rios até o reservatório faz com que essas nascentes desapareçam e os cursos d'água não consigam se recuperar."
Enchentes e assoreamento
Onde não há floresta, a infiltração da chuva no terreno é mais difícil. Num solo de pastagem, por exemplo, a quantidade de água escoada é até 20 vezes maior que em área de vegetação, segundo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), Philip Fearnside.
Por esse motivo, em período de muita precipitação, áreas desmatadas estão mais sujeitas a enchentes. A água escoa rapidamente e em quantidade, enchendo os rios e represas, muitas vezes de forma desastrosa. Neste processo, a água carrega consigo muito material orgânico, erodindo o terreno e assoreando os reservatórios.
"Esse é um problema grave no Brasil e principalmente no Sistema Cantareira, porque perdemos a capacidade de reservar água. Quando chove muito, o excedente acaba sendo jogado fora", argumenta Ribeiro.
Segundo Mesquita, por evitar o assoreamento, a floresta aumenta a vida útil do reservatório, além de prolongar o tempo de abastecimento durante uma seca.
Umidade e qualidade da água
Outra importante função da floresta é reter água da atmosfera. Na bacia do Rio Guandu, no estado do Rio de Janeiro, 30% da água é incorporada ao sistema por essa via, segundo estudo da Conservação Internacional. "Quando vêm a neblina e nuvens carregadas, quanto mais floresta tiver em regiões montanhosas, maior a retenção de água", diz Mesquita.
A floresta contribui para manter a umidade do ar, através da transpiração das plantas. "Cerca de 30% da água na atmosfera vêm das florestas. Num reservatório, se o ar está seco, isso também aumenta a evaporação na represa", alerta o presidente e pesquisador do Instituto Internacional de Ecologia de São Carlos, José Galízia Tundisi.
A vegetação também participa no ciclo hidrológico, atuando como um filtro para manter a qualidade da água. "A floresta retém metal pesado em suas raízes e matéria em suspensão. Ela também filtra a atmosfera e diminui a quantidade de partículas que podem cair na água", afirma Tundisi.
Um levantamento deste ano da Fundação SOS Mata Atlântica em sete estados também comprova essa relação entre floresta e a qualidade da água. Dos 177 pontos avaliados, apenas 19 (11%), localizados em áreas protegidas e de matas ciliares preservadas, tiveram bons resultados.
Floresta amazônica também influencia regime de chuvas em São Paulo

    Desmatamento na Amazônia
Não é apenas a perda de floresta nos mananciais que pode ameaçar a oferta de água em São Paulo. O desmatamento na Amazônia também impacta negativamente a quantidade de chuva que chega ao sudeste.
Estudos revelam que até 70% da precipitação em São Paulo, na estação chuvosa, depende do vapor d'água amazônico. O meteorologista Pedro Silva Dias, da Universidade de São Paulo, também pesquisa o tema. "O desmatamento na Amazônia vem causando impacto, por exemplo, a produção de arroz no Brasil. Se houver um processo muito intenso de perda de floresta amazônica, as regiões sul e sudeste sofrerão um processo de desertificação", defende Ribeiro.
Philip Fearnside diz que esse desmatamento, em torno de 20%, não explica a seca atual em São Paulo. "Ainda tem 80% da floresta amazônica, isso não é suficiente para causar uma queda dramática na chuva de São Paulo de um ano para o outro", diz o pesquisador, que ganhou o Prêmio Nobel da Paz em 2007, com outros cientistas, por alertar contra os riscos do aquecimento global.
Fearnside ressalta, entretanto, que o impacto é gradual e progressivo. "Se continuar desmatando, como é o plano do governo com os projetos do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), vai diminuir o fluxo de água para São Paulo, que já está no limite para o abastecimento. Cada árvore que cai, é menos água indo para lá."
Mentalidade do esgotamento
Para os especialistas, há uma mentalidade voltada para o esgotamento dos mananciais, que prejudica a gestão dos recursos hídricos no Brasil.
"É a falsa cultura da abundância, a ideia de que podemos esgotar os reservatórios, porque depois vem o período de chuvas e enche de novo. Só que há uma diminuição do volume de águas ao longo das décadas em vários reservatórios do sudeste. Em São Paulo, isso ocorre na bacia do Piracicaba e na bacia do sistema Cantareira", afirma Ribeiro.
José Galízia Tundisi chama esse pensamento de "aqueduto romano". Consiste em usar o reservatório até esgotar e depois buscar água limpa em uma região mais distante. "É o que São Paulo está fazendo. Em breve vai ter que pegar água no Paraná", afirma o pesquisador.
Os pesquisadores alertam que é muito difícil recuperar um manancial depois de exaurido. O solo fica pobre e seco, funcionando como uma esponja. "Quando chover, o terreno vai chupar grande volume de água, até que ele recomponha os aquíferos subterrâneos. Em alguns casos é até impossível reverter a degradação", diz Ribeiro.
Com a retirada do "volume morto" do Cantareira, especialistas temem pela recuperação do reservatório. A reserva, que nunca foi usada antes, será puxada por bombas, já que fica abaixo do ponto de captação da represa."Se usar todo o volume morto do Cantareira, vai levar anos para retornar ao que era antes", lamenta Tundisi.

5 de maio de 2014

População se revolta e expulsa invasores do MST

   Era uma questão de tempo.  As pessoas que trabalham e pagam impostos já cansaram de sustentar invasores de terra que só querem benefícios do Estado. A pretensa reforma agrária, defendida por alguns movimentos sociais, tem-se transformado numa sangria de dinheiro público. Pessoas que nada tem a ver com as lides no campo são aliciadas para acampamentos de 'sem-terra' e dali partem para invasões.
    Grupos de vadios e aproveitadores querem terra, casa e uma série de regalias que a maioria da população não tem. E ainda tem políticos que apoiam essa falsa reforma agrária que está em curso no Brasil. Não se trata de ser de esquerda ou de direita. A questão é que a vadiagem não pode ser financiada com recursos públicos que fazem falta para a educação, saúde, segurança e transportes. 
       Veja a seguir um fato que ocorreu em Santa Catarina.
     
Acesse:  População se revolta e expulsa invasores do MST

23 de abril de 2014

A Internet sob censura

   Em diversos países a liberdade de expressão pela internet está ameaçada. Governos utilizam os mais diferentes pretextos para amordaçarem opositores. Quase sempre o motivo da censura está ligado a um suposto 'perigo do terrorismo'.
   No Brasil, a interferência do governo sobre os meios de comunicação já é real. Ela ocorre de forma dissimulada. Por exemplo, ameaçando o corte de publicidade com verbas públicas quando o governo é contrariado. Isto remete a que empresas recomendem aos seus colaboradores a não manifestarem opiniões que desagradem à fonte pagadora oficial. 
     A internet permitiu a circulação livre de idéias de forma rápida e agora parece ser a bola da vez. O famigerado Marco Civil da Internet foi 'pensado' com o intuito de instrumentalizar o governo brasileiro com um aparato legal de censura. O texto original sofreu algumas alterações. Ele permitia que a lei fosse regulamentada por um decreto ao sabor dos interesses da Presidência da República. Mas o perigo ainda persiste, pois existem nuances no texto aprovado que podem remeter a uma censura. Basta o governo sentir-se ofendido por algumas manifestações que expõem os seus 'mal-feitos'. É esperar para ver.
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Veja a seguir matéria veiculada no site da DW

Fundador acusa Kremlin de assumir controle da maior rede social russa


Pavel Durov anuncia que deixou a Rússia por ter se recusado a fornecer informações às autoridades locais. Ele afirma ter sido demitido da rede social que fundou, a VKontakte.
O fundador da principal rede social da Rússia, Pavel Durov, de 29 anos, anunciou nesta terça-feira (22/04) ter deixado o país depois de ter sido demitido do cargo de diretor-geral da empresa, em meio a tensões com as autoridades de Moscou.
O controverso fundador da VKontakte, rede social preferida dos russos e que supera o concorrente Facebook na região da antiga União Soviética, com mais de 100 milhões de usuários, disse que não pretende regressar à Rússia.
Em declarações ao site de tecnologia TechCrunch, Durov argumentou que optou por deixar a Rússia depois de se recusar a fornecer aos serviços secretos russos os dados pessoais dos organizadores do grupo da Praça Maidan, o centro da contestação pró-europeia na Ucrânia.
"Receio que não há como voltar atrás. Não depois de ter recusado publicamente cooperar com as autoridades. Eles não me suportam", disse ao TechCrunch. "Infelizmente, [a situação na Rússia] é incompatível neste momento com o negócio da Internet", acrescentou.
Por meio de um comunicado, Durov afirmou que, na prática, o Kremlin assumiu o controle da VKontakte por meio de aliados do presidente Vladimir Putin, como Igor Sechin, chefe executivo da maior petrolífera do país, a Rosneft, e Alisher Usmanov, homem mais rico da Rússia, que controla parcialmente o maior acionista da VKontakte, o grupo Mail.ru.
Mas foi o próprio Durov que vendeu sua parte à Mail.ru, que controla 52% da empresa. Os outros 48% pertencem ao grupo de investimento United Capital Partners, que Durov acusa de ter relações com os serviços secretos.
A VKontakte declarou que Durov foi oficialmente afastado nesta segunda-feira depois de não ter recuado de seu pedido de demissão, em 21 de março, passado o período de um mês que ele teria para fazê-lo.
Já Durov afirma que ficou sabendo da sua demissão pela imprensa. Segundo o site da emissora Voz da Rússia, ele afirma que o conselho de diretores da empresa havia aprovado o cancelamento da sua carta de demissão em 3 de abril e que a informação fora publicada em sua página na rede social.
A saída de Durov ocorre num momento em que a Duma (câmara baixa do Parlamento russo) adotou um conjunto de leis que foram apresentadas como medidas de combate ao terrorismo, mas que permitem um maior controle governamental da Internet, considerado um dos últimos espaços de liberdade de informação num país dominado pela mídia estatal.
Os blogueiros estão entre os principais alvos das novas leis, que atribuem a esses espaços de opinião as mesmas obrigações dos órgãos de comunicação públicos. Qualquer blog que tenha mais de três mil visitantes diários deve comunicar essa informação à autoridade que controla a mídia russa e arquivar esses dados durante seis meses.
AS/lusa/afp

15 de abril de 2014

Glifosato, um herbicida que está junto com os nossos alimentos

Por Darci Bergmann

     O alarme disparou. Novos estudos revelaram que o herbicida glifosato é mais nocivo à saúde do que se supunha. Largamente empregado na agricultura e até nas áreas urbanas, resíduos do dessecante aparecem numa grande gama de alimentos. Em milhares de pessoas de diferentes países ele apareceu em amostras de urina.
   Agora já se sabe que ele causa diversos distúrbios e pode potencializar o surgimento de outras doenças em humanos e animais.
      No ambiente, ele causa grande impacto à vegetação no entorno das lavouras que servem de habitats a diversas espécies de animais.
      Tenho observado o aumento no consumo de glifosato em áreas urbanas. A chamada capina química substituiu a tradicional enxada, a um aparente custo mais baixo. Pessoas aplicam glifosato nos pátios urbanos sem as mínimas precauções. Alegam que o produto é quase inofensivo e por isso dispensaria maiores cuidados. No entanto a realidade é outra. Em certa ocasião flagrei uma mulher aplicando glifosato em frente à sua residência. Ao lado dela estava uma menina de uns três anos de idade. Recomendei à mulher que tivesse mais precauções no uso do dessecante e que pelo menos afastasse aquela criança do local. A resposta foi que ela já estava acostumada na utilização de glifosato e que nunca notara problemas de saúde nela ou em seus familiares.  
 No Brasil, o assunto glifosato é agora motivo de alarme. A ANVISA, Agência Nacional de Vigilância Sanitária, quer fazer a reavaliação do glifosato. A pressão parte também de entidades da sociedade civil e do Ministério Público Federal. A questão envolve muitos interesses em jogo, principalmente por ser o glifosato de amplo uso na agricultura, como é o caso da soja transgênica.
    A discussão sobre restrições de uso ou a proibição do glifosato pode se estender por muitos anos. 
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Veja a seguir matéria publicada no site da Deutsche Welle

Pedido para reavaliar herbicida a base de glifosato está parado há 6 anos

Pedido é da própria Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Herbicida é o mais vendido no mundo e no Brasil, mas estudos apontam riscos à saúde.
Há seis anos, o glifosato, um dos agrotóxicos mais usados no mundo e mais vendido no Brasil, integra uma lista de produtos que precisam passar por uma reavaliação toxicológica. O pedido é da própria Anvisa, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária: para o órgão, uma nova análise é necessária porque há indícios de que o herbicida é potencialmente nocivo à saúde e ao meio ambiente.
Em 2008, a agência reguladora reconheceu que o produto vendido no país desde o final década de 1970 precisaria passar por novos testes que garantissem a segurança do produto. Caso contrário, sua venda poderia ser proibida ou restringida no Brasil. Entretanto, o processo de reavaliação ainda não foi concluído.
A Anvisa afirma que está cumprindo a legislação que permite uma" visão ampla dos três setores envolvidos (agricultura, saúde e meio ambiente) e dá direito de ampla defesa aos interessados, além de permitir que a comunidade científica faça parte da discussão de forma ativa", diz Jeane de Almeida Fonseca, da gerência de Análise Toxicológica da instituição.
O processo de reavaliação envolve não somente a Anvisa, responsável pelos aspectos relacionados à saúde, mas também o Ministério da Agricultura e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).
Um dos principais problemas enfrentados para a reavaliação do herbicida são as ações judiciais, movidas pelas fabricantes do produto e associações para tentar barrar o processo. A Monsanto detém metade do mercado mundial de glifosato, principal ingrediente ativo do herbicida Roundup. Seu uso foi liberado pela primeira vez em 1974 na Malásia e no Reino Unido. Em 1978, o produto passou a ser vendido no Brasil e, em 1984, passou a ser fabricado no país. Outras empresas como a Syngenta, BASF, Bayer e Dow também possuem produtos a base de glifosato.
A Anvisa informou que cada reavaliação é julgada em todas as instâncias possíveis e praticamente toda semana sua equipe técnica, responsável por formular as respostas dos processos, precisa responder essas questões à Justiça. Outro fator que emperra o processo seria a grande demanda de atividades realizadas pela Anvisa e o número reduzido de funcionários para atendê-las.
Agilizar o processo
O Ministério Público Federal (MPF) cansou de esperar o pedido pendente desde 2008 e entrou com uma ação na Justiça. O órgão pede que seja marcada a data para a avaliação de nove ingredientes ativos, considerados suspeitos pela agência reguladora – entre eles está o glifosato. Além disso, a instituição pede a suspensão da venda desses produtos até o final desse processo.
Além de combater ervas daninhas, glifosato sincroniza colheita
"Não temos, até o momento, informações suficientes para solicitar o banimento do glifosato, o que nós pedimos é a suspensão por medida de cautela. Existem indícios que são reconhecidos pelo próprio governo brasileiro, pois a própria Anvisa, quando determinou a reavaliação há seis anos, identificou que o herbicida possui riscos ainda não bem avaliados", justifica Anselmo Lopes, procurador da República.
Riscos à saúde
Estudos internacionais recentes apontam que o glifosato pode danificar embriões, causar câncer e alterações hormonais, por exemplo, retardando a puberdade em adolescentes. "Esses são os principais riscos à saúde que foram comprovados em pesquisas de cientistas independentes", afirma Heike Moldenhauer, especialista em transgênicos da Federação para o Meio Ambiente e Proteção da Natureza da Alemanha (Bund).
Além disso, outros estudos encontraram glifosato na urina humana e de animais domésticos e silvestres. Uma pesquisa coordenada por Monica Krüger, da Universidade de Leipzig, encontrou o herbicida em quase todas as amostras de urina recolhidas e em grande quantidade.
"Do meu ponto de vista e com base nos resultados das minhas pesquisas, o glifosato é perigoso para o ser humano, animais e também para o meio ambiente", opina Krüger.
Moldenhauer conta que outra pesquisa semelhante analisou amostras de urina de habitantes de grandes cidades de 17 países europeus. Os resultados apontaram que grande parte das amostras possuía glifosato ."A pergunta era como ele foi parar lá e a conclusão é pela alimentação", diz a especialista.
Para pesquisadores, a principal responsável pela entrada do herbicida na cadeia alimentar humana é a prática chamada de dessecação da lavoura. Neste processo, o produto é aplicado poucos dias antes da colheita fazendo com que as plantas fiquem maduras na mesma época, além de possibilitar uma data exata para a colheita.
Danos ao meio ambiente
Na União Europeia, o glifosato é liberado para essa função nas lavouras de grãos em geral. Segundo Moldenhauer, o herbicida pode ser usado até uma semana antes da colheita. Mas o produto permanece no grão por até um ano, não é eliminado sob altas ou baixas temperaturas.
"Há a suspeita de que produtos como farinha de trigo, pão e cereais matinais estão cheios de glifosato", justifica a especialista. No Brasil, esse herbicida é liberado como dessecante nas culturas de aveia preta, soja e azevém.
Além dos indícios de riscos à saúde, o herbicida pode causar danos ao meio ambiente. Segundo Moldenhauer, além do constante aumento da quantidade aplicada devido ao aumento da resistência das ervas daninhas ao produto, outro problema é que seu uso destrói toda a área verde na região de campos, ou seja, o habitat de insetos.
Esses insetos, que são a base alimentar de outros animais, acabam morrendo – o que compromete todo o ecossistema. Na Alemanha, cerca de 30% de todas as espécies de pássaro presentes em regiões agrícolas estão ameaçadas de extinção, revela a Bund.
Glifosato é o princípio ativo do Roundup
Transgênicos
Em 2011, cerca de 650 mil toneladas de herbicidas, cujo princípio ativo é o glifosato, foram usados no mundo. Segundo a Bund, essa quantidade deve dobrar até 2017. Somente o Roundup, da Monsanto, é vendido em mais de 130 países.
O herbicida é aplicado principalmente no cultivo de sementes transgênicas resistente a esse princípio ativo, inclusive a soja no Brasil.
Procurada pela DW Brasil, a Monsanto respondeu com uma nota dizendo que "agências regulatórias do mundo inteiro já concluíram que os herbicidas à base de glifosato não apresentam riscos à saúde humana e ao meio ambiente".
A empresa também enviou um documento assinado por associações de defensivos agrícola afirmando que, caso haja a suspensão dos nove ingredientes ativos, como pedido pelo MPF, "os impactos econômicos e sociais seriam incalculavelmente drásticos."
A associação calcula que os ingredientes ativos totalizam 180 produtos formulados registrados e abrangem as 56 principais culturas no Brasil. A lista inclui grãos, cana-de-açúcar, café, frutas, legumes e hortaliças, além de pastagens.


  • Data 08.04.2014
  • Autoria Clarissa Neher
  • Edição Nádia Pontes

3 de abril de 2014

As espécies exóticas podem se tornar invasoras indesejáveis

Na matéria a seguir, publicada no site DW, é abordado o impacto da introdução da espécie exótica esquilo-cinzento na Escócia.

Para evitar extinção de nativos, esquilo cinzento é condenado à morte na Escócia

Espécies exóticas podem destruir ecossistemas naturais. Esse é o caso do esquilo cinzento na Escócia, que está acabando com o esquilo vermelho. No Brasil, há mais de 500 espécies trazidas de outras regiões.



Laura MacPherson não se lembra de ter visto um esquilo vermelho pessoalmente. "Talvez na Ilha de Skye quando eu era criança, mas não me lembro", afirma a dona de um pequeno hotel em Stirling, na Escócia.
Em vez dos esquilos vermelhos nativos da região, os esquilos cinzentos, uma espécie exótica – ou seja, fora de seu habitat natural – correm em seu jardim. "Eles incomodam um pouco. Eles roem os contêineres de plástico mais duros, entram no lixo e destroem coisas", conta MacPherson.
Mas esse é apenas um pequeno aspecto do potencial de destruição dessa espécie. Ela está provocando a extinção dos esquilos vermelhos. Os animais cinzentos têm mais filhotes, são maiores e comem mais, roubam até a comida que os vermelhos estocam para o inverno.
A estimativa é de que apenas 160 mil esquilos vermelhos ainda habitam o Reino Unido. Entretanto, a população dos cinzentos é composta por mais de três milhões de animais, segundo a organização Red Squirrels in South Scotland.
Acredita-se que os primeiros esquilos cinzentos tenham sido trazidos dos Estados Unidos para a Inglaterra no século 19 por um banqueiro chamado Thomas Brocklehurst. A espécie deveria embelezar o jardim de sua casa de campo.
Esquilos vermelhos não conseguem competir com cinzentos
"Eu gostaria de ter uma máquina do tempo para voltar e dizer a Thomas Brocklehurst que não foi uma boa ideia", diz o ambientalista Ken Neil, que trabalha no projeto do governo escocês Saving Scotland´s Red Squerrels. A grande maioria dos animais nativos restantes no Reino Unido, ou seja 75% deles, vivem na Escócia.
Erradicar o invasor
Ambientalistas se propuseram a livrar a Escócia da espécie cinzenta, para que a vermelha possa repovoar o habitat de onde fora expulsa. Neil e sua equipe espalham armadilhas pelas florestas e cidades do país.
Quando um esquilo vermelho é pego, ele é solto. Mas se um cinzento é capturado, ele é morto. "Não há alternativa. Eles não têm para onde ir e nós não podemos enviá-los de volta para os Estados Unidos", justifica Neil. A organização treina seus caçadores para matar os animais com apenas um tiro.
Mesmo se recusando admitir, Neil parece ter pena dos animais. Ele não quer demonizar os esquilos cinzentos, "mas a questão é essa: os homens criaram o problema e agora têm que consertá-lo", afirma, completando que a única a solução é erradicar a espécie exótica.
"Proteger espécies nativas é essencial, porque elas compõem a biodiversidade específica e única de um país ", argumenta.
Todos os anos, durante a primavera, Neil recolhe a amostras de pelos de esquilos das florestas escocesas para descobrir quais espécies habitam a região. Para colher o material, Neil cola uma fita adesiva dupla na entrada de caixas cheias de amendoim. Conforme o resultado da amostragem, ele decide onde colocar as armadilhas na próxima temporada.
Esquilos são atraídos com comida
O último levantamento feito pela organização revelou que houve uma queda na população de esquilos cinzentos em 2013 em relação a 2011. No mesmo período, os vermelhos foram encontrados em regiões onde não estavam antes. "Acreditamos que nossa estratégia está funcionando", argumenta Neil.
Predadores
Os seres humanos não são os únicos predadores do esquilo cinzento. Para a marta-do-pinheiro-europeia, eles são uma ótima refeição. Essa espécie de mamífero carnívoro que viva nas Ilhas Britânicas foi extinta em várias regiões. Mas agora, sua população está se recuperando na Escócia e na Irlanda.
Há alguns anos, os ambientalistas discutem o efeito da marta-do-pinheiro-europeia sobre as populações de esquilo vermelho ou cinzento. Esses animais se alimentam dos vermelhos, mas parecem preferir os cinzentos, que são maiores.
Um estudo recente dos pesquisadores Emma Sheehy e Colin Lawton da Universidade Nacional da Irlanda, em Galway, confirmou essa teoria. Eles descobriram que em regiões irlandesas onde havia a presença da marta-do-pinheiro-europeia, a população de esquilos vermelhos prosperava, enquanto a de cinzentos era mais rara.
"A abundância da marta-do-pinheiro-europeia pode ser um fator fundamental para o sucesso ou fracasso do esquilo cinzento como espécie invasora", escrevem Sheehy e Lawton.
Mas o esquilo cinzento não é a única espécie que incomoda ambientalistas. No início do século 20, o vison norte-americano foi importado para o Reino Unido, para a criação de peles. Ele escapou do cativeiro e se espalhou pelas Ilhas Britânicas. Outras espécies exóticas invasoras são o lagostim norte-americano e o mexilhão zebra. Essas espécies também estão sendo caçadas para serem erradicadas.
Marta-do-pinheiro-europeia se alimenta de esquilos
Espécies invasoras no Brasil
O problema de animais introduzido em ecossistemas diferentes que ameaçam o equilíbrio natural também ocorre no Brasil. Segundo o Ministério do Meio Ambiente, já foram catalogadas no país mais de 500 espécies exóticas.
Algumas delas são consideradas pragas e prejudicam também a economia, como o mexilhão dourado. Esse molusco foi introduzido no Brasil na década de 1990, vindo em navios mercantes. No país, a espécie se proliferou rapidamente e entope tubulações de abastecimento de águas e filtros das usinas hidrelétricas.
Outro exemplo é a tilápia-do-nilo que chegou ao Brasil no século 20. Por se alimentar de plantas e animais, esse peixe causa a extinção de outras espécies. Até mesmo a jaca que se adaptou bem ao clima brasileiro é uma espécie exótica invasora.
A planta, originária da Índia e de outras regiões, foi trazida na época colonial e se dispersou pelo país. Em regiões de floresta onde há grande quantidade de jaqueiras, foi constatado o desaparecimento de mamíferos e insetos nativos.

DW.DE

  • Data 03.04.2014
  • Autoria Brigitte Osterath/Clarissa Neher
  • Edição Nádia Pontes

22 de março de 2014

As principais ameaças à qualidade da água no Brasil

Estudo aponta que tratamento de esgoto deficiente e poluição oriunda da indústria e da agricultura são os maiores problemas. Em sete estados brasileiros, apenas 11% dos rios e mananciais foram classificados como bons.



A falta de tratamento de esgoto e a poluição oriunda da indústria e agricultura são as principais ameaças à qualidade da água no Brasil. Segundo levantamento da ONG SOS Mata Atlântica, a água é ruim ou péssima em 40% dos 96 rios, córregos e lagos avaliados em sete estados brasileiros. A pesquisa, divulgada por ocasião do Dia Mundial da Água (22/03), mostra que a situação é preocupante no bioma da Mata Atlântica, principalmente em áreas urbanizadas.
Apenas 11% dos rios e mananciais foram classificados como bons – todos localizados em áreas de proteção ambiental e de mata ciliar preservada. Em 49% dos rios, a água é regular. A pesquisa foi realizada em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Santa Cantarina e Rio Grande do Sul.
Segundo dados da Agência Nacional de Águas (ANA), 76% dos corpos d'água apresentam qualidade boa; 6% foram classificados como ruim e apenas 1% como péssimo. Em áreas urbanas, a parcela considerada boa cai para 24%. As águas de qualidade ruim e péssima sobem para 32% e 12%, respectivamente.
Apesar de serem os principais centros de poluição, as cidades grandes possuem maior infraestrutura de saneamento básico, ressalta o professor de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG Marcos von Sperling.
“A cobertura de saneamento das cidades pequenas é normalmente bem inferior às cidades grandes. No Brasil, um quarto dos municípios tem até cinco mil habitantes e são muito frágeis em termos de administração. E é até inviável do ponto de vista financeiro fazer o tratamento e cobrar por ele. São populações com renda familiar muito baixa”, afirma.
Informação
A ANA alerta para a falta de informação sobre a qualidade dos recursos hídricos no Brasil. A agência realiza o diagnóstico a partir de dados das redes estaduais, mas apenas 17 das 27 unidades da federação fazem o monitoramento da água. Outra dificuldade é que não há uma padronização no trabalho de coleta de dados.
Segundo a agência, apenas 658 pontos de análise tiveram uma série histórica longa o suficiente para realização do estudo. Nestes casos, 8% apresentaram tendência de melhoria na qualidade da água e 5%, de piora.
Para diminuir a falta de informação, a agência lançou na quinta-feira (20/03) a Rede Nacional de Monitoramento de Qualidade das Águas, que deve padronizar os dados e procedimentos de coleta. O objetivo é subsidiar a definição de políticas públicas e a gestão dos recursos hídricos.
“A qualidade da água hoje é insuficientemente monitorada. Não temos um retrato do país. São várias as entidades de gestão da água, públicas e privadas, em âmbito federal, estadual e municipal. Estamos nos adaptando a essa imensa fragmentação do sistema brasileiro”, defende Maurrem Vieira, especialista em recursos hídricos da ANA.
Em áreas urbans, águas de qualidade ruim representam 32%
Os especialistas são unânimes em afirmar que o maior problema da qualidade da água no país é a falta de tratamento de esgoto. Mesmo com poucos dados disponíveis, a especialista em recursos hídricos da ANA Renata Bley diz que as tendências de melhora identificadas são “resultado, principalmente, de investimentos em coleta e tratamento de esgoto nas regiões metropolitanas”.
Apenas 37,5% do esgoto gerado no Brasil é tratado, segundo o Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento. A coleta é realizada para 48,1% da população. Para Maurrem Vieira, é preciso investir mais no tratamento de esgoto: “Expandimos o serviço e, paralelamente, a população cresce. É como se fosse uma corrida, que por enquanto estamos ganhando.”
Um estudo do Instituto Trata Brasil e do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável, lançado na quarta-feira (19/03), indica que o país é o 112° no mundo em termos de evolução e cobertura de saneamento.
“A expansão de 4,1% ao ano perdeu velocidade nesta década de 2010 – na anterior, era de 4,6% ao ano – o que nos distancia ainda mais da já longínqua meta do governo federal de universalizar os serviços em 2030”, afirma o instituto em nota.
Problemas ambientais
Um dos principais problemas ambientais causados pelo esgoto não tratado é a falta de oxigênio nos rios. Os dejetos contêm matéria orgânica, que serve de alimento para bactérias. No processo, elas consomem oxigênio, baixando o nível do gás na água. Em regiões urbanas, é comum encontrar rios praticamente sem oxigênio, onde o odor é forte e a fauna aquática não consegue sobreviver.
Outra dificuldade recorrente é o crescimento exacerbado de algas em lagoas e represas, causado pela presença de nitrogênio e fósforo, que são nutrientes para esses organismos. “As algas mudam a coloração do corpo d'água e prejudicam bastante a qualidade”, afirma Marcos Von Sperling.
As principais causas de poluição, além do esgoto, são os lançamentos da industria e da agricultura, que geram rejeitos químicos nocivos, como os agrotóxicos, por exemplo. Por fim, há a poluição difusa, cuja origem é difícil de verificar e pode incluir qualquer dejeto. “Vai desde o sofá velho ao cachorro morto, tudo vai parar nos córregos”, diz Malu Ribeiro, coordenadora da Rede das Águas da SOS Mata Atlântica.
A falta de tratamento de esgoto tem consequências graves para a saúde pública do país. “Nos dejetos há diversos organismos patogênicos, como bactérias, vírus, protozoários e vermes, que causam uma série de doenças”, explica o professor Marcos Von Sperling.
Ainda que o tratamento da água seja realizado corretamente, há outros usos dos recursos hídricos que podem disseminar doenças. “Se a pessoa nadar em um rio sujo, comer alimentos lavados ou irrigados com água contaminada, ela pode ser infectada”, lembra.
Segundo o estudo do Instituto Trata Brasil, foram notificadas 340 mil internações por infecções gastrointestinais no Brasil em 2013. Mais de 170 mil foram de crianças de até 14 anos de idade. A pesquisa aponta que a universalização do saneamento traria uma economia anual de 27,3 milhões de reais para os cofres públicos apenas com as internações.
Água em casa
A poluição dos rios e represas com esgoto e rejeitos químicos nocivos também pode afetar a qualidade da água que chega às casas. “O risco é sempre maior quando tratamos uma água bruta muito poluída”, defende Von Sperling.
“As estações de tratamento de água não estão preparadas para o esgoto. São processos diferentes. Por isso, se o material é jogado sem tratamento em uma área de captação de água, pode sim haver problemas”, argumenta Pedro Mancuso, professor do Departamento de Saúde Ambiental da Faculdade de Saúde Pública da USP.
Situação é preocupante no bioma da Mata Atlântica, principalmente em áreas urbanizadas
Além do risco para a saúde, a poluição encarece o tratamento de água, afirma Von Sperling. “Os processos convencionais se tornam insuficientes e é preciso empregar métodos mais caros”, diz.
Ainda que a qualidade da água varie muito no Brasil, inclusive dentro de uma mesma cidade, os especialistas consideram que ela é satisfatória. “Temos o primo pobre, que é o tratamento de esgoto, e o primo rico, que é o tratamento da água”, assegura Malu Ribeiro, da SOS Mata Atlântica.
Os estudiosos concordam que as caixas d'água são um ponto fraco do sistema, que não está presente em outros países, onde o abastecimento é feito direto da estação para as residências. Segundo eles, a água tratada é de qualidade, mas pode se deteriorar nos encanamentos e reservatórios das casas e edifícios.
Eles também elogiam a legislação, considerada moderna. “A portaria é boa, mas ela é difícil de ser cumprida em regiões afastadas e sem estrutura. Onde ela é seguida o tratamento é eficiente, como costuma acontecer nas companhias estaduais”, diz Pedro Mancuso.
Autoria: Marina Estarque, de São Paulo
Edição: Rafael Plaisant
22-03-2014
Fonte: DW