Por Darci Bergmann
"Em alguns políticos a melhor fantasia seria o nariz do pinóquio"
Há quem diga que o carnaval é só alegria. Nos meus tempos de moço, a folia era mais espontânea. Não tinha aquela manifestação opulenta das fantasias de hoje que entopem de lixo as ruas por onde passa a orgia consumista. Era tudo simples, o que prova que alegria e felicidade não precisam de ostentação.
Os costumes mudaram até nas pequenas cidades O que era popular vira espetáculo, um grande negócio. Entram em cena competição, cartolagem e talvez outras coisas não muito lícitas. E os recursos públicos são cada vez mais requisitados, em nome de uma suposta ‘cultura popular’. A diversão manipulada, com ajuda da politicagem estabelecida, talvez retire do carnaval o seu maior encanto – a alegria espontânea.
Parece que algumas cidades estão reagindo à essa manipulação das festas populares. As pessoas colaboram para que o carnaval seja de novo simples e alegre e que não comprometa orçamentos domésticos e nem os recursos públicos que podem melhorar a saúde, a educação e segurança. Até porque, se as estatísticas estiverem certas, em muitas cidades, a maioria do povo não faz carnaval. E quem não faz - porque tem outras formas de extravasar a alegria - também não quer financiar com os seus impostos o esbanjamento escancarado cujo saldo mais lamentável são toneladas de lixo, consumo excessivo de bebidas alcoólicas e acidentes de trânsito
Outra constatação é a padronização cultural dos eventos. Os desfiles dos grandes centros contagiaram de tal forma as pequenas cidades que muitas delas perderam a identidade do seu carnaval. É um repeteco barulhento da chatice dos sambas enredo. Mas há quem goste dessa mesmice.
Engana-se quem pensa que os desfiles de carros alegóricos com aquelas imitações de bichos e plantas conscientiza alguém na questão ambiental. Aqueles monstrengos de ferro e plásticos viram sucata e lixo. A orgia luxuriosa de uma espécie não salva as demais. Nem salvou os impérios opulentos da ruína. E agora já é uma ameaça à apoteose da vida planetária. Se quiserem mesmo preservar a biodiversidade, existem outras formas para tal.
Para mim, o mais importante é ser feliz sem ostentação e luxúria. Com ou sem carnaval. Hoje, outras formas de exibição me trazem alegria. Até exulto quando vejo os bugios fazendo das copas das árvores as suas passarelas. Lá estão eles, sem máscaras, sem fantasias, sem samba enredo, sem corrupção. Por onde passam também deixam algum resíduo – os seus excrementos – mas estes são biodegradáveis. E mais: contém sementes que podem resultar em novas plantas.
Para sermos felizes precisamos transformar em lixeira o nosso Planeta?
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