O Japão tem sido vítima de terremotos e tsunamis. O país localiza-se numa região em que quatro placas tectônicas se encontram. A movimentação dessas placas provoca os terremotos e estes podem provocar os tsunamis, aquelas ondas gigantescas. O terremoto de março deste ano foi o mais forte registrado no Japão, até o presente momento. Até aí são fenômenos da Natureza e a intervenção humana tem sido atenuar os efeitos desses fenômenos, através da construção de prédios mais resistentes aos abalos sísmicos e sistemas de alarme de tsunamis.
Por outro lado, o Japão fez opções na área de geração de energia que no mínimo causam certa perplexidade. O país foi vítima das bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, durante a segunda guerra mundial. A tragédia da guerra nuclear não foi suficiente para que os governos do Japão optassem por energias alternativas, tipo eólica e solar em grande escala. A reconstrução do pós-guerra exigia grande demanda energética, pois o Japão sempre foi um país de vanguarda na tecnologia e na indústria. Mas a opção nuclear hoje cobra o seu preço. Por mais que a engenharia das usinas nucleares alardeie segurança e modernidade, a realidade é outra.
Agora, diante dessa nova tragédia de terremoto e tsunami, o povo japones é vítima de um novo pesadelo nuclear, resultado do abalo sísmico. A usina nuclear de Fukushima, danificada, espalha partículas radiativas e centenas de milhares de pessoas foram desalojadas por medida de segurança, somando-se aos flagelados do terremoto e do tsunami. E pior, a radiação já foi detectada em Tóquio, símbolo futurista das grandes áreas urbanas. É uma tragédia pior que a do terremoto e do tsunami. A incerteza, a desconfiança em relação ao governo e o abalo psicológico são males que pioram o cenário de sofrimento do povo, agora, sim, vítima também da intervenção humana por opções em tecnologias que podem devastar países e o planeta por inteiro.
Que os governos e os povos dos países do mundo reavaliem os seus programas energéticos. A humanidade não pode ficar refém de bombas atômicas em potencial - caso das usinas nucleares. Nem pode ficar refém da propaganda e do discurso interesseiro dos que auferem grandes lucros com a construção de usinas nucleares. Onde estão eles agora? Que explicações vão dar ao povo japones? Essa turma da energia nuclear vai pagar a conta dos prejuízos no Japão ou de qualquer país em que ocorrer tragédia semelhante?
O terrorismo é temido porque não escolhe as suas vítimas. As usinas nucleares também não escolhem as suas vítimas potenciais. O terror nuclear é real. Só há um jeito de combatê-lo: é a opção por energias menos impactantes ao meio ambiente e à segurança de todos nós.
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UE debate testes de resistência para usinas nucleares
O ministro do Meio Ambiente da Áustria, Nikolaus Berlakovich, exigiu "testes de resistência" para todos os reatores nucleares na União Europeia. Segundo ele, análises de risco podem mostrar se os programas de segurança ainda se mantêm válidos, em face da experiência no Japão. A sugestão foi feita durante o encontro dos ministros do Meio Ambiente da UE em Bruxelas, nesta segunda-feira (14/03). A Áustria não possui usinas termonucleares em atividade.
"A população europeia está insegura. Assim, devem-se realizar logo os testes de resistência. Foram feitos 'testes de estresse' com os bancos: isso deu segurança à economia. Agora, as pessoas esperam segurança pessoal, portanto devemos testar as usinas nucleares", disse Berlakovich.
Nada é impensável
O comissário da UE para Energia, Günther Oettinger, convidou para uma reunião extraordinária representantes dos órgãos fiscalizadores, das operadoras de energia e dos construtores de usinas de todos 27 Estados-membros do bloco europeu.
Em entrevista à rádio Deutschlandfunk, Oettinger lembrou que, poucos dias atrás, o que acontece agora no Japão seria impensável. "Por isso, nós, na Europa, não devemos jamais dizer que nossos modelos teóricos contêm tudo. Para nós, um vírus de computador ou uma queda na rede elétrica tampouco são inimagináveis", disse.
A falha de abastecimento elétrico nas unidades nucleares japonesas provocou o colapso do sistema de refrigeração dos reatores. O comissário da UE informou que as regulamentações de segurança e os padrões para todas as 143 unidades de energia nuclear nos 14 países-membros com reatores em atividade precisam ser testados, mas "a fundo e sem julgamentos precipitados".
O processo pode "durar dias, mas é de grande valor para todos. Está claro que segurança é indivisível na Europa, portanto a Áustria, mesmo não tendo nenhuma usina nuclear, é afetada pelas questões de segurança", declarou Oettinger.
Indagada como encara a energia atômica, diante da situação no Japão, a comissária da UE para o Clima, Connie Hedegaard, replicou: "Podemos torcer a coisa como quisermos: ainda vamos ter que manter a energia nuclear por um bom tempo. A questão pertinente aqui é a segurança".
França tem maioria dos reatores
Em princípio, a produção de energia é assunto de cada Estado-membro da União Europeia, assim como o aspecto da segurança. A UE tem somente uma função coordenadora na política atômica, os governos nacionais são responsáveis pelo licenciamento e supervisão de suas usinas nucleares.
Alguns países da UE, como a Alemanha, pretendem, a longo prazo, abandonar a energia nuclear. Outros países, como a Itália ou a Polônia, se preparam para adotar essa forma de produção. A República Tcheca, Eslováquia, Bulgária e Lituânia pretendem construir novas unidades termonucleares.
Com um total de 58 unidades, responsáveis por 75% da energia do país, a França é, de longe, a campeã europeia em número de usinas nucleares. O país ainda exporta energia elétrica de origem termonuclear em grande quantidade, por exemplo, para a Itália. Também a Bélgica produz mais energia do que consome.
A ministra francesa do Meio Ambiente, Nathalie Kosciusko-Morizet, assegurou à rádio Europe 1 que as unidades de seu país são suficientemente protegidas contra catástrofes naturais. A usina de Fessenheim, na fronteira da Alemanha, por exemplo, suportaria um terremoto de 6,7 pontos na Escala Richter.
O ministro britânico da Energia, Chris Huhne, declarou à BBC ter pedido aos órgãos de fiscalização atômica de seu país que estudem atentamente os desastres no Japão, aplicando suas eventuais conclusões às 19 unidades nucleares britânicas. A Alemanha informou que irá rever os modelos de segurança de todas as suas centrais termonucleares. Em 2010, o prazo de funcionamento destas foi prorrogado. Uma decisão que agora deve ser revista.
Autor: Bernd Riegert (MP)
Revisão: Augusto Valente
Revisão: Augusto Valente
Fonte DW (Deutsche Welle)
AMÉRICA LATINA | 16.03.2011
Crise no Japão repercute em planos nucleares na América Latina
Após os graves problemas surgidos em Fukushima 1, no Japão, o presidente venezuelano, Hugo Chávez, anunciou na terça-feira (15/3) a suspensão do programa de construção de uma central nuclear no país.
"Ordenei ao ministro [da Energia Rafael] Ramirez congelar os planos desenvolvidos, os estudos preliminares do programa nuclear pacífico venezuelano", afirmou Chávez, durante uma cerimônia transmitida pela televisão. "Não tenho dúvida de que isso [a potencial catástrofe nuclear no Japão] irá alterar muito fortemente os planos de desenvolvimento de energia nuclear no mundo", acrescentou.
A Venezuela assinou em 2010 um acordo com a Rússia para a construção de uma central nuclear. Esse projeto provocou a inquietação dos Estados Unidos, que classificaram a medida de "perigosa", devido à estreita relação da Venezuela com o Irã e aos depósitos de urânio existentes no país sul-americano.
Dos 439 reatores nucleares no mundo, seis estão na América Latina. Até agora, a energia nuclear só é utilizada em três países da região: Argentina, Brasil e México.
O precursor da tecnologia foi a Argentina, onde foi instalada a primeira usina nuclear da América Latina. Hoje, o país tem duas usinas nucleares em funcionamento e uma terceira em construção. As autoridades em Buenos Aires minimizaram o risco de que ocorra um desastre similar ao japonês no país.
Argentina aposta em energia nuclear
Argentina aposta em energia nuclear
O gerente de relações institucionais da Comissão Nacional de Energia Atômica (CNEA) da Argentina, Gabriel Barceló, alega que não há razão para uma mudança de planos, já que o país não está em uma zona sísmica e utiliza em suas centrais uma "tecnologia diferente" da adotada na central de Fukushima. O Greenpeace da Argentina rebate esses argumentos. "Embalse está situada em uma zona sísmica, na província de Córdoba", declarou um diretor da organização, Juan Carlos Villalonga.
Central Nuclear de Embalse, em Córdoba, Argentina. Buenos Aires afirma que usinas são segurasA central nuclear Atucha 1, localizada nas margens do rio Paraná de las Palmas, cerca de 100 quilômetros a noroeste de Buenos Aires, teve construção iniciada em 1968 e entrou em operação em 1974. A usina Atucha 2 ainda está em construção, mas deverá entrar em funcionamento ainda este ano. As obras de Atucha 2 ficaram paralisadas por mais de 20 anos, tendo sido retomadas em meados de 2007.
A central nuclear de Embalse, localizada na cidade homônima, na província de Córdoba, foi a segunda usina nuclear conectada à rede na Argentina. Embalse, considerada hoje o maior motor térmico da América do Sul, está localizada a 100 quilômetros da cidade de Córdoba e a 700 quilômetros de Buenos Aires.
As três centrais são operadas pela Neoeléctrica Argentina S.A. e são responsáveis por 6,2% do abastecimento de energia do país. Porém, é provável que essa cifra venha a aumentar no futuro, já que em dezembro passado foi confirmada a notícia de que a empresa americana Westinghouse vai construir a quarta usina nuclear na Argentina: Atucha 3.
Brasil deve "parar um pouco para pensar"
No Brasil, 3,1% da oferta total de eletricidade é gerada por energia nuclear. Os brasileiros têm atualmente duas usinas nucleares em atividade e uma em construção. A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAA), conhecida como Central Nuclear de Angra, está localizada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro.
No Brasil, 3,1% da oferta total de eletricidade é gerada por energia nuclear. Os brasileiros têm atualmente duas usinas nucleares em atividade e uma em construção. A Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAA), conhecida como Central Nuclear de Angra, está localizada na praia de Itaorna, em Angra dos Reis, estado do Rio de Janeiro.
Em 1982, Angra 1 foi conectada à rede, Angra 2 começou a operar em 2000 e em junho de 2010 foi iniciada a construção de Angra 3.
Embora o governo brasileiro preveja a construção de outras quatro usinas nucleares, após o desastre no Japão o presidente do Congresso, José Sarney, disse que ocorreu "uma mudança muito séria na visão que vamos ter que ter em relação às usinas nucleares fornecedoras de energia" e que é necessário "parar um pouco para pensar".
Ativistas antinucleares mexicanos alertam para riscos
A central nuclear Laguna Verde, localizada em Punta Limón, Veracruz, é a única usina nuclear do México e gera 4% da oferta total de eletricidade do país. Laguna Verde tem dois geradores, que foram inaugurados em 1989 e 1995.
A central nuclear Laguna Verde, localizada em Punta Limón, Veracruz, é a única usina nuclear do México e gera 4% da oferta total de eletricidade do país. Laguna Verde tem dois geradores, que foram inaugurados em 1989 e 1995.
Usinas Angra 1 e 2, no BrasilLocalizada na costa do Golfo do México, a cerca de 70 quilômetros da cidade de Veracruz, a central é muito criticada por associações ambientalistas. O grupo antinuclear Madres Veracruzanas afirma que Laguna Verde tem as mesmas características e seu sistema de resfriamento é baseado no mesmo sistema que a usina de Fukushima, acusando que "se houver eventos naturais semelhantes aos observados no Japão, provavelmente sofreremos as mesmas circunstâncias".
Chile mantém planos, apesar de crise japonesa
Além de Brasil, México e Argentina também há outros países latino-americanos que apostam na energia nuclear. Na próxima sexta-feira, Barack Obama vai visitar o Chile, justamente para discutir projetos conjuntos em matéria de energia atômica.
Além de Brasil, México e Argentina também há outros países latino-americanos que apostam na energia nuclear. Na próxima sexta-feira, Barack Obama vai visitar o Chile, justamente para discutir projetos conjuntos em matéria de energia atômica.
Apesar do acidente devastador no Japão e do fato de ser um dos países mais afetados por terremotos e tsunamis, o governo chileno não mudou de planos. "O Chile necessita olhar isso tudo em um horizonte de longo prazo", desconversou o ministro da Energia do país, Laurence Golborne, ao justificar a cooperação com Washington em meio à preocupação com a crise nuclear no Japão.
No momento, o Chile dispõe de dois pequenos reatores experimentais em La Reina e Lo Aguirre, destinados a fins medicinais e de pesquisa.
Autor: Valeria Risi / Márcio Damasceno
Revisão: Carlos Albuquerque
Revisão: Carlos Albuquerque
Fonte:DW (Deutsche Welle)
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Correio do Povo, 04 de setembro de 1979
Físico da URGS diz que energia nuclear agravará crise energética
O físico Alfredo Aveline, professor do Instituo de física da URGS, fez na noite de ontem palestra no Instituto dos Arquitetos do Brasil abordando o tema Energia Elétrica no Brasil, quando criticou a atual política desenvolvimentista do Brasil e condenou o acordo nuclear.
Conforme Alfredo Aveline, “a energia elétrica no Brasil apresenta índices de crescimento de demanda errados e sobre eles é que foi feito o acordo nuclear”.
Para o físico, segundo as estimativas oficiais, “o crescimento de consumo de energia elétrica está em torno de 10% ao ano, o que implica que a cada sete anos seja duplicado o consumo”. Desta forma, Aveline demonstra que, tendo presente a demanda do ano em curso em torno de 25 mil megawatts instalados, em 1986 (daqui a sete anos) precisaremos de 50 mil megawatts; em 1993, 100 mil megawatts e no ano de 2000, 200 mil megawatts.
Segundo o professor, estas taxas não são sustentáveis mas foram as que justificaram o acordo nuclear – Aveline lembrou ainda que em apenas um ano, se fizermos uma projeção, precisaremos do ano 2000 a 2001 o equivalente a implantação de 16 centrais nucleares em apenas um ano.
De 2000 a 2007, continuou o professor, necessitaremos instalar 200 mil megawatts, o que corresponde a 17 usinas iguais a Itaipu ou 160 centrais nucleares. Aveline destacou ainda que se o raciocínio for levado até o ano de 2014, precisaremos 400 mil megawatts, ou seja construir mais 34 Itaipus ou 320 usinas nucleares.
POTENCIAL HIDRELÉTRICO
Em sua palestra Alfredo Aveline disse ainda que, segundo dados da Eletrobrás, de 1978, o potencial hidrelétrico nacional de grandes quedas d’água é em torno de 200 mil megawatts que corresponde a 2,5 vezes a potência elétrica atualmente instalada na Alemanha, e a oito vezes o potencial hidrelétrico brasileiro explorado até o momento. Estes 200 mil megawatts, para Aveline, deveriam ser destinados aos grandes centros urbanos e regiões industriais e utilizar-se as pequenas quedas d’água (com potencial entre 20 e 100 MW) que podem alimentar pequenas cidades e comunidades rurais e que atualmente não são utilizados.
FONTES ALTERNATIVAS
Além das pequenas quedas d’água, que somam 300 mil megawatts e que não são utilizadas, Alfredo Aveline enfatizou que pode ser usada com tecnologia nacional a energia eólica (energia dos ventos) principalmente em irrigações, o álcool, através de mini-destilarias e o metano, pois todas estas alternativas, alguns anos atrás eram românticas, mas tornaram-se economicamente viáveis.
Aveline disse ainda que possuímos também grande variedade de óleos vegetais, como o óleo de dendê, óleo de babaçu e outros que podem substituir o diesel sem sequer necessidade de ajustes nos motores e que não ocorre porque outros interesses industriais não permitem.
Já quanto a utilização do carvão, Alfredo Aveline foi mais discreto, dizendo que o mesmo deve ser utilizado para a gaseificação e que deve evitar-se o transporte do carvão, instalando-se usinas junto às minas, pois nosso carvão é muito pobre, e deixa muita cinza que pode ser utilizada para entulhar as minas. Mesmo assim, enfatizou Aveline, “o carvão deve ser utilizado o mínimo possível”.
PROPOSTA
Após considerar que as projeções oficiais “levam a absurdos”, Alfredo Aveline disse que o Brasil precisa definir seu patamar de crescimento, da industrialização e da população, para após isto, se trabalhar coerentemente.
Alfredo Aveline apresentou como proposta que este patamar seja limitado pelas fontes naturais de energia, aproveitando-se as grandes e pequenas quedas d’água e que se criem outras fontes alternativas derivadas principalmente das várias formas de manifestação da energia solar.
CRÍTICAS
Afirmando que as usinas nucleares apresentam uma série de aspectos negativos, que vão desde altos custos até o risco de vida, Alfredo Aveline disse que em primeiro lugar o Brasil não precisa de energia nuclear, no momento, e que não precisará por muitos anos, devido ao imenso potencial hidrelétrico ainda não explorado. A energia nuclear, segundo o físico, virá a agravar a nossa crise energética, pois a construção de uma usina nuclear exige uma capitalização de 3 a 4 vezes maior do que para as usinas elétricas, resultando daí que, para cada uma usina atômica, deixaremos de construir 4 hidrelétricas, deixando de explorar o nosso grande potencial de águas.
Além disto, continuou Aveline, os investimentos em usinas nucleares são feitos na maior parte em moeda estrangeira, agravando ainda mais nossa dívida externa.
PERIGOS
O professor destacou também que os investimentos em pessoal são muito mais caros nas usinas nucleares que nas hidrelétricas e acrescentou que no custo da Usina Nuclear não está incluído o cuidado com o lixo atômico, que precisa ser guardado durante 500 mil anos.
Os custos de desativação também foram esquecidos, disse o professor, bem como onde colocar o lixo atômico. Aveline esclareceu que países europeus e os Estados Unidos reconhecem os perigos principalmente à vida, que as usinas atômicas representam, mas que seus defensores dizem que não tem outra alternativa a não ser o óleo diesel – “o que não acontece conosco” – destacou Aveline, pois exploramos apenas 12 por cento de nosso potencial de queda d’água.
FREIO ECONÔMICO
Concluindo, Alfredo declarou que os objetivos de crescimento a qualquer custo e por período indefinido têm que ser revisto e que o procedimento do governo, adotado em 1973, “quando manipulou os dados escondendo a crise energética que vivíamos”, não pode ser repetido.
O objetivo ideal para o físico seria o desenvolvimento do país em lugar do crescimento econômico a qualquer custo. Para isto pode ser usada a estratégia da descentralização pelo sol, nas suas diferentes formas de apresentação e o melhor uso da energia pelo processo de co-geração e aproveitamento de energia solar radiante para ampliações térmicas e elétricas, concluiu Alfredo Aveline.
(Transcrito do jornal Correio do Povo, edição de 04 de setembro de 1979)
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MUNDO | 13.03.2011
História da energia nuclear é marcada por panes fatais
Julho de 2009: O reator da usina de Krümmel, no estado alemão de Schleswig-Holstein, é retirado imediatamente da rede, devido a curto-circuito num transformador. No final de2007, um equipamento de construção análoga se incendiara, após um curto-circuito.
Julho de 2006: Um dos três reatores da central nuclear sueca Forsmark é automaticamente desligado da rede, em decorrência de um curto-circuito. Em seguida é desativado.
Dezembro de 2001: Uma explosão de hidrogênio provoca distúrbios de funcionamento na usina de Brunsbüttel, Schleswig-Holstein. Somente em fevereiro do ano seguinte, por pressão das autoridades de fiscalização, o reator é retirado da rede para inspeção.
Outubro de 2000: A controvertida usina tcheca de Temelin entra em funcionamento. Até o início de agosto de 2006 são registrados quase 100 casos de mau funcionamento.
Setembro de 1999: Numa unidade de reprocessamento de urânio, na cidade japonesa deTokaimura, inicia-se uma reação em cadeia descontrolada, liberando altos níveis de radiação. A causa fora falha humana: operários insuficientemente preparados haviam depositado num tanque de precipitação sete vezes a quantidade máxima permitida de urânio.
Abril de 1986: Até hoje a maior catástrofe em todo o mundo foi a explosão de um reator de água leve moderado a grafite em Tchernobil, Ucrânia (na época parte da União Soviética). O incidente causa a morte imediata de 32 pessoas, milhares de outras sucumbem em consequência da irradiação nuclear, 120 mil têm que ser evacuadas. Nuvens e ventos carregam a radioatividade também à Europa Ocidental. Até hoje não se tem uma medida exata das consequências.
Março de 1979: Defeitos técnicos e falhas humanas provocam o colapso do sistema de refrigeração da usina Three Mile Island, próxima a Harrisburg, nos Estados Unidos. Ocorre o derretimento parcial do reator. A centenas de quilômetros do local do acidente, ainda se pode medir uma nuvem radioativa. Mais de 200 mil pessoas são evacuadas. Trata-se do mais grave acidente nuclear nos EUA, até hoje.
Janeiro de 1977: Curtos-circuitos em duas linhas de alta voltagem causam prejuízo total na central nuclear de Gundremmingen, na Baviera, Alemanha. O prédio do reator fica contaminado com água de refrigeração radioativa.
Julho de 1973: Segunda explosão na estação de reprocessamento de combustível radioativo de Windscale (rebatizada Sellafield a partir de 1983), na Inglaterra. Grande parte da unidade fica contaminada.
Outubro de 1957: Incêndio numa das centrais de Windscale, num reator para preparação de plutônio destinado à utilização em bombas. Gases radioativos contaminam uma área de centenas de quilômetros quadrados. Pelos menos 39 pessoas morrem em consequência.
Setembro de 1957: Na unidade soviética de processamento de plutônio Maiak explode um tanque subterrâneo de concreto contendo detritos radioativos líquidos. Pelo menos mil pessoas morrem, 10 mil sofrem contaminação: até hoje não há números confiáveis a respeito. Desde então, uma aérea de 300 por 40 quilômetros está contaminada por radioatividade. Trata-se de uma das maiores catástrofes atômicas da história, somente em 1976 relatada por um cientista dissidente, e oficialmente confirmada em 1990.
Dezembro de 1952: Grave explosão na central nuclear de Chalk River, próxima a Ottawa, Canadá. Uma fusão parcial destrói o núcleo do reator.
AV/dw/dapd/dpa
Fonte: DW (Deutsche Welle )
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MUNDO | 14.03.2011
Opinião: Energia nuclear é perigosa e ultrapassada
A catástrofe nuclear no Japão vai mudar o mundo, e de forma permanente. Ela deixa claro o quão perigosa e incontrolável a energia atômica de fato é. Sim, conseguimos controlar a fissão nuclear. Sim, sabemos como os átomos se comportam e o que temos de fazer para que eles forneçam uma enorme quantidade de energia. Mas sabemos também que especialistas, físicos atômicos e políticos ficam assustadoramente perplexos quando uma usina nuclear resolve se comportar de forma não prevista. Aí o que predomina é a impotência, e a simples esperança de que a fusão do núcleo do reator pare por si mesma.
Argumentar que o Japão conhece o barril de pólvora sobre o qual está sentado, e que terremotos como o atual não acontecem na Alemanha, é simplificar as coisas. E se um avião cair sobre uma central? E quanto aos ataques terroristas, às múltiplas falhas técnicas ou humanas?
Além disso, o perigo não reside apenas nas panes – também o lixo radiativo, para o qual ninguém tem um destino adequado, vai um dia se tornar um obstáculo. Até hoje não existe em nenhum país do mundo um lugar adequado para depositar detritos atômicos, apesar de buscas intensas.
Queremos continuar correndo esses riscos? Apesar de termos alternativas mais promissoras, como a energia solar e a eólica? Essas são energias renováveis, que nos tornam independentes do petróleo, que não oferecem perigo, que são sustentáveis e que não comprometem as gerações futuras. É nessas energias que devemos investir. Elas não são um sonho ambientalista. Elas representam uma sociedade limpa, sustentável e moderna.
A energia nuclear, por outro lado, está ultrapassada. Ela é poluente e perigosa e consome recursos naturais. O urânio, combustível das usinas nucleares, está em declínio. Há urânio suficiente para no máximo 50, 60 anos, calculam especialistas. Isso é sustentável? Os únicos que asseguram que sim, são os lobistas da energia atômica e as empresas de energia, que se enriquecem com a fissão nuclear e exercem enorme influência sobre a política.
Tomara que a catástrofe no Japão sirva para acordar os políticos. Chegou a hora de eles mostrarem coragem. Coragem de virar as costas para o passado e investir nas energia e tecnologias do futuro.
Autoria: Judith Hartl (as)
Revisão: Augusto Valente
Revisão: Augusto Valente
Fonte: DW (Deutsche Welle)
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MUNDO | 12.03.2011
"É possível comparar Fukushima a Tchernobil", afirma físico e ativista alemão
Na qualidade de ativista dos direitos civis, o físico e médico Sebastian Pflugbeil combateu a minimização das consequências de uma catástrofe nuclear pelo governo comunista da República Democrática Alemã (RDA).
Aos 63 anos de idade, ele é presidente da ONG crítica à energia atômica Sociedade de Proteção Contra Radiação (GS). Pflugbeil é uma das poucas pessoas que puderam inspecionar o sarcófago do reator da usina nuclear de Tchernobil, Ucrânia, após a explosão em 1986.
Ele fala à Deutsche Welle sobre as possíveis consequências de uma catástrofe nuclear no Japão, num momento em que havia fortes indícios de uma fusão do reator da usina Fukushima Daiichi, porém sem confirmação oficial.
Deutsche Welle: Até que ponto se pode comparar Fukushima a Tchernobil?
Sebastian Pflugbeil: Bem, aqui temos a fusão do núcleo do reator; em Tchernobil, tivemos a fusão e uma explosão nuclear. Digamos: são categorias comparáveis, certamente relacionadas à liberação de grandes níveis de radioatividade.
Quais são as consequências da fusão do núcleo de um reator nuclear?
Aos 63 anos de idade, ele é presidente da ONG crítica à energia atômica Sociedade de Proteção Contra Radiação (GS). Pflugbeil é uma das poucas pessoas que puderam inspecionar o sarcófago do reator da usina nuclear de Tchernobil, Ucrânia, após a explosão em 1986.
Ele fala à Deutsche Welle sobre as possíveis consequências de uma catástrofe nuclear no Japão, num momento em que havia fortes indícios de uma fusão do reator da usina Fukushima Daiichi, porém sem confirmação oficial.
Deutsche Welle: Até que ponto se pode comparar Fukushima a Tchernobil?
Sebastian Pflugbeil: Bem, aqui temos a fusão do núcleo do reator; em Tchernobil, tivemos a fusão e uma explosão nuclear. Digamos: são categorias comparáveis, certamente relacionadas à liberação de grandes níveis de radioatividade.
Quais são as consequências da fusão do núcleo de um reator nuclear?
O invólucro do reator ser destruído e tudo o que está dentro ser liberado. Todos os radionuclídeos voláteis [átomos com núcleos instáveis], que estavam dentro, escapam para o ar. Provavelmente não vai haver incêndio, como em Tchernobil, é de se esperar que desta vez a radioatividade pouse num raio menor – digamos, 500 quilômetros –, mas aí com grande intensidade. E então as consequências são fatais, considerando-se a estrutura demográfica do Japão, que é muito mais densa do que em Tchernobil.
O que os japoneses podem fazer para se proteger?
Pode-se aconselhar a população a permanecer em casa. Mas nisso há um problema, pois muitas moradias foram destruídas, as pessoas erram a esmo, tropas de resgate estão em trânsito: esses praticamente não têm nenhuma defesa. Podem-se distribuir tabletes de iodo. Assim se cobre a demanda da glândula tireóide, e se evita que ela absorva o iodo radioativo liberado na atmosfera, perigoso para a glândula.
Caso ocorra a fusão do núcleo e a destruição do sarcófago nuclear, tal liberação é inevitável, já que o iodo radioativo é extremamente volátil. Distribuir tabletes de iodo é praticamente a única medida protetora que faz sentido tomar, se houver a possibilidade.
O ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, não vê perigo para a Europa, pelo fato de o Japão estar tão distante. O senhor compartilha essa opinião?
Eu evitaria fazer uma avaliação dessas. Ela me faz pensar em declarações semelhantes do então ministro do Interior da Alemanha Ocidental, Friedrich Zimmermann, ou do governo da RDA, depois de Tchernobil. Eles estavam convencidos de que a catástrofe fora tão longe, que a Alemanha nem iria notar nada. E a lição de Tchernobil, no tocante aos efeitos sobre a Europa, é inequívoca: mesmo níveis mínimos de radiação podem deixar marcas claras em todo o quadro de saúde. Vamos ver.
O que os japoneses podem fazer para se proteger?
Pode-se aconselhar a população a permanecer em casa. Mas nisso há um problema, pois muitas moradias foram destruídas, as pessoas erram a esmo, tropas de resgate estão em trânsito: esses praticamente não têm nenhuma defesa. Podem-se distribuir tabletes de iodo. Assim se cobre a demanda da glândula tireóide, e se evita que ela absorva o iodo radioativo liberado na atmosfera, perigoso para a glândula.
Caso ocorra a fusão do núcleo e a destruição do sarcófago nuclear, tal liberação é inevitável, já que o iodo radioativo é extremamente volátil. Distribuir tabletes de iodo é praticamente a única medida protetora que faz sentido tomar, se houver a possibilidade.
O ministro alemão do Meio Ambiente, Norbert Röttgen, não vê perigo para a Europa, pelo fato de o Japão estar tão distante. O senhor compartilha essa opinião?
Eu evitaria fazer uma avaliação dessas. Ela me faz pensar em declarações semelhantes do então ministro do Interior da Alemanha Ocidental, Friedrich Zimmermann, ou do governo da RDA, depois de Tchernobil. Eles estavam convencidos de que a catástrofe fora tão longe, que a Alemanha nem iria notar nada. E a lição de Tchernobil, no tocante aos efeitos sobre a Europa, é inequívoca: mesmo níveis mínimos de radiação podem deixar marcas claras em todo o quadro de saúde. Vamos ver.
Entrevista: Bernd Grässler (av)
Revisão: Francis França
Revisão: Francis França
Fonte: DW (Deutsche Welle)
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