Por 24 Horas News
O município de Lucas do Rio Verde, localizado ao norte do Estado, é caracterizado como segundo maior produtor de grãos do Estado. Em 2009 cultivou 410 mil hectares de soja e milho.Para isso, utilizou nada mais nada menos que cerca de 5 milhões de litros de agrotóxicos. Bom para a indústria, bom para os negócios, péssimo para a saúde da população. Principalmente de mães, cujos filhos estão em idade de amamentação. Uma pesquisa revelou a presença de agrotóxico no leite materno das gestantes que residem no município. Isso mesmo: agrotóxico no leite materno.
“Após a aplicação, parte desses produtos atinge a peste alvo, enquanto que o restante pode ser disperso no ambiente e acumular-se no organismo humano” – explica Danielly Cristina de Andrade Palma, mestranda em Saúde Coletiva da Universidade Federal de Mato Grosso. Nas amostras de leite coletadas de 62 nutrizes, foram encontradas pelo menos um tipo de agrotóxico. A coleta foi feita entre a 3ª e a 8ª semana após o parto. Entre as variáveis estudadas, ter tido aborto foi uma variável que se manteve associada à presença de três agrotóxicos.
O estudo é uma alerta para os moradores da região, pois os resultados podem ser oriundos da exposição ocupacional, ambiental, alimentar do processo produtivo da agricultura que expôs a população a 114,37 litros de agrotóxicos por habitante na safra agrícola de 2009/2010.“Por suas características fisiológicas e vulnerabilidade à exposição a agentes químicos presentes no ambiente, este leite ao ser consumido pelos recém-nascidos pode provocar agravos à saúde” – diz a pesquisadora.
De acordo com o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Lucas do Rio Verde, Edu Pascosk, o que aconteceu no município foi um fato esporádico que ocorreu devido a uma pulverização de uma aeronave que passou dentro do perímetro urbano. “todas as providências já foram tomadas e os agricultores estão seguindo normalmente a legislação federal”, informou.
O município é considerado o segundo maior produtor de grãos do Estado. E para o agronegócio, o lucro pode estar acima da vida. Diante dos fatos, parece que o mesmo governo que faz campanhas para incentivar as mulheres a amamentar, financia o agronegócio que produz a comida envenenada, contaminando o leite da maioria das mães.
Fonte: Portal Mato Grosso
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Reportagem
Endosulfan bate em retirada
Por Marcela Valente
A decisão de combater o uso do inseticida endosulfan na agricultura traz consigo o desafio de encontrar substitutos que sejam menos tóxicos.
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Agrotóxico contamina leite materno
Uma pesquisa revelou que há contaminação do leite materno por agrotóxicos usados em plantações de Lucas do Rio Verde, no Mato Grosso. Os níveis encontrados estão bem acima da média.
As amostras foram colhidas de 62 mulheres atendidas pelo programa de saúde da família do município a 350 km de Cuiabá. Os níveis de agrotóxicos encontrados estão bem acima da média e põem em risco a saúde humana.
Em 100% das amostras foi encontrado ao menos um tipo de agrotóxico e em 85% dos casos foram encontrados entre 2 e 6 tipos.
A substância com maior incidência é conhecida como DDE, um derivado de outro agrotóxico, DDDT, proibido pelo Governo Federal em 1998 por provocar infertilidade no homem e abortos espontâneos nas mulheres.
Embora os agrotóxicos sejam necessários para as plantações, não existe nenhuma barreira física que impeça o produto de se espalhar pela região com a ação do vento.
Fonte:IG
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Reportagem
Endosulfan bate em retirada
Por Marcela Valente
A decisão de combater o uso do inseticida endosulfan na agricultura traz consigo o desafio de encontrar substitutos que sejam menos tóxicos.
BUENOS AIRES, Argentina, 2 de maio de 2011 (Tierramérica).- O grande aumento no uso do pesticida endosulfan, cuja proibição é tentada pela comunidade internacional, ilustra um dos dilemas da agricultura intensiva na Argentina e na América Latina. “Sempre há uma solução natural”, disse ao Terramérica a agricultora Alicia Alem, integrante de uma cooperativa argentina que produz cereais e forragem sem pesticidas nem fertilizantes químicos. “Com trigo, por exemplo, a Cooperativa obtém exatamente o mesmo rendimento que um produtor tradicional, e com menos custos, pois usamos nossa própria semente e não temos de comprar uma bateria de químicos”, explicou.
Alicia integra a Cooperativa Agropecuária Associação de Produtores Familiares de Cañuelas Limitada, localizada em Cañuelas, 60 quilômetros a nordeste da capital, e formada por agricultores que possuem entre quatro e 12 hectares e colhem alfafa, trigo, milho, sorgo e moa (Setaria italica), outra gramínea. A Cooperativa possui silos, moinho, colheitadeira e outras máquinas. O controle de pragas é totalmente biológico, e utiliza insetos que são predadores naturais mediante procedimentos que variam segundo a praga e o cultivo.
“Se surge uma dificuldade, procuramos assessoria de instituições públicas”, afirmou Alicia. Consegue-se um bom rendimento sem contaminar o meio ambiente nem afetar a saúde humana, embora o trabalho seja maior. “A produção agroecológica exige mais observação, mais tempo de trabalho. É menos mecanizada. Mas não mata”, destacou a agricultora.
A contaminação com agrotóxicos é uma das principais causas de morte e doenças nas áreas agrícolas e lidera as listas de acidentes do trabalho em muitos países. Métodos alternativos similares aos de Cañuelas permitiriam abandonar químicos como o endosulfan, um inseticida e acaricida organoclorado usado em uma ampla gama de cultivos na região. Aplicado em cereais, forragens, flores, hortaliças, oleaginosas, tabaco, cana-de-açúcar, café e algodão, causa intoxicação aguda e crônica. Afeta o sistema nervoso imunológico e altera o equilíbrio hormonal.
Na Argentina, em 1999, eram vendidas quase dois milhões de toneladas de endosulfan, e, em 2006, as vendas chegaram a 4,2 milhões de toneladas, sobretudo para atender o aumento no cultivo da soja, que passou a ocupar mais da metade da área semeada, segundo a Câmara de Sanidade Agropecuária e Fertilizantes. Esta leguminosa também é uma estrela agrícola no Brasil, Uruguai e Paraguai, onde se expande mediante plantio direto e uso intensivo de um conjunto de agrotóxicos.
O endosulfan combate cerca de 20 insetos que afetam a soja. Contudo, ao eliminar os indesejáveis, também ataca seus predadores naturais, afirmam agricultores orgânicos. Já proibido em mais de 75 países, o endosulfan é considerado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos como substância “altamente tóxica” e, desde 2007, a União Europeia pede sua incorporação na chamada “dezena suja”.
Assim são conhecidos os Contaminantes Orgânicos Persistentes (COP) cuja gradual eliminação é prioridade do Convênio de Estocolmo, acordo internacional, adotado em 2001 e em vigor desde 2004, para regular o tratamento destas substâncias. Em 2009, as partes do Convênio acordaram incorporar novos COP aos 12 iniciais. Os COP se caracterizam por serem muito tóxicos e dificilmente degradáveis. Acumulam-se em tecidos gordurosos e cadeias alimentares e podem se deslocar a grandes distâncias.
Na 5ª Conferência das Partes do Convênio, realizada em Genebra, entre 25 e 29 de abril, decidiu-se trabalhar para incluir o endosulfan entre as substâncias a serem proibidas e avançar na busca de alternativas. A Índia liderou a oposição mais cerrada para eliminar este inseticida, enquanto países como Argentina, Peru e Chile pediram assistência técnica e financeira para realizar a transição.
A questão das alternativas tem vários ângulos, disse ao Terramérica o engenheiro agrônomo Javier Souza, do Centro de Estudos sobre Tecnologias Apropriadas da Argentina. “Alguns químicos representam soluções intermediárias, um mal menor no curto prazo, mas no longo prazo temos que objetivar o desenvolvimento de sistemas de produção que não dependam de inseticidas químicos”, ressaltou Javier.
De fato, alguns pesticidas introduzidos há quatro anos, para substituir outros listados como COP, agora são questionados e se recomenda sua eliminação, como a sulfuramida. Javier, coordenador regional da Rede de Ação em Pesticidas e suas Alternativas para a América Latina (RAP-AL), destacou que no Brasil, Paraguai, Colômbia e Venezuela e em alguns países do Caribe o endosulfan já foi substituído.
O governo da Argentina decidiu aderir ao consenso em Genebra e os fabricantes argentinos de pesticidas anunciaram que acatariam o que ficasse decidido na Conferência. “É que o endosulfan, além de ser muito tóxico, tem se mostrado pouco eficiente”, alertou o agrônomo. Os produtores tradicionais de algodão da província do Chaco o utilizam para combater o bicudo (Anthonomus grandis Boh.), um inseto que pode aniquilar colheitas inteiras. Segundo Javier, os agricultores comentam que o inseto está ficando resistente e exigindo doses cada vez maiores, o que aumenta os riscos de manipulação do produto.
A RAP-AL propõe preservar a biodiversidade, o hábitat de insetos que são parasitas e pesticidas naturais, e utilizar adubos orgânicos. Por outro lado, a monocultura em expansão, à custa da diversidade biológica, altera a relação trófica dos insetos e deixa as colheitas mais vulneráveis, explicou Javier. Para avançar nestas opções, é necessária uma “decisão política” que começou a surgir em Genebra. “Se o Ministério da Agricultura apoiasse a produção agroecológica como apoia a tradicional, seria muito diferente”, concluiu.
Alicia integra a Cooperativa Agropecuária Associação de Produtores Familiares de Cañuelas Limitada, localizada em Cañuelas, 60 quilômetros a nordeste da capital, e formada por agricultores que possuem entre quatro e 12 hectares e colhem alfafa, trigo, milho, sorgo e moa (Setaria italica), outra gramínea. A Cooperativa possui silos, moinho, colheitadeira e outras máquinas. O controle de pragas é totalmente biológico, e utiliza insetos que são predadores naturais mediante procedimentos que variam segundo a praga e o cultivo.
“Se surge uma dificuldade, procuramos assessoria de instituições públicas”, afirmou Alicia. Consegue-se um bom rendimento sem contaminar o meio ambiente nem afetar a saúde humana, embora o trabalho seja maior. “A produção agroecológica exige mais observação, mais tempo de trabalho. É menos mecanizada. Mas não mata”, destacou a agricultora.
A contaminação com agrotóxicos é uma das principais causas de morte e doenças nas áreas agrícolas e lidera as listas de acidentes do trabalho em muitos países. Métodos alternativos similares aos de Cañuelas permitiriam abandonar químicos como o endosulfan, um inseticida e acaricida organoclorado usado em uma ampla gama de cultivos na região. Aplicado em cereais, forragens, flores, hortaliças, oleaginosas, tabaco, cana-de-açúcar, café e algodão, causa intoxicação aguda e crônica. Afeta o sistema nervoso imunológico e altera o equilíbrio hormonal.
Na Argentina, em 1999, eram vendidas quase dois milhões de toneladas de endosulfan, e, em 2006, as vendas chegaram a 4,2 milhões de toneladas, sobretudo para atender o aumento no cultivo da soja, que passou a ocupar mais da metade da área semeada, segundo a Câmara de Sanidade Agropecuária e Fertilizantes. Esta leguminosa também é uma estrela agrícola no Brasil, Uruguai e Paraguai, onde se expande mediante plantio direto e uso intensivo de um conjunto de agrotóxicos.
O endosulfan combate cerca de 20 insetos que afetam a soja. Contudo, ao eliminar os indesejáveis, também ataca seus predadores naturais, afirmam agricultores orgânicos. Já proibido em mais de 75 países, o endosulfan é considerado pela Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos como substância “altamente tóxica” e, desde 2007, a União Europeia pede sua incorporação na chamada “dezena suja”.
Assim são conhecidos os Contaminantes Orgânicos Persistentes (COP) cuja gradual eliminação é prioridade do Convênio de Estocolmo, acordo internacional, adotado em 2001 e em vigor desde 2004, para regular o tratamento destas substâncias. Em 2009, as partes do Convênio acordaram incorporar novos COP aos 12 iniciais. Os COP se caracterizam por serem muito tóxicos e dificilmente degradáveis. Acumulam-se em tecidos gordurosos e cadeias alimentares e podem se deslocar a grandes distâncias.
Na 5ª Conferência das Partes do Convênio, realizada em Genebra, entre 25 e 29 de abril, decidiu-se trabalhar para incluir o endosulfan entre as substâncias a serem proibidas e avançar na busca de alternativas. A Índia liderou a oposição mais cerrada para eliminar este inseticida, enquanto países como Argentina, Peru e Chile pediram assistência técnica e financeira para realizar a transição.
A questão das alternativas tem vários ângulos, disse ao Terramérica o engenheiro agrônomo Javier Souza, do Centro de Estudos sobre Tecnologias Apropriadas da Argentina. “Alguns químicos representam soluções intermediárias, um mal menor no curto prazo, mas no longo prazo temos que objetivar o desenvolvimento de sistemas de produção que não dependam de inseticidas químicos”, ressaltou Javier.
De fato, alguns pesticidas introduzidos há quatro anos, para substituir outros listados como COP, agora são questionados e se recomenda sua eliminação, como a sulfuramida. Javier, coordenador regional da Rede de Ação em Pesticidas e suas Alternativas para a América Latina (RAP-AL), destacou que no Brasil, Paraguai, Colômbia e Venezuela e em alguns países do Caribe o endosulfan já foi substituído.
O governo da Argentina decidiu aderir ao consenso em Genebra e os fabricantes argentinos de pesticidas anunciaram que acatariam o que ficasse decidido na Conferência. “É que o endosulfan, além de ser muito tóxico, tem se mostrado pouco eficiente”, alertou o agrônomo. Os produtores tradicionais de algodão da província do Chaco o utilizam para combater o bicudo (Anthonomus grandis Boh.), um inseto que pode aniquilar colheitas inteiras. Segundo Javier, os agricultores comentam que o inseto está ficando resistente e exigindo doses cada vez maiores, o que aumenta os riscos de manipulação do produto.
A RAP-AL propõe preservar a biodiversidade, o hábitat de insetos que são parasitas e pesticidas naturais, e utilizar adubos orgânicos. Por outro lado, a monocultura em expansão, à custa da diversidade biológica, altera a relação trófica dos insetos e deixa as colheitas mais vulneráveis, explicou Javier. Para avançar nestas opções, é necessária uma “decisão política” que começou a surgir em Genebra. “Se o Ministério da Agricultura apoiasse a produção agroecológica como apoia a tradicional, seria muito diferente”, concluiu.
* * A autora é correspondente da IPS.
Fonte: Tierramerica
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