28 de julho de 2010

Há chumbo no seu batom?

Envolverde 27/07/2010 - 11h07


Por Andrea Vialli*


Muitos dos leitores já devem ter assistido aos vídeos sobre sustentabilidade produzidos pela ciberativista americana Annie Leonard, que, entre outros, fez o famoso “A História das Coisas” e também o “A História da Água Engarrafada”.
Agora Annie, cujos vídeos na internet já foram vistos por mais de 10 milhões de pessoas, nos brinda com mais um de seus petardos. “A História dos Cosméticos”, lançado na semana passada, mostra a problemática que envolve a bilionária indústria de cosméticos no mundo todo: a segurança de vários dos produtos químicos utilizados nas fórmulas do shampoo nosso de cada dia, no desodorante, no batom.
Ah, o batom…o vídeo alerta para o fato de que um singelo batomzinho pode conter níveis de chumbo acima das recomendações de segurança, o que pode causar distúrbios de comportamento e até de aprendizagem. Os dados dizem respeito particularmente ao mercado americano: há três anos, a ONG Campaign for Safe Cosmetics publicou um estudo onde denunciava que de 33 grandes marcas de batom testadas, 61% apresentavam chumbo na fórmula.

Só depois de dois anos, com a pressão dos consumidores, o Food and Drug Administration (FDA), órgão americano responsável pela segurança dos alimentos, remédios e cosméticos, se pronunciou sobre o tema, publicando uma pesquisa que revelou níveis de chumbo ainda maiores aos testados pela Campaing for Safe Cosmetics em 2007. Todas as marcas testadas pelo órgão apresentavam o elemento em suas composições. Apesar disso, o FDA afirmou não considerar a substância prejudicial à saúde por não ser ingerido pelos consumidores.

A campanha continua, e o objetivo é fazer com que o FDA estabeleça um limite máximo de chumbo nos produtos de maquiagem – o pesado lobby da indústria de cosméticos, no entanto, tem travado qualquer avanço nesse sentido.

Assista o vídeo, com legendas em inglês - http://www.youtube.com/watch?v=pfq000AF1i8&feature=player_embedded



*Publicado originalmente no blog Ecotendências, editado pela autora. Para conhecer o blog acesse http://blogs.estadao.com.br/andrea-vialli/

Fonte: http://www.envolverde.com.br/materia.php?cod=78306&edt=
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Temas relacionados:


BELEZA TÓXICA
FTALATOS – São usados para tornar macios os brinquedos de plástico e são encontrados na maioria dos cosméticos, perfumes e desodorantes. O que podemos fazer para impedir que as indústrias químicas continuem nos contaminando?

            Os ftalatos, uma família de substâncias químicas nocivas à saúde e à fertilidade humana, estão presentes em quatro de cada cinco produtos cosméticos mais vendidos, segundo um estudo recente feito pelo Women’s Environmental Network - WEN (Rede Feminina de Informações sobre o Meio Ambiente). As descobertas desses estudos são especialmente preocupantes, uma vez que essas substâncias são prontamente absorvidas pela pele e já foram relacionadas a defeitos congênitos, dano a órgãos, infertilidade e câncer.
            Todos os cosméticos de grandes marcas como a Boots, Dior, L’Oreal, Procter & Gamble, Fabergé e Wella não mencionam, no rótulo, os ftalatos usados em sua fabricação. De acordo com a lei britânica, os fabricantes não têm obrigação de listar os ftalatos nos rótulos de produtos. Isso torna praticamente impossível que os consumidores evitem essas substâncias.
            Em seu estudo, a WEN, em associação com a Swedish Society for Nature Conservation (Sociedade Sueca de Preservação à Natureza) e com a organização internacional Health Care Without Harm (Cuidados com a Saúde sem Causar Danos), testou os 34 produtos cosméticos mais vendidos. Quarenta por cento das amostras continham um ou ambos dos seguintes ftalatos, que são altamente tóxicos: di (2-etilexil) ftalato (DEHP) e dibutila ftalato (DBP). Em novembro de 2002, a União Européia aprovou a proibição do uso de DEHP e DBP, embora ainda não tenha entrado em vigor.

Ftalatos em números

·         1 milhão de toneladas de ftalatos é produzido na Europa Ocidental a cada ano
·         3 milhões de mulheres em idade fértil têm, em seus corpos, sete vezes mais ftalatos do que a média (número do Centre for Disease Control – CDC- Centro de Controle de Doenças)
·         1953 foi o ano de realização de um estudo no qual a Agência Estadunidense de Proteção ao Meio Ambiente (USEPA) baseia suas avaliações das quantidades “seguras” de DBP, embora haja estudos científicos mais recentes mostrando defeitos congênitos associados a quantidades de ftalatos muito menores.
·         5.676.935 é o número do documento da patente registrada pela L’Oreal nos Estados Unidos, no qual a empresa declara que: “hoje, é preferível usar em esmaltes outros tipos de plastificantes que não sejam os ftalatos, por motivos de alergias”.
·         289 é o número de pessoas submetidas a testes devido à suspeita de traços de DBP em seus corpos (fonte do dado CDC)
·         289 é o número de pessoas em que a presença de traços de DBP em seus corpos foi confirmada (fonte do dado CDC)
·         100 é o percentual em que foram encontrados ftalatos nas fórmulas de 15 marcas testadas de leite para bebês (fonte do dado: Ministry of Agriculture, Food and Fisheries   Ministério da Agricultura, Alimentação e Pesca do Reino Unido, 1996).
O que são ftalatos?
Ftalatos são líquidos incolores e inodoros que são usados principalmente como plastificantes, para amaciar PVCs e outros plásticos. Cerca de 10% dos ftalatos são usados em produtos de beleza e higiene pessoal para conferir-lhes flexibilidade e para ajudar a dissolver e fixar outros ingredientes cosméticos.
Os ftalatos podem ser absorvidos através da pele, e inalados como vapor e ingeridos quando contaminam alimentos ou quando as crianças mordem ou chupam brinquedos. Em forma concentrada, os ftalatos são considerados lixo tóxico e, enquanto poluentes do ar e da água, são controlados. Entretanto, permanece substancialmente sem regulamentação seu uso em alimentos e cosméticos.

Por que os consumidores devem reagir?

            Ignorando convenientemente os efeitos da exposição cumulativa a diferentes substâncias químicas e das interações entre elas, as indústrias químicas e de plásticos lidam com questões de segurança e com as pressões de regulamentação como sendo problemas da esfera das relações públicas. Durante os últimos 50 anos, essas indústrias fizeram lóbi intenso contra a obrigação de fazer testes de segurança antes da comercialização. Quando são questionadas sobre questões de saúde e a segurança de seus produtos, as empresas exigem uma avaliação completa de riscos antes de qualquer medida de regulamentação seja tomada.
            Isso resulta numa situação em que não há meios legais ou práticos para afastar produtos do uso comercial, a não ser que haja um desastre de saúde pública ou uma manifestação dos consumidores.

Objetivos da campanha da WEN

1-      Fabricantes se comprometam a retirar todos os ftalatos de seus produtos e, durante o período de transição, rotulem os produtos de maneira clara;
2-      A União Européia proíba incondicionalmente todos os ftalatos em cosméticos;
3-      Consumidores pressionem varejistas, fabricantes e políticos a garantirem que os ftalatos não serão mais usados na fabricação de cosméticos;

Maciez

            DBP é usado como umectante (para hidratar a pele) ou emoliente (para amaciar a pele) em produtos patenteados por Procter & Gamble, Lever Brothers, Colgate, Palmolive, Kraft General Foods e Anheuser-Busch. Quando é adicionado a produtos para o cuidado da pele, a textura oleosa do DBP dá a impressão de que a pele está macia e hidratada. A ênfase aqui é na palavra “impressão”, por que é apenas o resíduo do DBP que é macio e não a pele que se pretendia hidratada.

Impactos na saúde

            A indústria fazendo rodeios
            O setor de produtos químicos alega que, em relação à saúde humana e ao meio ambiente, os ftalatos são um dos compostos mais estudados e melhor conhecidos no mundo.



Fatos

            Dizer que são amplamente estudados não quer dizer que são seguros...
·         Os ftalatos podem causar danos ao fígado, aos rins, aos pulmões e ao sistema reprodutor especialmente aos testículos dos meninos em desenvolvimento.
·         Alguns estudos sugeriram que os ftalatos podem afetar a qualidade do esperma humano. Um dos estudos encontrou ftalatos no sêmen de universitários (Biological and Environmental Mass Spectrometry, 1978).
·         Os ftalatos foram relacionados a defeitos congênitos, anemia e a outras complicações da gravidez em estudo publicado em Toxicology and Applied Pharmacology de 2001.
·         DBP pode causar graves reações alérgicas, incluindo o tipo de reação mais grave (e, por vezes, fatal): o choque anafilático.
·         Verificou-se que meninas porto-riquenhas com desenvolvimento prematuro dos seios tinham altos níveis de ftalatos nos sangue, segundo um estudo publicado em Environmental Health Perspectives.
·         De acordo com estudos com animais em laboratório, o DBP pode causar danos à quase todas as estruturas físicas no desenvolvimento do sistema reprodutor masculino. Os efeitos incluem atrofia de testículos, ausência de testículos e contagem de espermatozóides reduzida.

  FONTE: The Ecologist UK – Março de 2003

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