Em matéria anterior, comentei que os Bombeiros foram chamados a uma ocorrência de queimada nas terras da UFSM, no local denominado Campo de Semente, em data de 05/02/2012. Como não havia casa que estivesse ao alcance do fogo não mostraram interesse em combater as chamas. Ficaram quase uma hora no local, tempo suficiente para abafar o fogo, pois o vento mudara de direção e isto facilitaria a tarefa.
A negligência quase virou tragédia no dia seguinte, isto é, hoje 06/02/2012. Durante a noite o fogo se alastrou até as margens da estrada de acesso à sede da Fepagro -Cereais e atingiu vários eucaliptos de grande altura, postados ao lado. Dali as chamas atingiram a outra margem. Novamente acionados, os Bombeiros foram até o local e apagaram as chamas. Voltaram à cidade. Mas o pior estava por acontecer. Alguns eucaliptos, com troncos ainda fumegantes da queimada que não fora contida um dia antes, ameaçavam cair sobre o leito da estrada. Quase desesperado, o diretor da FEPAGRO - Cereais, Nilton Gabe, dirigiu apelo à Brigada Militar para que interditasse o acesso, pois ali transitavam até os ônibus da Empresa Santa Inês. A Brigada Militar, estranhamente, sugeriu que fosse acionada a Prefeitura Municipal de São Borja, mas já era por volta das 18 Hs e não tinha como fazê-lo. Então, acompanhei o diretor da Fepagro até o Posto da Polícia Rodoviária Federal. O patrulheiro Nunes entrou em contato com a empresa Santa Inês, na pessoa do Sr. Marcelo Cassol, sugerindo-lhe que comunicasse os motoristas para que chegassem até a sede da Fepagro por outro acesso. O patrulheiro emprestou cones que seriam utilizados como sinalizadores do perigo. Quando retornamos ao local da queimada, na estrada de acesso, eis que lá estavam novamente os Bombeiros, fazendo um rescaldo, na minha opinião, desnecessário. Nilton Gabe havia solicitado que trouxessem motosserra e cortassem os eucaliptos que ameaçavam cair. Estavam sem esse equipamento.
Um dos bombeiros apagava com jatos d ‘água as chamas de um eucalipto, inclinado e prestes a cair. Gritamos para que se retirasse dali. Minutos depois um ônibus da Empresa Santa Inês chegou até ali, o motorista não fora avisado a tempo do perigo. Atrás do ônibus vinha um ciclista, de nome Mário Lima e aí aconteceu o que temíamos. O eucalipto inclinado desancou sobre o leito da estrada, talvez uns quinze segundos depois da passagem do ônibus. Mário Lima, com os gritos desesperados de Nilton Gabe que vira a árvore se inclinando, jogou o corpo para frente, caindo da sua bicicleta talvez menos de um metro à frente do tronco. Quase fatal o desfecho da negligência do dia anterior.
Os fatos mostram a que ponto chega o jogo de empurra das autoridades. Bombeiros empurrando para a Patram, Brigada Militar empurrando para a Prefeitura e por aí vai.
No final das contas, vizinhos voluntários como Tiago Mezzomo e um seu funcionário, Nilton Gabe e um funcionário da Fepagro, eu e um trabalhador autônomo providenciamos na derrubada de outros eucaliptos que ameaçavam cair. Mas o perigo ainda continua, pois restam alguns troncos avariados pelo fogo que poderão cair a qualquer momento. Amanhã será um dia de corre-corre. Deus nos livre dos burocratas de plantão desse País abençoado por Deus.
Os fatos antes narrados evidenciam o despreparo das autoridades no enfrentamento de certas ocorrências. Os Bombeiros deverão receber outras orientações dos seus superiores. Não existe entrosamento entre os diversos setores da Brigada Militar, da qual o Corpo de Bombeiros e a Patrulha Ambiental fazem parte. Isso ficou claro.
Aqui, faço uma revelação. Quando eu era vereador, na década de 1970, ocorreu em São Borja um grande incêndio que destruiu o prédio onde funcionava a Casa Jaraguá, loja de tecidos. Antes dela outros sinistros ocorreram e quase sempre um caminhão pipa do Exército era acionado. Apresentei, então, um documento à Câmara de Vereadores para que o prefeito João Carlos Mariense Escobar enviasse projeto de lei, propondo convênio com o Estado para implantação do Corpo de Bombeiros. Acompanhei os trâmites, a convite do prefeito. Finalmente, Estado e Município celebraram convênio e os Bombeiros aqui se instalaram.
Os bombeiros prestaram e prestam grandes serviços à comunidade. No entanto, há comportamentos no mínimo estranhos. A prioridade é sempre defender as residências dos perigos das chamas. Mas há casos, como o narrado e outros mais, que merecem uma reflexão mais profunda. Uma simples queimada de campo pode virar uma tragédia, especialmente nessa época de estiagem. As queimadas liberam grande quantidade de CO², causador do efeito estufa e que empobrecem nossas terras. O combate ao fogo, seja ele na cidade ou no campo, é tarefa primeira dos Bombeiros. Isto não exclui a prevenção e a participação voluntária de quem quer que seja. Também não cabe ao Bombeiro indagar se a origem do fogo foi criminosa, como foi sugerido e remeter a questão à Patram, especialmente em domingos e feriados. A Patram não é preparada para combater as chamas.
Se esse jogo de jogo de empurra persistir, sugiro aos legisladores para que proponham aos executivos a criação de brigadas anti-incêndios rurais. Nada é utópico. O aquecimento global está aí e as secas poderão se tornar ainda piores nos próximos anos.
Que as forças armadas do Brasil reflitam sobre isso e encontrem alternativas para socorro imediato em casos de tragédias como as queimadas. Talvez aeronaves, pontos para captação de água e outras medidas possam remediar situações de perigo.
Que os municípios e estado, junto com a União, sentem à mesa comum e tratem sobre a questão das queimadas ANTES QUE OS NOSSOS BOSQUES NÃO TENHAM MAIS VIDA.
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Trator da Fepagro auxilia na remoção dos troncos de eucaliptos derrubados para evitar tragédias.. |
Os cones da Polícia Rodoviária Federal foram colocados para sinalizar outras árvores em estado crítico.e que ainda ameaçam cair. |
Vista parcial da área atingida pelo fogo, a partir da BR 287 Fotos: Darci Bergmann, 06/02/2012, São Borja/RS/Brasil |
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